...EMMA...
Ao longo dos anos, meu corpo mudou. Eu notava mais pessoas me olhando boquiabertas em eventos sociais. Eu tinha me tornado curvilínea em todos os lugares certos. Mesmo ao final da faculdade, alguns caras me convidaram para sair, mas eu sempre fui muito tímida para responder.
Minhas mechas onduladas cor de chocolate cresceram, quase alcançando minha cintura e eu era muito grata por ter puxado minha mãe nessa área.
Com o passar das semanas, lentamente comecei a aceitar meu destino. Afinal, eu nunca fui capaz de fazer uma escolha por mim mesma ao longo de todos os anos da minha vida até aqui, então porque eu esperaria que fosse diferente com meu casamento?
Eu só podia presumir que era assim que funcionava para as famílias de classe alta: cheios de ganância, assim como o meu pai. Dinheiro, status e poder eram tudo o que importava e nada mais.
Eu só estava grata por meu pai ter parado de me bater. Tive uma pequena sensação de liberdade naqueles poucos dias antes da noite terrível que me mudou para sempre.
...****...
No fim de semana eu tinha a casa só pra mim. Todo mundo estava fora e eu adorei. Sofia e meu pai estavam visitando a família e Paola estava numa viagem de garotas.
Felizmente, Gabriel trabalhava no exterior durante a maior parte do ano, mas sempre que ele estava em casa eu o evitada a todo custo, trancando a porta do meu quarto, especialmente à noite.
Nem me lembrava do quanto era bom relaxar no sofá, curtindo a paz que enchia a casa com a ausência de todos. Henriqueta ficou comigo durante a maior parte da noite. Conversamos e assistimos alguns filmes.
Eu estava exausta, mas satisfeita com o quão lindo havia sido meu dia. Era maravilhoso não precisar estar alerta o tempo todo.
Deitei na cama, olhando em silêncio para o teto escuro. Meus pensamentos antes de cair no sono sempre me levavam a uma pessoa: Roman Carrero. Pelos poucos boatos que escutei, percebi que ele era meio playboy, mas não poderia julgá-lo antes de conhece-lo.
Como ele seria?
- Roman, - sussurrei suavemente seu nome na escuridão do meu quarto. Parecia tão estranho pra mim. Este homem seria meu marido em menos de duas semanas e eu nem o tinha conhecido ainda. Não saberia nem distingui-lo nas ruas, se o visse.
...****...
- Emma? – um arrepio gelado percorrei meus ossos ao som do meu nome. Meus olhos se abriram e, para meu horror, Gabriel estava ao lado da minha cama, pairando sobre mim. O fedor de álcool impregnou o ar antes mesmo de eu ver a garrafa de uísque em sua mão.
- Gabriel, o que você..., - minha respiração cessou quando Gabriel pressionou a garrafa contra minha boca e seus lábios se curvaram em um sorriso malicioso.
- Por favor, - eu implorei com soluços incontroláveis e, então, perdi a consciência.
Algum tempo depois, ouvi a voz de outro homem, antes que ele colocasse a cabeça pela porta entreaberta.
- Gabriel, onde você está?
Eu o reconheci como amigo do Gabriel, Troy, antes que a névoa me envolvesse novamente. Eu não tinha certeza de quanto tempo havia passado até que ouvi outra voz familiar uivando em pânico.
- Meu Deus! Afaste-se dela! - Foi só quando Henriqueta jogou seu corpo sobre o meu que consegui sair da minha paralisia. – Deixe-a em paz de uma vez, - ela gritou freneticamente. Eu nunca soube que sua voz poderia soar do jeito que soou naquela noite.
- Sai daqui sua bruxa, - Troy cuspiu, empurrando-a para longe. Henriqueta tentou empurrá-lo e chegar até mim, com seus gritos perturbados perfurando minha alma.
Os olhos de Gabriel estavam cheios de fúria.
- Livre-se dela antes que os outros ouçam.
Observei Troy arrastando o corpo frágil de Henriqueta para fora da sala pelos cabelos. Gabriel o seguiu, batendo a porta do meu quarto. Os gritos e choros de Henriqueta pararam quando ouvi seu corpo frágil bater no chão do lado de fora da minha porta.
Eu empurrei, chutei e arranhei a porta trancada, tentando chegar até ela, não reconhecendo minha própria voz enquanto ela rugia de dor.
HENRIQUETA!
...****...
Meu corpo derrotado estava em posição fetal no chão e minhas lágrimas secaram em meu rosto inchado e cheio de sujeira. O sol brilhou por uma fresta na cortina, fazendo meus olhos doerem. Senti todo meu corpo estremecer quando a porta se abriu e meu pai entrou.
- O que... O que diabos está acontecendo? – seus olhos turvos sem emoção encontraram os meus.
- Henri... Cadê a Henriqueta? – eu resmunguei, estremecendo de dor enquanto tentava levantar minha cabeça. Meu pai franziu a testa enquanto olhava para a carnificina que era meu quarto, uma bagunça trágica espalhada ao nosso redor.
- Ela se foi. Saiu esta manhã, - ele não olhou para mim ao dizer isso.
- Não. Não. Gabriel a machucou, ele atacou...
- Chega, Emma! – ele passou a mão pelo cabelo grisalho. – Esses seus pesadelos estúpidos só estão piorando. Você precisa sair dessa e crescer. – Ele balançou a cabeça em descrença, com decepção enchendo seu olhar.
- Pai..., - eu sussurrei, tentando implorar ao seu coração, se ele tivesse um.
Ele me olhou e, por um mísero momento, seus olhos se suavizaram antes de ficarem frios novamente ao som da voz da minha madrasta.
- Charles, se apresse, eles estarão aqui a qualquer momen..., - ela congelou ao ver meu quarto e então lançou um olhar na minha direção. Minha madrasta deu um passo atrás e beliscou a ponta do nariz. – É ela quem você quer se casar com os Carrero, Charles?
- Pai, Gabriel me atacou ontem à noite, - as palavras saíram da minha boca. Os olhos de minha madrasta escureceram de raiva enquanto ela bloqueava minha visão do meu pai.
- Gabriel só chegou em casa dez minutos atrás, sua vadia mentirosa. Como ousa acusar meu filho de te atacar? – Ela soltou um suspiro afiado. – Não se iluda, Emma, meu filho não tocaria em um fio de cabelo seu. Dê a ela uma lição por mentir, Charles. Eu não me importo mais com o que as pessoas pensam, - seus olhos injetados de sangue me perfuraram enquanto ela andava pela sala.
A confusão começou quando meu pai saiu sem colocar a mão em mim. Duas criadas entraram correndo e ajudaram-me a levantar, uma ligou o chuveiro enquanto a outra me ajudou a tirar a roupa. As criadas nunca haviam me ajudado antes, era apenas a Henriqueta.
- Henriqueta está bem, - a empregada mais jovem sussurrou primeiro e meus olhos dispararam para estudar seu rosto enquanto suas palavras traziam lágrimas aos meus olhos. – Ela se foi, partiu esta manhã sem uma palavra.
Minhas lágrimas caíram incontrolavelmente quando imaginei minha linda Henriqueta saindo das paredes altas e escuras desta casa. Não fazia nenhum sentido o que estavam me dizendo. Meu estômago torceu em nós com o pensamento.
- Ela vai ficar bem, Emma, - a empregada mais velha sussurrou enquanto gesticulava para que eu entrasse no chuveiro.
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Atualizado até capítulo 37
Comments
Solange Araujo
Meu Deus que família horrível se é que se pode chamar de família ,nossa que triste 😢 a Henriqueta ter sumido assim, ....
2024-06-28
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