Dois Ghouls escoltavam um pesaroso Matt de volta a cela, enquanto ele ainda ouvia Grogur apresentando a última luta do dia, as comemorações e reações abafadas dos Ghouls a luta que acabara de iniciar.
Quando entrou na cela, Matt viu uma aglomeração lamuriosa e preocupada, ao centro dela estava Josh, dobrado sobre si, suando profusamente e gemendo enquanto se dobrava sobre uma mancha avermelhada que tomava conta do flanco de seu corpo outrora atingido pelo tacape do falecido Carl.
— Afastem-se! Tragam-me todo o vinho ardente que puderem reunir!
Bradou Matt a todos enquanto se aproximava de Josh
— Eu posso tentar consertar, se você me deixar, não sou médico, mas no judô te ensinam dô-in, vou saber se está realmente quebrado, e se estiver, posso tentar talvez aliviar, colocar no lugar, talvez...
Disse Matt a Josh, que com dificuldades, entre respirações curtas disse.
— Qual... quer... coisa... só... faz... a dor... parar...
Nesse momento os cativos restantes chegavam com as cuias de vinho.
— Aqui, beba tudo oque puder, quanto mais bêbado, menos você sentirá a dor.
Josh bebeu duas, três, todas as cuias de vinho ardente que pôde, logo começou a sentir as extremidades do corpo formigarem e o sentimento da dor incessante começou a diminuir, sem nunca acabar completamente. Matt vendo seu companheiro cativo relaxar um pouco, o deitou na pseudo-cama que havia na cela, era uma armação de madeira com tábuas, apenas para te elevar do solo, mas igualmente duro e desconfortável.
Naquela hora, duro e desconfortável era bom, Josh teve que esticar o corpo, oque provocou dores excruciantes, para que Matt pudesse verificar a situação de suas costelas.
— Cara, você vai adorar ouvir isso!
Disse um Matt animado.
— Fala logo... merda!
Exigiu Josh entre respirações doloridas.
— Acho que nada está quebrado! Oque houve foi que você deslocou, deixa eu ver uma, duas, isso! Deslocou duas costelas, vai doer, vai doer para cacete! Mas assim que eu colocar elas no lugar, em uns quatro dias você estará bem de novo!
Josh esquecendo das costelas tentou respirar fundo de alívio apenas para fazer uma careta dolorida enquanto pedia.
— Me dá mais vinho antes de arrumar...
Matt olhou para os cativos, nada de vinho, correu as celas, chamou os pelos ghouls, todos estavam entretidos demais para sequer ouvir seu chamado.
— Josh, acabou o vinho ardente...
Matt disse com um rosto compadecido
Josh fechou os olhos, demorou-se pensando até dizer.
— Vai, vai logo!
Matt posicionou a borda de uma das cuias de madeira que usavam para beber o vinho ardente, entre as costelas de Josh, só esse ato foi o suficiente para as lágrimas fluírem como uma torrente incessante, então vieram dois golpes precisos e rápidos de Matt, ouviu-se um lamentoso e cavernoso grito de pura dor, e depois o silêncio...
— Desculpe por isso Josh, tudo isso é culpa minha
Matt caiu sobre os joelhos ao lado de um desmaiado Josh, chorando e amaldiçoando com veemência a própria sorte e as próprias decisões, ele gritou palavrões, esbravejou e gritou mais palavrões estava esmurrando o chão, quando sentiu alguém tentar lhe parar, Matt se virou e gritou.
— Não! Pare! Me deixe! Me solte ou se não te mato também! Mato todos a minha volta! Mato Grogur e as vadias que nos comem! A elas o inferno! Que queimem no sol essas imundas!
Enquanto chorava e derramava todo ódio e estresse acumulado, sentiu um forte tapa que o levava de volta ao real e ao presente, o tirando de todo torpor de sentimentos que tomara conta de seu corpo.
Matt viu Obu, que o abraçou enquanto dizia:
— Calma irmão! Você fez oque fez para continuar vivo, nada nem ninguém pode te julgar, ou era isso, ou a morte certa!
E Obu continuou.
— Sei que você se culpa, e de certa forma se sente o causador de tudo, mas você tem que lembrar que nenhum de nós pediu para ser abduzido para um mundo de monstros!
Após Obu acalmar Matt, sentaram-se no canto de sempre da cela, e começaram a conversar, sempre com os gemidos doloridos do Josh que apesar de estabilizado e num sono bêbado ainda sentia dores sempre que respirava.
— E aquela loucura de sair correndo para cima dele? Nunca vi ninguém apanhar tanto de um bastão!
Matt ria enquanto questionava um dolorido Obu.
— Ah! É assim que a gente arrebanhava as ovelhas na fazenda!
Respondeu Obu rindo antes de continuar.
— Todo animal, por maior e mais dominante que seja, se encolhe e foge se alguém parece maior e mais forte e tem a atitude de predador, mesmo que não seja, depois disso foi só ver onde estavam caídos os tacapes e levar ele correndo de costas na direção deles e contar com a sorte dele tropeçar e cair.
Completou encolhendo os ombros.
— Caraca! Irmão... você é doido! E acredita que eu levei um chute nos bagos? Cara nunca imaginei que ela ia me chutar ali!
Após dizer isso Matt sentiu uma profunda tristeza, lembrando que nesse momento May possivelmente estaria sendo drenada de todo seu sangue, por presas ávidas de alguma das três vampiras.
— Irmão, você salvou ele de muita dor...
Talvez tenha salvado a vida dele, na próxima luta!
Obu disse enquanto sinalizava Josh, ainda desmaiado.
— Sim, mas nesse caso, matei o outro, ou o matei, na verdade, todos aqui estamos mortos, e foram minhas palavras que nos reservaram esse destino...
Disse Matt.
— Quem nos condenou foram elas irmão! As vampiras! Elas nos trouxeram aqui sabe-se lá como! Nós todos fomos condenados a morte a partir daí! Oque você fez foi dar a pelo menos um de nós uma chance de viver!
Replicou Obu para encontrar em Matt um argumento que o colocaria em pânico.
— E quem garante que a baronetesa cumprirá sua palavra Obu...
Matt questionou antes de continuar:
— Eu estive a sós com às três, para ela, somos apenas bolsas de sangue que andam, e acredite em mim quando digo, mesmo sem essas grades, mesmo sem a gárgula, sem os Ghouls e sem zumbis, mesmo que tivéssemos armas de qualquer tipo, se todos nós nos juntássemos contra apenas uma delas, essa ainda massacraria a todos nós num piscar de olhos.
Obu diante de um fato tão latente só pode baixar a cabeça de maneira a aceitar a situação, após alguns segundos de silêncio quando finalmente conseguiu deglutir a dura realidade ele disse.
— Dúvida... ante a morte certa, pelo menos você nos deu a dúvida e a capacidade de pelo menos um de nós conseguir mesmo que talvez, escapar dessas 3 vampiras, por isso você não deve se culpar pelas mortes que sem dúvida aconteceriam de qualquer forma Matt, nós, todos nós! Estamos lutando pelas nossas vidas aqui, e é o simples instinto de viver que nos permite continuar, não é assim?
— Sempre foi assim, no nosso mundo ou nesse...
Respondeu Matt sem se importar em deixar a conversa morrer daquela forma.
Ele então deitou-se de lado nas duras tábuas que eram sua cama e se lembrou de todas as infindáveis provações que passara por toda sua vida, se lembrou de sua mãe o batendo, se lembrou das humilhações que sofrera desde criança, adormeceu com um sono rude embalado por lágrimas amargas que rolavam pelo seu rosto enquanto ele tinha pesadelos vividos sobre seu passado se fundindo com oque o futuro desse mundo novo reservava a ele.
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Atualizado até capítulo 57
Comments
Luzia Manoel fernandes
tem que aparecer alguém com poder pra matar pouco das vampiras
2024-11-22
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