MURILO ALMEIDA
Acordei naquela manhã com o som irritante do meu despertador insistente, tocando repetidamente até eu ter a decência de abrir os olhos. A primeira coisa que fiz foi desligar aquela coisa infernal, sentindo a tentação de jogá-la na parede, mas, em vez disso, respirei fundo. Estava determinado a começar o dia com um mínimo de civilidade.
Levantei-me da cama, sentindo o peso de mais uma noite mal dormida. Às vezes, eu me perguntava se algum dia voltaria a dormir como uma pessoa normal, mas logo afastei o pensamento. Não havia tempo para devaneios melancólicos. Tinha um hospital inteiro para gerenciar e cirurgias para realizar.
Minha governanta, Dona Ruth, sempre tão diligente, sempre que me levantava ela já havia preparado o meu café da manhã. Mas naquela manhã, algo deu errado. Ao descer as escadas e me dirigir para sala onde são servidas as refeições, fui abordado com a notícia que a máquina de café (eu só bebia esse café, não sei se por costume de beber o do hospital) estava em manutenção, com uma das empregadas tentando entender por que havia parado de funcionar.
— Doutor, a máquina de café quebrou, mas já estou tentando arrumar — disse ela, um pouco nervosa.
— Sem problemas, só me traga um café preto, o que quer que tenha conseguido preparar — respondi, tentando manter a calma.
Minutos depois, recebi uma xícara de café que parecia mais com água suja. Tomei um gole e fiz uma careta. "Café" era uma palavra muito generosa.
Já vestido e pronto para enfrentar o dia, saí de casa, tentando não deixar o desastre do café estragar meu humor. Peguei meu carro e segui para o hospital, onde pelo menos as coisas deveriam estar sob controle.
***
Cheguei ao hospital, o local onde eu era respeitado, onde minha palavra era lei. Lá, pelo menos, as coisas faziam sentido... ou deveriam fazer. Ao passar pela recepção, notei que os funcionários estavam mais agitados que o normal. Algo estava errado.
— Doutor Murilo! — A enfermeira Carolina veio correndo até mim, com uma expressão que mesclava pânico e constrangimento. — Precisamos de sua ajuda no pronto-socorro, imediatamente!
— O que aconteceu? — Perguntei, já me dirigindo ao elevador.
— É... bem... é complicado. — Ela parecia hesitante, o que nunca era um bom sinal.
Quando cheguei ao pronto-socorro, a cena que se desenrolou à minha frente foi... inesperada, para dizer o mínimo. Havia uma pilha de caixas de luvas derrubadas, um carrinho de medicamentos capotado e, no centro de toda aquela confusão, estava Ethan, o enfermeiro chefe, com uma expressão de desespero cômico.
— O que diabos aconteceu aqui? — Perguntei, sentindo a raiva borbulhar por dentro, mas tentando manter a compostura.
— Eu... bem, eu estava tentando ajudar com um paciente quando tropecei no carrinho... e, bem... foi isso. — Ethan respondeu, coçando a cabeça como se não soubesse se ria ou chorava.
Eu me aproximei lentamente, tentando processar o caos. Em meio à bagunça, Helena apareceu, provavelmente atraída pelo barulho. Ela olhou para a cena, depois para mim, e então tentou, sem sucesso, segurar uma risada.
— Por favor, me diga que isso é um pesadelo e que eu vou acordar em breve. — Falei, passando a mão pelo rosto.
Helena finalmente não conseguiu mais se segurar e começou a rir de verdade. Uma risada tão contagiante que até alguns dos enfermeiros ao redor começaram a rir também. Lá estava eu, cercado por risos, no meio de um cenário que parecia mais uma comédia pastelão do que um hospital.
Respirei fundo, tentando não perder o controle. A última coisa que eu queria era começar a rir também. Mas, enquanto olhava para Ethan e depois para Helena, algo dentro de mim cedeu. Soltei uma risada baixa, sacudindo a cabeça em incredulidade.
— Muito bem, Ethan. Se seu objetivo era transformar o pronto-socorro em um circo, parabéns, você conseguiu. — Falei, ainda sorrindo.
Ethan, percebendo que havia sido perdoado, riu nervosamente.
— Vamos arrumar essa bagunça antes que eu mude de ideia. — Ordenei, apontando para as caixas e o carrinho.
Com a ajuda de todos, o pronto-socorro foi logo colocado em ordem novamente. Mas algo naquele momento, no meio da confusão, me fez perceber que, por mais que eu tentasse manter tudo sob controle, a vida sempre encontrava um jeito de bagunçar as coisas. E talvez, apenas talvez, isso não fosse tão ruim assim.
Quando a confusão estava resolvida, voltei para meu consultório, onde finalmente poderia ter um momento de paz. Mas, antes de conseguir relaxar, ouvi uma batida na porta.
— Entre — disse, esperando que fosse outra catástrofe.
Para minha surpresa, era Helena.
— Eu queria te agradecer por hoje. — Ela começou, com um sorriso no rosto. — Sua reação no pronto-socorro... foi inesperada, mas muito bem-vinda.
— Bem, depois de um café horrível e uma manhã cheia, acho que eu precisava rir de alguma coisa. — Respondi, meio que para mim mesmo.
Helena riu novamente, e dessa vez, eu me permiti sorrir também. Talvez ela tivesse razão. Talvez eu estivesse começando a aprender que, às vezes, rir das pequenas tragédias do dia a dia era a única maneira de sobreviver a elas.
Ela me deu um breve aceno e saiu, deixando-me sozinho novamente. Sentei-me na minha cadeira, pensando no que ela havia dito. Quem diria que um desastre matinal poderia me ensinar algo sobre mim mesmo? Talvez, no final das contas, nem tudo estivesse perdido.
Fechei os olhos por um momento, apenas para aproveitar a calmaria antes da tempestade que o resto do dia certamente traria. E quando os pacientes começassem a chegar, eu estaria pronto — com ou sem um café decente.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 92
Comments
Aurisia Ivo da Silva
Então ele quer um café ☕☕😂😂😂
2025-01-30
0
Klyner Rodrigues
cheirinho de amor no ar
2025-02-08
1
Áurea Aparecida Ribeiro
Adorei.
2025-02-06
0