Perigos Ocultos

Dante trancou a porta do apartamento de Mia e desceu pelo corredor, o peso da noite ainda sobre seus ombros. Mas, ao se aproximar de seu próprio apartamento, ele parou. Ali, sentada contra a porta, estava Hellen. Encolhida, abraçando os joelhos com força, como se cada fragmento dela estivesse tentando se manter junto. Seu corpo tremia, o rosto escondido pelas mãos, e o som de um choro contido cortava o silêncio pesado do corredor.

Ele se aproximou, os passos hesitantes, o coração disparando. Aquela não era a Hellen que ele conhecia. Nunca a vira assim, tão... despedaçada.

– Hellen? – a voz dele era baixa, quase um sussurro, como se falasse mais alto pudesse desmoronar o pouco que restava dela.

Ela ergueu o rosto lentamente, os olhos vermelhos e inchados, a expressão vazia e marcada por algo que ele nunca imaginou ver ali. Hellen sempre foi forte, firme, mas naquele instante, tudo estava estraçalhado.

– Eles... – ela engoliu em seco, a voz um fio tremido de dor. – Eles mataram o meu pai, Dante. Bem na minha frente. Eu... eu vi tudo.

Dante sentiu o chão fugir dos pés. Aquelas palavras pareciam ecoar dentro dele, uma lâmina que rasgava algo profundo. A imagem de Hellen, sempre tão implacável, agora quebrada e vulnerável, fez algo ferver dentro dele, uma ira avassaladora, uma necessidade urgente de protegê-la.

Ele se ajoelhou ao lado dela, com uma urgência nos olhos.

– Alguém te viu? – perguntou, a voz saindo grave, mas carregada de uma preocupação que ele mal sabia esconder. Se alguém a tivesse visto... Se ela estivesse em perigo...

Ela balançou a cabeça, uma negação lenta, os olhos fixos no chão, o corpo frágil e quase irreconhecível.

– Não. Eu... eu saí de lá o mais rápido que pude. Ninguém me viu, Dante. Só... eu.

Ele fechou os olhos por um instante, lutando contra o desejo de arrancar aquela dor do rosto dela. Estendeu a mão, puxando-a para um abraço firme, onde ela finalmente cedeu, deixando o corpo desabar contra o dele. Ela tremia, e o coração de Dante batia com força, prometendo em silêncio que, aconteça o que acontecer, ele não permitiria que mais nada a atingisse.

Depois de um tempo em silêncio, Dante olhou para Hellen, ainda aninhada em seu abraço, como se aquele momento pudesse protegê-la de toda a dor. Ele sabia que a noite seria longa, mas queria que ela se sentisse segura.

– Hellen – disse, a voz suave, mas firme – você pode ficar aqui. Não precisa enfrentar isso sozinha.

Ela o olhou, a gratidão em seus olhos misturada com a tristeza. Não hesitou. As horas se arrastaram, mas no final, Hellen encontrou algum consolo no calor da presença dele, afastando os fantasmas, mesmo que por um breve momento.

Na manhã seguinte, o sol filtrava-se pelas cortinas, iluminando o apartamento. Hellen parecia mais calma, embora a tristeza ainda estivesse presente. Dante, ainda sonolento, fez café e se aproximou dela, que estava sentada à mesa, a expressão mais serena, mas com o olhar distante.

– Hellen, o que aconteceu de fato? – ele perguntou, a preocupação renovando-se em sua voz. – O que você não me contou?

Ela hesitou, as palavras parecendo pesadas. Finalmente, tomou um fôlego e falou, a voz trêmula, mas decidida.

– Cinco caras cercaram meu pai. Eram como aqueles que estavam com Mia na festa... Não sei quem são, mas eles estavam armados e muito determinados. Meu pai... ele não tinha chance.

Dante sentiu um frio na espinha. As peças se encaixavam de forma alarmante, e a conexão entre os eventos se tornava cada vez mais clara. A raiva borbulhou dentro dele, e ele precisava entender mais sobre aqueles homens, sobre como eles se ligavam a Mia e, agora, a Hellen.

– Precisamos descobrir quem são esses caras – ele disse, a determinação crescendo em sua voz. – Isso não pode ficar assim.

Hellen olhou para ele, um misto de medo e gratidão nos olhos. Ela sabia que ele estava pronto para lutar ao lado dela, e essa promessa de proteção acendeu uma pequena chama de esperança em meio à escuridão.

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