Capítulo 04

Vicent Blackwood

O dia do show finalmente chega. Quando acordo, o sol ainda não está completamente no ar, mas já sinto o calor de Los Angeles entrando pela janela do meu quarto. A excitação está no ar, é palpável, e posso sentir que todos os outros também estão animados. Hoje começa tudo.

Desço para a cozinha e já encontro Max mexendo em algo no fogão. Ele sempre tem esse talento estranho para cozinhar, mas ninguém nunca reclama, especialmente quando é comida boa. Dylan está lá também, com os cabelos ainda bagunçados e uma xícara de café nas mãos, os olhos ainda pesados pela noite passada. Alice entra logo em seguida, cabelo amarrado e uma expressão levemente sonolenta, mas é só ela sentir o cheiro de café que tudo muda. Alice sempre tem essa energia contagiante.

- Hoje é o grande dia. - digo, sorrindo sem poder evitar.

- Vamos arrasar, cara. - Dylan responde, se inclinando na cadeira e tentando, sem muito sucesso, esconder sua empolgação.

- Vai ser incrível. - Alice completa, se sentando à mesa e pegando o prato de ovos que Max colocou à sua frente.

Depois de um café tranquilo e risadas fáceis, começamos a nos arrumar. As conversas flutuam entre os ensaios e as expectativas para o show, mas eu não posso deixar de pensar no quanto chegamos até aqui e como começamos. Não é à toa que sempre falo sobre a nossa amizade. Ela foi mais do que sorte. Foi uma escolha, uma conexão que fizemos, ainda quando éramos muito pequenos.

Lembro-me do primeiro dia em que conheci Alice. Eu tinha 5 anos, ela tinha 4, e ela e seus pais haviam se mudado para a mesma rua da minha casa. Eu estava no parquinho, brincando sozinho, até que vi aquela garota loira e sorridente se aproximando com seu sorvete de morango. Ela era quieta, mas parecia ter uma energia diferente. Quando nos encontramos pela primeira vez, não foi nada grandioso. Foi apenas um momento espontâneo, mas algo dentro de mim sabia que seria especial.

Depois, na escolinha, conhecemos o Dylan. Ele chegou novo, assim como a Alice, e logo ficou claro que ele também estava ali para ficar. Não demorou para virarmos os três inseparáveis. Quando tínhamos 10 e 11 anos, todos nós éramos bem unidos, mas foi o dia que Max entrou na nossa vida que tudo ficou ainda mais forte.

Max apareceu em um dia qualquer, quando, por pura sorte, encontramos ele sendo ameaçado por um grupo de meninos mais velhos, que estavam enchendo o garoto de medo por causa de sua origem. Era xenofobia pura, uma coisa que a gente não aceitou. Nós, que já éramos inseparáveis, decidimos agir, afugentamos os valentões e, em seguida, Max, que estava assustado, se juntou a nós.

Aquela foi a nossa primeira grande união, a primeira vez que o quarteto se formou.

- Você lembra de quando conhecemos o Dylan?. - Alice pergunta, com um sorriso nostálgico, quebrando o silêncio confortável da sala.

Eu sorrio ao recordar.

- Claro. Ele chegou na nossa turma e logo entrou para a nossa “gangue”. Não teve escolha.

Ela ri baixinho.

-Eu lembro dele sentado sozinho no canto do pátio, parecia que estava esperando algo. Eu e você, já brincando, e ele, tentando se enturmar, mas sem sucesso.

-E agora olhemos para ele. - Dylan diz, com um sorriso irreverente. - O centro das atenções, como sempre. - completou, apontando para si mesmo.

Todos rimos. Mas é um riso cheio de carinho. Isso é o que somos agora: mais que amigos. Somos uma família, de verdade.

Max, com sua típica irreverência, faz uma piada sobre o dia em que praticamente ‘adotamos’ ele depois do episódio com os meninos mais velhos. Aquele momento foi o início de tudo, o dia que selou nosso destino. Ninguém ali naquele dia sabia que, alguns anos depois, estaríamos prestes a sair em uma turnê nacional, mas todos sabíamos que aquela união estava além de qualquer coisa.

- Eu lembro de quando ficávamos horas no parquinho, falando sobre o futuro. Não tínhamos a menor ideia de que tudo isso ia acontecer, mas algo dentro de mim sentia alguma coisa. - diz Alice, a voz suave, mas cheia de significado.

A tarde passa tranquila. Sentamos no sofá, rimos sobre velhas histórias e relembramos como as coisas aconteceram, de maneira simples e espontânea, mas ainda assim grandiosa para nós. O que mais me impressiona não é o fato de estarmos indo para o nosso primeiro show grande. É a certeza de que tudo sempre foi sobre nós, os quatro, juntos.

Como se cada desafio, cada momento difícil, fosse suavizado pelo simples fato de saber que estávamos uns para os outros. O palco pode ser uma adrenalina sem igual, mas nada se compara ao que vivemos até agora, ao que somos. Nada mesmo.

A noite está chegando e, em breve, a turnê começará de verdade. Mas, por enquanto, aproveitamos o agora. O simples, o tranquilo, o “antes da loucura”.

Nós quatro, como sempre fomos. Como sempre seremos.

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