Capítulo. 20

Cleo ainda estava de pé com os braços cruzados e o joelho machucado dobrado, de modo que a outra perna sustentava a maior parte do seu peso.

“Explique!” ele ordenou, apontando para o joelho dela.

“Tenho um joelho fraco, e ficar sentado em seiza fez com que ele piorasse um pouco.”

Ele xingou intensamente em cerca de três línguas diferentes antes de passar a mão agitada pelos cabelos.

"O que há de errado com seu joelho?" ele perguntou depois de um momento, e ela bufou impacientemente.

“Você viu cada centímetro do meu corpo”, ela disse. “Eu presumi que, ao longo da semana, você teria notado a grande e feia cicatriz no meu joelho?”

“Claro que sim”, ele admitiu. “E eu estava querendo te perguntar sobre isso. Só que—”

"Só que você nunca teve tempo?" ela completou. Onde ele encontraria tempo? À noite, ele estava totalmente ocupado seduzindo-a, e seus dias eram dominados por reuniões consecutivas necessárias para construir seu precioso hotel. E então havia o fato óbvio de que ele simplesmente não se importava o suficiente para se aprofundar em detalhes pessoais. Eles não falavam sobre nada além de bobagens superficiais quando estavam sozinhos à noite, e uma vez que o sexo começava, a conversa diminuía para o que parecia bom e onde.

“Eu sabia da cicatriz. Só nunca realmente apreciei que seu joelho pudesse ter sido enfraquecido por ela. O que foi tolice, considerando a extensão da cicatriz. Mas, em minha defesa, isso nunca pareceu incomodá-lo, você geralmente anda sem impedimentos e é bastante flexível — como posso atestar pessoalmente.”

O comentário dele a fez lembrar de duas noites antes, quando eles fizeram sexo no meio do quarto dele, as mãos dele apoiando a bunda dela e as pernas dela enroladas na cintura dele, sem nem mesmo uma parede para apoiá-las. Foi uma grande prova da força dele e da flexibilidade dela. Só os orgasmos mútuos deles finalmente os fizeram afundar no chão acarpetado. Ela corou com a lembrança e sentiu um calor desconfortável ao se lembrar de quão intensa aquela sessão tinha sido, o medo de cair combinado com a excitação de manter o ritmo e o equilíbrio.

“De qualquer forma”, ela disse, esperando fazê-los voltar ao assunto em questão, “o joelho não me incomoda muito, a menos que eu o esteja testando, e, acredite, aquela coisa da seiza o testou muito”.

"Quantos anos tem o ferimento?", ele perguntou, parecendo profundamente desconfortável com a pergunta, e ela sabia que era porque ele se sentia compelido a fazer uma pergunta pessoal para parecer — e possivelmente se sentir — menos um babaca indiferente.

“Eu o machuquei há cerca de três anos”, ela lembrou, seus lábios se torcendo ao se lembrar da queda catastrófica que havia destruído todos os seus sonhos.

“O que aconteceu?” Mais uma vez, a pergunta soou arrancada dele. Ele claramente odiava perguntar e provavelmente não tinha interesse real na resposta.

“Eu sofri um acidente e precisei de cirurgia no joelho. Fim. Não precisa me fazer mais perguntas, senhor. Você demonstrou interesse. Anotado.”

Ele não disse nada, apenas a observou por um longo momento, aquele rosto bonito irritantemente inexpressivo.

“Assim seja.” Ele deu de ombros desdenhosamente. “Nós retornaremos ao hotel.”

“Você não precisa voltar. Eu consigo voltar sozinha.”

“Sem dúvida”, ele concordou. “Mas me encontro bastante cansado.”

"Você quer?", ela perguntou num sussurro, e os lábios dele se curvaram naquele sorriso sexy e terrível de gata que ganhou o creme.

“—mais ou menos.”

“O quê?” ela perguntou, embora soubesse exatamente o que ele queria dizer com isso.

“Estou meio cansado”, ele esclareceu, embora a expressão em seu rosto sugerisse que ele sabia que não precisava realmente fazer isso. “Posso encontrar meu segundo fôlego quando voltarmos para o hotel.”

Claro que sim.

E assim foi.

O café da manhã parecia diferente. Normalmente, a refeição, que sempre era entregue na suíte, era comida às pressas enquanto Dante disparava rapidamente uma lista de requisitos do dia na Cleo. Hoje, com a urgência da semana para trás e a lembrança do sexo fantástico da noite anterior ainda pulsando entre eles, tudo parecia estranho. Diferente. Errado.

Eles partiriam para o aeroporto em menos de uma hora e estavam naquele estranho espaço de nada, onde tudo havia sido organizado e não havia mais nada a fazer além de aproveitar o raro momento de paz e tranquilidade.

Só que não era tranquilo e era muito silencioso.

Cleo engoliu um pedaço de torrada que parecia lixa enquanto deslizava pela garganta seca. Ela o engoliu com um pouco de suco de laranja ácido e se perguntou sobre seu nervosismo.

Ela se levantou e, inquieta, foi até as enormes janelas panorâmicas ao lado das poltronas Bakokko, que agora tinham algumas memórias bem obscenas presas a elas. Havia uma camada de poluição pairando sobre a cidade que não fazia nada para diminuir a vibração de Tóquio. Ela leu vorazmente seu guia do começo ao fim, dobrando diligentemente as páginas dedicadas a lugares que ela ansiava por ver, prometendo a si mesma que voltaria e visitaria algum dia. Ela sabia que era improvável que isso acontecesse e se considerava sortuda por ter visto tanto disso, pelo menos, de cima de sua torre de vidro e dos confins claustrofóbicos do carro.

"Senhorita Knight." A voz baixa de Dante se intrometeu em seus pensamentos, e ela não pôde deixar de se perguntar se ele a havia chamado de Srta. Knight porque havia esquecido seu nome novamente. O absurdo absoluto de um homem que conhecia seu corpo melhor do que ela se dirigindo a ela tão formalmente fez com que um pequeno borbulhar de risada histérica surgisse em seu peito. Ela engoliu de volta, o instinto lhe dizendo que ele não apreciaria seu humor agora.

Ela se virou para encará-lo, escondendo uma careta quando seu joelho ainda dolorido estremeceu em resposta ao movimento. Com certeza, o conjunto severo de sua mandíbula e a linha tensa de sua boca confirmaram que ele estava pronto para ter uma Discussão Séria.

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