Capítulo. 10

A lembrança ainda fazia Cleo ferver — quatro meses depois — e ela cerrou os dentes ao pensar em quão consistentemente, depois daquele primeiro encontro, a mesma coisa tinha acontecido. Ela começava todos os dias na suíte do escritório de Damaso, e depois de meia hora — durante a qual ela tinha o privilégio duvidoso de fazer seu café e regar aquela figueira idiota, ou às vezes enviar um daqueles pequenos bilhetes repugnantes de "Obrigada pelo sexo" — ela era enviada para um executivo diferente. Felizmente, os outros executivos pararam de lhe dar tarefas mundanas para fazer, e ela começou a aproveitar suas pequenas soirées diárias longe do escritório do chefe. Ainda assim, as meias horas nas manhãs tinham se tornado quase insuportáveis. Dante era mordaz, brutalmente franco em sua rejeição às habilidades dela e quase insuportavelmente rude. Ele nunca a cumprimentava, nunca usava cortesias comuns como "por favor" e "obrigada" quando falava com ela, e Cleo estava convencida de que um sorriso quebraria seu rosto perfeito.

Dante ainda estava severamente focado em seu iPad, e Cleo voltou a observar avidamente a paisagem que passava, tentando memorizar o máximo que podia, enquanto ansiava por estar lá fora explorando a maravilhosa mistura do antigo e do novo. Ela amava os prédios de madeira que pareciam existir desde a Idade Média, escondidos em vielas e ofuscados por arranha-céus monolíticos agressivamente modernos. Nada escapava de sua atenção, e ela tentava arquivar as partes interessantes, querendo pesquisar e ler sobre prédios, museus e lojas que capturassem seu interesse. Tudo isso ajudava a manter sua mente longe da presença perturbadora de Dante.

Louvado seja Jesus! Eles tinham donuts! Cleo mal notou todas as reverências e conversas ao seu redor enquanto seus sentidos se concentravam naquele único e importantíssimo fato. Agora ela estava com tanta fome que realmente se sentiu fraca, e se ela pudesse ao menos colocar as mãos em um daqueles lindos aros de bondade açucarada, tudo ficaria bem com seu mundo. Ela assentiu atordoada para o semicírculo de empresários de aparência sombria em ternos escuros se curvando para ela e mal estava ciente da presença alta e escura pairando ao seu lado enquanto seus olhos vagavam repetidamente para a tentadora exibição de café e doces dispostos ao lado.

As saudações educadas dolorosamente prolongadas finalmente acabaram, ela furtivamente foi até a mesa de guloseimas. Ela estava a apenas um dedo de distância de uma preciosidade coberta de chocolate com seu nome escrito por toda parte quando uma mão firme apertou seu cotovelo. Seu estômago vazio afundou até a sola de seus sapatos sensatos, e ela olhou para seu chefe com o que sabia ser a expressão de cão de guarda mais efetivamente patética de seu arsenal. Mas ele não aceitou; sua mandíbula estava tão cerrada que ela ficou surpresa que seus dentes não quebraram. Ela deu um último olhar desamparado para os donuts antes que ele a levasse para a longa mesa de conferências no centro da sala.

"Tente prestar atenção", ele murmurou em seu ouvido enquanto a colocava em um assento que, cruelmente, ficava de frente para a deliciosa comida a apenas uma mesa de distância dela.

O que se seguiu foram as três horas mais longas, chatas e torturantes da vida de Cleo. A reunião foi conduzida inteiramente em japonês, que Cleo não falava, mas Dante certamente falava, e muito fluentemente também, pelo que ela podia dizer. Ela não sabia por que estava lá. Ele tinha um ditafone gravando a reunião, então, mesmo que ela conseguisse entender o que estava acontecendo, ela não teria que tomar notas de qualquer maneira. Tudo o que ela podia fazer era olhar para os donuts e outras guloseimas deliciosas na frente dela e imaginar como eram saborosos. Em um momento, uma mosca pousou em seu donut. Levou tudo o que ela tinha para não pular com um grito primitivo e afastá-la. Em vez disso, ela observou com repulsa enquanto ela rastejava sobre cada centímetro de seu lindo donut. Ela quase soluçou de decepção, desistiu do de chocolate e mudou sua atenção para um éclair lindo em uma bandeja diferente. Mas quando aquela mosca bastarda, que ela agora chamava de Damaso Jr., pousou em seu éclair também, ela se recostou na cadeira e olhou tristemente para o caderno em branco à sua frente.

Ela pegou sua caneta e começou a rabiscar. Esperando ao menos parecer ocupada, ela compôs haicais e observações realmente horríveis sobre as pessoas sentadas ao redor da mesa.

Sua tentativa de descrever Dante:

Ele tem um abdômen duro

Lindo de se ver com certeza

Meu Deus que babaca

Ok, talvez essa última linha tenha sido um pouco ambígua. Foi um insulto ou um elogio? Até Cleo não tinha certeza.

Depois de várias tentativas ainda piores, Cleo desistiu do haicai. Ela passou a rabiscar, ocasionalmente olhando para cima e balançando a cabeça para fazer parecer que estava ouvindo cada palavra incompreensível sendo dita. Ela olhou para Dante e ficou encantada ao notar que ele tinha empoleirado seus óculos de aro escuro na ponta do nariz. Ela os tinha visto antes, é claro, mas amava o quão verdadeiramente nerd eles o faziam parecer. Sexy-nerd, mas era uma falha e ela aceitaria.

A única outra mulher presente, a Sra. Inokawa, também lançava olhares furtivos para Dante e sorria recatadamente toda vez que ele falava com ela. Se não fosse pelo brilho calculista em seus lindos olhos, Cleo teria achado a mulher doce e um pouco tímida, mas por baixo de toda aquela doçura açucarada batia o coração de uma sedutora intrigante. E ela estava de olho em Dante.

Bem, ela era bem-vinda a ele. Tudo o que Cleo queria era um donut. Talvez aquele de caramelo, parecia que a mosca tinha pulado — droga. Com certeza, como se atraída por seus pensamentos, a mosca pousou naquele também. Quando a reunião terminasse, a maldita coisa teria...

“Senhorita Knight?” Ela se levantou bruscamente, percebendo que Dante estava tentando chamar sua atenção.

“Uh... sim?”

“Eu perguntei se você recebeu isso?”

Isso? O quê? Espera, eles finalmente disseram algo em inglês e ela não percebeu? Droga.

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