Volume 1 — Capítulo 5 — O Amanhecer Sombrio

O campo de batalha estava coberto de destroços e corpos, mas, à distância, o sol começava a despontar no horizonte, lançando seus primeiros raios dourados sobre a terra devastada. O brilho suave iluminava as ruínas, banhando a cena com uma luz tênue, que parecia anunciar o fim da guerra. Grand, o herói reencarnado, permanecia de pé diante do corpo sem vida do Rei Demônio, a luz da alvorada refletindo na lâmina ensanguentada de sua espada.

A respiração de Grand estava pesada, seus músculos exaustos após a batalha feroz. Ele fitou o horizonte, onde o céu antes escuro começava a clarear, mas em vez de alívio, sentia uma profunda inquietação.

"Acabou..." murmurou Grand, com um tom baixo e rouco, seus olhos ainda fixos no Rei Demônio caído. O corpo do monstro repousava sobre o solo manchado de sangue, sua presença agora silenciada pela morte. Mas, enquanto a escuridão da noite recuava diante da luz do sol, o coração de Grand não encontrava paz.

Sir Roland, com sua imponente armadura agora reluzindo ao primeiro toque da luz matinal, caminhou até Grand. Ele observou o herói por um momento, antes de falar.

"A vitória é nossa, Grand," Roland declarou, sua voz firme, mas com um toque de exaustão. Ele se virou para o horizonte, onde o sol nascia com tranquilidade. "Finalmente... o reinado do terror acabou."

"Sim..." Grand respondeu, mas havia uma hesitação em seu tom.

"Você parece... inquieto," notou Mira, a maga, ao se aproximar. Seus olhos azuis brilhavam sob o reflexo do sol nascente, mas havia algo neles, um pressentimento que ela não conseguia ignorar. "Há algo errado?"

Grand ficou em silêncio por um momento. Ele abaixou a espada, que agora parecia pesada demais para segurar, e olhou para o céu que lentamente clareava. "As últimas palavras do Rei Demônio... Elas continuam a ecoar na minha mente."

Mira franziu o cenho, preocupada. "Ele disse algo antes de morrer?"

Grand assentiu lentamente. "'A guerra não acabou... Ela só começou'."

"Uma última ameaça," comentou Sir Roland, tentando aliviar a tensão que sentia crescer entre eles. "Demônios sempre têm uma carta na manga."

"Não foi apenas uma ameaça," interveio Sofia, a Princesa Sacerdotisa, enquanto se aproximava. Sua túnica branca e dourada estava manchada de sangue, mas ela não parecia se importar. "Há algo sombrio... algo que não podemos ver, mas que está presente. Eu senti... quando curei os feridos."

"Sim," concordou Mira, apertando seu cajado com força. "Eu também senti. Como se uma sombra permanecesse... oculta, mesmo com o sol nascendo."

Os raios do sol continuavam a crescer em intensidade, iluminando o campo de batalha aos poucos, como se a própria luz quisesse dissipar qualquer vestígio da escuridão que ainda pudesse estar presente. Mas, no coração de Grand, a dúvida permanecia.

Ele tentou afastar o pensamento, mas o cansaço começou a dominá-lo. Grand caiu de joelhos, ofegante, sua visão se turvando com a luz brilhante que agora inundava o campo.

"Grand!" exclamou Roland, correndo até ele.

Mira levantou rapidamente o cajado, tentando conjurar um feitiço de cura. "Eu não entendo... Ele não deveria estar assim."

Sofia se ajoelhou ao lado de Grand, colocando a mão sobre seu peito, murmurando palavras de cura em uma língua antiga. Mas, ao invés de recuperar as forças, o corpo de Grand pareceu fraquejar ainda mais. Os raios de sol que tocavam sua pele não lhe traziam o calor que os outros sentiam. Era como se a luz estivesse se afastando dele.

"Não... algo está errado!" Sofia exclamou, retirando a mão rapidamente. "Há uma escuridão dentro dele, algo... que está puxando sua alma."

Grand, com a respiração entrecortada, levantou o olhar, tentando focar nos rostos de seus companheiros. Mas sua visão estava embaçada, e ao longe, ele viu algo que o fez tremer. Entre as ruínas, nas sombras que restavam da noite, ele enxergou uma figura indistinta, envolta em escuridão, observando-o.

"Ali..." murmurou Grand, tentando erguer a mão. "Há alguém..."

Todos se viraram rapidamente, seguindo o olhar de Grand, mas não viram nada além das ruínas iluminadas pelos primeiros raios do sol.

"Grand, não há ninguém lá," disse Roland, confuso, enquanto observava atentamente o local indicado.

"Eu vi..." Grand insistiu, mas sua voz falhou, e logo ele perdeu as forças, desabando nos braços de Roland.

"GRAND!" Roland gritou, tentando segurá-lo. "Aguente firme!"

Mira tentou mais uma vez usar sua magia, mas como antes, ela se dissipou no ar. "É inútil... Há algo bloqueando nossa magia!"

Sofia, ainda ajoelhada, fechou os olhos, buscando em oração uma resposta. Mas o que ela sentiu foi pior do que imaginava. "Sua alma está sendo... puxada para longe de nós. Não para o descanso eterno, mas para algum lugar desconhecido."

Grand, agora em seus últimos momentos de consciência, olhou para o horizonte, onde o sol continuava a nascer, espalhando sua luz dourada pelo campo de batalha. Seus lábios se moveram uma última vez, murmurando algo que seus companheiros não puderam ouvir. E então, com um último suspiro, ele se foi.

O silêncio tomou conta do campo de batalha. Os primeiros raios de sol haviam finalmente coberto tudo, mas para aqueles que haviam lutado ao lado de Grand, o calor da vitória parecia distante e frio.

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Naquela mesma noite, nas áreas mais escuras do castelo real do reino de Valoria, o rei se encontrava em uma sala secreta, envolta em sombras, conversando com uma figura encapuzada. A única luz vinha de uma tocha distante, lançando longas sombras nas paredes de pedra. O ambiente era denso, carregado de malícia.

"Agora que tiramos aqueles seres inferiores dos demônios de jogo," disse o rei, com um sorriso frio nos lábios, "finalmente podemos respirar em paz." Sua voz era baixa, mas cheia de satisfação. "O plano está indo como planejado, e ninguém suspeita de nada. Nem mesmo os heróis."

A figura ao lado do rei inclinou a cabeça, emitindo um leve riso. "O Grande Herói Grand... tão poderoso, tão admirado. Mas, no final, todos caem quando puxamos as cordas certas. A notícia de sua morte se espalhou como fogo por todas as terras. Eles estão mergulhados no luto."

"Ah, sim, a capital," o rei continuou, afagando o braço de seu trono. "Tanto esperaram pela volta triunfante do herói. Agora, vêem seus sonhos reduzidos a cinzas. E o mais delicioso... eles nem sabem como ou por que ele realmente morreu."

Os dois trocaram olhares cúmplices, enquanto o silêncio mortal tomava conta da sala. O rei observava as sombras, como se visse muito além delas. "O corpo de Grand sendo carregado pelas ruas... uma procissão silenciosa, uma bela cena, não acha?"

"Sim," a figura respondeu, sorrindo. "E seus companheiros... ainda chocados, buscando respostas que nunca encontrarão."

Na manhã seguinte, o salão do trono foi transformado para um evento formal em homenagem ao herói caído. No entanto, o clima parecia estranhamente fora de lugar. O luto pesava sobre todos os presentes, mas o rei, sentado em seu trono, observava tudo de maneira distante, quase desinteressada. Seu olhar gélido traía qualquer sentimento de perda ou respeito.

"O Herói Grand... nos deixou," declarou o rei, sua voz ecoando pelo salão em um tom que soava mais como um comunicado rotineiro do que uma homenagem. "Seus feitos serão lembrados, e que seu sacrifício inspire as futuras gerações. Que este evento seja um tributo à sua bravura."

Mira, com o coração pesado de dor e indignação, não conseguiu se conter. Seus punhos estavam cerrados, e seu corpo tremia de fúria. "Um tributo?" Ela deu um passo à frente, sua voz saindo afiada como uma lâmina. "É isso que ele merece? Apenas palavras vazias? Ele salvou todo o reino, e é tratado como uma formalidade descartável?"

Roland, ao seu lado, colocou uma mão firme em seu ombro. "Mira, não agora," ele sussurrou, tentando acalmá-la. "Este não é o lugar. Não aqui."

"Mas Roland..." Mira insistiu, com a voz embargada. "Ele era nosso amigo. Merecia mais do que isso. Muito mais." As lágrimas ameaçavam cair, mas ela se conteve, recuando ao lado de Roland.

O evento continuou, carregado de discursos protocolares que soavam insensíveis diante da imensa perda. Aquela que deveria ser uma cerimônia de tributo ao maior herói do reino se tornou um espetáculo vazio, frio e mecânico.

Após o evento, os companheiros de Grand saíram em silêncio, envoltos em um misto de dor e desconfiança. As ruas da capital estavam imersas em murmúrios sobre a morte do herói, mas dentro do grupo, as dúvidas sobre o que realmente havia acontecido só aumentavam.

Nos dias seguintes, Roland, Mira, Kael e Sofia se reuniam, tentando entender os eventos da batalha final.

"Como isso aconteceu?" Roland questionava, perplexo. "Ele não parecia estar à beira da morte."

"Não foi cansaço, nem ferimentos," afirmou Mira, sua voz pesada de convicção. "Algo maior, algo mais sombrio estava por trás disso."

As noites não trouxeram descanso. Roland, em seus sonhos, via o demônio de olhos flamejantes que haviam enfrentado, enquanto Mira era atormentada por visões de uma mulher envolta em chamas negras. Sofia, por sua vez, sonhava com uma sombra sem rosto, sussurrando palavras que não conseguia entender.

"Tem algo que não estamos enxergando," concluiu Mira, a determinação em seus olhos ardendo como fogo. "As respostas para a morte de Grand estão nas últimas palavras do Rei Demônio. Há mais por trás disso do que podemos imaginar."

"Precisamos descobrir a verdade," disse Roland, com a voz firme. "Por Grand... e pelo futuro do mundo."

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