Capítulo 16

Aurora Cartier

Já se passaram doze semanas desde que comecei a trabalhar com Nicollas Arnault e não fico mais insegura perto do meu, agora, conhecido chefe. A proximidade forçada e a alta demanda de trabalho criaram uma relação amigável que não me incomoda totalmente em pouco tempo.

Acho que ele é tolerável e às vezes até divertido. Posso dizer que gosto da companhia dele. Talvez eu até goste dele um pouco mais do que imaginei que gostaria. A carga total do meu trabalho caiu sobre mim como uma onda depois do café da manhã com o Hunter.

A Margot decidiu despejar tudo em cima de mim, porque era a única maneira de testar a minha determinação, e ela foi se afastando aos poucos. Agora, ela está totalmente fora.

Corro atrás dele pras reuniões, carregando documentos e pastas, sempre com um mundo de informações na palma da minha mão. Espero pelas suas ordens e estou sempre atualizada em cada detalhe do que está acontecendo, sempre envolvida.

Ele é extremamente viciado em trabalho com uma abordagem do tipo mão na massa, mas eu nunca me senti tão feliz ou tão desafiada. Estou realmente contente.

As viagens são frequentes e cansativas e passo os meus dias num ciclo interminável onde eu digito documentos, atendo telefones, recebo entregas e lido com centenas de pessoas atrás do meu iPad, meu iPhone e meu notebook, que ele jogou pra mim sem pensar depois da reunião com o Hunter.

Estou me destacando em organização e eficiência e estou começando a tirar isso de letra. Apesar de agir como se fosse o Sr. Tranquilidade, que é descontraído e não leva nada a sério, fiquei surpresa e feliz ao descobrir que o Nicollas é extremamente envolvido nos negócios do seu pai.

Me surpreendi ao descobrir que ele tem um pensamento empresarial muito ágil e um alto QI que contrasta com a forma como ele se apresenta. Acho que faz parte do seu encanto. Ele é inteligente, perspicaz e atencioso, mas é envolvido por um charme casual e uma sensualidade geralmente associados a modelos de roupas intimas estúpidos.

Tive acesso confidencial a tantos contratos e documentos em tão pouco tempo que a minha cabeça gira todas as noites quando me deito na cama. Perdi a capacidade de me desligar e agora passo a noite em claro, pensando nas coisas que preciso fazer no dia seguinte e ansiosa pra voltar ao trabalho.

Encontrei muito mais prazer em mergulhar na minha nova função do que jamais tive no décimo andar. Nicollas soube identificar as minhas habilidades muito bem. Ele se aproveita delas e as usa ao máximo todos os dias. Sempre é emocionante estar perto dele, com certeza.

O meu guarda-roupa aumentou graças ao trabalho da Dona Inês e não posso dizer que não gostei. O gosto dela é impecável e ela escolheu coisas que eu teria comprado pra mim mesma. Agora fico ansiosa pelas suas visitas frequentes, sempre carregada de sacolas de roupas que o Nicollas garante a ela que eu preciso.

A Margot estava certa, é um benefício que estou aproveitando. “Aurora?” a voz de Nicollas interrompe os meus pensamentos enquanto eu repasso a minha agenda no iPad, ficada em reorganizar compromissos pra encaixar uma viagem de ultima hora e em enviar as mudanças por e-mail pra Rose organizar tudo.

Ela é a minha nova assistente, que me substituiu na minha antiga posição agora que a Margot oficialmente se aposentou. O Nicollas tinha saído pra um almoço com uma das suas lindas garotas estúpidas e acaba de voltar.

“Nicollas?” respondo sem olhar pra cima, percebendo o calor do seu corpo atrás de mim. Sempre percebo a sua proximidade.

“Preciso do arquivo do Hunter.” A sua voz é suave.

“Já está na sua mesa.” Sorrio de forma gentil, puxando pra baixo a parte de trás do meu blazer de alfaiataria feito sob medida – um Dior de lã cinza, cortesia de Dona Inês.

Estou em pé no meio do meu escritório, que fica bem em frente ao dele. Eu tinha acabado de colocar exatamente esses arquivos na mesa dele quando recebi a notificação do meu e-mail.

“Obrigado. Você fez a reserva do meu jantar com a Clare?” Essa é a garota atual, mas não é a mesma do almoço. Ela é alguma atriz de Hollywood que resolveu virar cantora country, com pernas compridas e seios enormes. Odeio todas essas garotas e a frequência com que ele as substitui.

“Sim. Você deve chegar às 20:00h no Plaza, onde ela está hospedada. Combinei com o carro pra te buscar”, respondo friamente, tentando esconder o desdém na minha voz.

“Boa menina.” Ele dá um tapinha infantil nas minhas costas e olho indignada pra ele, odiando esse termo. Boa menina? Como se eu fosse um cachorro. Só falta da próxima vez ele me dar um biscoito.

“Aurora?”

“Hummm?” olho pra baixo distraidamente enquanto uma resposta da Rose ao meu e-mail aparece no canto superior direito do tablet. Ela está no andar da contabilidade e não na sua mesa a três metros de distância.

“Porra!” o Nicollas suspira bem atrás da minha cabeça. A sua respiração balança o meu cabelo, causando arrepios na minha pele.

“O que foi?” olho pra ele surpresa, esticando o pescoço pra conseguir ver o seu rosto atrás de mim. Ele está olhando pra parede de vidro no corredor onde um grupo de homens e mulheres de terno caminhando dos elevadores na nossa direção.

Eles ainda não nos viram, porque o ângulo em que eles estão não permite. O Nicollas me agarra pela cintura e me puxa pra trás, me fazendo quase derrubar o iPad. Ele nos leva pro seu escritório e fecha a porta enquanto eu solto um gritinho de surpresa e protesto por ter sido tratada de uma maneira tão pré-histórica.

“Nicollas!”

“Shhh.” Ele cobre a minha boca com a mão. Ainda com os braços ao redor de mim, ele me puxa pra trás, levantando os meus pés do chão. Os meus braços se agitam com o sequestro inesperado e agarro o meu iPad com mais força, tentando me soltar sem sucesso.

Odeio quando ele faz esse tipo de coisa. Ele não tem noção nenhuma de espaço pessoal ou de como é inapropriado tratar a sua assistente assim. Ele me carrega desse jeito com muito mais frequência do que achei que fosse possível.

Muitas vezes chega a acontecer vários dias seguidos, de uma forma ou de outra e ele não vê nada de errado nisso.

“Só fique em silêncio e faça o que eu disser.” Ele me solta, agarra a minha mão livre e me puxa em direção à porta quase nunca usada do seu escritório para a sua segunda sala.

É um vestiário/escritório que eu nunca entendi. Ele guarda algumas roupas, quadros e porcarias aleatórias aqui, incluindo os sofás bege que costumavam ficar no escritório. Ele tranca a porta atrás de nós e se senta em um dos sofás, me deixando arfando no meio da sala como uma maluca, enquanto me esforço pra conseguir acalmar o meu batimento cardíaco.

“Nicollas, você está tendo algum tipo de colapso mental?” disparo, olhando ao redor da sala em que ele nos prendeu e tentando estabilizar a minha respiração.

Passo as mãos pela minha saia, tentando desamassar as minhas roupas agora que estou livre e recupero a compostura.

“É o meu pai. Não quero ver ele.” Ele dá de ombros como se essa fosse toda a explicação que eu precisava. Sei que várias brigas aconteceram por telefone nos últimos dias desde que a fusão com a Hunter se tornou pública.

Aprendi bem rápido como é a tensa relação entre pai e filho e essa não é a primeira vez que nos escondemos do Sr. Arnault Sênior. O Nicollas o evita ou o enfrenta em brigas acaloradas, geralmente em público.

Eles têm um conflito bastante enraizado, mas nunca perguntei muito pra ele sobre isso. “Por que não me deixou lá fora pra dizer a eles que você não estava aqui?” pergunto com a voz baixa.

Odeio quando ele me levanta, mas é uma coisa que ele faz com frequência quando quer que eu me mova rápido ou saia do seu caminho. Não mataria se ele pedisse pra me mover.

“Porque onde você está é normalmente onde eu estou. Ele sabe disso!” E não posso discutir com esse argumento. O Nicollas parece me querer por perto muito mais do que vi ele fazer com a Margot.

O celular dele começa a tocar no seu bolso. Ele o puxa, suspira e o joga no sofá depois de colocar no silencioso. Suspiro com o seu desânimo. O meu mau humor vai embora e empurro a minha fachada fria de volta pro lugar enquanto observo o olhar triste no rosto dele.

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