Caminho de Sangue
Um garoto de dezessete anos encara fixamente uma garota de idade semelhante no chão, o filete de sangue que escorre da boca dela e mancha a pedra branca da arena de combate em que eles acabaram de se digladiar por suas vidas, combina com o sangue nas mãos de Matt, que, enquanto olhava para suas mãos antes de se ajoelhar diante das vampiras que detém seu destino, pensava:
* Como a minha vida virou isso? Agora eu traio os meus conterrâneos, traio minha própria espécie! Pratico uma chacina apenas pela possibilidade ínfima, de eu continuar vivo! Mas não vai ficar assim! De alguma forma, eu vou acabar com todos eles! *
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...Dois meses antes...
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* Ah que cansaço, mas isso vai valer a pena, mais dois mil e eu saio do meu pesadelo...*
Cansado e com sono, Matt corria da saída de sua escola até o ponto de ônibus mais próximo, debaixo do sol quente de sua cidade litorânea.
*Se pelo menos o diretor tivesse me deixado sair mais cedo, eu já teria terminado a tempos minha pesquisa sobre as células vegetais! E para quê eu vou usar um conhecimento inútil desses, que merda viu! A gente tem é que aprender a ganhar dinheiro e não a fórmula de Bháskara e essas porcarias!*
Matt seguia com seus pensamentos e raiva do mundo, enquanto avistava ao longe o ponto de ônibus, e o tal mal fadado, já havia encostado e subia a bordo, seu último passageiro.
Então Matt atravessando a rua gritou!
— Espera! Eu vou também!
O motorista do ônibus olhou de soslaio para Matt, um homem de seus trinta e poucos anos, amargo pela direção há várias horas e pelo calor do sol de trinta e oito graus Celsius que fazia no dia, fez como quem não vira Matt e partiu com o ônibus.
*Ha! Não dessa vez, Otário!*
Matt aumentou o ritmo e enquanto o ônibus iniciava sua preguiçosa e arrastada partida ele se pôs a frente de Braços abertos!
— Espera! Você me viu! Eu vou aqui também! Abre as portas aí!...
O motorista olhou resignado
— Moleque maluco! Quer se matar?
As portas pneumáticas fizeram um barulho alto
— Entra logo! Vai me atrasar!
Matt correu subindo rapidamente as escadas, apesar de bem acima do peso, Matt era muito alto e ágil devido as várias artes marciais que praticara em sua infância, parte, pois queria ficar o mínimo de tempo possível em casa, parte porque sua mãe odiava tê-lo lá também!
— Obrigado!
Matt estendeu a mão dando ao motorista as moedas para pagar a passagem e ficou esperando o troco.
— O que?
O motorista rudemente indagou
— Qual é!? Meu troco!
Matt disse.
— É sério!? O troco aqui dá cinco centavos!
Olhou o motorista indignado.
— MEUS CINCO CENTAVOS!
Praticamente gritou Matt.
O motorista, completamente derrotado pelo garoto rosnou
— Ah! Toma aqui, unha de fome!
Matt passou pela catraca do ônibus, meio satisfeito, meio indignado.
*Por que a vida tem que ser tão difícil!? Droga!*
Matt pensava.
Chegando ao trabalho, Matt encontrou várias caixas cheias de pacotes de arroz.
*Ah não! Logo hoje!*
Uma voz veio do fundo do mercado.
— Matt é você!?
— Sim, senhor Rodrigues! Cheguei!
Matt respondeu.
— Atrasado, como sempre!
Disse o chefe de Matt
Olhando o relógio Matt viu que ele chegara dois minutos após às duas da tarde.
— Mas Senhor Rodrigues, foram apenas dois minutos, isso nem configura atraso!
Argumentou Matt
— Cinco minutos antes do horário é na hora Matt, no horário marcado, é um atraso, dois minutos depois é um baita atraso! E não me interessa oque as leis falam, homens tem uma regra maior, suas palavras! E você me deu sua palavra que não atrasaria, e eu te dei minha palavra que descontaria do seu salário, caso atrasasse!
Ensinou o senhor Rodrigues.
*Português sovina de merda!*
Matt pensou, mas não argumentou, ele sabia que, no fundo, o senhor Rodrigues era uma boa pessoa, mas mais que isso, ele sabia que se realmente quisesse sair de casa antes da maioridade, ele teria que ficar preso aquele emprego, afinal, um garoto de 16 anos não tem muitos empregadores que os aceitassem, uma vez que as leis do país não deixavam menores trabalharem.
— Desculpe senhor Rodrigues, eu farei o possível para que isso não se repita.
Matt finalmente disse.
A esta altura, senhor Rodrigues havia chegado até a frente do mercadinho e encarava Matt com um olhar duro, porém paternal.
— Matt o mundo não quer saber de suas desculpas, ele não liga para seus sentimentos ou condições, temos que nos virar como pudermos para viver, sei que você estuda e tem dois empregos, mas se você se propôs a tudo isso, você deve fazer tudo a perfeição!
Senhor Rodrigues disse ternamente antes de continuar
— Olha... Não vou descontar nada de você, mas é a última vez, sério Tenta chegar no horário, pelo menos dois dias seguidos, se não, como eu vou ficar com os outros funcionários?
Disse o senhor Rodrigues.
Quando Matt fez menção em começar a agradecer senhor Rodrigues o interrompeu:
— Já conversamos demais! Vá! Ajude o Ricardo a guardar o arroz, estávamos na metade quando você chegou!
Finalizou senhor Rodrigues.
— Sim, senhor!
Respondeu animadamente Matt antes de sair rapidamente para colocar sua mochila no estoque e colocar seu avental para estocar o restante do arroz.
Já passara das sete horas da noite quando Matt saiu do mercado, correndo novamente, dessa vez para uma reunião que tinha marcado com possíveis compradores.
— Olá a todos! Que bom que vieram! Hoje lhes apresento, Ganância!
Esse é o perfume para grandes homens! Esse é o perfume que você borrifa três vezes e fica perfumado o dia todo!
Com a nova fórmula desenvolvida pelo famoso perfumista francês Eduin Malot e com essência de figo holandês vocês serão com certeza reconhecidos como os vencedores que são!
E é só vinte e oito e noventa!
Matt ficou extremamente feliz, pois na ocasião três pessoas acreditaram em suas mentiras e compraram os perfumes, que, na verdade, era apenas um borrifador de vidro fino e barato com essência de patchuly e álcool, ele gastava cerca de dezoito reais para fazer cada um, e o perfume era uma droga, mas servia como renda extra para fazer seu sonho chegar mais rápido, a tão sonhada casa de aluguel para morar finalmente longe de sua mãe abusiva!
Quando chegou em casa após comer algo na rua mesmo, para não incomodar sua mãe, ele entrou quieto e fazendo o mínimo de barulho possível, após às dez horas da noite, ela trancava o portão oque não havia acontecido hoje e Matt se sentiu aliviado!
*pelo menos hoje vou poder tomar um banho e guardar meu dinheiro, já fazia três dias que eu dormia na rua por não chegar no horário*
Matt esgueirou-se para dentro de casa e num tom baixo demais para ser ouvido disse
— Mãe! Estou em casa!
Nenhuma resposta veio, nesse momento Matt sentiu uma pontada de preocupação pela sua mãe, onde ela estaria? Mas, ao mesmo tempo, um súbito alívio.
* Ufa! Tenho a casa só para mim, pelo menos hoje não vai ter briga nem discussão, por hoje vou poder tomar um banho e descansar...*
Matt pensou isso enquanto entrava em seu quarto, só para ver que seu abrigo secreto, o abrigo em que Matt guardara seu suado tesouro, o esconderijo de suas economias desde seus quatorze anos, estava aberto e vazio, sua cama jogada para o lado, o piso falso que ele guardava seu dinheiro aberto, e o pior, vazio!
Matt sentiu como se seu peito fôra aberto, seu fôlego, se desvaneceu, suas pernas tremiam, uma gota de suor escorria fria de sua nuca para suas costas, rasgando seu corpo como uma faca afiada, uma lágrima sozinha e desamparada escorreu pelo rosto perplexo de Matt.
* Ela não... Ela não... Por quê? Não! Meu dinheiro! Como ela achou? Como vou me mudar agora!? Faltavam menos de 2 mil!
SE ELA ACHOU, ELA VAI ME SURRAR! *
Milhares de pensamentos ruins invadiam a mente de Matt como uma torrente interminável, como se uma barragem de todos os seus piores medos, tivesse se rompido e estivesse lavando sua razão, ele se viu numa espiral de desespero e impotência.
* Se ela achou, eu não posso ir, se ela achou eu vou apanhar, se ela achou e não está aqui...*
Subitamente a mente de Matt se acalmou, no fim, desespero nenhum adiantava, se ela achou os dois mil e oitocentos reais que ele tinha, ela ia passar ao menos dois dias numa farra com homens que ele nunca tivera visto antes, pelo menos até lá, ele não a veria e não sofreria com uma surra.
Quando brava por qualquer motivo, a mãe de Matt o surrava com quaisquer objetos que ela tivesse a mão, uma panela, uma vassoura, uma cadeira, um fio de cobre, qualquer coisa poderia virar uma arma de abuso infantil para surrar Matt, isso é claro, quando ela não obrigava o garoto mesmo a ir pegar o cinto ou régua que ela adorava surrá-lo.
Um dia ela o surrou tanto com aquela maldita régua, que a tal quebrou e Matt acabou por apanhar mais por quebrar com as nádegas a régua de um metro e meio preferida de sua mãe, o terror de madeira, Matt costumava a chamar a régua, ele nunca se esquecera daquele episódio em que só tinha oito anos.
Matt mais calmo e aceitando o futuro acabou por aceitar quaisquer que fosse seu destino.
* Se eu vou ser surrado, não será hoje, talvez nem amanhã, e eu estou imundo, pelo menos um banho, quero tomar*
Arrumou seu quarto, colocando sua cama e móveis revirados no lugar, esvaziou sua mochila das roupas sujas e trocou-as por limpas.
* Pelo menos dessa vez ela lavou as roupas *
E guardou o dinheiro que ganhou nos últimos três dias fora de casa num outro esconderijo reserva que tinha, quando a quantia dele ainda era pequena, um vão entre as peças do guarda roupas que dividia o único quarto de sua pequena casa em dois.
Pegou uma muda de roupas e uma toalha e foi ao banheiro, lá chegando, deslizou para fora de suas roupas e ainda amaldiçoando o azar de sua existência e furioso com sua sorte entrou debaixo da torrente de água quente que jorrava do chuveiro.
* Pelo menos isso é bom! *
A água quente e a comida nunca decepcionavam o Matt, além dos cachorros, Matt sempre adorou os cachorros, e impressionantemente ele sabia de alguma forma, oque os caninos pensavam.
Após o banho, Matt se secou e colocou suas roupas de dormir, um conjunto velho e rasgado de camiseta e shorts de algodão, bons para o clima quente que fazia naquela noite, se arrastou sem ânimo para a cama e deitou-se pensando em como o mundo era maldoso e vil.
Matt se pegou num pesadelo horrível, luzes fortes e um cheiro terrível de algo como peixe podre e fumaça de plástico misturadas com o cheiro intoxicante de lonas de caminhão descendo uma serra íngreme, e pior, o gosto de tudo isso invadindo seu palato de trás para frente como um vômito de algo que não se tinha comido.
Nesse momento, ele acordou, mas ao abrir os olhos, nada enxergou, uma escuridão absurda tomou a mente de Matt, quando tentou se levantar de sua cama, percebeu que já não estava lá, mas sim num chão frio e poroso do que pareciam ser pedras, pedras escamosas e cheias de arestas que facilmente poderiam cortar as solas dos pés de alguém que sempre andou calçado, como Matt.
* Oque houve? Será que fui sequestrado? Oh merda! Minha mãe chegou e me drogou oque houve?*
Não que a mãe de Matt já tivesse feito isso, mas dela, ele esperaria tudo, de repente os pensamentos de Matt foram interrompidos por uma voz gutural dizendo.
— Bem vindos desaventurados e Malditos, aposto que se perguntam oque está acontecendo! Bom, assim que vocês recuperarem a visão, daqui a alguns momentos, vocês poderão vislumbrar em seu resplendor a baronetesa vampira da corte da noite Sandra Gusmán e suas Ladys, Julie Portnova e Marry Sigrid! E por fim...
A criatura deu uma risada baixa, áspera e maléfica!
— Bem vindos ao país de Astray!
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Atualizado até capítulo 43
Comments
Paulo Capelanes
até gostei, vamos para próximo capítulo
2024-10-17
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Euripedes
Livro começou muito top, não vejo a hora de continuar a ler!!! Parabéns pro autor
2024-10-15
1