HELENA
Já faz uma semana desde que comecei a trabalhar no Memorial Hospital, mas parece que já estou aqui há um mês. No bom sentido. O ambiente é movimentado, mas eu gosto do ritmo. Há sempre algo novo acontecendo, e as pessoas são bastante acolhedoras. Bem, a maioria delas, pelo menos.
Estou no balcão de enfermagem, rindo de algo que Ethan, acabou de dizer. Ele sempre com o sorriso fácil e um senso de humor afiado que me faz rir até nos dias mais difíceis.
— Então, qual é a nova aposta do dia? — pergunto, ainda sorrindo.
Ethan pisca para mim, apoiando-se no balcão como se estivesse compartilhando um segredo.
— Se o Dr. Murilo vai descer do seu pedestal de gelo e dizer "bom dia" com um sorriso. Eu digo que hoje é o dia.
Eu rio alto, atraindo alguns olhares curiosos dos colegas ao redor.
— Ah, Ethan, você é um eterno otimista. Eu aposto em não. Acho que o apocalipse virá antes que ele faça isso.
Estamos rindo quando o próprio Dr. Murilo entra na área de enfermagem. O ambiente muda instantaneamente. É como se alguém tivesse apertado o botão de "pausa". Todo mundo se endireita, fingindo estar ocupado, e o som das risadas morre lentamente.
Ele está parado na entrada, com aquela expressão impenetrável que é praticamente sua marca registrada. Seu olhar se fixa em mim e em Ethan, e sinto um frio na espinha. Ele parece... diferente. Normalmente, ele ignora todo mundo, mas hoje, há algo a mais na forma como seus olhos se estreitam ao nos ver.
— Ethan, você não deveria estar cuidando das medicações? — Ele pergunta, a voz fria como gelo.
Ethan engole em seco, mas mantém o sorriso.
— Sim, Dr. Murilo. Estávamos apenas terminando aqui.
Murilo não se mexe. Seus olhos ainda estão em mim, e de repente sinto como se estivesse sendo examinada sob um microscópio.
— Helena, uma palavra. — Ele diz, sem tirar os olhos de mim.
Troco um olhar com Ethan, que apenas dá de ombros, como se dissesse "boa sorte". Sigo Murilo até um canto mais afastado do corredor. Ele parece estar tentando encontrar as palavras certas, o que é uma novidade.
— O que foi aquilo? — Ele pergunta finalmente, os braços cruzados.
— Aquilo o quê? — Eu pergunto, genuinamente confusa.
Ele solta um suspiro exasperado, passando a mão pelos cabelos escuros, um gesto que me diz que ele está tentando se controlar.
— A brincadeira. O riso. Isso é um hospital, Helena, não um recreio.
Eu fico boquiaberta por um segundo. Será que ele realmente pensa que estamos todos aqui para brincar? Eu tentei ser compreensiva com ele e é isso que ganho?
— Dr. Murilo, estávamos apenas tentando manter o espírito elevado. Acredito que rir um pouco não prejudica ninguém.
— Não se trata disso — ele interrompe, o tom mais baixo, mas ainda intenso. — Se trata de manter o foco. E de não... — Ele parece hesitar antes de continuar, como se estivesse lutando para encontrar as palavras. — De não fazer papel de bobo.
— Papel de bobo? — Repito, cruzando os braços. — Sinto muito se minha presença o faz se sentir desconfortável, mas eu sei fazer o meu trabalho. E fazer uma piada ou duas não diminui minha competência.
Ele parece surpreso com a minha resposta. Seus olhos brilham com algo que eu não consigo decifrar completamente, mas parece uma mistura de frustração e... outra coisa.
— Helena, só estou dizendo para tomar cuidado — ele murmura, e há um calor inesperado em sua voz.
Por um segundo, há um silêncio pesado entre nós. Estou prestes a responder quando Ethan aparece de volta no corredor, interrompendo o momento estranho.
— Tudo bem aqui? — Ele pergunta, olhando de mim para Murilo.
Murilo endireita a postura, a máscara fria voltando ao rosto.
— Sim. Estamos apenas terminando aqui.
Sem mais uma palavra, ele se afasta, deixando-me ali com Ethan, que levanta as sobrancelhas, claramente interessado no que acabou de acontecer.
— Nossa, o que foi isso? — Ethan pergunta, inclinando-se para mais perto. — Ele parecia meio... ciumento?
Eu balanço a cabeça, ainda tentando processar a troca estranha.
— Não, Ethan, claro que não! Ele só deve estar tendo um dia ruim. Você o conhece a mais tempo que eu, me diz você.— falo arqueando uma sobrancelha esperando a resposta de Ethan.
— Bom, ele anda estranho, não que ela já não fosse antes, mas, você sabe... — Ethan exita por um instante antes de continuar falando e sua voz saí como um susurro para que ninguém possa ouvir. — Quando comecei a trabalhar aqui, fiquei sabendo que ela havia perdido a sua esposa em um acidente de carro e que depois disso, ele ficou assim, frio. Pelo que soube, ele nem era médico, ele só virou depois de perder a esposa e, consumido pela culpa por não ter a salvado, ele decidiu se tornar médico e assumir esse hospital junto com a sua irmã, a dra Evelyn.
Assim que Ethan diz isso, fico chocada com o que acabei de ouvir. Então quer dizer que a Larissa, a pessoa que ele havia perdido era a sua esposa?
— Meu Deus! Isso parece coisa de cinema, Ethan!– Falo tapando meus lábios com uma de minhas mãos.
—É sim, eu também acho!– Ethan diz, com os olhos arregalados.
Mas mesmo enquanto digo isso, não consigo deixar de pensar no quanto deve ser horrível para o dr Murilo conviver com isso. Agora as coisas estavam começando a clarear mais ainda e estava começando a entender mais.
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Atualizado até capítulo 92
Comments
Klyner Rodrigues
triste viu
2025-02-09
1
Thayana Lima
meio hum
2025-01-29
1
Adriana Mentoring de Mulheres
Ele não está sabendo lidar com o ciúme que está sentindo por ela .
2024-12-23
1