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Caminho de Sangue

Capítulo 1 “A corrida dos ratos”

Um garoto de dezessete anos encara fixamente uma garota de idade semelhante no chão, o filete de sangue que escorre da boca dela e mancha a pedra branca da arena de combate em que eles acabaram de se digladiar por suas vidas, combina com o sangue nas mãos de Matt, que, enquanto olhava para suas mãos antes de se ajoelhar diante das vampiras que detém seu destino, pensava:

* Como a minha vida virou isso? Agora eu traio os meus conterrâneos, traio minha própria espécie! Pratico uma chacina apenas pela possibilidade ínfima, de eu continuar vivo! Mas não vai ficar assim! De alguma forma, eu vou acabar com todos eles! *

...----------------...

...Dois meses antes...

...----------------...

* Ah que cansaço, mas isso vai valer a pena, mais dois mil e eu saio do meu pesadelo...* 

Cansado e com sono, Matt corria da saída de sua escola até o ponto de ônibus mais próximo, debaixo do sol quente de sua cidade litorânea. 

*Se pelo menos o diretor tivesse me deixado sair mais cedo, eu já teria terminado a tempos minha pesquisa sobre as células vegetais! E para quê eu vou usar um conhecimento inútil desses, que merda viu! A gente tem é que aprender a ganhar dinheiro e não a fórmula de Bháskara e essas porcarias!* 

Matt seguia com seus pensamentos e raiva do mundo, enquanto avistava ao longe o ponto de ônibus, e o tal mal fadado, já havia encostado e subia a bordo, seu último passageiro.

Então Matt atravessando a rua gritou! 

— Espera! Eu vou também! 

O motorista do ônibus olhou de soslaio para Matt, um homem de seus trinta e poucos anos, amargo pela direção há várias horas e pelo calor do sol de trinta e oito graus Celsius que fazia no dia, fez como quem não vira Matt e partiu com o ônibus. 

*Ha! Não dessa vez, Otário!* 

Matt aumentou o ritmo e enquanto o ônibus iniciava sua preguiçosa e arrastada partida ele se pôs a frente de Braços abertos! 

— Espera! Você me viu! Eu vou aqui também! Abre as portas aí!... 

O motorista olhou resignado 

— Moleque maluco! Quer se matar?

As portas pneumáticas fizeram um barulho alto 

— Entra logo! Vai me atrasar! 

Matt correu subindo rapidamente as escadas, apesar de bem acima do peso, Matt era muito alto e ágil devido as várias artes marciais que praticara em sua infância, parte, pois queria ficar o mínimo de tempo possível em casa, parte porque sua mãe odiava tê-lo lá também! 

— Obrigado!

Matt estendeu a mão dando ao motorista as moedas para pagar a passagem e ficou esperando o troco. 

— O que?

O motorista rudemente indagou 

— Qual é!? Meu troco!

Matt disse. 

— É sério!? O troco aqui dá cinco centavos!

Olhou o motorista indignado. 

— MEUS CINCO CENTAVOS!

Praticamente gritou Matt. 

O motorista, completamente derrotado pelo garoto rosnou

— Ah! Toma aqui, unha de fome! 

Matt passou pela catraca do ônibus, meio satisfeito, meio indignado. 

*Por que a vida tem que ser tão difícil!? Droga!*

Matt pensava. 

Chegando ao trabalho, Matt encontrou várias caixas cheias de pacotes de arroz. 

*Ah não! Logo hoje!* 

Uma voz veio do fundo do mercado.

— Matt é você!? 

— Sim, senhor Rodrigues! Cheguei!

Matt respondeu. 

— Atrasado, como sempre!

Disse o chefe de Matt 

Olhando o relógio Matt viu que ele chegara dois minutos após às duas da tarde.

— Mas Senhor Rodrigues, foram apenas dois minutos, isso nem configura atraso!

Argumentou Matt 

— Cinco minutos antes do horário é na hora Matt, no horário marcado, é um atraso, dois minutos depois é um baita atraso! E não me interessa oque as leis falam, homens tem uma regra maior, suas palavras! E você me deu sua palavra que não atrasaria, e eu te dei minha palavra que descontaria do seu salário, caso atrasasse!

Ensinou o senhor Rodrigues. 

*Português sovina de merda!* 

Matt pensou, mas não argumentou, ele sabia que, no fundo, o senhor Rodrigues era uma boa pessoa, mas mais que isso, ele sabia que se realmente quisesse sair de casa antes da maioridade, ele teria que ficar preso aquele emprego, afinal, um garoto de 16 anos não tem muitos empregadores que os aceitassem, uma vez que as leis do país não deixavam menores trabalharem. 

— Desculpe senhor Rodrigues, eu farei o possível para que isso não se repita.

Matt finalmente disse. 

A esta altura, senhor Rodrigues havia chegado até a frente do mercadinho e encarava Matt com um olhar duro, porém paternal. 

— Matt o mundo não quer saber de suas desculpas, ele não liga para seus sentimentos ou condições, temos que nos virar como pudermos para viver, sei que você estuda e tem dois empregos, mas se você se propôs a tudo isso, você deve fazer tudo a perfeição!

Senhor Rodrigues disse ternamente antes de continuar

— Olha... Não vou descontar nada de você, mas é a última vez, sério Tenta chegar no horário, pelo menos dois dias seguidos, se não, como eu vou ficar com os outros funcionários?

Disse o senhor Rodrigues. 

Quando Matt fez menção em começar a agradecer senhor Rodrigues o interrompeu:

— Já conversamos demais! Vá! Ajude o Ricardo a guardar o arroz, estávamos na metade quando você chegou!

Finalizou senhor Rodrigues.

— Sim, senhor!

Respondeu animadamente Matt antes de sair rapidamente para colocar sua mochila no estoque e colocar seu avental para estocar o restante do arroz. 

Já passara das sete horas da noite quando Matt saiu do mercado, correndo novamente, dessa vez para uma reunião que tinha marcado com possíveis compradores. 

— Olá a todos! Que bom que vieram! Hoje lhes apresento, Ganância!

Esse é o perfume para grandes homens! Esse é o perfume que você borrifa três vezes e fica perfumado o dia todo!

Com a nova fórmula desenvolvida pelo famoso perfumista francês Eduin Malot e com essência de figo holandês vocês serão com certeza reconhecidos como os vencedores que são!

E é só vinte e oito e noventa!

Matt ficou extremamente feliz, pois na ocasião três pessoas acreditaram em suas mentiras e compraram os perfumes, que, na verdade, era apenas um borrifador de vidro fino e barato com essência de patchuly e álcool, ele gastava cerca de dezoito reais para fazer cada um, e o perfume era uma droga, mas servia como renda extra para fazer seu sonho chegar mais rápido, a tão sonhada casa de aluguel para morar finalmente longe de sua mãe abusiva! 

Quando chegou em casa após comer algo na rua mesmo, para não incomodar sua mãe, ele entrou quieto e fazendo o mínimo de barulho possível, após às dez horas da noite, ela trancava o portão oque não havia acontecido hoje e Matt se sentiu aliviado! 

*pelo menos hoje vou poder tomar um banho e guardar meu dinheiro, já fazia três dias que eu dormia na rua por não chegar no horário* 

Matt esgueirou-se para dentro de casa e num tom baixo demais para ser ouvido disse 

— Mãe! Estou em casa! 

Nenhuma resposta veio, nesse momento Matt sentiu uma pontada de preocupação pela sua mãe, onde ela estaria? Mas, ao mesmo tempo, um súbito alívio. 

* Ufa! Tenho a casa só para mim, pelo menos hoje não vai ter briga nem discussão, por hoje vou poder tomar um banho e descansar...* 

Matt pensou isso enquanto entrava em seu quarto, só para ver que seu abrigo secreto, o abrigo em que Matt guardara seu suado tesouro, o esconderijo de suas economias desde seus quatorze anos, estava aberto e vazio, sua cama jogada para o lado, o piso falso que ele guardava seu dinheiro aberto, e o pior, vazio! 

Matt sentiu como se seu peito fôra aberto, seu fôlego, se desvaneceu, suas pernas tremiam, uma gota de suor escorria fria de sua nuca para suas costas, rasgando seu corpo como uma faca afiada, uma lágrima sozinha e desamparada escorreu pelo rosto perplexo de Matt. 

* Ela não... Ela não... Por quê? Não! Meu dinheiro! Como ela achou? Como vou me mudar agora!? Faltavam menos de 2 mil! 

SE ELA ACHOU, ELA VAI ME SURRAR! * 

Milhares de pensamentos ruins invadiam a mente de Matt como uma torrente interminável, como se uma barragem de todos os seus piores medos, tivesse se rompido e estivesse lavando sua razão, ele se viu numa espiral de desespero e impotência. 

* Se ela achou, eu não posso ir, se ela achou eu vou apanhar, se ela achou e não está aqui...* 

Subitamente a mente de Matt se acalmou, no fim, desespero nenhum adiantava, se ela achou os dois mil e oitocentos reais que ele tinha, ela ia passar ao menos dois dias numa farra com homens que ele nunca tivera visto antes, pelo menos até lá, ele não a veria e não sofreria com uma surra.

Quando brava por qualquer motivo, a mãe de Matt o surrava com quaisquer objetos que ela tivesse a mão, uma panela, uma vassoura, uma cadeira, um fio de cobre, qualquer coisa poderia virar uma arma de abuso infantil para surrar Matt, isso é claro, quando ela não obrigava o garoto mesmo a ir pegar o cinto ou régua que ela adorava surrá-lo. 

Um dia ela o surrou tanto com aquela maldita régua, que a tal quebrou e Matt acabou por apanhar mais por quebrar com as nádegas a régua de um metro e meio preferida de sua mãe, o terror de madeira, Matt costumava a chamar a régua, ele nunca se esquecera daquele episódio em que só tinha oito anos. 

Matt mais calmo e aceitando o futuro acabou por aceitar quaisquer que fosse seu destino. 

* Se eu vou ser surrado, não será hoje, talvez nem amanhã, e eu estou imundo, pelo menos um banho, quero tomar* 

Arrumou seu quarto, colocando sua cama e móveis revirados no lugar, esvaziou sua mochila das roupas sujas e trocou-as por limpas. 

* Pelo menos dessa vez ela lavou as roupas * 

E guardou o dinheiro que ganhou nos últimos três dias fora de casa num outro esconderijo reserva que tinha, quando a quantia dele ainda era pequena, um vão entre as peças do guarda roupas que dividia o único quarto de sua pequena casa em dois. 

Pegou uma muda de roupas e uma toalha e foi ao banheiro, lá chegando, deslizou para fora de suas roupas e ainda amaldiçoando o azar de sua existência e furioso com sua sorte entrou debaixo da torrente de água quente que jorrava do chuveiro. 

* Pelo menos isso é bom! * 

A água quente e a comida nunca decepcionavam o Matt, além dos cachorros, Matt sempre adorou os cachorros, e impressionantemente ele sabia de alguma forma, oque os caninos pensavam. 

Após o banho, Matt se secou e colocou suas roupas de dormir, um conjunto velho e rasgado de camiseta e shorts de algodão, bons para o clima quente que fazia naquela noite, se arrastou sem ânimo para a cama e deitou-se pensando em como o mundo era maldoso e vil. 

Matt se pegou num pesadelo horrível, luzes fortes e um cheiro terrível de algo como peixe podre e fumaça de plástico misturadas com o cheiro intoxicante de lonas de caminhão descendo uma serra íngreme, e pior, o gosto de tudo isso invadindo seu palato de trás para frente como um vômito de algo que não se tinha comido. 

Nesse momento, ele acordou, mas ao abrir os olhos, nada enxergou, uma escuridão absurda tomou a mente de Matt, quando tentou se levantar de sua cama, percebeu que já não estava lá, mas sim num chão frio e poroso do que pareciam ser pedras, pedras escamosas e cheias de arestas que facilmente poderiam cortar as solas dos pés de alguém que sempre andou calçado, como Matt. 

* Oque houve? Será que fui sequestrado? Oh merda! Minha mãe chegou e me drogou oque houve?* 

Não que a mãe de Matt já tivesse feito isso, mas dela, ele esperaria tudo, de repente os pensamentos de Matt foram interrompidos por uma voz gutural dizendo. 

— Bem vindos desaventurados e Malditos, aposto que se perguntam oque está acontecendo! Bom, assim que vocês recuperarem a visão, daqui a alguns momentos, vocês poderão vislumbrar em seu resplendor a baronetesa vampira da corte da noite Sandra Gusmán e suas Ladys, Julie Portnova e Marry Sigrid! E por fim...

A criatura deu uma risada baixa, áspera e maléfica! 

— Bem vindos ao país de Astray!

Capítulo 2: “Negociando com o diabo”

*Astray? Não existe um país de Astray, será que fui pego em algum programa de humor ácido e no limite da razão, como aqueles do oriente?* 

Pensou Matt, e assim que o pensamento passou pela sua mente, este foi varrido por uma voz sublime e sedosa, uma voz Magnânima que apesar do tom baixo, era dotada de uma autoridade suprema, algo absolutamente arrebatador e apaixonante, como sinos de uma igreja em batizado ou casamento. 

— Eu gostaria de saber o porque meu capataz está dando informações desnecessárias ao alimento... 

*Alimento?*

Pensou Matt desesperado.

* Eu sou Alimento? Agora está claro! É uma boa pegadinha!*

Assim que Matt pensou isso ele ouviu a resposta da tal voz criaturesca áspera e tóxica que invadia os ouvidos de Matt como abelhas zunindo e se rastejando para dentro de seus ouvidos e em seus tímpanos. 

— Minha senhora e dona, achei que como último ato de bondade vossa magnificência poderia deixá-los saber onde irão morrer e quem irá se servir deles, é uma grande honra afinal! 

E a criatura continuou enquanto os olhos de Matt retomavam aos poucos a capacidade da visão. 

— Eu mesmo gostaria de ter meu fim, sendo utilizado como uma refeição para vossa Graça! Ou a suas damas, não tenho preferência quanto a isso!

Disse a criatura, que agora Matt podia ver seus contornos, apesar de não acreditar no que via, era uma criatura grandiosa, por volta de 3 metros de altura, com pequenas asas nas costas que Matt duvidara servirem para algum tipo de voo, uma vez que o corpanzil da criatura era de aparência rechonchuda. 

*Será que estou em algum evento de cosplay?* 

Matt já vira e fora a estes eventos, uma vez teve um breve relacionamento com uma cosplayer de uma elfa de alguma novel qualquer que ele nem se lembrava o nome, mas o beijo...

Do beijo dela ele se lembrava! E enquanto isso o diálogo continuava...

— Primeiro, você não tem sangue para eu consumir. Segundo, se você tivesse, seu sangue seria pobre e de gosto horrível, não seria adequado a um membro da corte como nós. E por último, tenho outros planos para você pequeno Grogur... Agora pare de brincar com a comida, lave-os e traga aquela de cabelos loiros para mim, eu Marry e Julie nos alimentaremos dela por hoje! 

Disse a voz Magnânima, comandando com muita naturalidade.

Nesse momento os olhos de Matt voltaram a funcionar como uma antiga TV valvulada que finalmente esquenta o suficiente para mostrar a programação.

Matt de repente se viu sentando com suas roupas pobres num chão tão preto quanto azeviche, mas surpreendentemente brilhante, não brilhante como limpo, brilhante como algo gasto, era possível ver claramente símbolos estranhos no chão em volta de toda a sala, que estava a meia luz, não luz elétrica, mas orbes flutuantes de luz amarela fraca, que iluminavam um pouco mais que velas, mas sem fumaça e nem cheiro.

Na sala, haviam várias pessoas, um homem negro muito alto e muito forte, que vestia uma camiseta branca com jaqueta e calças jeans e um all-star vermelho.

Uma garota de cabelos dourados, mirrada e de feições doces, porém extremamente assustada.

Um homem de meia-idade calvo de óculos, terno e sapatos sociais sem gravata.

Uma mulher gorda de cabelos desgrenhados e um bigode maior do que Matt poderia imaginar que uma mulher um dia poderia vir a ter, entre outros jovens e velhos, bem e mal vestidos, assim como Matt.

Mas oque chamava mais a atenção de Matt era a criatura, ele estava a cerca de vinte centímetros de distância das costas da criatura e Matt não conseguia entender. 

* Sem sangue? Ele... Ele é de pedra! *

Constatou Matt em seus pensamentos. 

* Meu santo Deus, ele é feito de pedra! *

A curta distância que Matt estava da criatura, meio deitado, meio jogado ao chão ele não poderia se enganar, a criatura era uma gárgula de pedra, quando se movimentava, pó brotava e caia de suas juntas, como quando pedras são esmagadas e trituradas umas contra as outras, e a voz que ouvia, ele podia ver entre as pernas da criatura que gesticulava com sua senhoria, uma mulher estonteantemente linda de olhos de um verde tão profundo e intenso que parecia que a alma de Matt se perderia dentro daqueles olhos de jade e longos cabelos pretos lisos que iam até à cintura.

Aos lados desta mulher que estava comandando havia mais duas, tão lindas e belamente vestidas quanto a primeira, uma de cabelos ruivos perfeitamente ondulados, de feições mais rígidas e olhos azuis-claros, lindos como o mar caribenho,

E ao lado esquerdo de sua senhoria, uma tão pálida quanto mármore carrara, de cabelos tão brancos quanto neve e olhos também tão brancos e leitosos, que pareciam poder sugar sua alma.

De repente, Matt sem pensar, disse.

— Você... você me enxerga... 

Olhando para a dama branca.

A dama retribuiu Matt com um olhar muito familiar a ele, era o olhar de nojo e desgosto que sua mãe o dava quando ele procurava algum tipo de afeição ou carinho, o olhar de um ser superior, alguém que lhe tem o poder de dar ou tirar a sua vida, Matt pensou isso em uma fração de segundo, pois assim que ela pôs o olhar nele, a criatura escoiceou Matt que acertou a parede com força e desmaiou enquanto sentia o gosto do próprio sangue em sua boca. 

Matt acordou numa grande cela com todos os prisioneiros, ele vestia uma túnica de farrapos e estava descalço, a parte superior de seus pés estava esfolada e apresentava vários pequenos cortes, enquanto Matt avaliava sua situação, ouviu uma voz grave o chamar. 

— Ei cara, desculpe pelos pés, sou mais alto que você, mas não consegui te trazer sem arrastar seus pés no chão, você é bem pesadinho... 

Matt olhou para trás e vislumbrou o jovem negro alto, agora com a mesma túnica esfarrapada de Matt ele podia ver o quão forte e grande ele era. 

— Ah! Obrigado de qualquer forma, meu nome é Matt!

Ele disse enquanto rasgava uma tira da perna das calças para fazer um trapo improvisado para limpar a sujeira dos ferimentos. 

— O meu é Obu, tome, eles serviram esse vinho horroroso, mas bem forte para nós no jantar, você apagou por umas três horas, se bem que levaram meu relógio e não sei exatamente que horas são.

O vinho é ruim de beber, mas deve servir como um antisséptico razoável uma vez que tem tanto álcool quanto um whisky.

— Obrigado cara! Você é legal! Descobriu algo daqui? Onde estamos?

Perguntou Matt enquanto fazia careta, pois o trapo embebido no vinho forte, ardia horrivelmente em seus ferimentos. 

— Você não lembra!? Ele chamou aqui de Astray, disse que é um país ou uma cidade, sei lá, só sei que desde que chegamos, não vi o sol, nem o céu!

Obu fez uma expressão melancólica enquanto dizia o final, Matt percebeu que Obu provavelmente gostava do sol e do céu mais que outras pessoas normais. 

Matt olhou em volta, pela primeira vez desde que acordara naquele chão frio, tentando realmente de maneira fria e calculista entender oque havia acontecido.

Ele e Obu estavam no canto de uma cela grande, que provavelmente caberiam 30 pessoas deitadas dormindo, porém, a capacidade nem chegava perto disso, havia menos de 10 pessoas na cela, e Matt não via a magricela menina loira em lugar algum. 

— Obu, aquela menina loira... 

— Levada! 

Obu o interrompeu 

— Levaram ela logo após o banho, foi uma chacina cara, tinha uma maluca bigoduda, ela resistiu... Nossa! Aquele monstro de pedra pisou tanto na cabeça dela, parecia uma melancia estourada, todos ficamos em choque, mas o monstro disse que se não obedecermos, conosco, será o mesmo, todos nos lavamos, e nos trocamos com essa merda que nos deram, me mandaram te lavar e te trocar, cara, eu só joguei água em você, igual faço com os porcos da fazenda, não ia... 

— Não! 

Dessa vez quem interrompeu foi Matt 

— Ainda bem que você não o fez, se demorasse ou qualquer coisa, teríamos morrido! 

— Então...

Obu continuou

— Depois disso, nos trancaram aqui, menos essa loirinha, o bicho a levou embora, coitada...

Após vários segundos dos dois contemplando o horror que Obu acabara de relatar, Matt indagou.

— E os outros? 

— Estamos quietos né! Vamos fazer oque? Olha o tamanho daquele monstro, ou grossura dessas barras, cara não tenho problemas em morrer, mas tenho medo da forma... 

— Não! Não vou morrer Obu! Eu estava quase conseguindo ter uma vida, droga!

Matt disse desesperadamente.

— Tem que ter uma forma, nem que a gente coma merda e chore sangue! Vamos viver cara! 

— A não ser que você consiga quebrar essas barras, ou abater ou fugir do monstro e de mais quem sabe oque que aquelas mulheres têm aqui, souber onde estamos e aonde temos que ir, e depois voar ou nos teletransportar até esse lugar, vamos morrer.

Obu parecia estranhamente em paz com a ideia da morte, notou Matt. 

* Se você não liga, que morra sozinho*

Pensou Matt 

— Eu vou fazer de tudo para viver Obu!

Disse Matt 

Desde esse diálogo passaram-se dois dias sem muitas ações se não o gigante de pedra trazendo-lhes as rações uma vez ao dia, nesse tempo Matt e Obu continuaram conversando sobre o passado e pensando em planos para fugir, nenhum dos planos se mostrou válido ou minimamente plausível, mas Matt aprendera que Obu advinha de uma família abastada que ganhava sua fortuna cultivando grãos. 

— Ah! Meu corpo? Tem inveja né gordinho! Eu ajudava o pessoal da fazenda sempre que podia, assim além de conhecer os funcionários e a lavoura, ainda ficava com meu tanquinho. 

Falou Obu quando Matt o perguntou sobre seu físico e seu passado 

— E você?

Perguntou Obu.

— Bom, além de gastar metade de tudo oque ganhava em comida, sou faixa marrom de judô, amarela de jiu-jitsu brasileiro e fiz boxe por um tempo também, mas nada sério, era mais para tentar perder peso, aposto que perderia para você numa luta! 

Disse Matt a Obu, Matt sempre gostava de manter uma postura dissimulada ante aos outros, uma vez ele leu em algum lugar "se você tem realmente alguma força, é melhor ser subestimado e surpreender, que ser superestimado e não corresponder" e Matt sempre tinha tido sorte seguindo essa linha de raciocínio. 

— Com certeza eu ganharia! Hahaha!

Disse Obu divertidamente. 

Na manhã seguinte todos os cativos foram acordados abruptamente pela gárgula de pedra batendo forte nas grades. 

— Acordem e prestem seus respeitos seus miseráveis, Lady Marry Sigrid está aqui para escolher qual de vocês será a próxima refeição! 

A mulher ruiva se aproximou das grades, aqueles olhos azuis penetrantes fitando as almas de cada um de seus cativos, Matt se surpreendeu, ela era alta, tinha pouco mais de dois metros de altura.

Não! Ela estava levitando! Sim! Ela levitava com seu vestido mais longo que suas pernas ela parecia mais alta do que realmente era, por um momento Matt sentiu o olhar dela em si, mas não se atreveu a olhar de volta.

— É este que se atreveu em falar direto com Julie, Grogur?

Perguntou a lady vampira. 

— OH! Sim, minha senhora, foi esse verme desprezível, eu o chutei com bastante força, mas pelo visto ele tem grande vitalidade!

Respondeu à Gárgula 

Nesse momento aterrorizado Matt ousou olhar para cima, correndo os olhos no vestido incrivelmente lindo em verde-escuro detalhado com bordados de folhas de plantas que ele jamais vira em sua vida, passando pelos fartos seios da vampira até chegar aos olhos azuis com oque ele agora vira, tinha as pupilas bem dilatadas pelo desejo de seu sangue.

— Hmmm... então será ele mesmo que banqueteará nossa mesa hoje!

Disse a lady vampira em tom jocoso. 

Nesse momento foi como se o chão se abrisse aos pés de Matt, e ele tremendo em desespero caiu, olhando debilmente para a Gárgula abrindo a cela e afastando os cativos, Obu se pondo valentemente entre ele e a Gárgula, e em seguida a Gárgula com as costas de sua mão jogando Obu para o lado, se arremessando metros atrás na parede de pedra. 

* É assim? É dessa forma patética que vou morrer!? Nunca vivi plenamente, e agora vou morrer aqui, sem viver nada, sem viajar para ver nada... E de estômago vazio!*

Pensou Matt desacreditado de seu azar. 

Nesse momento a gárgula o agarrou, Matt não resistiu, a Gárgula o levantou pelo braço com sua grande mão de pedra quase esmagando os ossos do antebraço de Matt. 

— Mova-se banquete! Vamos te lavar para vossa graça se banquetear de você! 

Matt olhou em volta, mas não via mais a lady em lugar algum. 

Grogur o levou até uma sala mais abaixo no subterrâneo, onde de um cano jorrava uma torrente de água constante. 

— Seja uma boa refeição e lave-se sozinho dessa vez, ou eu te darei motivos para querer ser lavar! 

Matt retirou a túnica num movimento rápido e cheio de pavor e escorregando sobre o piso de pedra fria, molhada e limosa chegou a torrente, a água estupidamente gelada tocou sua pele causando um arrepio instantâneo em cada molécula do seu ser 

* Até a água me traiu! Que mundo cruel este, no meu fim, tomando banho gelado com um monstro e de barriga vazia!* 

Matt de alguma forma viu um ar de humor naquilo, o gordinho querendo comida até o fim, até debaixo da água gelada, ele esboçou um leve sorriso para seu próprio infortúnio, um sorriso que não passou despercebido pela gárgula. 

— Uma refeição que ri! Era tudo oque me faltava!

Disse Grogur

— Ah! Mas é que estou apreciando o olhar lascivo que você desprende a meu corpo nu e arrepiado meu senhor! Até o fim me preparou esse banho luxuoso, se realmente quer me conquistar, é só... 

Um tapa duro de uma mão de pedra interrompeu a espiritualidade de Matt enviando ele ao chão com as nádegas nuas, ele deslizou por alguns centímetros até a pedra voltar a ser porosa e lixar seu traseiro sem dignidade. 

— Já que acabou seu banho, vá morrer logo verme! Você não merece a honra de ser o desjejum de nossa baronetesa e suas ladys!

Disse rudemente a gárgula. 

— Ok! Mas se me bater mais elas só terão carne moída para o desjejum, e temo que elas não gostem de carne no meio de seu sangue...

Retrucou Matt enquanto cuspia uma bola de sangue com um dente no chão.

A gárgula o fitou com olhar repreensivo, mas nada fez, então Matt se encaminhou e se vestiu, e Grogur o levou aos empurrões até 3 andares acima, onde era o térreo de uma mansão belamente decorada com mobília e tapeçarias que lembravam o século XVIII londrino. 

— Por aqui refeição! Elas não gostam que a comida demore.

Disse a gárgula enquanto empurrava Matt a direção desejada. 

* Refeição, no fim nem pelo nome irão me chamar...*

Era tudo oque Matt pensava nesses últimos momentos de sua breve vida.

Matt se viu em frente a uma porta dupla ricamente entalhada com detalhes de folhas, pássaros e natureza em geral. 

* Será que eles são vampiros da floresta!? Hahaha! Nada aqui tem ar de Vlad Tepes ou nada assim! *

Pensou Matt enquanto empurrava as portas duplas e entrava, assim que entrou viu às três mulheres, lindas como sempre, sentadas a uma grande mesa, subitamente e sem pensar o corpo de Matt instintivamente recuou um passo, apenas para ele bater debilmente de costas as portas que a gárgula já havia fechado atrás dele. 

* É claro que elas não precisam da proteção da gárgula seu idiota, provavelmente elas são muito mais fortes que ele*

Matt pensou enquanto olhava para elas congelado de medo. 

— Há algo que você realmente queira além de viver pequeno?

Perguntou a mulher pálida que agora que Matt vira novamente era extremamente bonita, com seu tom de pele quase albino. 

— De novo isso!? Logo vão querer adotar humanos de estimação!

Disse insatisfeita a mulher de cabelo preto. 

*essa é a tal baronetesa, qual o nome mesmo? Ah! Sandra Gusmán! Ela é a que manda em todos*

Percebeu Matt 

— Vossa Graça não acha que precisamos de um pouco de entretenimento? Entre as conjurações e a política da corte, basicamente não temos nada, além disso, minha senhora sabe como eu gosto de conhecer as almas humanas!

Retrucou a Lady de branco com um sorriso faceiro em seus dentes perfeitamente brancos. 

— Se minha senhora aceitar, eu também gosto de brincar um pouco com a comida, é um mau hábito, eu sei, mas melhora meu humor...

Concordou a ruiva. 

*A branca é a Lady Julie Portnova, a ruiva Marry Sigfrid, elas estão entediadas e se satisfazem com a morte, minha morte!*

Pensou o apavorado Matt. 

— Responda refeição!

Por fim a baronetesa cedeu. 

Matt em sua sagacidade de vendedor de repente bolou um plano maluco 

* Se não der certo, morro agora, se der, morro depois, e sempre é melhor procrastinar a morte!*

Matt pensou rapidamente e disse! 

— Permita-me apresentar-me a vossa graça, baronetesa Sandra Gusmán, e as ladys Julie Portnova e Marry Sigfrid!

Matt disse isso enquanto olhava cada uma na sua expressão de melhor vendedor possível, incrivelmente as surpreendendo, mesmo que um pouco, então ele continuou.

— Sou Matt Scott tenho 17 anos e completarei minha maioridade em 7 meses! Sou um bom vendedor, mas sinceramente, sou melhor animador de palco! 

Às três se mostraram um pouco mais interessadas 

— Oque é um animador de palco?

Perguntou Lady Julie enquanto lady Marry só olhava e a baronetesa Sandra revirava os olhos. 

*ganhei uma de três, faltam duas!*

Pensou Matt 

— Ah! Minha senhora, animador de palco é uma profissão que consiste em acabar com os momentos ociosos e tediosos, incumbindo-se de animar a plateia idealizando quaisquer shows que as venha a mente! 

Nesse momento a Lady Julie fez prontamente uma expressão de decepção, enquanto Lady Marry revirou os olhos e a baronetesa disse. 

— Viram!? É só mais um bobo da corte! E eu estou com fome droga! Já estão satisfeitas? Vou me servir!

No mesmo instante que a baronetesa acabou de falar, Matt sentiu um arrepio e sem ter tempo para reagir sentiu uma mão puxando sua cabeça para o lado, expondo a carne nua de seu pescoço. 

* Onde está a baronetesa, ah! Ela está aqui, vou morrer! Não!* 

— É de sangue que essa plateia gosta, vou dar tanto sangue que vocês ficarão enjoadas, se você não me matar! 

Nesse momento Matt sentiu um bafo surpreendentemente quente em seu pescoço e algo afiado contra a pele de sua garganta, mas subitamente se afastou. 

* Não acredito, eu ganhei a mais difícil?*

Entendeu Matt desacreditado 

— E como um ser menor como você poderia conseguir mais sangue para nós! 

Respondeu a baronetesa.

* Elas sentem fome!*

Entendeu Matt 

— Ah! Vossa Graça! Eu farei um torneio para vocês! Faremos um chaveamento e lutas entre nós, meras refeições, o perdedor vira a refeição do dia!

Disse Matt não acreditando no que saia de sua própria boca. 

* E como vou fazer isso? Nunca apresentei um show em toda minha vida...

Mas elas também nunca viram um show antes, se realmente estivermos em outro mundo, pode haver coisas que sei que ainda não existem aqui!* 

— Ah! Vossa Graça, ele quer fazer como nos coliseus sangrentos da cidade Estado de Victum! Eu amava ver os combates até a morte que haviam lá!

Disse uma surpreendentemente empolgada Lady Marry. 

— Não seria um mau espetáculo, e teríamos nossa comida.

Concluiu Lady Julie 

Subitamente Matt sentiu seu corpo mais leve, a influência do aperto da baronesa não existia mais, e quando percebeu ela já estava sentada em seu lugar prévio à mesa, junto das outras duas. 

* Como ela faz isso? Parece até teletransporte!*

Perguntou-se Matt 

— Como você é petulante criatura menor! Todos vocês já são meus! Posso apenas mandar vocês se matarem e assistir.

Disse a baronetesa 

* Ela já aceitou a ideia, mas quer explicar a outros o porque tomou essa decisão, e espera a resposta de mim, isso não passa de um teste*

Pensou Matt e por fim disse 

— Sem uma boa cenoura na ponta de uma vara longa, um burro não andará vossa graça, da mesma forma, uma pessoa não batalhará a não ser que veja uma vantagem esperançosa nisso!

Matt disse humildemente olhando ao chão. 

— E como você dará essa esperança aos outros?

Indagou a baronetesa. 

— Liberdade.

Respondeu Lady Julie no Lugar de Matt. 

— Se mandarmos eles se matarem, a maioria ficará em pânico, um ou dois matarão os outros pela mera esperança de serem libertos, mas a maioria seria apenas abatida e nosso espetáculo seria breve e sem emoção, mas ao dar uma esperança palpável, os humanos irão além de seus limites para alcançar esse objetivo.

Continuou Lady Julie. 

— Exatamente!

Concordou Matt 

A baronetesa não esboçou reação. 

— Não me decepcione verme!

Ela disse por fim 

— Grogur! Entre!

Ordenou a baronesa 

A gárgula abriu as portas e se surpreendeu quando viu Matt parado em frente dele perfeitamente bem 

— Vossa Graça...

Tentou dizer o decepcionado Grogur 

— Cale-se e me escute!

Comandou a baronetesa 

Grogur assim como comandado, calou-se e olhou para os pés mexendo rapidamente as pequenas asas, como um rabo de um cachorro. 

* Ele tem raiva de mim, porque sobrevivi*

Percebeu Matt 

— Leve Matt até o primeiro andar subterrâneo e mostre a ele a arena de treinos, dê a ele oque precisar para decorá-la e tranforma-la numa arena de espetáculo, use 20 Ghouls e 40 zumbis para a mão de obra, não mais que isso! Vamos finalmente ter oque fazer por aqui! 

Ordenou a baronetesa com um sorriso satisfeito, olhando para Lady Julie e Lady Marry 

Grogur tomou o Braço de Matt e o arrastou para fora do salão. 

— Maldito língua de seda! Não sei oque fez mais vai se arrepender se não der a baronetesa oque ela quer! Há coisas piores que uma morte rápida! Você verá! 

E Matt pensava enquanto tropeçava tentando acompanhar os passos largos da gárgula.

* Mas pelo menos por hoje, estou vivo! Ah como é bom continuar respirando! *

Capítulo 3: “Linchamento e Amizade”

Enquanto Grogur levava Matt pelos corredores bem adernados e decorados da mansão até o local onde ocorreria o torneio, ele pensava

* É, ainda respiro, mas preciso aprender a ser o produtor, diretor e apresentador do massacre de meus próprios conterrâneos, ou além de trair minha espécie promovendo um espetaculoso massacre, ainda morrerei de uma forma inimaginavelmente agonizante * 

Enquanto pensava nos horrores que poderiam lhe acontecer, Matt chegara ao destino, tratava-se de um salão bem amplo, com cerca de 50 metros quadrados em forma de retângulo, com chão de areia amarelo-claro, bordeado por uma plataforma de pedra branca, a entrada pela lateral esquerda do retângulo que era a arena de treinos, ficava bem em frente a entrada de dois depósitos de materiais de treino igualmente grandes e com as portas, bem a frente da entrada da arena, Matt notara na mesma hora que dali, deveriam sair os competidores, prontos para o * Massacre * pensou Matt, mas ao dar as instruções a Grogur, é claro que substituiu a palavra por "Espetáculo" 

— Então nas duas pontas do retângulo, vamos fazer arquibancadas improvisadas de madeira e colocar 10 ghouls de cada lado a fim de emular uma plateia para aumentar a imersão da baronetesa e suas ladys ao espetáculo, logo na entrada faremos um elevado bem decorado para servir de tribuna de honra de onde elas verão o espetáculo 

* Massacre * Matt pensava a cada vez que se referia ao abate sangrento que haveria ali, sendo organizado por ele mesmo * Todo esse sangue em minhas mãos, corrompendo minha alma, mas não tenho escolha, nesse ou em qualquer mundo, antes os outros morrerem do que eu! *

Tentava argumentar consigo mesmo em pensamento

*Eles fariam o mesmo se tivessem a oportunidade* 

também pensava vez ou outra e continuava dando instruções. 

— A todo momento eu gostaria que servissem vinho e frutas a baronetesa e suas ladys, elas têm de ser muito bem paparicadas, quanto à apresentação dos participantes, eu mesmo irei fazer, mas preciso de sua ajuda honrado Grogur! Afinal, com certeza os participantes irão tentar me matar, você não faria o mesmo?

— Se não fosse pelas ordens de minha senhora, você já estaria morto, verme!

Retrucou a gárgula de maneira áspera, mas surpreendentemente prestando redobrada atenção aos detalhes e instruções que Matt havia lhe dito. 

— E quando você for lutar, e morrer, espero!

Indagou Grogur. 

* Eu não vou morrer seu idiota, eu que vou chavear o evento, nada aqui deixará de passar pelas minhas mãos*

Pensou Matt, mas, na verdade, respondeu 

— Bem, se o que você mais quer tornar realidade, daí então o show é seu, afinal, para que eu estou te dando todas as instruções? Não é mesmo?

Disse Matt 

— Hmm.

Respondeu Grogur num gemido despreocupado de aprovação, sem se preocupar de contradizer Matt. 

Sem se abalar, Matt continuou.

— Precisaremos colocar portas nas saídas dos depósitos! Zumbis irão abrir as portas ao seu sinal, para eu poder apresentar os participantes e dar um tom de suspense a tudo! 

— Mal posso esperar para ver vocês, humanos! Cortando as gargantas uns dos outros nessas areias! Hahaha!

A gárgula dissera a palavra "humanos" como se fosse uma ofensa, Matt percebeu. 

— Ah meu caro Grogur! Não usaremos nenhuma arma cortante...

Disse Matt com uma voz empostada.

— Não!? Mas vocês têm que se matar!

Grogur perguntou com verdadeira confusão. 

— Não Grogur...

Respondeu Matt de maneira desapontada, era-lhe claro que apesar de a gárgula ser bem inteligente, ainda lhe faltava perspicácia quanto as senhoras que ele servia. 

— Apenas armas de contusão! E de preferência de madeira, como tacapes, escudos e martelos, talvez bastões flexíveis à escolha do participante, coisas baratas de se fazer e visualmente violentas, nossas senhoras querem um espetáculo de sangue, mas em hora alguma disseram morte! Elas querem elas mesmas abater o perdedor, e com todo sangue em corpo, se possível, afinal, é disso que elas se alimentam, não é? E com pedras a luta acabaria rápido demais, você viu que encosta em nós e voamos longe! Elas querem ver humanos superarem os próprios limites em busca da esperança de viver! 

* E depois querem esmagar essa esperança cravando seus dentes no pescoço do vencedor* 

Matt completou em seu pensamento. 

— Você me surpreende, humano! Não só trai a sua própria raça, mas também o faz da maneira mais vil, cruel e desprezível possível! Hahaha! É quase como se você fosse um de nós!

Disse Grogur humilhando Matt com um orgulho jocoso e claramente falso.

* Droga, ele tem razão! Eu fui bem demais, e agora não tenho como voltar atrás, mas oque está feito, está feito! Quem sabe fazendo um real e empolgante massacre espetaculoso de minha própria espécie, eu consiga sair vivo daqui... duvido* 

Enquanto pensava isso a boca de Matt quase que se movendo por vontade própria soltou um: 

— Obrigado

Mas sem nenhuma real intenção naquilo. 

Grogur por sua vez disse:

— Agora vamos à cela, você tem que contar aos protagonistas, o seu maravilhoso espetáculo.

Gesticulou com as mãos enquanto sua bocarra abria um sorriso cheio de malícia. 

— Mas uma vez que eu os explique sobre o espetáculo, não poderei ficar lá, serei morto na certa! Imaginei que você faria às vezes de explicar tudo aos outros, afinal, você é o chefe e deve ter essas honras!

Disse Matt com flagrante desespero enquanto pensava. 

* Droga, eles irão me despedaçar com as mãos nuas!* 

Matt tinha certeza que numa briga entre ele e dois ou três humanos sem treinamento ele venceria facilmente, afinal além de gordo, era forte e alto, não tão alto quanto Obu é verdade, mas Obu era fora de qualquer padrão, Matt se lembrava de sempre ser o mais alto nos transportes públicos e sempre batia a cabeça quando descia escadas, era um horror! Mas contra cerca de 10 pessoas, todas desesperadas e com raiva dele, a ele só restava a morte! Mesmo que eles estivessem desarmados, claro que seria diferente se ele estivesse armado 

* Um revólver talvez, ou magia, é esse mundo tem magia! *

Ele pensou, mas logo desistiu da hipótese, afinal não tinha visto nem sequer um estilingue nesse mundo, e magia ninguém ali pararia para o ensinar.

Seus pensamentos foram interrompidos pela fala alta de Grogur assim que chegaram a frente a cela, onde todos os cativos olhavam confusos para o retorno praticamente impossível de Matt, o único que destoava aos demais era Obu, ele parecia feliz em ver Matt vivo e bem. 

— Tenho boas novas!

Disse a gárgula com um sorriso malicioso e irônico em seus lábios grossos de pedra e batendo as pequenas asas como um cão animado faz com o rabo, dando uma pausa antes de prosseguir. 

— Seu amigo aqui conseguiu derreter o coração de nossa baronetesa e suas ladys! Ele conseguiu a vocês a liberdade!

Disse Grogur em um tom animado. 

* Eu sei oque ele quer fazer! Filho de uma cadela!* pensou Matt sem poder interromper a criatura, enquanto pensava, todos os cativos gritavam e choravam de alegria, com a convicção que sairiam ilesos dali e voltariam de alguma forma para o seio de seus entes queridos, quando subitamente Grogur vociferou.

— Calem-se! Eu ainda não acabei, seus animais! É claro que sairá vivo apenas o vencedor! O nosso amigo aqui está produzindo uma arena e vocês lutarão até a morte nela, e o vencedor do torneio será liberto! 

Todos os cativos imediatamente se calaram em choque, suas expressões incrédulas, assim como quem fora eviscerado e agora via os próprios intestinos arrancados, espalhados a sua frente pelo chão enquanto ainda vivo. 

Nesse momento Grogur abriu a cela e empurrou Matt para dentro. 

* Não morri numa sala, para morrer em outra! * 

Pensou entrando devagar e com cautela, como uma presa que mesmo vendo seu predador, anda vagarosamente, sem realizar movimentos bruscos, tentando nos últimos instantes, ganhar quaisquer centímetros de vantagem de seu algoz, mesmo sabendo que logo o instinto de pregação deste iria se ativar, iniciando uma corrida desvairada pela sobrevivência.

E assim sendo o primeiro que falou foi um garoto um pouco mais novo de Matt de cabelos curtos castanhos que dizia 

— Ele trocou nossa vida pela dele! Vamos matá-lo! 

E logo uma torrente de xingamentos, socos e chutes irromperam dos cativos contra Matt, um empurrão o jogou de costas ao chão enquanto ele fazia o máximo para se defender da turba enlouquecida que o atacava. 

* É agora! É assim, é dessa forma que eu morro! * 

Matt pensava, enquanto chutava, empurrava, esmurrava e mordia de maneira selvagem tudo e todos que o queriam morto, quando de repente sentiu duas mãos ásperas e fortes o pegando pelas axilas e o ajudando a levantar enquanto chutava, gritava e afastava os agressores de Matt. 

— Parem seus loucos! Vocês fariam a mesma coisa no lugar dele! Eu faria! E mais! Ele conseguiu que uma pessoa possa sair daqui e denunciar seja lá para quem for, a loucura que acontece nesse lugar!

Disse Obu. 

De repente uma voz feminina, de algum lugar no meio do grupo de cativos alguém retrucou

— O monstro não parece assustado com a possibilidade de ser denunciado, não! Ele chama a outra de baronetesa, ela é da realeza, com certeza todo esse lugar que estamos é maluco e distorcido! 

O vórtice de vozes que concordavam com a mulher que havia dito isso, fosse ela quem fosse, começou a aumentar de volume quando Matt exclamou. 

— Mas pelo menos consegui dela a palavra de deixar um de nós escapar, e não a morte certa para todos nós, como era antes, não seremos abatidos como gado! Teremos a chance de vencer e sair daqui, sei que é uma palavra sem garantias, mas oque mais eu poderia pedir!?

Questionou Matt, dando uma breve pausa antes de continuar. 

— Se ela realmente for um membro da realeza deste mundo, e sim, lá fora constatei que estamos em outro mundo, com monstros e magias, a palavra dela deve valer de alguma coisa, certo? Sinceramente, eu fiz mais por qualquer um aqui, e mais do que qualquer um de vocês teria feito! Afinal, eu também vou participar! E se um gordo que acabou de ser surrado por vocês vai participar, oque vocês têm a perder? 

Matt olhou para Grogur enquanto os cativos se acalmavam e viu ele se afastar calmamente enquanto mantinha em sua bocarra, aquele desprezível sorriso zombeteiro.

— Você está bem?

Perguntou Obu para Matt, que cuspindo sangue, proveniente do corte em seu lábio num canto da cela respondeu. 

— Ainda vivo!

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