Jornada ao Leste

Mais cedo, enquanto as crianças aproveitavam seus primeiros dias na academia, alheios ao que se passava fora de suas rotinas, o sol ainda despontava no horizonte, banhando as torres do castelo de Norton com seus primeiros raios dourados. O ar estava sereno, mas Erus sentia uma inquietação incomum enquanto permanecia sentado em seu salão privado, observando os documentos que precisavam de sua atenção. A paz que seu reino havia conquistado recentemente parecia cada vez mais tênue.

Foi então que uma batida urgente na porta o tirou de seus pensamentos.

— Entre _Ordenou Erus.

Um mensageiro entrou rapidamente, carregando nas mãos um pergaminho selado com um lacre dourado. Ele curvou-se antes de falar:

— Majestade, uma carta de Elidor chegou.

O selo era inconfundível. O sol dourado cercado por asas, o brasão do reino de Elidor. A última vez que Erus havia visto aquele símbolo fora muitos anos atrás, em tempos de fim de guerra contra os demônios. Seu coração acelerou. Orius, o rei de Elidor, era um velho amigo, mas fazia muito tempo que não recebia notícias dele.

Erus pegou a carta, notando que o pergaminho estava ligeiramente amarrotado, como se tivesse sido escrito às pressas. Ele quebrou o lacre e desenrolou o pergaminho. As palavras que encontrou eram apressadas, os traços da caligrafia de Orius estavam irregulares, quase desesperados.

Na carta continha a seguinte mensagem:

"Erus, meu amigo, não tenho tempo para formalidades. O reino de Elidor está desmoronando diante de mim, e temo que nossos dias dourados estejam contados. Há algo sombrio nas profundezas de nossas terras, algo que nunca deveríamos ter despertado. O brilho da cidade dourada está enfraquecendo, e a espada de ouro, nosso maior tesouro, aquele que protege nosso povo, está em perigo. Os templos, antes repletos de luz, estão agora sombrios e frios. Sinto que estou perdendo o controle. Erus, não sei mais o que é real. As paredes de Elidor estão se fechando ao meu redor. Minhas noites são preenchidas por visões, e o ouro que outrora brilhava agora parece enferrujar diante dos meus olhos... Preciso de você, de sua sabedoria e força. Não posso confiar em ninguém ao meu redor, pois temo que até mesmo aqueles que antes eram meus aliados estejam sendo corrompidos. O tempo está se esgotando, e temo que, se você não vier logo, não restará nada além de cinzas e escuridão para encontrar. Elidor precisa de você, meu velho amigo. Eu preciso de você!

Encarecidamente, Orius, Rei de Elidor"

As mãos de Erus tremiam levemente enquanto terminava de ler. Orius, sempre tão forte e resoluto, agora parecia à beira do colapso. O que poderia ter causado tamanha desordem em um reino tão venerado e considerado sagrado por tantos? E a espada de ouro, a lendária arma que protegia Elidor, estava ameaçada? Isso era impensável.

Erus se levantou abruptamente, seu olhar se voltando para o horizonte. O que exatamente estava acontecendo em Elidor? E por que Orius parecia tão... perdido?

A carta transpirava desespero e, embora Orius não mencionasse explicitamente, Erus podia sentir que algo muito maior estava em jogo. Ele conhecia seu amigo o suficiente para saber que Orius só pediria ajuda em circunstâncias extremas.

Foi nesse momento que Árias entrou na sala, silenciosa como o vento, mas com uma presença forte o suficiente para ser notada. Seus olhos fixaram-se no rosto de Erus, claramente percebendo a inquietação que havia tomado conta do marido.

— O que está acontecendo, meu amor? _Árias perguntou, sua voz suave como sempre, mas carregada de preocupação.

Erus se virou para ela, segurando o pergaminho com firmeza. Ele se aproximou e, sem uma palavra, entregou-lhe a carta. Árias a leu rapidamente, seus olhos se estreitando conforme avançava no texto.

— Orius sempre foi forte _Murmurou ela, enquanto seus dedos acariciavam o papel antigo. — Para ele estar assim... algo muito sério deve ter acontecido.

— Exatamente por isso preciso ir até lá _Respondeu Erus, firmemente... Mas irei sozinho. Não quero que você ou qualquer outra pessoa corra riscos desnecessários.

Árias olhou para ele com uma mistura de carinho e preocupação. Ela conhecia o coração de Erus, sabia que ele sempre agiria para proteger aqueles que amava, mesmo que isso significasse arriscar a própria vida.

— Eu entendo _Disse Árias, finalmente. — Mas saiba que estarei aqui esperando por você, rezando para que volte são e salvo.

Erus assentiu, apreciando o apoio inabalável de sua esposa. Sabia que a decisão que estava tomando era arriscada, mas também sabia que era a única opção. Ele não podia expor mais ninguém ao desconhecido.

— Reginald! _Chamou Erus, sua voz ressoando pelas paredes do salão.

Reginald entrou logo em seguida, sempre pronto a servir.

— Majestade, estou às suas ordens.

Erus fez uma pausa, contemplando sua decisão. Ele sabia que essa jornada para Elidor precisava ser feita, mas algo o dizia que deveria ir sozinho.

— Orius está em apuros _Disse Erus, segurando a carta com firmeza. — Algo terrível está acontecendo em Elidor, mas desta vez não irei acompanhado. Preciso ir sozinho.

Reginald franziu a testa, claramente preocupado.

— Majestade, isso é perigoso. Ir sozinho para um reino que não vê há anos...

Erus levantou a mão para silenciá-lo.

— Eu conheço Orius. Ele não escreveria isso se não fosse uma situação desesperadora. Não quero alarmar nosso povo nem expor mais ninguém a algo que ainda não compreendemos. Esta jornada é minha, e minha apenas.

Reginald hesitou por um momento, mas sabia que não poderia mudar a determinação de Erus.

— Se esse é o seu desejo, Majestade, então respeitarei sua decisão. Mas permita-me preparar um cavalo para você e garantir que tenha provisões suficientes para a viagem.

Erus assentiu em agradecimento, embora soubesse que o peso dessa missão iria muito além das provisões que pudesse carregar.

— Obrigado, Reginald, você é um grande amigo. Minha esposa cuidará do reino em minha ausência, mas quero que você esteja por aqui caso Norton precise de suporte.

Reginald fez uma reverência profunda e se retirou, deixando Erus e Árias sozinhos.

— Cuide de Norton, sei que se sairá muito bem... _Erus pediu, sua voz suavizando ao se dirigir à esposa. — Quanto aos nossos meninos, diga a eles que volto logo.

— Eles saberão _Árias respondeu, colocando uma mão gentilmente sobre o ombro dele. — Assim como eu sei que você voltará.

Erus se permitiu um breve sorriso e um beijo em sua esposa antes de sair para preparar-se para a jornada. Sabia que a viagem até Elidor seria longa e possivelmente perigosa, mas havia algo mais profundo o chamando. Ele precisava entender o que estava corroendo seu amigo por dentro, e por que Orius parecia tão perdido. A segurança de Elidor, a espada de ouro, e a paz de ambos os reinos agora pareciam estar entrelaçadas em algo muito maior, algo que Erus ainda não conseguia compreender totalmente.

Antes de partir, Erus caminhou até a parede onde uma espada gigantesca repousava. Ela era diferente de qualquer outra arma em Norton. Era uma lâmina larga e imponente, com mais de dois metros de comprimento, a qual Erus não empunhava desde a guerra contra o reino de Eskarmif, três anos atrás. Aquela espada não fora forjada por Baldur, como a maioria das armas de seu exército. Não, essa arma era única. Ela fora sua companheira desde a juventude, quando ele enfrentou mais de mil demônios, em uma batalha para proteger o reino Elidor e a espada de ouro.

A lâmina estava marcada com cicatrizes de batalhas antigas, e sua presença emanava uma energia quase palpável. Era pesada, mas para Erus, ela sempre fora uma extensão de seu próprio ser. Ele passou os dedos pela superfície fria do metal, recordando também do dia em que enfrentou o dragão Mirorthin e o quanto aquela espada significava para ele.

Montado em seu cavalo, ele deixou Norton sem grande alarde, o vento frio daquele dia chicoteando seu rosto enquanto cavalgava em direção ao leste, rumo a Elidor. As palavras da carta ecoavam em sua mente, e ele sabia que o futuro de mais do que apenas um reino estava em jogo.

O reino dourado aguardava por ele, mas Erus não tinha ilusões sobre o que poderia encontrar. O que quer que estivesse à espreita em Elidor, ele enfrentaria de cabeça erguida e sozinho.

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Comments

Ana Laura

Ana Laura

/Applaud/

2024-08-29

1

Poeta!

Poeta!

Estava me recuperando de uma recaída (depressão...) por isso andei sumido, mas já estou muito melhor (me tratando....)!

Sua história tem muito potencial, estou podendo embarcar em uma nova jornada junto com os personagens, é envolvente, tem enredo e trás suspense pra quem tá lendo, confesso que tô ansioso pra saber o que vem por aí e esses capítulos bônus me deixou com mais vontade de saber ainda (hahaha), aguardo ansioso pelos próximos capítulos, a história é ótima ;)

2024-08-27

2

Brown

Brown

vou aproveitar que Erus saiu de viagem, vou lá em Norton e vou tocar fogo em tudo!

2024-08-27

2

Ver todos

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