Virando nosso mundo de ponta cabeça

Leah passou as próximas horas organizando a sua saída do hospital. Conversou com o gerente que dispôs em ajudar no que fosse preciso, pediu uma licença não remunerada e agradeceu por tudo que ele fez por ela até então. Passou na sala da enfermagem e despediu dos amigos, todos choraram e desejaram toda sorte do mundo. A todo o momento Noah esteve do seu lado, ele as vezes segurava ela pela cintura quando sentia que ela iria falhar.

A pior parte foi encontrar Summer, ela chorava igual uma criança, acabou sendo dispensada para casa também. Poucos sabiam, mas foi ela quem esteve do lado dela durante toda a sua trajetória na cidade, desde que chegou a ser trabalhar no Parkinson, ela sempre a apoiou a fazer o curso de enfermagem e assim ela fez, o que deu uma melhor condição para ela e Lian, ela amou ele desde que nasceu, e sempre estava lá quando ela precisava. Ambas se abraçaram e sentaram na parte de trás do carro, deixando Noah e Luck na parte da frente. Foi um percurso silencioso e triste.

_ Leah, já está tudo pronto para partirmos pela manhã, Tessa entrou em contato com um médico amigo para reavaliar Lian, você só precisa arrumar as coisas para partirmos, lá em Houston eu tomo conta de tudo. Fica calma, tudo vai ficar bem, eu estou aqui e não vou a lugar algum. Eu vou tomar conta do nosso filho. _ Noah tentava passar tranquilidade que ele mesmo não sentia.

_ Obrigado. _ Foi o máximo de palavras que ela falou, parecia está perdida nos seus próprios pensamentos.

Chegando em casa foram recepcionados por um Lian sorridente.

_ Mamãe você está a passar mal? _ Perguntou preocupado.

_ Calma garoto, a mamãe está com dor de cabeça e precisa de um banho, terminou seu protótipo? _ Noah tomou a frente da situação.

_ Acho melhor eu tomar conta da mamãe primeiro.

_ Que tal assim, vai para cozinha com a tia Summer e faz algo para mamãe comer enquanto isso eu ajudo ela?

_ Está tudo bem mesmo? Até a tia veio para casa? _ Lian olhou assustado.

_ Está tudo bem querido, a mamãe vai tomar um banho e vai ficar tudo bem. Eu já desço tudo bem? _ Leah deu um beijo no alto da cabeça do filho.

Nisso Summer segurou a mão de Lian e caminhou para cozinha, que logo se distraiu com algum comentário do Luck sobre mulheres serem sensíveis, ainda teve tempo de ver Summer dar um soco no braço dele. Subiu com Leah até o quarto, ela jogou-se na cama e recomeçou a chorar.

_ Você precisa ser forte por ele..._ Noah começou.

_ Para você é fácil falar, não foi você que passou os últimos anos aqui ao lado dele, não foi você que foi quase a loucura a cada crise de febre. Nem quando ele caiu a primeira vez. O senhor não faz ideia do que estou a sentir, fui eu, contudo sofri até então, fiz de tudo por ele, mesmo assim eu falhei, eu falhei com o meu bebê.. _ E nova onda de choro a toma, com lágrimas grossas rolando no rosto.

_ Ei, eu sei que você me odeia. _ Ele diz a puxar ela para seu colo._ Mas eu juro que eu não sabia dele, eu jamais abandonaria o meu filho, olhe para mim. _ Ele ergue os olhos dela na sua direção. _ Eu jamais lhe abandonaria. Infelizmente não posso voltar atrás, mas eu estou aqui agora, e eu não vou a lugar algum. _ Ele dá um beijo casto nela. _ Tome um banho, lave esse rosto e vamos precisar conversar com ele.

Leah se levantou e encaminhou para o banheiro, Noah achou melhor dar um pouco de privacidade para ela e desceu para cozinha. Parou na sala e ficou a escutar a risada do seu filho, os olhos encheram de lágrimas, não aceitaria perder o filho por nada, ele movimentaria o mundo pelo bem-estar dele. Parou no batente da porta e ficou vendo enquanto a babá preparava a sopa Luck e Summer jogavam Uno com Lian.

_ Esse jogo não faz sentido nenhum, você nunca ouviu falar de poder moleque, isso nem deveria ser considerado um jogo. Eu não quero jogar mais. _ Luck entregou a pilha de cartas que tinha nas mãos arrancando gargalhada de Lian

_ Tio você é péssimo.

_ Do que você me chamou?

_ Tio, você é meu amigo e eu gosto muito de você, assim como gosto da tia Summer, e ela ensinou-me que não precisamos ter laço de sangue para considerar a pessoa como Tio.

_ Sua tia Summer é uma bruxa. _ Luck levantou com os olhos cheios de lágrimas e saiu a esbarrar em Noah porta afora.

_ Penso que ele não gostou. Eu vou pedir desculpas...

_ Acredito que ele gostou sim, você só pegou ele de surpresa. Eu vou ver como ele está, enquanto isso acaba com a Summer. Eu já volto. _ Noah disse saindo.

Do lado de fora um Luck furioso fumava um cigarro, ele nunca fumava. Noah encostou ao lado dele silêncio e deu o tempo para ele se recuperar.

_ Não importa como, você vai gastar até o seu último centavo, mas nós vamos tratar ele e ele vai ficar bem. E eu vou ser guarda-costas dele agora. Vou onde ele for.

_ Não esperava menos do que isso de você. _ Noah tocou no ombro do amigo. _ Pela manhã partimos, ele vai ter o melhor tratamento possível. Ele te colocou no bolso também. _ Disse a rir Noah. O que fez Luck esfregar os olhos.

_ Ele é só um menino, isso não é justo.

_ Não é justo, agora que encontrei o meu filho. _ Noah começou a chorar. _ Nas últimas horas só passa na minha cabeça a memória dos meus pais e do meu irmão.

_ Para cara, nós estamos aqui e vamos fazer de tudo por aquele garotinho lá dentro, apesar dele me roubar no jogo, ele já roubou meu coração.

_ Ei vamos jantar. Tem um mostro no meu estômago. _ Lian chega gritando.

_ O único mostro é você, seu pestinha. _ Diz Luck levantando no colo.

_ Desculpa Luck, eu não vou mais lhe chamar daquele jeito...

_ Se você não me chamar tio, eu vou-te pendurar de cabeça para baixo. _ Luck ameaça segurando ele pelas pernas arrancando gargalhadas.

_ Sei que as pessoas mais velhas tem medo de ser chamadas tio por estarem a ficar velhas. _ O menino caçoa a rir mais alto.

_ Toma o seu monstrinho. _ Luck entrega para Noah.

_ Também está triste tio? _ Lian pergunta.

_ Triste não, só um pouco preocupado, mas depois do jantar vou ficar melhor. Vamos alimentar o mostro do seu estômago.

Todos se sentaram e comeram tentaram trocar algumas palavras, a sorte foi Lian que não parava de falar no seu protótipo e como ele estava confiante em ganhar a competição. Isso também precisava ser discutido. Terminaram a refeição, Summer e Luck se encarregaram da cozinha já que a babá foi dispensada. Noah, Leah e Lian encaminharam-se para a sala, era hora de conversar sério.

_ Lian, precisamos conversar sério agora, e preciso de toda a sua atenção. _ Leah começou._ Os resultados dos seus exames saíram. Precisamos ir a outro hospital para ver alguns exames complementares.

_ Eu tenho câncer? _ Lian perguntou.

_ Quem lhe falou isso? _ Leah ficou aflita.

_ Ninguém mamãe, eu pesquisei a algum tempo sobre a minha condição, e o caso mais grave seria esse, e pela sua reação e já deduzir. _ O menino falava com tranquilidade da criança, mas sabedoria de um adulto.

_ Não tem por que mentir para você Lian, você é inteligente demais para ficar a esconder as coisas. A sua mãe está nervosa por ser algo desconhecido, e você é o bebê dela._ Noah completou.

_ Não precisa ficar assim mamãe, eu estou bem, você está preocupada de não poder pagar o meu tratamento? Eu li que alguns hospitais têm tratamento para pessoas que não podem pagar. Vai ficar tudo bem, eu não preciso gastar dinheiro com o concurso, nem é importante.

_ Ei carinha, eu vou-te levar para um médico amigo meu cuidar de você, e não quero que você fique a pensar em dinheiro mais. E vai concluir o seu protótipo, se não for para essa feira vai ser para outra. Eu vou tomar conta de você agora. _ Noah diz.

_ Você vai cuidar de mim?

_ Claro, amanhã cedo nós partimos para Houston, você vai para minha casa e lá vamos cuidar de você.

_ Eu não vou sem a mamãe.

_ Claro que não, vocês dois vão comigo. Enquanto você fizer o seu tratamento a mamãe vai ficar com você, e ela não vai mais precisar preocupar com o trabalho.

_ Você aceita mamãe?

_ Claro meu amor, vou ficar diariamente do seu lado, até você se recuperar. _ Leah abraçou forte o filho nos braços enquanto cheirava o cabelo dele, e não conteve a outra enxurrada de lágrimas. _ Vai ficar bem rapidinho, tenho certeza. _ Leah olhava nos olhos de Noah procurando a confirmação.

_ Ele vai, eu prometo.

Noah pegou Lian nos braços, Leah não tinha forças, levou ele até o banheiro e o fez escovar os dentes, ajudou a trocar o pijama e o deitou na cama.

_ Amanhã cedo vamos pegar o jatinho para Houston, vai gostar de lá, e sempre quente e no prédio que moro tem uma grande piscina.

_ Eu não sei nadar, vou-me afogar. Mamãe diz que eu pareço martelo sem cabo, se eu cair na água afundo na piscina. _ Os três riem pela primeira vez.

_ Não é de admirar com o frio que faz aqui, você nunca deve ido a uma piscina, mas lá vai poder ir todo o dia, e eu vou-te ensinar a nadar, e vou-te levar para conhecer monte de coisa legal. Pense que vai ser como férias para você e a mamãe.

_ Tio... Por que você vai fazer tudo isso por mim, e porque eu não tenho um pai?

_ Primeiro, eu vou fazer isso por que lhe amo, segundo você tem pai.

O sangue de Leah gelou enquanto preparava a mala do filho.

_ Mas ele não está aqui... Você vai casar com minha mãe e ser meu novo pai.

_ Já falou demais mocinho, hora de dormir. _ Leah interveio.

_ Melhor obedecer, ela ficou vermelha, pode sobrar para gente. _ Lian confidenciou com Noah que riu e piscou.

Saíram do quarto em silêncio, após fechar a porta o embate teve início.

_ O que você pensa que está fazendo? _ Leah perguntou alterada

_ Estava a colocar meu filho para dormir.

_ E você ia contar para ele?

_ Leah até quanto você pensa esconder dele que eu sou o pai dele?

_ Ele já tem muita coisa acontecendo, de um tempo, como eu vou explicar que engravidei de um desconhecido é não o encontrei mais? E agora milagrosamente ele aparece como se nada tivesse acontecido?

_ Você pode esbravejar o tanto quiser, a questão é que agora eu estou aqui e eu não vou a lugar nenhum. Não vou abandonar meu filho.

_ E se eu não quiser você na minha vida?

_ Isso é um direito seu, mas você não pode me afastar da vida do meu filho. Pense nisso Leah, e passar bem. _ Ele virá as costas e vai embora.

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