Grand sentia a vida se esvair lentamente de seu corpo no campo de batalha. O sangue escorria de seus ferimentos, formando poças rubras que se misturavam à terra pela qual lutara com todas as suas forças. Seu coração batia de forma irregular, cada pulsação mais fraca que a anterior. Com um último suspiro, ele soube que seu tempo estava chegando ao fim. Seu dever, ele acreditava, estava cumprido. Ele esperava que a morte o levasse a uma paz celestial, onde reencontraria o Deus que o havia reencarnado para essa jornada.
No entanto, a luz acolhedora que ele tanto esperava nunca veio. Ao invés disso, Grand foi engolido por uma escuridão densa e opressora, um vazio absoluto sem som, forma ou direção. Ele tentou mover-se, mas era como se seu corpo não mais existisse. Preso em um limbo desolador, sua alma vagava sem rumo, sem respostas, perdida em um mar de incertezas.
"Deus... por que estou aqui? Não deveria estar ao seu lado agora?" A angústia crescia dentro dele, sufocante. O silêncio era esmagador, como se o próprio universo houvesse o abandonado. Nenhuma resposta, nenhum sinal de redenção. Algo havia dado errado? Ele falhou em sua missão? A dúvida, cruel e implacável, corroía seus pensamentos.
De repente, enquanto flutuava nesse abismo sem fim, flashes de sua vida anterior como Lucas inundaram sua mente. Memórias de uma infância distante, mas ainda viva em seu coração, surgiram como um bálsamo inesperado.
Ele se viu, pequeno, com três anos de idade, correndo livre pelo pátio de sua casa na Vila Esperança. O sol banhava a cena em luz dourada, e sua mãe o observava com um sorriso terno, chamando-o de "meu pequeno aventureiro". Ele explorava o jardim, suas pequenas mãos segurando flores cujo nome ele mal conhecia, enquanto a risada calorosa de sua mãe enchia o ar. Mesmo agora, aquele som aquecia seu peito.
Outro fragmento o transportou para um final de tarde, quando ele tinha quatro anos. Sentado no colo de seu pai, era embalado suavemente numa velha cadeira de balanço enquanto o céu se pintava de laranja e rosa. Seu pai lhe contava histórias de heróis corajosos e grandes aventuras, e os olhos de Lucas brilhavam de fascínio. O cheiro de café fresco e pão assado vinha da cozinha, criando uma sensação de proteção e amor que ele nunca havia esquecido.
Mais uma memória se materializou. Ele tinha cinco anos e era seu aniversário. A pequena casa estava decorada com balões coloridos, e sua mãe havia feito um bolo de chocolate, seu favorito. Seus pais cantaram parabéns, e Lucas, com as bochechas coradas de alegria, apagou as velas, sentindo o amor incondicional de seus pais. Aquele momento, cheio de afeto, era um dos mais felizes que ele podia recordar.
Essas lembranças desvaneciam-se tão rapidamente quanto vinham, mas o impacto emocional que deixavam era profundo. Cada fragmento de memória parecia reconstruir algo perdido dentro de Grand. Ele nunca havia se esquecido de suas raízes, nem do amor que recebera em sua vida passada.
Então, um calor envolveu Grand. Ele sentiu-se embalado, como se estivesse sendo balançado suavemente de um lado para o outro. Era confortável e, de algum modo, familiar. A escuridão que antes o engolia começou a se dissipar, e em meio ao vazio surgiu uma luz tênue, distante e trêmula, mas crescente. Essa luz pulsava com uma energia acolhedora, e o calor ao seu redor aumentou, como o abraço de um lar há muito perdido.
Sua mente, antes adormecida e dispersa, começou a se agitar. Havia movimento ao seu redor, como se o próprio espaço estivesse se dobrando e moldando. Grand não estava mais sozinho.
A luz continuava a crescer, e junto dela vinha uma nova sensação: uma promessa de algo além, de um futuro incerto, mas cheio de possibilidades. Grand sentiu-se sendo puxado para essa luz, envolto pelo calor de um lugar do qual jamais deveria ter partido. Algo o esperava do outro lado, algo que ele ainda não compreendia, mas que sentia ser importante, como se seu destino estivesse prestes a recomeçar.
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Enquanto o mundo dos humanos celebrava a vitória sobre os demônios, uma tragédia silenciosa se desenrolava nas terras devastadas pela guerra. A Rainha Astharoth, esposa do temido Rei Demônio, fugia com um pequeno grupo de fiéis servos e soldados. Eles eram os últimos remanescentes de um império outrora grandioso, agora reduzido a fugitivos, caçados incessantemente por um inimigo que não descansaria até vê-los extintos.
A chuva caía como lágrimas do céu, inundando o chão já encharcado e dificultando cada passo. O trovão ribombava como gritos de almas perdidas, e os relâmpagos rasgavam o céu, iluminando as sombras fugidias das figuras encapuzadas que corriam pela floresta. A sensação de urgência era esmagadora, com cada som ao redor parecendo ser o prenúncio de uma nova emboscada.
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Atualizado até capítulo 47
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