Capítulo 05

Aurora Cartier

Eu me recomponho enquanto aliso amassos invisíveis das minhas roupas e endireito a minha postura, tentando recuperar o meu ar profissional. Odeio ter mostrado sinais de fraqueza. Normalmente não desmorono sob pouca pressão desse jeito e estou desapontada comigo mesma.

Vejo a expressão dela amenizar e relaxo. O Sr. Terno Preto está parado num canto perto da janela olhando pra nós. É um pouco intimidante, mas também é reconfortante.

Fora de vista, à minha esquerda, num longo sofá de couro italiano bege, o rapaz mais novo está sentado embaixo de algumas enormes pinturas de arte moderna que retratam o que podem ser mulheres nuas.

Pisco e olho de novo. Sim, mulheres nuas. Sério mesmo? Hector não está interessado no que está acontecendo. Ele está jogando no celular e acho que reconheço a música do Angry Birds que a Jolie adora usar pra me irritar.

Um jogo chato e infantil, na minha opinião, mas o Hector parece estar no final da adolescência ou começo dos vinte anos, então ele pode ser perdoado por jogar um jogo assim, eu acho.

“Aqui está.” A voz do Nicollas interrompe os meus pensamentos, levando a minha atenção de volta pra ele enquanto ele me entrega um copo alto cheio com alguma coisa gaseificada com gelo.

É um liquido frio e transparente com sabor adocicado e tropical e um toque inesperado de álcool. Tomo um gole e dou um sorriso agradecido, esperando que fosse água saborizada, mas acho que não é água.

É um drink e tento não demonstrar a minha surpresa, mas a minha testa se franze levemente antes que eu consiga evitar, devido ao meu susto interior.

“Obrigada, Sr..., que dizer, Nicollas,” eu corrijo e ele me dá um sorriso suave mais uma vez. Com um leve aborrecimento, ignoro o frio na minha barriga.

“Então, Aurora, a Margot me disse que você trabalha aqui há pouco mais de cinco anos?” Ele se senta sobre a sua mesa, com o corpo relaxado e os olhos fixos em mim. A Margot fica parada por perto, só ouvindo.

Ele é extremamente bonito, principalmente quando age de forma casual e charmosa, sem se parecer com um chefe.

“Sim. Já trabalhei em vários andares, mas principalmente no décimo.” Coloco o meu copo sobre a mesa pra que os meus dedos não deslizem pela borda, mostrando as minhas manias nervosas.

Fico triste em ter que soltar ele; o sabor estava incrível, mas não sou fã de álcool no trabalho, nem em qualquer momento, na verdade. Mas ele é bom em preparar bebidas.

“Você foi assistente do Oliver?” Ele pergunta enquanto as suas sobrancelhas de curvam de um jeito estranhamente fofo e ele me analisa sem ser invasivo.

“Sim, o Sr. Oliver.” Sorrio, mesmo sabendo que deve estar parecendo tão forçado quando é.

O Oliver, um gordo e baixinho de quase setenta anos, é um pervertido insuportável que agarrava a minha bunda sempre que tinha a oportunidade e se esfregava em mim sempre que eu precisava passar por ele.

Eu ficava surpresa que ele ainda tivesse esse tipo de comportamento com essa idade. Ele é o tipo de homem com quem estou acostumada a lidar, com suas mãos bobas e sorrisos nojentos, o tipo de homem com quem aprendi a lidar depois de anos de prática.

“Foi a Srta. Alicia quem te recomendou para essa vaga, certo?”

É fácil se distrair com a aparência dele. Olho pros seus lindos dentes, branco e perfeitamente alinhados, como os dentes de um bilionário devem ser. Imagino quanto ele gasta em tratamento odontológico por ano pra ser modelo da Arnault Corporation.

“Sim. Adorei trabalhar com ela enquanto a sua assistente estava de licença. Aprendi muito com ela.” Uma onda de satisfação com o quão calma pareço estar percorre o meu corpo.

Os meus nervos estão se acalmando e os seus efeitos sobre mim estão diminuindo com o meu esforço. Acho que o choque de conhecer ele está finalmente passando.

Eu estava errada sobre os olhos dele. Pessoalmente, são do tom de verde mais lindo que já vi; as fotos não chegam nem perto da cor real.

“Ela elogiou a sua eficiência e profissionalismo. A Alicia não costuma fazer recomendações internas para uma vaga como essa.” Ele dá um sorriso breve e o frio na barriga volta.

Eu coro, sentindo o calor subir pelo meu rosto e fico irritada enquanto tento manter a minha maturidade profissional. Amei ter a Alicia como chefe; fiquei desolada quando a assistente dela voltou ao trabalho e precisei retornar para o escritório do Oliver, de volta para o pervertido e as suas mãos nojentas.

“Obrigada.” Dou um sorriso sincero, me sentindo orgulhosa por dentro. Sacrifiquei muita coisa na minha vida pra chegar até aqui. Não é fácil começar como uma humilde assistente administrativa e crescer numa empresa como essa em apenas cinco anos, principalmente com as minhas poucas qualificações.

A Margot acrescenta. “Bem, tenho achado ela ótima. Eficiente e capaz, com um bom entendimento do negócio. Acho que não demora muito pra ela se familiarizar com as novas obrigações.”

A Margot sorri pra mim com um brilho estranho nos olhos. Eu gosto dela. Ela ainda está nos observando de perto e parece não perceber os outros dois homens atrás dela.

Sei que ela está analisando pra ver se nos damos bem e está mantendo certa distância pra que possamos nos conhecer. A presença dela me acalma.

“Fico feliz em ouvir isso. Então, Aurora, como tem sido até agora? Aprendendo como funcionam as coisas no sexagésimo quinto andar?”

Tem um pouco de humor no seu tom, uma sugestão do charme Arnault pelo qual ele é famoso. Pra ser sincera, é difícil não cair no papo dele, mas sei que é o resultado de anos de conversas com os ricos e famosos, provavelmente. Ele é um profissional.

“Tranquilo”, respondo friamente, evitando o olhar penetrante que ele está me lançando agora. “Nada que eu não possa resolver até agora.” Me permito dar um meio sorriso de confiança.

“A Margot te avisou sobre as viagens frequentes que você vai precisar fazer ou sobre os horários não convencionais que praticamos às vezes? Esse trabalho pode consumir todo o seu tempo, Srta. Cartier. Não é pra qualquer um.”

Ele está com a testa franzida agora, ainda me observando de perto; é um pouco irritante.

“Sim, estou ciente de que esse não é um trabalho em horário comercial, Sr. Arnault. Estou 100% comprometida com a minha carreira, então isso não vai ser um problema”, respondo sem demonstrar emoção, erguendo um pouco o queixo pra mostrar a minha determinação.

“Você é jovem. E a vida social?” Ele continua com a testa franzida pra mim, ainda tentando ver além da minha superfície pra me entender. Eu nunca daria uma chance dessas pra um homem como ele.

“Não tenho muito interesse em atividades sociais. Saí da minha cidade natal pra vir até Paris e não conheço muitas pessoas fora do trabalho.” A minha voz parece um pouco instável, mas duvido que ele tenha percebido.

Ele olha pra mim pensativo. “Foco na carreira? Pode ser um caminho solitário.”

Ele inclina a cabeça pro lado e curva levemente os ombros num movimento que é devastador para os meus hormônios, fazendo o meu corpo formigar e a minha temperatura subir de repente. Olho pro chão por um segundo e respiro pra suprimir esses sentimentos estranhos.

Pare de comer ele com os olhos, Aurora. Tenha um pouco mais de profissionalismo.

“Não sou solitária, Sr. Arnault. Sou uma pessoa independente que não precisa de promessas ou da companhia de outras pessoas pra ser feliz.” Percebo que falei mais do que devia. É outro habito da antiga Aurora que me irrita, mesmo depois de anos tentando me livrar dele.

Relacionamentos causam complicações, decepção e dor. Mas é verdade; sou independente e autossuficiente desde muito nova. Mantenho distância das pessoas, até mesmo da Jolie, porque é o meu jeito.

Ele estreita os olhos e me analisa novamente, investigando enquanto essa conversa torturante continua tentando ver através das minhas camadas.

“Ah, Autora, uma jovem como você não deveria viver assim”, Margot interrompe, preocupada. “Você é tão bonita; deveria ter jovens rapazes te cortejando por Paris.”

Ela estende a mão e aperta o meu ombro de uma forma materna antes de retomar a sua posição anterior. Dou um sorriso vazio e reprimo a vontade de fazer uma careta com as suas palavras.

Se ela soubesse como esse pensamento me causa nojo. Aprendi ao longo da vida que o romance não existe para a maioria dos homens, apenas o desejo sexual, você consentindo ou não.

“Parece que você está tentando fazer ela desistir de roubar o seu emprego, Margot.” Nicollas ri, levantando a sua expressão jovial para a mulher mais velha, completamente diferente do seu outro sorriso.

Esse parece mais natural e ainda mais devastador. Percebo o afeto entre eles, o que me surpreende. Ela balança a cabeça pra ele.

“Não, a Aurora sabe que eu gosto de tê-la aqui. Acho que ela é perfeita para o trabalho.” Ela vira os olhos cinzas opacos pra mim com um carinho genuíno que me faz derreter um pouco. “Não tenho muita certeza se você vai gostar tanto assim quando Nicollas começar a te passar todo o trabalho, sabe.”

Ela pisca e coloca a mão no braço dele, mostrando o vinculo especial que eles parecem ter, e isso me intriga. Eles têm uma atmosfera casual e confortável entre eles, quase como mãe e filho. É muito estranho.

“Tenho certeza de que posso lidar com a demanda”, interrompo com confiança.

“Apesar da reputação de festeiro de Nicollas, Aurora, devo dizer que ele é viciado em trabalho. É surpreendente, eu sei, mas você vai se acostumar; você vai acumular muitas milhas aéreas nos próximos meses.”

A Margot sorri de novo de uma forma nostálgica, dando um tapinha no ombro do Nicollas. Existe uma comunicação silenciosa entre eles, com sorrisos e olhares secretos, e me pergunto como vou poder ocupar o lugar dela.

“Logo você vai ficar cansada de viajar pelo mundo”, ele diz, franzindo a testa de um jeito engraçado e me olhando com aqueles olhos sedutores; odeio como eles fazem eu me sentir nua.

“E dos quartos de hotel”, ele acrescenta com um sorriso malicioso que aquece o meu estômago e faz ele revirar instantaneamente.

Tento ignorar esse comentário, na esperança de que seja literal e que essa onda dentro de mim desapareça tão rápido quanto apareceu. Tenho certeza de que nunca vou ver o quarto de hotel dele. Posso prometer isso, apesar da sua reputação.

“Já vi o suficiente deles pra uma vida inteira”, Margot diz, balançando a mão e olhando pra ele de um jeito que não consigo entender, sem nem perceber a minha reação.

“Certo, temos trabalho a fazer. Aurora, você vem comigo por enquanto.” Ela aponta para a porta atrás de mim e eu aceno com a cabeça.

O Sr. Arnault se levanta da beirada da mesa e sorri, estendendo a mão de novo, sem quebrar o contato visual, me prendendo a ele.

“Ao nosso trabalho juntos, Aurora”, ele diz. Aperto a mão dele, ignorando a sensação de formigamento que o seu toque me causa, com a pele esquentando, e forço um sorriso para disfarçar todos os meus sentimentos.

Aliviada por essa reunião ter terminado, aceno com a cabeça antes de me virar e seguir a Margot pra fora do escritório dele, soltando o ar silenciosamente e expulsando todo o meu nervosismo e ansiedade com a minha respiração.

Bem, conheci o Nicollas Arnault e sobrevivi. A minha calcinha não entrou em combustão e estou intacta. Um ponto pra mim.

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