Murilo estava sentado em seu escritório, o olhar fixo na tela do computador. A planilha de acompanhamento de pacientes estava aberta, mas ele não conseguia se concentrar. Sua mente estava em outro lugar, ou melhor, em outra pessoa: Helena. Desde a interação dela com alguns pacientes, algo dentro dele parecia ter despertado, e ele não sabia como lidar com isso.
Murilo esfregou o rosto com as mãos, frustrado. Ele tinha sido um homem diferente desde a morte de Larissa. Frio, distante, focado apenas no trabalho. Não tinha tempo para se distrair com sentimentos, muito menos para se envolver com alguém. Mas agora, Helena estava ali, com seu sorriso contagiante e sua energia radiante, mexendo com ele de um jeito que ninguém mais havia feito desde Larissa.
"Isso é ridículo", pensou Murilo. "Por que estou pensando nela dessa maneira? É só uma enfermeira, uma colega de trabalho." Mas, por mais que tentasse, não conseguia afastar a imagem de Helena de sua mente.
Enquanto tentava se concentrar no trabalho, Murilo não conseguia evitar a sensação de culpa que o envolvia. Pensar em Helena o fazia sentir como se estivesse traindo Larissa, sua falecida esposa. "O que ela pensaria de mim agora?" ele se perguntava, o rosto marcado por um misto de dor e confusão.
Larissa sempre fora o amor de sua vida. Ele nunca pensou que um dia precisaria seguir em frente sem ela. Depois do acidente, Murilo fechou-se para o mundo, prometendo a si mesmo que nunca amaria outra pessoa. Mas agora, os pensamentos constantes sobre Helena estavam rompendo essa promessa silenciosa, e isso o deixava em conflito.
Ele se levantou da cadeira e começou a andar de um lado para o outro em seu escritório, os passos pesados ecoando no piso de madeira. "Preciso parar com isso", murmurou para si mesmo. "Ela é apenas uma distração."
Decidido a se afastar desses pensamentos, Murilo saiu de seu escritório. Enquanto caminhava pelos corredores, ele viu Helena ao longe, conversando com um grupo de pacientes. Eles estavam rindo, e ela estava no centro da atenção, como sempre. Murilo sentiu o já familiar aperto no peito. "Por que ela tem que ser tão... encantadora?", pensou, irritado consigo mesmo por notar isso.
Enquanto Helena se despedia dos pacientes e se virava para seguir seu caminho, ela deu de cara com Murilo. Seus olhos se encontraram, e Murilo sentiu um calor subir pelo rosto.
— Doutor Murilo! — ela exclamou, com um sorriso. — Tudo bem?
Ele respondeu com um aceno de cabeça um tanto frio. — Tudo certo, Helena. Eu estava apenas... verificando o andamento das coisas.
Helena notou o tom seco na voz dele e arqueou uma sobrancelha, um sorriso brincalhão nos lábios. — Algum problema? Parece um pouco... tenso.
Murilo, pegando-a de surpresa, deu um passo à frente, aproximando-se mais do que o necessário. — Estou apenas tentando fazer meu trabalho, Helena. Talvez você devesse fazer o mesmo, em vez de se divertir tanto com os pacientes.
A surpresa passou rapidamente para um olhar de confusão, e depois de leve indignação. — Doutor, eu estou fazendo meu trabalho. Se o senhor acha que humor e humanidade não fazem parte do cuidado médico, talvez devêssemos repensar o que estamos fazendo aqui.
Murilo sabia que tinha sido injusto, mas seu orgulho não o deixaria admitir isso. Ele apenas assentiu de forma condescendente e virou-se para ir embora, deixando Helena para trás com uma expressão de descrença.
De volta ao seu escritório, Murilo afundou na cadeira. Ele sabia que tinha sido duro com Helena sem motivo, mas simplesmente não conseguia se conter. Cada vez que pensava nela, sentia uma onda de emoções contraditórias que não sabia como lidar. Parte dele queria se aproximar dela, entender o que era essa sensação que ela provocava nele. A outra parte se sentia culpada, como se estivesse traindo a memória de Larissa.
"O que está acontecendo comigo?", ele pensou, colocando as mãos na cabeça. Sua mente voltava constantemente à imagem de Helena sorrindo, sua risada clara preenchendo os corredores do hospital. Ele queria odiá-la por fazer com que ele sentisse algo, mas não conseguia. E isso o irritava ainda mais.
Ele pegou o celular e, por um momento, pensou em ligar para o número de Larissa. Ele ainda tinha o contato dela salvo, como se, de alguma forma, ela ainda estivesse lá, esperando por ele. Claro, o número não estava mais em uso, mas ele nunca teve coragem de apagá-lo. Era um lembrete constante de seu amor e da promessa que havia feito a si mesmo de nunca esquecê-la.
Mas agora, com Helena na equação, ele sentia que estava falhando com Larissa. E essa sensação de traição interna estava começando a desgastá-lo.
No dia seguinte, Murilo decidiu que precisava manter distância de Helena. Ele estava convencido de que, se simplesmente a evitasse, esses sentimentos iriam desaparecer. Mas o destino parecia conspirar contra ele. Quando ele saiu de seu escritório, viu Helena no corredor, rindo e conversando com outro médico.
Murilo apertou os dentes e sentiu uma onda de raiva irracional. Ele caminhou até eles, interrompendo a conversa de maneira abrupta.
— Helena, preciso falar com você agora. — Sua voz estava mais dura do que pretendia.
O outro médico, surpreso, se afastou educadamente, e Helena olhou para Murilo com confusão e um toque de irritação.
— Claro, doutor. — Ela seguiu Murilo até um canto mais privado do corredor.
— Eu... — Murilo começou, mas de repente as palavras falharam. Ele não sabia o que dizer. A raiva que sentia era na verdade dirigida a si mesmo, mas ele estava prestes a descontá-la em Helena novamente.
— Se é sobre ontem, já entendi seu ponto, doutor. — Helena cortou, a voz calma mas firme. — Não estou aqui para causar problemas, apenas para fazer meu trabalho. Se tiver algo específico que precise, pode me dizer.
Murilo ficou em silêncio por um momento, os olhos fixos nos dela. Ele sabia que estava agindo irracionalmente, mas não conseguia parar. "Por que ela tem que ser tão compreensiva?", ele pensou. "Por que não pode ser mais fácil afastá-la?"
— Apenas... seja mais profissional, Helena — ele disse finalmente, a voz mais baixa. — Eu sei que você quer ajudar, mas precisa lembrar que este é um hospital, não um parque de diversões.
Helena o encarou por um momento, claramente tentando entender o que estava acontecendo na cabeça dele. — Claro, doutor. Vou lembrar disso.
Ela se virou e saiu, e Murilo ficou parado ali, sentindo-se um completo idiota. Ele sabia que tinha sido injusto mais uma vez, mas estava preso em um ciclo de emoções que não sabia como quebrar. Tudo o que sabia era que Helena o fazia sentir coisas que ele não estava preparado para lidar, e cada vez que isso acontecia, ele acabava descontando nela.
Enquanto voltava para seu escritório, Murilo se perguntou quanto tempo poderia continuar assim antes de finalmente ceder ao que estava sentindo — ou destruir tudo ao seu redor tentando resistir.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 92
Comments
Sonia Beatris
Dr. suas barreiras estão prestes a cair
2025-03-11
0
Klyner Rodrigues
sei não viu doctor
2025-02-08
0
Gilvanise Azevedo
Que pensamento mais sem noção desse médico....eu hein.
2025-02-07
2