HELENA
Eu saí do escritório da Dra. Evelyn, sentindo uma mistura de alívio e ansiedade. A entrevista havia corrido bem, melhor do que eu esperava. Evelyn – ou melhor, Dra. Evans, como eu precisava me lembrar de chamá-la – era calorosa e acolhedora, o que foi um alívio enorme após todo o estresse que eu estava sentindo. Nova York era um mundo totalmente novo para mim, e conseguir um emprego logo no Memorial Hospital seria uma verdadeira bênção.
Mas agora, eu tinha um novo desafio pela frente: encontrar um lugar para morar. A cidade estava repleta de opções, mas todas pareciam absurdamente caras ou assustadoramente pequenas. Eu não sabia exatamente o que estava procurando, só sabia que precisava ser algo que eu pudesse pagar e que não me fizesse sentir como se estivesse morando em um armário.
Peguei meu celular e abri um aplicativo de aluguel de imóveis. A quantidade de anúncios era esmagadora. Sentei-me em um banco na calçada, olhando para os apartamentos como se estivesse escolhendo um prato em um menu gigante. *Muito caro... Muito longe... Muito pequeno... Isso é um porão?!* Minhas opções estavam diminuindo rapidamente.
Depois de um tempo, um anúncio chamou minha atenção. “Apartamento espaçoso, preço acessível, excelente localização!” Parecia bom demais para ser verdade. *Hum, deve ter alguma pegadinha*, pensei. Mas, ao olhar as fotos, tudo parecia perfeito. O apartamento ficava em um bairro agradável, não muito longe do hospital, e o aluguel estava dentro do meu orçamento. Sem pensar duas vezes, liguei para o número do anúncio.
— Alô? — respondeu uma voz grave e entusiasmada do outro lado da linha.
— Ah, oi! Eu vi o anúncio do apartamento para alugar e queria saber se ainda está disponível.
— Está sim! — respondeu a voz, com um entusiasmo quase contagiante. — Quando você pode vir dar uma olhada?
— Bem... eu estou por aqui. Posso passar em uma hora?
— Perfeito! O endereço é 3425, West 44th Street. Vejo você daqui a pouco!
Desliguei o telefone, sentindo uma pequena onda de excitação. Talvez as coisas finalmente estivessem se ajeitando. Peguei um táxi e fui em direção ao endereço que me deram. À medida que me aproximava, notei que o bairro parecia promissor – árvores alinhadas nas calçadas, cafés charmosos nas esquinas, e pessoas passeando com seus cães. *É, isso pode ser bom*, pensei.
Quando o táxi parou em frente ao prédio, uma construção antiga de tijolos vermelhos com escadas de incêndio decorativas, saí do carro com uma certa expectativa. Mal podia esperar para ver o apartamento.
Fui recebida na porta por um homem de meia-idade com um bigode grosso e um sorriso largo.
— Você deve ser Helena! — disse ele, apertando minha mão com força. — Sou o Sr. Carlo, o zelador e, bem, praticamente o faz-tudo por aqui.
— Prazer em conhecê-lo, Sr. Carlo! — Eu sorri de volta, tentando esconder o quanto sua energia me pegou de surpresa.
— Ah, nada de “Sr.”! Pode me chamar de Carlo. Eu sou só Carlo, a pessoa que faz tudo nesse prédio. Vamos lá, vou te mostrar o apartamento!
Subimos as escadas, e ele foi me contando a história do prédio – que já teve vários inquilinos famosos, incluindo um ator que fez participações em um seriado policial dos anos 80. Eu tentava acompanhar a conversa enquanto ele falava sem parar, até que chegamos ao terceiro andar.
— E aqui estamos! Apartamento 3B, uma verdadeira joia escondida de Nova York! — disse Carlo, abrindo a porta com um gesto grandioso.
Entrei no apartamento e, à primeira vista, parecia realmente tão bom quanto nas fotos. A sala era ampla, com janelas grandes que deixavam entrar muita luz natural. A cozinha, embora pequena, era funcional e charmosa. Eu estava começando a me imaginar ali, quando um som estranho chamou minha atenção.
— Err... você ouviu isso? — perguntei, tentando identificar o barulho.
— Ah, isso? — Carlo deu uma risadinha. — Provavelmente são os vizinhos. Eles são bem... como posso dizer... animados.
Antes que eu pudesse perguntar o que ele queria dizer com "animados", um grito abafado seguido de uma risada estridente veio do apartamento ao lado. Eu olhei para Carlo, que apenas deu de ombros.
— Você se acostuma. A Sra. Matilda e o Sr. Barnaby têm uma vida social bem ativa, se é que me entende. — Ele piscou, como se estivesse compartilhando um segredo. — Mas são adoráveis, você vai adorar conhecê-los.
Eu tentei não rir, mas não pude evitar. Quem eram essas pessoas? Estava prestes a descobrir, porque antes que Carlo pudesse continuar o tour, a porta do apartamento ao lado se abriu com um estrondo.
— Carlo! — gritou uma mulher idosa, com cabelos brancos e um vestido de bolinhas vermelho e branco. — Você me prometeu que consertaria a torneira da cozinha hoje! Eu não posso continuar lavando louça no banheiro!
— Já vou, já vou, Sra. Matilda! — Carlo respondeu, claramente acostumado com o ritmo enérgico dela. — Só estou mostrando o apartamento para a nossa possível nova inquilina.
Matilda olhou para mim com olhos astutos, e em um segundo estava ao meu lado, segurando minha mão.
— Ah, então você é a nova vizinha! Bem, seja muito bem-vinda! — Ela me puxou para um abraço inesperadamente forte. — Meu nome é Matilda, e você deve ignorar qualquer coisa que Barnaby diga, ele é um rabugento de primeira, mas tem um coração mole.
— Er... prazer em conhecê-la, Sra. Matilda — murmurei, ainda tentando processar o que estava acontecendo.
— Nada de “Sra.”, querida! Me chame de Tilda, todo mundo aqui chama. E você vai amar morar aqui, é como uma grande família! Não é, Carlo?
— Isso mesmo, Tilda! Agora, vamos deixar a jovem terminar de ver o apartamento antes que ela desista de nós, hein? — Carlo disse com um sorriso, tentando desviar a atenção.
Mas Matilda estava longe de terminar. Ela começou a me dar um tour improvisado do apartamento, apontando tudo o que achava que eu devia saber.
— Essa parede aqui, Carlo diz que está sólida, mas eu aposto que ouvi um rato atrás dela semana passada. Mas não se preocupe, Barnaby tem um gato chamado Tigrão, que resolve qualquer problema de roedores por aqui! E o banheiro... bem, o chuveiro pode ser temperamental, mas basta bater no cano com uma chave inglesa, e pronto, água quente!
Eu tentava acompanhar a enxurrada de informações, enquanto tentava imaginar como seria minha vida ali. E então, como se as coisas não pudessem ficar mais surreais, a porta do apartamento ao lado se abriu novamente, e um senhor magro, com uma calça de pijama listrada e um boné de beisebol, apareceu.
— Tilda, pelo amor de Deus, deixa a moça respirar! — ele resmungou, embora houvesse um brilho de humor nos olhos dele.
— Esse é o Barnaby — sussurrou Carlo para mim. — E não ligue para o mau humor, ele só precisa do café da manhã.
— Oi, Barnaby — disse, tentando não rir. — Eu sou Helena.
— Bem-vinda ao manicômio — ele respondeu, dando uma olhada em Matilda antes de voltar para dentro.
Eu não pude me conter mais e soltei uma gargalhada. Tudo naquela situação era tão ridiculamente cômico que não havia outra reação possível. Quando finalmente me recuperei, Matilda estava me olhando com um sorriso satisfeito.
— Viu? Eu disse que você ia adorar aqui!
E naquele momento, percebi que, apesar de todas as peculiaridades – ou talvez por causa delas – aquele lugar poderia ser exatamente o que eu precisava.
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Atualizado até capítulo 92
Comments
Sineia Soares
Será que ela vai ter sossego morando aí kkkkk
2024-12-26
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Klyner Rodrigues
verdade, ou ela sai boa ou fica doida tbm kkkk
2025-02-08
1
Aurisia Ivo da Silva
🤣🤣🤣🤣 Eita 😂
2025-01-30
0