Era uma segunda-feira ensolarada, mas Luca não estava muito entusiasmado. O fim de semana tinha passado rápido demais, e ele não estava pronto para encarar a rotina da escola novamente. Enquanto cruzava o portão do George Beckett High School, algo no pátio chamou sua atenção: Connor, normalmente sempre com uma expressão de sarcasmo ou uma energia explosiva, estava... rindo?
Luca estreitou os olhos e tentou entender o que estava acontecendo. Connor estava cercado pelos dois mesmos garotos que sempre o acompanhavam — Joshua, o loiro, e Emett, o ruivo com sardas. Os três pareciam estar em uma conversa descontraída, e os risos que vinham do grupo eram surpreendentemente normais.
"Que milagre ele não estar fazendo escândalo ou conversando como se estivesse brigando... Os garotos ao redor dele estão até rindo," Luca pensou consigo mesmo, ainda incrédulo com a cena. Ele continuou caminhando, seu plano bem claro: passar direto, sem ser notado, e ir direto para sua sala. Mas, claro, o universo tinha outros planos.
Connor percebeu Luca de longe e, com um sorriso, acenou animadamente. Luca hesitou por um segundo, acenando de volta, mas logo se arrependeu. "Ótimo, ele me viu," pensou, sentindo uma onda de desconforto.
Connor, no entanto, não deixou por isso. Ele fez um gesto com a mão, chamando Luca para se aproximar. Luca tentou recusar, balançando a cabeça de leve, mas Connor insistiu, gesticulando de maneira ainda mais enfática. Finalmente, sem ver outra saída, Luca cedeu e começou a andar na direção deles, de forma um tanto relutante.
Quando chegou mais perto, Connor sorriu ainda mais e o apresentou aos seus amigos.
— Ei, esse aqui é o Luca, o novo ajudante do Conselho! — disse Connor com uma mistura de orgulho e provocação. — Luca, esses são Joshua e Emett.
" Ajudante do conselho? Eu não ganhei nenhum tipo de cargo dentro do conselho, Só tô tentando ajudar a escola a não ruir com teu comportamento " pensou Luca consigo mesmo
— Fala aí, cara! — Joshua, o loiro, estendeu a mão com um sorriso amigável. Ele parecia bem mais acessível do que Luca esperava.
— Opa! — Emett, o ruivo com sardas, também cumprimentou Luca com um aperto de mão rápido.
— Prazer em conhecê-los. — Luca tentou soar educado, mas ainda se sentia meio deslocado. — Eu... preciso ir para a sala. Senão vou me atrasar.
— Tudo bem, a gente se vê mais tarde então — disse Connor, acenando despreocupadamente.
Luca acenou de volta, com uma certa urgência, e seguiu rapidamente para sua sala.
Já na sala de aula, Luca tentou se concentrar, mas seu pensamento continuava vagando para a interação com Connor e seus amigos. “Será que deveria ter ficado mais tempo com eles? Como as pessoas fazem isso tão naturalmente?” Esses pensamentos ecoavam em sua cabeça enquanto ele tentava prestar atenção no que o professor dizia.
Ele tirou o caderno da mochila e, em vez de copiar a matéria, começou a rabiscar formas de como socializar, baseando-se em um vídeo que ele tinha visto no YouTube sobre como se conectar com as pessoas.
"Começar conversas com perguntas fáceis..." ele anotou.
"Ser positivo e usar o humor..." escreveu em outra linha, tentando não parecer óbvio com seu desconforto.
Enquanto rabiscava mais algumas anotações, ele começou a fazer desenhos de pequenos bonequinhos em situações sociais. Um deles era ele próprio, tentando fazer amizade com uma pessoa, mas a outra pessoa tinha uma nuvem de interrogação sobre a cabeça. A imagem era meio patética, mas de certa forma, era exatamente como ele se sentia.
Ele estava tão focado em suas anotações e rabiscos que não percebeu que Thomáz, o garoto que tinha feito uma piada maldosa sobre Luca na semana passada, havia se aproximado.
— E aí, Luca! Já foi convocado pro Conselho de novo, ou eles te deram um crachá agora? — Thomáz zombou, um sorriso malicioso se espalhando por seu rosto.
Luca, distraído com seu caderno, apenas olhou rapidamente para Thomáz e voltou a se concentrar nas suas anotações. Ele não estava no clima para esse tipo de interação.
Thomáz, irritado por ter sido ignorado, se aproximou mais e cutucou Luca no ombro.
— O que foi? Tá ocupado planejando a próxima reunião secreta com o grêmio estudantil?
Luca suspirou, tentando manter a calma, e continuou escrevendo no caderno: “Evitar reações agressivas pode ajudar a desarmar uma situação negativa.”
Thomáz parecia não gostar de ser ignorado, e sua expressão mudou de provocação para algo mais irritado. Ele deu uma olhada no que Luca estava escrevendo e fez uma cara de desdém.
— Ah, entendi, você tá tentando descobrir como ter amigos? — Thomáz zombou, sua voz alta o suficiente para que outros alunos nas proximidades começassem a ouvir e rir baixinho.
Luca respirou fundo. Ele sabia que reagir só alimentaria o comportamento de Thomáz, então simplesmente balançou a cabeça e voltou a rabiscar.
Thomáz, no entanto, não estava pronto para desistir.
— Ou será que você tá anotando dicas do seu novo melhor amigo, o Connor? — Ele riu, tentando chamar mais atenção.
Dessa vez, Luca parou o que estava fazendo e, calmamente, olhou para Thomáz.
— Não tenho tempo pra isso, Thomáz. Vai procurar outra coisa pra fazer. — Sua voz era calma, mas firme, e ele voltou a focar no caderno, cortando a conversa antes que ela pudesse escalar.
Thomáz ficou visivelmente irritado com a falta de reação e, bufando, se afastou, murmurando algo inaudível.
Luca respirou fundo mais uma vez. "Uma situação desarmada com sucesso," ele pensou com uma pitada de sarcasmo enquanto voltava ao seu plano de sobrevivência social. Mas no fundo, ele sabia que a escola ainda seria um lugar complicado para ele...
Luca voltou a se concentrar no vídeo, anotando mais dicas no caderno. Ele sabia que a escola era um campo minado social, mas talvez com o tempo e prática, as coisas pudessem melhorar. "Escutar mais e falar menos... fazer perguntas para manter uma conversa..." ele escreveu, rabiscando as palavras com uma caligrafia quase automática.
O sinal tocou, indicando o fim daquela aula. O professor saiu, e os alunos começaram a conversar, aproveitando a ausência do próximo professor, que aparentemente não viria. Mas Luca mal percebeu, ainda absorto em seu vídeo e nas dicas sobre como socializar.
Então, uma sombra surgiu ao lado dele, e a voz irritante de Thomáz interrompeu seus pensamentos.
— Aí, Luca! Que tá fazendo agora, anotando mais segredos do Conselho Estudantil? — disse Thomáz com um tom carregado de deboche. Ele estava acompanhado por seus três amigos, que o cercavam como um pequeno grupo de hienas esperando por algo divertido.
Luca ergueu os olhos rapidamente, tentando ignorar. "Evitar confrontos desnecessários, manter a calma," ele relembrou uma das dicas do vídeo. Mas as provocações continuavam.
— Vai me dizer que você tá estudando como ser um líder, igual a secretária do conselho agora? — Thomáz continuou, forçando um riso enquanto seus amigos trocavam olhares divertidos.
Luca respirou fundo e, mais uma vez, tentou ignorar, concentrando-se no vídeo e em suas anotações. Thomáz, no entanto, insistiu.
— Tá me ouvindo? — perguntou Thomáz, agora se inclinando sobre a mesa de Luca. A paciência de Luca estava no limite, mas ele se manteve calmo. Levantou a cabeça devagar e, com uma expressão serena, respondeu.
— Thomáz, eu não tô afim de ter qualquer conflito. Pode me deixar em paz por favor?
A sala ficou em silêncio por um momento. Alguns alunos já estavam observando a interação, curiosos com o desenrolar da situação. Thomáz, sentindo-se desafiado, deu um passo à frente e sorriu de maneira maliciosa.
— Ah, então você tá criando coragem agora, é? Virou homem pra responder? — provocou ele, a voz cheia de veneno.
Luca fechou o caderno com calma, segurando-o junto com a caneta. Ele se levantou, colocando o material debaixo do braço, e olhou diretamente para Thomáz.
— Eu só não vejo necessidade de perder meu tempo com isso, Thomáz. Já que o professor não veio, vou me ausentar da sala por um tempo.
Ele começou a caminhar em direção à porta, mas Thomáz, irritado por ter suas provocações ignoradas, interceptou o caminho. Com um empurrão, ele jogou Luca contra os pequenos armários onde os alunos guardavam seus pertences. Luca não chegou a cair, mas o impacto fez suas costas doerem ao baterem nos armários.
Thomáz avançou, pronto para tentar resolver a situação com violência, o orgulho ferido pelas respostas calmas e astutas de Luca. Mas antes que ele pudesse fazer qualquer coisa, Brendon, o líder da classe, levantou-se rapidamente e se colocou entre os dois.
Brendon era bem mais alto que Thomáz, com cerca de 1,86m, o que o tornava uma figura intimidadora naquele momento. Ele estendeu a mão, impedindo qualquer avanço de Thomáz.
— Chega, Thomáz. Isso aqui não é briga de rua, e você tá agindo como uma criança — disse Brendon, com uma voz firme que ressoava autoridade.
A sala inteira estava agora prestando atenção. Alguns cochichavam entre si, enquanto outros apenas observavam a cena em silêncio. Os amigos de Thomáz, que até então estavam prontos para apoiar qualquer ação, começaram a recuar, voltando para seus lugares com expressões desconfortáveis.
Thomáz, no entanto, não estava disposto a recuar sem ao menos retrucar.
— E você, Brendon, vai ficar do lado dele agora? O cara fica se achando, e você quer que eu só aceite isso?
Brendon, mantendo a calma, olhou diretamente nos olhos de Thomáz e respondeu com firmeza.
— Ele está na dele e você está o incomodando,eu não sou cego. Vê se você se comporta como um aluno do ensino médio, Thomáz. Caso contrário, acho que deveria voltar ao fundamental e revisar as matérias de Ética e Moral Cidadã. — Ele fez uma pausa, olhando em volta para ver se Thomáz ainda tentaria reagir. — Ou será que você precisa de repetir os anos letivos para a matéria pregar na sua cabeça?
Thomáz hesitou, claramente incomodado com a presença de Brendon e a autoridade que ele emanava, enquanto alguns dos alunos riam da situação. Ele finalmente deu um passo para trás, bufando de frustração, e se sentou em sua cadeira, cruzando os braços de maneira defensiva.
Brendon se virou para Luca, oferecendo-lhe um olhar compreensivo.
— Desculpa por isso, Luca. Espero que ele não te incomode mais.
Luca, ainda se recuperando do susto e do impacto, respirou fundo e acenou com a cabeça.
— Obrigado, Brendon. Eu só... estava tentando evitar confusão.
— Eu sei. Aonde você vai? — Brendon perguntou, genuinamente curioso.
— Vou à biblioteca. Preciso de um tempo pra esfriar a cabeça.
Brendon assentiu, dando um passo para o lado, abrindo espaço para Luca passar.
— Vai lá. Se precisar de mais alguma coisa, me avisa.
Luca agradeceu com um pequeno sorriso, aliviado por ter evitado uma situação ainda pior. Ele saiu da sala, sentindo os olhares de todos nas suas costas, mas ao menos agora, o ambiente parecia menos sufocante.
Enquanto caminhava pelos corredores em direção à biblioteca, Luca pensava em como a escola podia ser um lugar complicado e cheio de armadilhas sociais. Mas, naquele dia, ele se deu conta de uma coisa importante: às vezes, ser firme e educado era mais poderoso do que ele imaginava.
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Atualizado até capítulo 21
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