capítulo 10

HELENA

O resto do dia passou rápido, e logo a hora da tão comentada cirurgia havia chegado. Eu estava na sala de cirurgia, ajudando a preparar tudo para o procedimento complicado que Dr. Murilo iria realizar. A sala estava impecavelmente organizada, cada instrumento no lugar certo, e o ar estava carregado com aquela mistura de antisséptico e expectativa que sempre precede uma operação.

Dr. Murilo entrou na sala, seguido por outros médicos que fariam parte da equipe. Ele usava uma expressão concentrada, e quando olhou para mim, fez um breve movimento de cabeça, como se estivesse silenciosamente reconhecendo minha presença. Era estranho como aquele gesto simples me dava um pouco mais de confiança.

— Todos prontos? — Dr. Murilo perguntou, olhando em volta. Sua voz firme cortou o silêncio como uma lâmina afiada.

— Sim, doutor — respondi junto com os outros, em uníssono.

A cirurgia começou e, por várias horas, o tempo pareceu se distorcer. Cada movimento meu era calculado, cada ação tomada com extrema cautela. Dr. Murilo conduzia o procedimento com a precisão de um maestro, suas mãos se movendo com agilidade enquanto ele guiava a equipe.

— Helena, o próximo passo — ele ordenou, sem nem precisar olhar para mim.

Com as instruções claras em mente, passei o instrumento que ele pediu, mantendo minha respiração controlada e o foco absoluto. No meio daquele turbilhão de tensão, algo em mim se conectou com a energia do Dr. Murilo. Eu sabia que ele era exigente, mas ali, na sala de cirurgia, entendia o motivo. Ele não era apenas um médico, era alguém que exigia excelência em tudo o que fazia. E naquele momento, percebi que eu também queria alcançar essa excelência.

A cirurgia foi um sucesso, graças ao trabalho em equipe e, claro, à liderança impecável do Dr. Murilo. Quando finalmente saímos da sala, havia uma sensação de alívio misturada com cansaço. Minha roupa estava encharcada de suor, mas havia uma satisfação profunda em saber que tínhamos salvado uma vida.

— Bom trabalho, Helena — Dr. Murilo disse, enquanto lavávamos as mãos.

Aquelas palavras, simples como eram, significavam muito vindo dele. Sorri, um sorriso discreto, mas verdadeiro.

— Obrigada, doutor. — Respondi, ainda processando o impacto do que acabara de acontecer.

Quando finalmente saímos da área restrita, encontrei Ethan esperando por mim no corredor.

— E então, como foi? — Ele perguntou, visivelmente curioso.

— Intenso, mas... acho que me saí bem — respondi, ainda sentindo a adrenalina correndo nas minhas veias.

— Eu sabia que você ia mandar bem. — Ethan disse, dando um tapinha amigável no meu ombro. — E o Dr. Murilo? Alguma bronca?

— Nada de bronca, na verdade. Ele até elogiou. — Falei, ainda meio surpresa.

— Uau, isso é raro. Se ele te elogiou, é porque você fez algo certo. — Ethan riu. — Vamos tomar um café para comemorar?

— Não vou recusar um café depois desse dia. — Respondi, aceitando o convite.

Fomos para a cafeteria do hospital, que estava tranquila naquela hora. Peguei um café forte e me sentei com Ethan em uma mesa perto da janela. Conversamos sobre a cirurgia, sobre as peculiaridades do Dr. Murilo e sobre a vida fora do hospital. Ethan era fácil de conversar, o tipo de pessoa que fazia você se sentir à vontade.

— Então, Helena, você está gostando de Nova York até agora? — Ele perguntou, mudando o assunto.

— Estou sim, é uma cidade incrível. Ainda estou me adaptando, mas já comecei a me sentir em casa. — Respondi, tomando um gole do meu café.

— Que bom. E, me diz, já teve tempo de explorar a cidade? — Ele continuou, curioso.

— Um pouco, mas ainda tenho muito o que ver. — Falei, sorrindo. — E você? O que gosta de fazer fora do hospital?

— Ah, eu sou um cara simples. Gosto de sair com os amigos, assistir a um bom filme, coisas assim. — Ele respondeu, dando de ombros. — Nova York tem muito a oferecer, mas às vezes é bom desacelerar e curtir as coisas simples.

Concordei, entendendo exatamente o que ele queria dizer. Nova York era uma cidade vibrante, mas podia ser avassaladora às vezes. A conversa fluiu naturalmente, e logo perdemos a noção do tempo. Quando olhei para o relógio, percebi que já era tarde.

— Acho que é melhor eu ir para casa descansar — falei, percebendo o cansaço finalmente me atingir.

— Claro, você merece. — Ethan respondeu, levantando-se também. — E lembre-se, se precisar de alguma coisa, estou por aqui.

— Obrigada, Ethan. Foi bom conversar com você. — Falei, genuinamente grata.

Nos despedimos, e eu saí do hospital, respirando fundo o ar fresco da noite. Caminhei pelas ruas movimentadas de Nova York, sentindo-me exausta, mas ao mesmo tempo energizada por tudo o que havia acontecido naquele dia. Eu sabia que ainda tinha um longo caminho pela frente, mas cada dia parecia me levar um pouco mais perto do que eu queria alcançar.

Quando finalmente cheguei ao meu prédio, fui recebida pelo som de risadas vindas do apartamento de baixo, onde Alice e Damon moravam. Ouvi eles conversando e rindo, e aquilo me fez sorrir.

Subi para meu apartamento e, antes de entrar, bati na porta de Alice para cumprimentá-los.

— Oi, Helena! — Alice exclamou quando abriu a porta. — Como foi o seu dia?

— Intenso, mas bom. E vocês? — Perguntei, enquanto tirava os sapatos no hall.

— Ah, só relaxando um pouco. Você quer se juntar a nós? — Damon perguntou do sofá.

— Acho que vou passar. Estou exausta. — Respondi, bocejando.

— Entendemos. Amanhã é outro dia, né? — Alice disse, piscando para mim.

— Isso mesmo. Boa noite, pessoal. — Respondi, indo em direção ao meu apartamento no andar de cima.

Entrei em casa e me joguei na cama, sentindo o peso do dia inteiro finalmente me alcançar. Ainda assim, havia uma sensação de satisfação em mim. Eu estava no lugar certo, fazendo o que amava, cercada por pessoas que estavam começando a se tornar importantes na minha vida. E, por mais que o Dr. Murilo fosse um desafio, algo em mim estava disposta a enfrentá-lo de cabeça erguida.

Sorri para mim mesma, antes de fechar os olhos e deixar o sono me levar. Nova York ainda tinha muito a me oferecer, e eu estava pronta para o que viesse a seguir.

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