Murilo estava finalizando mais um plantão noturno no hospital. Como de costume, desde a morte de Larissa, sua esposa, ele se dedicara inteiramente à medicina, usando o trabalho como um refúgio para evitar o vazio que sentia. A tragédia o afastara de seu antigo mundo de negócios, e agora, o que lhe restava era a rotina exaustiva dos plantões e a solidão que ele insistia em manter.
Enquanto revisava os últimos prontuários do dia, o celular vibrou no bolso de seu jaleco. Era Edward, seu amigo, que agora administrava a empresa que Murilo abandonara para se dedicar somente a medicina.
— Murilo, preciso que você assine uns contratos urgentes — a voz de Edward soou com uma urgência incomum. — E tem que ser hoje, sem falta.
— Edward, você sabe que estou no hospital. Não posso sair agora — Murilo respondeu, mantendo o tom profissional.
— Eu sei, mas estou em uma balada perto do hospital. Poderia passar aqui rapidamente? Preciso mesmo dessas assinaturas, você deixou a empresa em minha mão, mas sabe que o responsável legal continua sendo. Ou seja, necessito de suas assinaturas, amigão— insistiu Edward.
Murilo franziu a testa. Ele sabia que Edward estava tentando tirá-lo da rotina, mas a ideia de ir a uma balada, mesmo que por poucos minutos, não lhe agradava. Preferia o silêncio do hospital, onde podia se esconder dos fantasmas que o perseguiam.
— Edward, por que você simplesmente não envia os documentos por e-mail? — Murilo sugeriu, já antecipando que Edward não aceitaria.
— Olha, Murilo, isso não vai funcionar. Além disso, achei que você poderia aproveitar para dar uma espairecida. Você merece uma pausa — Edward pressionou.
Murilo hesitou. Ele sabia que Edward tinha boas intenções, mas a ideia de sair para uma balada, mesmo que brevemente, parecia-lhe absurda. No entanto, ele cedeu, talvez por cortesia ou talvez por cansaço.
Pouco tempo depois, Murilo chegou à balada. O som alto da música e as luzes piscantes o deixaram desconfortável assim que entrou. Sentia-se fora de lugar, como se estivesse invadindo um mundo que já não lhe pertencia.
Enquanto caminhava em direção ao bar, procurando por Edward, esbarrou em alguém. A colisão foi abrupta e interrompeu seus pensamentos. Quando olhou para baixo, viu uma mulher de cabelos claros, era uma jovem mulher, que imediatamente olhou para cima e disse:
— Desculpe!
Ela parecia surpresa e um pouco desconcertada, mas eu mantive minha expressão fria e desdenhosa.
— Cuidado por onde anda — respondi, com um tom de voz carregado de arrogância. — Não está vendo que está atrapalhando?
Ela ficou perplexa por um momento, mas logo se recompôs, e respondeu de forma que não esperava:
— Se você acha que não é capaz de lidar com um pequeno esbarrão, talvez devesse ficar em casa.
Fiquei surpreso com a ousadia dela, mas antes que eu pudesse responder, Edward apareceu ao meu lado e me puxou para longe, encerrando o encontro inesperado.
Murilo lançou um último olhar para a mulher, que continuava a encará-lo com uma mistura de desafio e irritação.
— Aqui estão os contratos — Edward disse, entregando a pasta. — Não foi tão difícil, foi?
Murilo assinou os papéis rapidamente, ansioso para sair dali. Mal trocou palavras com Edward, agradeceu secamente e seguiu para a saída, sem olhar para trás. A balada não era o seu lugar, e aquela interação inesperada só reforçou sua vontade de retornar ao hospital.
Enquanto dirigia para casa, as palavras da mulher ainda ecoavam em sua mente. Quem era ela para desafiá-lo daquela forma? E por que aquilo o incomodava tanto? Acostumado a controlar suas emoções, Murilo sentiu uma estranha mistura de frustração e admiração. Não sabia o nome dela, nem queria saber naquele momento, mas a lembrança dos olhos desafiadores da mulher o acompanhava.
Ao chegar em sua mansão, Murilo sentiu o peso de estar ali. A casa, projetada por Erick Bennet, um dos maiores arquitetos com o qual criou um laço de amizade, havia sido o sonho de Larissa. Tudo ali, cada detalhe, desde os móveis até as cores das paredes, tinha sido escolhido por ela. Após sua morte, Murilo nunca teve coragem de mudar nada. Estar em casa era um lembrete constante do que ele havia perdido, e por isso, passava a maior parte do tempo no hospital ou em outros lugares, evitando o que um dia foi um lar.
Murilo entrou na mansão, sentindo o vazio familiar que o lugar sempre lhe trazia. Deixou a pasta com os documentos em uma mesa e foi para o quarto, tentando se concentrar em alguma leitura médica. Mas as palavras daquela mulher continuavam a perturbá-lo, impedindo-o de se desligar completamente do mundo ao seu redor.
Cansado, jogou-se na cama e fechou os olhos, na tentativa de afastar os pensamentos. Estava exausto, não só pelo trabalho, mas por estar sempre fugindo de si mesmo e de qualquer envolvimento emocional. Aquele encontro, por mais trivial que tivesse sido, fez Murilo perceber que, apesar de todos os seus esforços, ainda havia algo dentro dele que reagia, que sentia, mesmo contra sua própria vontade.
O encontro com a mulher desconhecida foi mais do que um simples esbarrão. Foi um lembrete incômodo de que, por mais que tentasse, ele não conseguia se desligar completamente do mundo à sua volta. E isso, de alguma forma, o perturbava mais do que ele estava disposto a admitir.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 92
Comments
Amanda V.
aqui nesse parágrafo o personagem narra e no próximo parágrafo o narrador quem narra, não dá pra entender!
2025-02-04
2
Katia Sousa
eu sou baixinha 😃
2025-02-07
0
maria fernanda
/Facepalm//Facepalm//Facepalm//Facepalm//Facepalm/
2025-01-15
0