Capítulo 04

...EMMA...

Uma semana se passou enquanto eu caminhava por esta casa enorme, carregando um vazio dentro de mim. meus olhos procuravam por Henriqueta em cada esquina. Eu ansiava por ouvir sua voz reconfortante e sentir seu toque carinhoso.

Os pesadelos me pegaram noite após noite. Neles, estava correndo através da névoa negra gritando para que Henriqueta parasse, só que ela não me escutava. Meus gritos silenciosos continuavam enquanto eu a observava desaparecer na escuridão.

Eu não tinha aberto minha boca desde que tentei implorar ao meu pai, uma semana atrás. Meu coração foi dilacerado por perder Henriqueta e, felizmente, não tinha visto a cara de Gabriel desde então. Ele sabia que eu ficaria sozinha em casa na semana passada e me senti mal, percebendo que ele voltou apenas por mim.

A casa estava movimentada preparando um casamento para o qual eu não poderia me importar menos. Passeis meus dias olhando vagamente para o grande jardim através da janela do meu quarto, para onde eu e Henriqueta costumávamos passear.

Estávamos no verão e as flores e arvores floresceram com orgulho. Fiz uma promessa silenciosa de que nunca mais voltaria para esta casa e para este quarto.

Fiquei olhando, observando os jardineiros trabalhando. Eles foram acompanhados por decoradores que penduravam cortinas brancas em volta das árvores. Eu me virei para olhar o meu quarto meio vazio.

As empregadas foram me ajudando a arrumar minhas coisas pouco a pouco. Não é que eu tenha um monte de coisas. A maioria dos meus pertences estava em caixas de papelão encostadas na parede. O cômodo parecia muito maior agora que estava vazio, embora fosse um dos menores cômodos da casa.

Uma das empregadas colocou a cabeça para dentro e avançou na minha direção, segurando algo nas mãos. Eu o peguei enquanto ela o segurava na minha frente. Eu examinei o lindo cartão enfeitado com pérolas.

Meus olhos congelaram com seu nome, um nome no qual havia pensado muito. Você está cordialmente convidado para o casamento de Emma Wilson e Roman Carrero.

- Seu chá de cozinha é em alguns dias, Emma, - a jovem empregada sorriu. Ela olhou pela janela para onde os decoradores estavam trabalhando.

- Chá de cozinha? – Eu questionei, franzindo minha sobrancelha. Por que diabos eles iriam querer me dar um chá de cozinha?

- Sim, todas as mulheres da cidade estarão presentes.

Revirei os olhos com o pensamento de como esse evento seria falso. Um suspiro derrotado deixou meus lábios quando coloquei o convite de casamento ao meu lado. Isso realmente está acontecendo.

...****...

Resisti à vontade de espirrar quando uma senhora aplicava um blush rosa nas minhas bochechas enquanto outra senhora enrolava o meu cabelo. Eu não conseguia entender como Paola conseguia usar maquiagem assim todos os dias.

Uma das senhoras pegou um vestido azul celeste que estava pendurado na porta: era um lindo vestido de pregas, com um decote profundo e que descia logo abaixo dos meus joelhos.

- Obrigada! Eu estou linda.

- Depressa, não temos o dia todo, - Paola gritou enquanto puxava meu braço e me arrastava em direção à escada. Seu cabelo estava preso em um coque bagunçado e seu vestido vermelho arrastava-se atrás dela.

Ficamos atrás das portas fechadas que davam para o jardim por um momento, quando ouvi a voz da minha madrasta.

- Agora, aqui está a nossa convidada de honra. Vou sentir muito a falta dela quando ela for embora. Minha linda filha, Emma, - eu franzi minha sobrancelha para Paola, que revirou os olhos para mim.

- Vá! – Paola me empurrou para o jardim enquanto o som das palmas ficou mais alto. Eu sabia que esta noite ia ser falsa, mas isso estava chegando num nível totalmente diferente.

Eu sorri para todas as senhoras bem arrumadas sentadas ao redor das enormes mesas redondas decoradas ao máximo. As cortinas cobriam quase todas as arvores e luzes elegantes cercavam o jardim. Mais adiante, no fundo, havia uma enorme mesa cheia de presentes. Eu duvidava muito se algum deles acabaria comigo.

Acenei e sorri sem jeito, caminhando até a mesa da frente, onde Paola fez um gesto para que eu me sentasse. Este deveria ser o momento mais surreal da minha vida, mas eu só me sentia sobrecarregada e deslocada.

Minha madrasta foi até onde eu estava sentada e colocou a mão no meu ombro. Quase cuspi meu champanhe.

- Ela não é um doce? – Ela guinchou, olhando pra mim. Todas essas pessoas acreditavam naquilo que ela estava falando e no falso amor que ela demonstrava ter por mim? Mas é claro que acreditavam.

Depois de uma generosa refeição e inúmeras mulheres virem me parabenizar, eu estava pronta para encerrar a noite. Eu queria revirar meus olhos quando Sofia anunciou com entusiasmo que uma banda, que era para ser minha banda favorita de acordo com ela, começou a tocar.

- Emma, venha aqui, - Paola me chamou enquanto esperava na porta da casa da piscina. Hesitei por um momento antes de ir ao seu encontro. A casa da piscina estava cheia de garotas bebendo, rindo e dançando.

Sentei-me ao seu lado no sofá, tirando os saltos, quando uma garota me deu uma bebida que parecia e cheirava muito mais forte do que champanhe.

- Então você vai se casar com Roman Carrero? Ele é tão gostoso! – Uma das meninas soltou. Ela olhou para Paola, que apareceu como se ela queria matar a menina.

Ao som do nome de Roman, mais garotas se juntaram próximas ao sofá.

- Oh, meu Deus, se eu fosse me casar com ele, sentaria naquela cara todas as noites! – Outra garita gritou quando o grupo começou a rir.

- Já basta! – Gritou Paola. – Nos deixe, todas vocês! – O grupo se espalhou porta afora em segundos.

A expressão de Paola havia mudado. Ela quase parecia chateada.

- Emma, preciso falar com você a respeito do Roman Carrero. Eu sei que nunca estivemos de acordo em nada, mas você ainda é minha irmã e eu sinto que você precisa saber disso. Você vai se casar com o homem, afinal. – Meu coração começou a bater forte com suas palavras, enquanto eu me preparava para ouvir o restante. – Ele é um estuprador, Emma. Ele atacou muitas das minhas amigas e com certeza vai te atacar também. Escute, Emma, eu posso te ajudar a escapar. Eu vou te tirar daqui. Gabriel tem um lugar não muito longe.

- Gabriel! – Eu rebati, com os meus olhos ficando mais arregalados.

- Sim, Emma, podemos te esconder lá até encontrarmos um lugar melhor.

Senti um arrepio percorrer minha espinha. Eu nunca poderia estar em um espaço que tivesse algo a ver com Gabriel, qualquer que seja meu destino. Todas aquelas noites orando, obviamente não funcionaram. Eu ainda seria entregue a um cara que Paola afirma ser um estuprador.

- Eu tenho que ir, - eu sussurrei tão baixo que não sei se ela me ouviu. Saí da casa da piscina, deixando Paola e suas amigas com um olhar perplexo em seus rostos.

Quase tinha chegado ao meu quarto quando meu braço foi puxado para trás por uma mao grande e fria.

- Então você prefere que ele foda você em vez de mim? – Meus olhos temerosos encontraram os de Gabriel, testemunhando a raiva em seu olhar escuro. – Seu marido nunca irá satisfaze-la tanto quanto eu posso.

- Me deixe em paz...

- Apenas me diga que você me ama, Emma.

- Eu não te amo, nós somos primos. Por favor, eu te imploro, apenas me deixe em paz.

Gabriel deu um passo pra trás, com seus olhos dançando ao longo do meu rosto como se ele estivesse tentando me estudar. Aproveitei a oportunidade para correr pelo corredor e entrar no meu quarto, trancando a porta rapidamente.

Eu ainda estava tremula quando me aproximei da janela. O jardim ainda estava cheio de convidados, mas nenhuma pessoa poderia ver a minha dor. Ninguém poderia me ajudar. Eu me sentia tão confusa e sozinha. Eu ansiava por Henriqueta.

Eu chorei até dormir naquela noite, realmente aceitando o meu destino, seja ele qual for.

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