Dois homens riam e conversavam enquanto comiam um belo churrasco e bebiam a mais gelada cerveja, escutando músicas animadas na beira de uma praia ensolarada, descalços vestindo bermudas largas sem camisa, quem visse de longe, jamais imaginaria que um deles era o Deus vampiro de um mundo mágico e o outro um mero semi-humano servo de uma baixa realeza.
— Então ele tentou roubar vintão da minha mochila, mas além de não conseguir nada, ainda saiu com o nariz quebrado! Hahahahahaha!
Matt ria enquanto distorcia as histórias de sua infância para Gwaed, que também contava ao garoto histórias antigas de seres que ele conhecia.
— E a Marry, não acredito! Ela tinha tudo para ser uma condessa, eu até me encontrei com ela uma ou duas vezes, sabia? Ela chegou a ser uma elegível do passado! Mas depois de meter a porrada em meio mundo, ela quis ir pro meio do nada ser a mera baronetesa de uma vila, só porque não gostava de política! Hahahaha! Ainda não acredito que a mesma política que ela renegou, derrubou a posição dela, na corte! Hahahaha! Ainda bem que você não é assim né Matt, você vai querer uma vida diferente da vida que você teve até agora, não é mesmo Matt, uma vida cheia de luxos, prazeres e mulheres...
Gwaed ria enquanto ouvia Matt dizer:
— Se um Deus bondoso, amigo e meio maluco me der as ferramentas para isso, eu vou ser o que você quiser Gwaed! Hahaha!
Os dois amigos riam e se abraçavam bêbados e de estômago cheio numa farra que parecia não ter fim, pelo menos até um deles se lembrar da vida fora da "dimensão branca" e estalar os dedos.
E gargalhando de olhos fechados, Matt dizia:
— Hahaha! Eu vou te falar, vou ter que pegar a Marry pela mão e levar ela ao topo, pelo jeito aquela uma tem músculos no lugar do cérebro, não é mesmo Gwaed?
— ...
— Gwaed?
Matt abriu os olhos de sua gargalhada alta e sentiu-se estranhamente sóbrio, e de barriga vazia, olhou para o lado e viu lady Marry olhando-o com o olhar que uma leoa dá a um filhote de gazela.
— Aquela uma? Músculos no lugar de cérebro?
Lady Marry disse entre os dentes fazendo uma pausa antes de continuar:
— Você chamou nosso Deus pelo nome Matt? É isso mesmo que eu ouvi?
Matt levantou-se da cama novamente e disse como uma criança da pré-escola diz a sua professora:
— Desculpe lady Marry! É que ele me teve como seu escolhido e estávamos comemorando, aliás, quanto tempo eu dormi dessa vez? Fiquei uns três dias por lá!
Lady Marry deu um forte soco de cima para baixo na cabeça de Matt, criando um calombo sob seu couro cabeludo no instante após o golpe, enquanto ele colocava as mãos na cabeça tentando amenizar a dor do golpe ela disse:
— Você deve tratar o Deus vampiro com reverência! E não festejar com ele! Só pelo motivo dele ter... Espera? Ele te escolheu? Sério? Mas você acabou de falar com ele? E agora falou de novo? Ele já te escolheu? Que droga Matt isso é muito rápido!
Após ouvir todas as reclamações da vampira incrédula, ele respondeu:
— Não só isso como ele quis me transformar em um vampiro, mas lady Julie não deixou, pelo visto, além de agora eu ser algo entre um vampiro e um humano, ele me contou sobre a história desse mundo e explicou as minhas variantes, além de é claro, me contar muitas coisas sobre uma vampira anciã muito forte, respeitável e leal, além de uma exímia estrategista de guerra, que acabou por escolher uma propriedade o mais longe possível da corte apenas para não se envolver com política, mas que acabou por ter seu direito roubado pela mesma política que ela odiava.
Os olhos da baronetesa deposta encheram-se de lágrimas ouvindo sobre sua vida.
— Ele ainda cuida de mim então, mesmo depois de todos esses séculos? E enviou você para nós, afim de eu ter minha segunda chance... E você tem duas variantes?
Lady Marry no final do choro e no começo de um riso terno completou:
— Pelo menos vai ser mais fácil fazer de você um rei, do que foi com Asmodon. E visto que você é o escolhido, parece que agora eu tenho que te guiar não é mesmo?
— Foi o pedido de Gwaed a você!
Respondeu um orgulhoso Matt.
— Então agora você não é mais humano?
A voz grave de Obu se destacou no canto do quarto.
— Ele me disse que sou algo entre um humano e um vampiro, sou algo mais forte que um humano comum, mas mais fraco que um vampiro, e bem mais fraco que a antiga baronetesa anciã aqui!
Matt disse de maneira divertida apontando a lady Marry ao seu lado com o polegar.
— Então já que temos lady Marry, e você, vamos lá matar aquela desgraçada e vingar o Josh, ou na sua farra com o tal Deus vampiro, você esqueceu do que aconteceu a algumas horas atrás?
Disse Obu com raiva nos olhos.
— Não me esqueci! Mas agora seria impossível Obu, ainda não sou forte o suficiente e se a lady Marry tentasse sozinha, perderia como na última vez.
Explicou Matt.
Lady Marry se levantou e colocando uma mão no ombro de Obu disse:
— Sei que está com raiva, acredite, eu também estou, amanhã completará uma década da minha derrota vergonhosa, uma década que ela tomou minha cidade de mim, e uma década que os cidadãos da minha cidade de Baêta sofrem com as leis e ordens ridículas, que ela os obriga a obedecerem, leis essas que vem direto das mãos do conde Ha'mla
Matt complementou a explicação da vampira:
— A variante dela é chamada de "Comando hierárquico" Obu, ou seja, comandos vocais dela exercem poder sobre os seres, com base no nível hierárquico que esse ser tem na corte da noite. Portanto, se ela nos mandar morrer, nós só cairemos mortos, A minha variante é ser imune a poderes intangíveis como o dela, porém, como eu não sou um vampiro completo, minha variante pode não funcionar, e como estou muito abaixo dela, na hierarquia, o poder que a variante dela exerceria sobre a minha, seria muito forte.
Obu com olhar de desespero perguntou:
— Então vamos só esperar aqui pela morte?
— Vamos esperar Julie se recuperar Obu, então nós podemos pensar em algum plano para finalmente matar aquela maldita!
Disse lady Marry, se referindo a baronetesa.
— Lady Marry, estou faminto e posso fazer uso de um bom vinho depois de tudo, e aposto que Obu também, há a possibilidade de um zumbi ou ghoul trazer-nos comida?
Perguntou Matt, para ouvir a resposta de lady Marry:
— Claro! Já faz um tempo que não sou humana, por isso me esqueço que vocês têm que comer várias vezes ao dia, vou até à porta pedir vinho, pão e carne, Matt cuide das coisas por aqui, volto logo!
Matt levantou-se da cama e sentou-se à mesa, e convidando Obu para sentar à mesa junto dele falou:
— Vamos vingar Josh meu irmão! Mas preciso ficar mais forte, por algum motivo lady Julie não quis me transformar em vampiro, mas ela parece estar se recuperando rápido com meu sangue, e Obu, cara, eu estou me sentindo mais forte do que nunca!
Obu tomando um lugar ao lado de Matt disse com um leve sorriso:
— Aposto que eu ainda ganho na queda de braço!
Matt não se deu ao trabalho de responder, apenas apoiou o cotovelo contra a mesa, Obu entendendo, fez o mesmo e quando começaram um baque surdo pôde ser ouvido de longe "Pááá!".
Lady Marry chegou com duas bandejas com comida nas mãos, apenas para ver Obu com a mão sangrando, e a mesa de desjejum de pura madeira de lei centenária, cravejada de pedras preciosas, partida ao meio pela força descomunal de Matt.
— Testando sua força, não!? Ótimo! Vocês irão comer no chão! E Matt! Seu primeiro ato como futuro membro da corte, será me pagar essa mesa! Ela valia no mínimo, um ano do rendimento da cidade de Baêta!
Disse a vampira com um riso cheio de ternura, adivinhando os acontecimentos.
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Atualizado até capítulo 57
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