Dona Marina sorria, orgulhosa. “Você vai longe, meu menino. Com esse coração, não há obstáculo que você não possa superar.” E, ao ouvir isso, Lucas sentia uma onda de coragem inundar seu peito. Ele sabia que a avó acreditava nele, e essa crença se tornava uma luz em meio à escuridão.
O sacrifício era grande, mas Lucas estava determinado. Ele sabia que o tempo para brincar e descansar era um luxo que não podia se permitir. Cada página virada nos livros da escola, cada tarefa concluída, era um passo em direção a um futuro que ele sonhava em alcançar. Contudo, a sombra da perda e da solidão sempre o acompanhava, como uma nuvem escura pairando sobre ele.
Os anos passaram, e a infância de Lucas foi sendo gradualmente consumida pela responsabilidade. Aos doze anos, ele já era um adolescente maduro, responsável e, em muitos aspectos, um adulto. A escola ainda era importante, mas a vida o exigia em outras frentes.
“Vó, vou trabalhar na padaria hoje. O seu Vicente disse que precisa de ajuda,” Lucas comentou um dia, enquanto tomava o café da manhã. O aroma do pão fresco enchia a casa, e ele podia sentir a energia da comunidade ao redor.
“Cuidado com o forno, meu menino. Não quero que você se queime,” respondeu Dona Marina, com um leve sorriso. Mas seus olhos traíam a preocupação que ela sentia. Ela sabia que Lucas estava crescendo rápido demais, e isso a deixava apreensiva.
“Eu sei, vó. Não se preocupe.” Lucas tentou tranquilizá-la, mas no fundo, ele sentia o peso das expectativas sobre seus ombros. Ele queria fazer sua avó feliz, mas a pressão era cada vez maior.
As responsabilidades de Lucas aumentaram, assim como seu desejo de fazer a diferença. Ele começou a ajudar outros moradores da vila, oferecendo seu tempo e habilidades. “Se precisar de alguma coisa, é só me chamar, tá?” ele dizia a todos com um sorriso amigável. E, mesmo que estivesse exausto, a gratidão que recebia em troca valia a pena.
Um dia, ao final de uma longa e exaustiva jornada de trabalho, Lucas retornava para casa, o corpo cansado, mas o espírito firme. O sol já havia se posto, e as ruas da comunidade eram mal iluminadas, com sombras que pareciam se estender indefinidamente. O cansaço pesava em seus ombros, mas ele continuava a caminhar, seus pensamentos vagando entre as responsabilidades e os sonhos de um amanhã melhor.
Enquanto caminhava, ele pensava em como queria terminar seus estudos e, talvez um dia, ter sua própria empresa, onde poderia ajudar ainda mais pessoas. “Eu quero dar uma vida melhor à vó,” pensava Lucas, seu coração pulsando de determinação. Ele imaginava a casa que sonhava construir, onde Dona Marina poderia viver confortavelmente, sem preocupações, cercada pelo amor e pela alegria.
E, nesse momento de esperança e determinação, um caminhão, vindo em alta velocidade, cortou a escuridão. Lucas, tão imerso em seus pensamentos, não percebeu o perigo até ser tarde demais. O som do motor rugindo era abafado pelo seu próprio batimento cardíaco acelerado. Ele parou de repente, os olhos arregalados ao notar o veículo se aproximando.
“Não!” Lucas gritou, um eco de desespero e incredulidade, mas já era tarde. O impacto foi brutal e instantâneo, levando-o a um mundo de dor e trevas, enquanto sua vida se esvaía. Naquele momento, todos os seus sonhos, aspirações e promessas de um futuro melhor se dissiparam como fumaça, deixando para trás apenas um vazio profundo.
A Vila Esperança continuou a viver, alheia à tragédia que ocorrera. Mas, em meio ao luto e à dor, o legado de Lucas permanecia. O menino que sonhou com um futuro brilhante, que sempre se preocupou com os outros, que trabalhou arduamente por um amanhã melhor. Ele se foi, mas em cada sorriso das crianças que corriam nas ruas, em cada gesto de bondade que a comunidade compartilhava, sua memória e sua esperança continuavam a brilhar.
Lucas Ferreira de Santos partiu aos dezesseis anos, mas sua história não se apagou. Ele se tornou um símbolo de resiliência e amor, lembrado por todos aqueles que tiveram a sorte de cruzar seu caminho. O amor que ele espalhou e a esperança que plantou nos corações dos outros se tornaram sua herança. E, enquanto as estrelas brilhavam sobre Vila Esperança, a luz de Lucas continuava a brilhar, eterna e indelével, em cada canto da vida que ele tocou.
Dois anos se passaram, e o destino, impiedoso, decidiu testar ainda mais o jovem Lucas. Sua mãe, afundada em uma tristeza que parecia não ter fim, tomou uma decisão que mudaria para sempre a vida do menino. Incapaz de suportar a solidão e o luto, ela fugiu com um amante, abandonando Lucas para enfrentar o mundo sozinho.
“Por que você está fazendo isso?” Lucas perguntara, com a voz tremendo, no momento da despedida. Sua mãe olhou para ele, os olhos cheios de lágrimas, mas a expressão era de uma mulher decidida.
“Eu… eu preciso encontrar meu próprio caminho, filho. Sinto muito. Você sempre será amado, mas eu não posso ficar.” E com isso, ela partiu, deixando Lucas em um abismo de dor e confusão.
Agora, aos dez anos, Lucas estava entregue ao cuidado de sua avó, Dona Marina, uma mulher forte, mas envelhecida pelo tempo e pelas adversidades. Com as lágrimas secas no rosto e o coração endurecido pela dor, Lucas começava a entender que a vida, muitas vezes, era mais dura e sombria do que qualquer pesadelo que ele pudesse imaginar.
A casa de sua avó era simples, mas acolhedora, um refúgio em meio às adversidades que a vida insistia em jogar no caminho de Lucas. Dona Marina, com cabelos brancos como a neve e mãos calejadas pelo trabalho duro, acolheu Lucas como se ele fosse a última chama de esperança que ainda queimava em seu coração. Ela sempre contava histórias sobre a família, repletas de coragem e superação, fazendo com que Lucas se sentisse parte de algo maior.
“Você é forte, meu neto,” dizia ela, sua voz carregada de sabedoria e ternura. “O mundo pode ser cruel, mas a gente não pode deixar que ele nos derrube. Vamos seguir em frente, juntos.” Lucas se apegou àquelas palavras, como um náufrago se agarra a um pedaço de madeira em meio à tempestade.
“Eu prometo, vó,” Lucas respondeu, seu olhar determinado. Ele sabia que sua avó estava fazendo o melhor que podia, mas a realidade era dura. A vida na comunidade exigia muito, e Lucas logo percebeu que teria que amadurecer rápido. Não havia tempo para lamentos; o trabalho esperava.
Os dias se misturavam em uma rotina implacável. Enquanto as outras crianças corriam livres pelas ruas, suas risadas ecoando pelos becos de Vila Esperança, Lucas estava sempre ocupado. Suas manhãs eram dedicadas à escola, onde ele se esforçava ao máximo, sabendo que o conhecimento era a chave para abrir as portas de um futuro melhor. À tarde, trocava os cadernos por ferramentas, fazendo pequenos serviços para ajudar a pagar as contas e garantir que ele e sua avó tivessem o necessário para viver.
“Eu não tenho medo do trabalho, vó,” Lucas dizia, enxugando o suor da testa após mais um dia de labuta. “Só quero que a gente fique bem.”
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Atualizado até capítulo 47
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