capítulo 8

HELENA WALKER

Depois do inesperado encontro com o Dr. Murilo — o homem que eu acidentalmente desafiei na balada e que agora era meu chefe — minha cabeça estava a mil. Trabalhar no Memorial Hospital era, sem dúvida, uma grande oportunidade, mas começar o dia descobrindo que meu chefe era a mesma pessoa com quem tive aquele embate me deixava em alerta.

Ainda assim, após o fim do meu primeiro dia, precisava fazer algo importante: tranquilizar minha mãe. Ela estava preocupada desde que eu saí de nossa pequena cidade em direção a Nova York, e, mesmo que eu tentasse manter as coisas sob controle, sabia que minha saída repentina a abalou.

Cheguei ao meu apartamento, exausta, mas determinada a ligar para ela. Desabei no sofá com o celular na mão, suspirei e procurei o número dela. Toquei em "ligar" e, em poucos segundos, ouvi a voz familiar da minha mãe do outro lado da linha.

— Helena? É você? — a voz dela soou um pouco ansiosa, e eu senti um aperto no peito por ter deixado ela tão preocupada.

— Sim, mãe, sou eu! — respondi, tentando soar o mais alegre possível. — Como você está?

— Ah, filha, estou bem, mas estou preocupada com você. Você saiu de casa tão de repente... Fiquei com medo de que algo tivesse acontecido.

— Eu sei, mãe, e sinto muito por ter te deixado tão preocupada — comecei, sabendo que precisava explicar tudo. — Mas eu precisava de um novo começo. Você sabe, depois de tudo o que aconteceu com... — Hesitei, sem querer mencionar o nome dele. — ...com o que aconteceu antes de eu vir para cá, eu precisava sair e respirar. Nova York parecia o lugar certo para isso.

Houve um breve silêncio do outro lado da linha, e então ouvi minha mãe suspirar.

— Eu entendo, Helena. Só quero que você seja feliz e esteja segura. Nova York é tão grande e cheia de perigos...

Sorri, imaginando a expressão de preocupação no rosto dela. Minha mãe sempre teve esse instinto protetor, e isso só se intensificou desde que meu noivado terminou de forma tão abrupta e dolorosa.

— Mãe, não se preocupe comigo. Já consegui um emprego aqui — disse, esperando que isso a tranquilizasse.

— Conseguiu mesmo? Tão rápido? — Sua voz soou surpresa, mas também aliviada. — Onde você está trabalhando?

— No Memorial Hospital — respondi, tentando conter meu orgulho. — É um dos melhores hospitais daqui.

— Nossa, Helena! — Minha mãe quase gritou. — Isso é maravilhoso! Estou tão orgulhosa de você, filha!

— Obrigada, mãe — respondi, sentindo um calor aconchegante no peito. — Estou feliz por ter conseguido algo tão bom logo de cara. Trabalhar no Memorial vai ser desafiador, mas acho que é exatamente o que eu preciso agora.

— E como foi seu primeiro dia? — Ela perguntou, e eu podia sentir a curiosidade em sua voz.

Eu hesitei por um momento, ponderando se deveria contar a ela sobre o incidente com o Dr. Murilo. Afinal, ela provavelmente ficaria ainda mais preocupada se soubesse que meu chefe era o homem arrogante com quem eu discuti na noite anterior. Decidi omitir essa parte por enquanto.

— Foi bom, mãe. Um pouco intenso, como todo primeiro dia, mas consegui me adaptar. Estou conhecendo a equipe e tentando me entrosar.

— Tenho certeza de que você vai se sair bem, Helena. Você sempre foi tão dedicada ao seu trabalho. — Ela fez uma pausa antes de continuar, um pouco mais hesitante. — E como estão as coisas por aí? Já fez algum amigo? Conheceu alguém especial?

Eu ri, mesmo sabendo que a pergunta era inevitável.

— Mãe, você sempre com essa história de “alguém especial”. — Rolei os olhos, mas minha voz estava suave. — Não, ainda não conheci ninguém assim, mas fiz alguns amigos, sim. Alice e Damon, meus vizinhos são muito simpáticos. Tenho certeza de que vou fazer mais amigos com o tempo.

Ela riu levemente do outro lado da linha.

— Só estou preocupada, sabe? Não quero que você se sinta sozinha nessa cidade grande.

— Eu sei, mãe. Mas não se preocupe. Estou me adaptando bem e, com o tempo, tudo vai se ajeitar. Além disso, estou tão ocupada com o trabalho que nem tenho muito tempo para pensar em outras coisas.

Outro breve silêncio caiu entre nós, mas desta vez não era de preocupação; era de compreensão. Sabia que minha mãe estava fazendo o possível para confiar que eu estava tomando as decisões certas, mesmo que ela tivesse dificuldade em me ver longe de casa.

— Eu confio em você, Helena. Sei que você é forte e vai conseguir superar tudo isso. — Ela finalmente disse, a voz cheia de ternura. — Só não esqueça de ligar para mim de vez em quando, certo?

— Não vou esquecer, prometo. E você, cuide-se também, ok? Quero ver você bem quando eu for visitá-la.

— Vou cuidar, sim. — Ela respondeu, e eu pude imaginar o sorriso em seu rosto.

Conversamos mais um pouco sobre assuntos triviais, e, ao final da ligação, eu estava me sentindo mais leve. Sabia que, mesmo à distância, minha mãe sempre estaria comigo, me apoiando em cada decisão que eu tomasse.

Depois que desliguei, fiquei olhando para o teto do meu apartamento, refletindo sobre como a vida tinha mudado tão drasticamente em tão pouco tempo. De alguma forma, mesmo com todos os desafios e surpresas que surgiram — incluindo o Dr. Murilo —, eu estava começando a sentir que tinha feito a escolha certa ao vir para Nova York.

Levantei-me do sofá, decidida a preparar algo para comer antes de cair na cama. Amanhã seria um novo dia, mais uma chance de provar para mim mesma que eu era capaz de enfrentar qualquer coisa. Mesmo que isso significasse lidar com um chefe arrogante que já tinha um motivo para me odiar.

Mas, seja como for, eu estava pronta. Nova York era grande, assustadora e cheia de desafios, mas eu sabia que, com minha força e determinação, poderia enfrentar tudo.

E, se por acaso Dr. Murilo quisesse transformar meu trabalho em um inferno, ele estava prestes a descobrir que eu não me rendia tão facilmente.

Com um sorriso determinado nos lábios, fui para a cozinha.

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***