Capítulo 18

Aurora Cartier

A reunião é turbulenta. Mais ou menos na metade dela, o pai do Nicollas faz uma grande entrada e todos saem rapidamente da sala, deixando os dois Arnault se atacando como touros furiosos.

Observo, do lado de fora da sala, os muitos olhos que os assistem através da parede de vidro. Viro de costas pra eles, com o iPad na mão, e respondo aos meus e-mails.

Posso ouvi-los discutindo em outra língua, pra que ninguém entenda o que estão dizendo. O pai do Nicollas está furioso, mas o filho está provocando-o. Posso perceber pelo seu tom de voz, e uma olhada rápida para a sua postura agressiva confirma isso.

Ele nunca sabe quando parar. A fusão ainda pode ser cancelada; ele deveria estar amenizando as coisas, não deixando que os seus sentimentos o dominem. Finalmente, o Sênior sai furioso da sala, gritando alguma coisa hostil e o Nicollas bufa em resposta.

O Sênior olha pra ele antes de ir embora com uma enxurrada de assistentes nervosos correndo atrás dele e o ar fica estalando de tensão.

“Aurora!” A voz de Nicollas me faz dar um pulo; ele parece bravo. Eu me viro enquanto ele sai da sala, afrouxando a gravata. Seus olhos, geralmente tranquilos, estão turbulentos e obscuros, e, apesar da sua expressão controlada, sei que ele está irritado. “Essa fusão vai acontecer”, ele quase rosna pra mim, parecendo um pouco feroz.

Engulo meu nervosismo. “Ele não vai impedir?” Estou surpresa.

“Ele não pode.” Ele franze a testa e segura o meu braço, me puxando de volta pra sala de reuniões antes de fechar a porta, e me segura perto do seu rosto. Outro exemplo da sua abordagem mão na massa. “Já é de conhecimento público, exatamente como planejei. Se meu pai ou o Hunter desistirem agora, vai prejudicar a reputação dos dois. Eles podem ganhar muito dinheiro e muitos empregos dependem dessa fusão. O Hunter não pode recusar; a empresa dele vai falir se ele fizer isso.”

Agora consigo perceber como ele manipulou esse acordo em maneiras específicas e deixou vazar algumas informações de proposito nas ultimas semanas. A inteligência por trás dos músculos foi uma das razões pelas quais o seu pai sempre o incentivou a se envolver nos negócios da família.

Engraçado ver como o tiro saiu pela culatra. “Se ele vai ganhar com isso, por que está tão bravo?” Pergunto.

Sei que o Sênior, Jonathan Arnault, se importa com o dinheiro acima de tudo.

“Ele odeia Erick Hunter, você sabe disso.” Ele encolhe um ombro e olha por cima da minha cabeça, franzindo a testa pros funcionários que passam no corredor.

“Por que você decidiu fazer esse acordo se sabia que seria desse jeito?” Faz semanas que estou morrendo de vontade de fazer essa pergunta, mas não acho que eu deva ficar questionando-o.

A expressão do Nicollas se fecha e ele parece pensativo. “Vamos comer alguma coisa; não quero conversar aqui.” Ele olha pra cima e pra fora de uma das longas janelas de vidro de novo, como se insinuasse que as paredes podem ter ouvidos.

“Você acabou de almoçar, Nicollas”, ressalto, mas ele encolhe os ombros, e sei que isso não importa. Ele tem o apetite de um cavalo. Esse rapaz poderia comer o dia todo e ainda encontrar espaço pra uma sobremesa.

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