DOUTOR MURILO ALMEIDA, 35 ANOS.
Murilo Almeida andava pelos corredores do Memorial Hospital com passos firmes e controlados, sua presença intimidando até os mais experientes entre os profissionais de saúde. Com uma expressão séria e olhos frios, ele era o retrato da eficiência, um homem cujo coração parecia tão fechado quanto as portas de aço da sala de cirurgia. Murilo não era apenas um médico; ele era o chefe de cirurgia do hospital que, ironicamente, pertencia à sua própria família.
O Memorial Hospital foi fundado por seu avô, um visionário que acreditava em servir à comunidade com os melhores cuidados médicos possíveis. Com o passar dos anos, a instituição cresceu, tornando-se um dos hospitais mais respeitados de Manhattan. A responsabilidade de continuar esse legado estava nas mãos de Murilo e de sua irmã mais nova, a Dra. Evelyn Almeida, ou como todos a chamavam, Dra. Evans.
Evelyn sempre foi a luz da família, com uma alegria contagiante e um otimismo que parecia inabalável. Era como se nada pudesse derrubá-la, mesmo após a tragédia que devastou Murilo. Ela era a única pessoa que ainda ousava tentar quebrar as barreiras que ele ergueu em torno de si após a morte de sua esposa, Larissa. Mas, apesar de todos os seus esforços, Evelyn nunca conseguiu alcançar o coração endurecido do irmão.
Naquela manhã, Murilo estava no seu escritório, revisando os prontuários de pacientes antes de iniciar mais um dia de cirurgias. O silêncio era interrompido apenas pelo som rítmico do relógio na parede. Ele gostava dessa rotina, desse controle absoluto que tinha sobre sua vida profissional. Era o único lugar onde ele ainda sentia que tinha algum domínio sobre as coisas. Fora daquelas paredes, o mundo era caótico e imprevisível, algo que ele não estava disposto a enfrentar.
Evelyn, por outro lado, tinha uma visão diferente. Enquanto caminhava pelo hospital, cumprimentando funcionários e pacientes com um sorriso caloroso, ela fazia questão de passar pelo escritório de Murilo, mesmo sabendo que a recepção não seria das mais calorosas. Ela bateu na porta levemente antes de entrar.
— Bom dia, irmão! — disse ela com uma voz alegre, entrando no escritório sem esperar convite.
Murilo ergueu os olhos de suas anotações, dando-lhe um aceno de cabeça quase imperceptível.
— Evelyn, se é algo importante, vá direto ao ponto. Tenho uma cirurgia em trinta minutos.
Ela ignorou o tom frio, como sempre fazia. Estava acostumada àquela resistência.
— Na verdade, é algo importante sim, Murilo. — Ela caminhou até sua mesa, colocando as mãos sobre o vidro impecável. — Você precisa sair dessa bolha em que se enfiou. Há quanto tempo não sai com amigos, não vai a uma festa, ou mesmo a um jantar que não seja relacionado ao trabalho?
Ele franziu a testa, claramente incomodado com a direção da conversa.
— Evelyn, você sabe muito bem por que prefiro me focar no trabalho. Este hospital precisa de mim e dos meus esforços constantes. Eu não tenho tempo para essas futilidades.
— Futilidades? — Ela balançou a cabeça, frustrada. — Murilo, você está se enterrando vivo! O que Larissa diria se te visse assim? Ela odiaria ver o homem que você se tornou, um homem que não permite que a vida o toque mais. Ela sempre acreditou que você era mais do que isso.
O nome de sua falecida esposa foi como um golpe direto no peito de Murilo. A dor era antiga, mas ainda pulsava com força sempre que era mencionada.
— Evelyn, não traga Larissa para isso — ele respondeu, a voz baixa e carregada de uma raiva contida. — Ela não está mais aqui, e nada vai mudar isso. O que eu faço é manter sua memória intacta. E isso significa focar no que é importante.
Evelyn suspirou, sentindo que estava, mais uma vez, falando com uma parede de pedra.
— Tudo bem, Murilo. — Ela recuou, percebendo que não conseguiria convencê-lo naquele momento. — Mas, por favor, pense no que eu disse. Você merece mais do que essa existência vazia. Larissa não quereria isso para você.
Murilo permaneceu em silêncio, seus olhos já voltados para os papéis em sua mesa, encerrando a conversa unilateral. Evelyn saiu do escritório com o coração pesado, preocupada com o irmão. Ela sabia que ele se escondia atrás do trabalho, mas temia que um dia, quando fosse tarde demais, ele percebesse o quanto de vida deixou passar.
***
No hospital, Murilo era conhecido por ser um excelente cirurgião, mas também um chefe difícil. Ele exigia perfeição, não aceitava erros, e era notoriamente difícil de agradar. No entanto, ninguém duvidava de sua competência. Sob seu comando, o Memorial Hospital havia alcançado novos patamares de excelência, e ele era, sem dúvida, um dos responsáveis por isso.
Mas o que poucos sabiam, e o que ele nunca admitiria, era que seu perfeccionismo obsessivo era uma forma de evitar o caos interno que o consumia. Trabalhar até tarde, passar noites no hospital, e evitar qualquer tipo de interação social eram maneiras de não enfrentar a dor que o assombrava desde a morte de Larissa.
Antes do acidente, Murilo era o CEO de uma grande empresa alimentícia, herança de sua família materna. Ele conheceu Larissa através de Evelyn, que estudava medicina com ela. As duas se tornaram grandes amigas, e foi assim que Murilo conheceu a mulher que viria a mudar sua vida. Eles se casaram pouco tempo depois, e tudo parecia perfeito. Porém, o destino tinha outros planos. Quando Larissa morreu em um acidente de carro, Murilo sentiu-se impotente e inútil. Foi então que decidiu largar o mundo dos negócios e se juntar à família na medicina, buscando uma maneira de preencher o vazio deixado pela perda.
Murilo deixou o comando da empresa nas mãos de seu amigo de confiança, Edward, que continuava a mantê-lo atualizado sobre os negócios, trazendo-lhe papéis para assinar sempre que necessário. No entanto, o interesse de Murilo pelo mundo empresarial havia praticamente desaparecido. A única coisa que o movia agora era o trabalho no hospital, onde ele sentia que estava tentando compensar por não ter conseguido salvar a vida de Larissa naquele fatídico dia.
Evelyn sabia que o trabalho no hospital era tanto uma bênção quanto uma maldição para Murilo. Era onde ele se sentia no controle, mas também onde se isolava. Ela sabia que ele precisava de algo – ou alguém – que o tirasse desse ciclo de autodestruição. Mas cada tentativa de ajudá-lo parecia empurrá-lo ainda mais para dentro de sua concha.
Ao final daquele dia, Murilo se encontrou novamente em seu escritório, a única luz vindo do abajur sobre a mesa. Ele olhou pela janela, vendo as luzes de Manhattan brilhando ao longe. Havia uma beleza fria e distante naquela visão, algo que espelhava sua própria existência. Mas enquanto as luzes da cidade piscavam, algo dentro dele permanecia apagado.
No fundo, ele sabia que precisava fazer algo para mudar. Mas a dor do passado ainda era forte demais. O fantasma de Larissa estava sempre lá, lembrando-o do que ele perdeu, do que ele nunca mais permitiria que alguém tirasse dele. E assim, ele continuou, uma alma perdida em meio à grandiosidade de Manhattan, buscando redenção em uma rotina sem fim.
Enquanto a cidade continuava a viver e respirar lá fora, Murilo fechou os olhos por um momento, permitindo-se uma pequena fuga, uma memória de Larissa sorrindo para ele. Mas foi apenas um momento. Ele abriu os olhos, se endireitou na cadeira, e voltou ao trabalho. Afinal, o hospital nunca dormia – e ele também não.
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Atualizado até capítulo 92
Comments
galega manhosa
verdade sempre ten que ter uma que ressuscita do quinto dos inferno pra perturba a paz ✌️
2025-02-13
0
MariaZelia Rodrigues
vdd esses livros a maioria das mortas voltas ou não merecem o luto do viúvo🙅🏾♀️
2025-02-13
0
Jamile Santos
ja li tanto livro que a ex forja a morte que agora to achando que essa tbm forjou kkkkk
2025-01-13
8