Capítulo 07

Alice Cross

As turbinas do jatinho roncam suavemente, embalando o avião em uma calmaria inesperada. Max e Dylan já caíram no sono nos assentos ao lado, com os fones de ouvido ainda conectados. Dylan até resmunga de vez em quando, enquanto Max, de boca aberta, parece completamente alheio a tudo. Sorrio ao olhar para os dois, que sempre conseguem se desligar de tudo.

Mas eu não consigo. Nunca consegui dormir direito antes de um show, ainda mais em uma primeira turnê.

Ao meu lado, Vicent está desperto, observando a vista pela janela com aquele olhar pensativo. Ele percebe que estou acordada e me lança um sorriso leve, o tipo de sorriso que ele guarda só para os momentos em que somos só nós dois.

- Ansiosa para Boston?. - ele pergunta, sua voz baixa e quase sussurrada, como se não quisesse incomodar o silêncio entre a gente.

Dou de ombros e rio, mas ele já sabe a resposta.

- Não sei… você já sabe, a sensação nunca passa. Mas acho que dessa vez é um pouco mais forte.

Seguro o braço da poltrona, sentindo a tensão em meus ombros, mesmo sentada.

Ele acena, como se entendesse completamente.

- Eu também sinto isso. Sempre penso que, a cada show, a responsabilidade só aumenta. A pressão, sabe?

- Você carrega tanto peso, Vince. E, ainda assim, você lida com tudo como se fosse fácil.

Minha voz soa mais suave do que o normal, e as palavras saem antes que eu perceba.

- A verdade é que… você é o único que me entende de verdade.

Vicent ri de leve e balança a cabeça.

- Sabe, Alice, eu poderia dizer o mesmo sobre você.

Ele se vira na poltrona para me encarar, e seu olhar azul parece atravessar todas as barreiras que eu me esforço para construir.

- Desde pequenos, a gente sempre conseguiu entender o que o outro sente. Mesmo sem precisar falar nada.

Respiro fundo, sentindo meu peito aquecer. Não consigo evitar sorrir de volta.

- Você lembra daquela vez…? Quando a gente tinha uns 11 anos, e você tentou me ensinar a tocar guitarra?

Ele solta uma gargalhada suave.

- Eu? Ensinar você? Sim, claro, porque eu era o guitarrista mais qualificado naquela época.—brinca, com um brilho no olhar.

- Acho que toquei umas três notas antes de você pegar o instrumento e fazer soar muito melhor do que eu conseguiria.

Rimos juntos, e aquele instante parece nos transportar de volta para quando tudo era mais simples. Apenas nós dois, no quintal de casa, sonhando alto sem a mínima ideia de onde acabaríamos.

- O que você quer daqui para frente, Alice?. —ele pergunta, e sua voz soa mais séria agora. — Quero dizer, fora tudo isso. Quando tudo fica em silêncio, o que você realmente quer?

Meus olhos se perdem por um instante na janela, no céu lá fora. A pergunta pesa, mas de uma forma que me faz sentir viva.

- Acho que quero ser mais do que o que esperam de mim. Quero ser… livre. E, ao mesmo tempo, queria que tudo fosse mais simples.

Vicent apenas observa, ouvindo cada palavra como se estivesse absorvendo tudo. E então, num tom que só ele sabe usar, pegou em minha e disse:

- Você vai encontrar isso, Alice. Mesmo que não seja fácil. E, até lá, eu vou estar aqui. A gente vai estar aqui.

Um silêncio confortável cai sobre nós, e fico ali, sentindo a conexão entre nós como algo tão sólido e raro que chega a ser difícil de explicar.

Percebo que, com Vincent, não há necessidade de explicação. Ele entende.

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