Capítulo 4: “Preparações para o Massacre”

Obu fazia exercícios estranhos a Matt num canto da cela, enquanto Matt realizava alguns agachamentos. 

— É importante manter os músculos de estabilização resistentes para o campeonato!

Dizia sensei Márcio nas aulas de jiu-jitsu e karatê.

— Todos se preocupam com os braços, mas não é deles que vem a verdadeira força de um golpe. Não! A verdadeira força vem do tronco, vem da técnica, da combinação de vários músculos para um objetivo em comum.

Ele corrigia os movimentos de alguns alunos com gestos bondosos enquanto continuava.

— Os músculos dos braços servem mais para a defesa.

Sensei Márcio foi uma figura quase paterna na vida de Matt, ele era calmo e exigia retidão, mas tratava a todos com um carinho rígido, quase como um pai rígido, mas amoroso o suficiente para todos os filhos lutarem, contra tudo e todos para orgulhá-lo, em partes Matt sentia como se o tatame fosse seu lar, aquela sala abafada no alto de um prédio comercial, que cheirava a suor antigo e ao algodão dos kimonos e faixas, a camaradagem de pessoas que estão ali, todas para ensinar e aprender uns com os outros e, é claro unidos em torno do símbolo de sabedoria que era o sensei. Matt se lembrava daquilo com carinho enquanto agachava, fazia abdominais e flexão de braços.

Nos últimos anos, devido à corrida desenfreada de Matt para juntar dinheiro e sair de casa, ele havia negligenciado seus exercícios, se tornando nada mais que um jovem alto e gordo por causa da compulsão alimentar, mas ele não tinha como saber que logo sua sobrevivência dependeria de seu físico e agora ele teria que correr atrás do prejuízo. 

— Já deu, cansei!

Disse Matt exasperado, vendo o quanto seu corpo definhara em relação a sua velha forma física. 

Obu riu alto enquanto fazia aqueles exercícios estranhos.

— Cara, você fez por quanto tempo? 1 hora? 

Obu estava se exercitando desde que acordaram naquele dia, na verdade, tudo que ele fazia era se exercitar nos últimos três dias, última vez que viram a gárgula, desde então eles podiam ver que todos os cativos faziam algum tipo de preparação, mas nada em especial.

— Qual sua arma?

Perguntou Matt, ignorando a pergunta jocosa de Obu.

Um dia antes um ghoul apareceu e após esperar os cativos se recuperarem do choque de ver aquela criatura ossuda, extremamente magra, de pele descamada, cinza esverdeada como a de um cadáver em decomposição e costas arqueadas, ele disse numa voz tão agradável quanto uma barata subindo correndo pelas pernas. 

— Carvão e papel, escrevam seus nomes e ao lado a arma que querem, tacapes, escudos e coisas assim, nada cortante, não queremos que seu sangue vaze! Hahaha! 

Matt pegou o carvão e o papel, ignorando a risada bizarra e rouca da criatura, e espertamente começou a ir a cada um e passar o papel para que escrevessem.

* Estão assustados com a criatura, assim saberei quem são e como chavear para eu não morrer, e de quebra, saberei quais armas eles usarão! *

A grande maioria escolheu tacape e escudo, alguns poucos foram em bastão longo, ou dois escudos broquéis, Obu escolheu dois tacapes, Matt por último escreveu oque queria e fez um desenho, para ter certeza que não errariam na hora de fazê-lo, com o carvão gasto e o papel muito áspero e grosseiro ele escreveu. 

"Matt \= um par soco-inglês de madeira."

Matt pediu especificamente por dois pequenos bastões cilíndricos de madeira, cerca de dois centímetros maiores que a largura de sua palma, interligados por bastões mais finos que se encaixariam entre seus dedos. 

*Assim vou poder usar boxe e também agarrar pro jiu-jitsu, quase como m.m.a.*

Matt pensou durante dias, pensou até em duas tonfas para focar em defesa, mas oque ele sabia melhor era usar seu corpo, e tão logo que se conscientizou disso, escolheu o par de soco-inglês. 

— Quem é Matt?

Perguntou o Ghoul assim que recebeu e leu o papel. 

* Oh! Droga! *

Pensou Matt enquanto levantava a mão em resposta e dizia

— Sou Eu! 

*como se você não soubesse...*

Enquanto Matt pensava, o ghoul dizia

— Oque é um soco-inglês? 

*Maldito! Agora todos sabem que arma vou usar!*

Matt pensou enquanto se aproximava da criatura para explicar os detalhes de sua arma, tão logo a criatura entendeu, saiu reclamando do trabalho que era lidar com os cativos. 

Tão logo Matt se recostou nas grades ele ouviu 

— É, com um par de soco-inglês, você vai poder usar jiu-jitsu e o boxe que você sabe, escolha esperta!

Disse Obu 

— É, e agora todos sabem disso, merda, aposto que foi coisa daquela gárgula maldita.

Matt se arrependeu no mesmo instante que disse, pois, ouviu as asas da tal maldita gárgula baterem com seu som característico, e o pesado som dos passos de pedra se posicionando atrás dele. 

— A tal maldita gárgula veio te levar para acabar de organizar o evento, pelo visto você se livrou de ser morto, apesar de ter organizado todo um sistema de massacre de sua própria raça!

Disse Grogur dando ênfase na última parte. 

Matt se virou lentamente com um sorriso falso no rosto e disse.

— Então vamos logo honrado Grogur! Claro que estamos ansiosos para dar um espetáculo para a baronetesa e suas ladys, afinal não é como se tivéssemos escolha, né!? 

Também deu ênfase na última parte para tentar mitigar os danos de sua reputação para com os cativos. 

Chegando à arena, sendo levado a empurrões e socos pela chateada gárgula, ele viu que as instruções que deu a Grogur foram impressionantemente levadas a risca, e parecia que ele mesmo adicionara detalhes especiais na decoração da tribuna de honra improvisada que foi montada para as ladys e a baronetesa, com três belas cadeiras de madeira trabalhada e almofadadas com tecido azul-escuro e uma grande mesa que seria servido um banquete de carnes de caça e frutas com mel, nozes e castanhas variadas, além de muito vinho. 

Matt ainda inspecionou as arquibancadas e as portas gradeadas em madeira forte e grossa, que foram recém colocadas nos depósitos de armas, que agora se tornariam os vestiários dos competidores antes e depois da luta.

* Pelo menos um deles vai voltar para o vestiário, do perdedor, só Deus sabe o destino do pobre coitado!*

Pensando nisso Matt seguiu para Grogur dizendo 

— E o chaveamento, posso ter papel e algo para escrever para fazê-lo? 

Essa é era a pergunta de um milhão de dólares de Matt

*Se não puder escolher, como vou conseguir chegar facilmente a final!?*

Enquanto Matt pensava isso e esperava a resposta, tentava fazer a melhor cara de paisagem que podia, tentando fazer a pergunta parecer cotidiana e sem importância.

— Lá, com ele!

Disse rispidamente Grogur apontando para um ghoul que desenhava algum projeto relacionado ao evento. 

— Grogur mandou eu pegar papel e carvão...

Disse Matt ao ghoul apontado, que com flagrante desânimo, deixou de fazer oque quer que fosse, que fazia, para entregar os materiais. 

Matt fez as chaves do evento de maneira que do seu lado, ficassem os mais velhos e garotas, e do outro lado das chaves, Obu só pegaria um grande desafio na semi-final

A final é que seria a dificuldade, caso Obu não perdesse, ele teria que enfrentar seu amigo. 

* Não é a tática mais nobre, na verdade, é bem covarde, mas eu com o corpo nesse estado, gordo e sem treino, não é como se eu tivesse chance numa competição justa *

Matt se lamentou enquanto pensava sobre a tática covarde que usara no objetivo de sua sobrevivência. 

O dia seguinte aquele era o dia da primeira luta, elas aconteceriam duas por dia, com intervalos de três dias, a baronetesa determinou essa pausa devido ao fluxo alimentar dela e de suas ladys.

No dia seguinte, a primeira luta era entre um homem de meia-idade rechonchudo e calvo chamado Carl que escolheu um tacape de madeira liso e um escudo, e um jovem loiro chamado Josh de cerca de 20 anos, bem magro e de membros compridos com olhar astuto que escolheu um par de broquéis para lutar.

— Todos se animem para o início do festival da carne! Nós reunimos aqui para caminhar no caminho de sangue desse espetáculo! 

Bradou Matt com a melhor animação que podia emular ao apresentar o massacre de conterrâneos, antes de retomar o fôlego para continuar. 

— Todos agora se ajoelhem e demonstrem respeito a nossa soberana! A baronetesa Sandra Gusmán e suas Ladys, Marry Sigrid e Julie Portnova! 

Enquanto elas entravam e tomavam seus lugares na tribuna de honra, eram ovacionadas pelos seus comandantes ghouls que aplaudiam e assoviavam com admiração sua mestra e suas superiores 

Assim que se sentaram, a baronetesa com um sinal majestoso deu a Matt a permissão para seguir com a competição, então ele bradou a plenos pulmões. 

— Competidores! Entrem na arena! 

Os dois entraram vestindo farrapos de algodão em forma de tangas, o tecido amarelado pela ação do tempo dava a entender ser uma vestimenta surrada usada normalmente para treinos, e com armas em mãos eles ficaram em uma rígida prontidão esperando pelo sinal de Matt quando ele gritou. 

— Comecem!

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