Alice Cross
O som ensurdecedor me acorda. Eu fico alguns segundos de olhos fechados, sem saber onde estou. Tentei dormir mais um pouco, mas a barulheira não me deixa. Algo está errado. O coração bate mais rápido, e eu me forço a levantar, sentindo o corpo pesado.
Ao sair do quarto, a cena que vejo na sala me deixa atônita. Oliver está aos berros com Vicent, o rosto vermelho e as mãos agitadas. Eu não entendo nada. Não posso acreditar no que estou vendo.
— O que está acontecendo? — minha voz sai rouca, ainda sonolenta.
Eles param imediatamente, e Oliver me encara com uma expressão tensa. Ele não parece ter notado que eu estava ali até agora.
— Alice… — Ele me entrega um tablet, a expressão dele preocupada, mas também irritada.
Eu olho para a tela e vejo o que está acontecendo. O que Vicent disse está estampado em todas as manchetes.
“Não me procure mais. Não ligue mais. Você se virou sozinha, e agora é assim que vai continuar. Eu não vou mais perder meu tempo com você. Eu não me importo com você!”*
Eu sinto uma dor no peito, uma mistura de raiva e preocupação, porque sei exatamente do que se trata. Isso não pode estar acontecendo.
E as fotos, as imagens da mãe dele em uma entrevista ao lado, chorando copiosamente. Eu reconheço a expressão dela, a mesma mulher o abandonou quando era criança, em busca de fama e dinheiro. Ela fala sobre a dor de ser rejeitada pelo filho, de como ele a trata mal, como ela só queria dar amor para ele. As palavras dela são dolorosas, mas isso só me deixa com mais ódio, porque sei que são falsas.
Revistas, jornais, sites, tudo lotado de manchetes sobre Vicent e sua mãe. Eu sei o quanto ele odeia falar sobre ela. Eu sei o quão difícil deve ser para ele ver isso exposto assim.
Olho para Vicent, que está parado, os ombros caídos, o olhar fixo no chão. Eu sei que ele deve estar se sentindo esmagado por dentro.
Oliver não consegue esconder o desapontamento. Ele olha para Vicent, furioso.
— Como você deixou isso acontecer, Vicent? Você sabia que ela ia tentar te manipular dessa forma! — A voz de Oliver é dura, e ele começa a andar de um lado para o outro.
Vicent respira fundo, ainda com a expressão fechada. Ele me olha, como se pedisse desculpas pela situação, mas nem palavras consegue encontrar para explicar.
— Eu não sabia que ela estava gravando. Foi uma armadilha. Faz algum tempo que ela está fazendo de tudo para ter contato, tentando se infiltrar de volta na minha vida — a voz dele sai baixa, mas firme. — Eu só fui até ela para dar um basta nisso, não desconfiava que ela faria isso.
Eu percebo o quanto ele está exausto, não só fisicamente, mas emocionalmente. Não posso nem imaginar como deve estar sendo para ele ver a mãe, a mulher que o abandonou, tentando se fazer de vítima publicamente.
Eu não sei o que fazer. Mas uma ideia começa a tomar forma na minha cabeça, algo que pode ajudar.
— E se fizermos uma coletiva de imprensa antes de ir para o próximo show? — falo, tentando soar confiante. — Podemos explicar a situação de forma clara, deixar todo mundo entender o que está acontecendo, porque o que ela está fazendo é uma mentira. A gente não pode deixar que isso se espalhe ainda mais.
Oliver me olha, como se estivesse analisando a ideia. Ele não fala por alguns segundos, mas logo vejo que ele começa a ponderar.
— Isso pode funcionar. — Ele respira fundo. — A coletiva pode esclarecer as coisas, e nós precisamos fazer isso antes que a mídia se aproprie ainda mais dessa história.
Eu sinto um alívio momentâneo. Pode ser o começo de um jeito de resolver essa bagunça, de ajudar Vicent a se livrar dessa dor pública. Ele não merece ser tratado dessa forma, não depois de tudo o que passou.
Olho para Vicent, que ainda está quieto. Eu posso ver o peso que ele carrega, mas ele não diz nada. Não precisa. Eu sei que ele está lidando com isso do jeito dele, e vou apoiá-lo em cada passo.
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Atualizado até capítulo 29
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