A Coroa e a Paz.

Helius depois de tomar banho e se arrumar para o jantar, estava em seu quarto, olhando para seu reflexo no espelho. Estava perdido no futuro, pensava também no que seria do seu irmão.

— Você se saiu muito bem hoje Helius....... Um dia.... um dia.... Você trará a paz que as pessoas precisam...... E farei isso junto com meu irmão.....

Disse Helius para si mesmo, logo voltando a realidade ao ouvir três leves batidas na porta de seu quarto.

Àrias: — Posso entrar? _Sorriu.

Helius: — Sim mãe.....

Árias entrou no quarto e encontrou Helius sentado na beira da cama. Ela se aproximou sentando ao seu lado e passou a mão pelos cabelos ruivos do filho.

Àrias: — Reginald me disse que você se saiu muito bem hoje. Eu sinto que tanto você quanto seu irmão irão se tornar grandes guerreiros no futuro, irão se tornar reis. Estou orgulhosa de vocês.

Helius olhou fixamente para o chão, sua expressão séria e pensativa deixou Árias atenta a mudança, então indagou com certa preocupação: — O que aconteceu querido?

Helius: — Mãe...... Eu não quero me tornar um rei. Meu sonho está tão distante...

_Uma lágrima escorreu do olho esquerdo de Helius, percorrendo sua bochecha até pingar de seu queixo.

Árias sem pensar duas vezes, deu um abraço apertado em seu filho.

Àrias: — Por quê? Me explique o que está acontecendo, estou preocupada que vocês estejam se sobrecarregando demais!

Helius: — Eu dei o meu melhor no treino de hoje, não para me tornar um rei ou coisa do tipo... Eu só quero a paz mãe... A coroa eu deixo para Harleus, eu quero a bandeira branca..

_Sussurrou segurando o choro.

Árias olhou para Helius por alguns segundos, sentindo um misto de admiração e tristeza. Como uma criança de apenas nove anos já podia carregar pensamentos tão profundos? Ela sabia, no fundo do coração que a paz que ele tanto desejava era algo difícil de alcançar naquele mundo tumultuado, visto que ela mesma já passou por guerras e sabe que não deixa nada além de rastros de destruição, sangue e lágrimas.

Árias permaneceu em silêncio abraçando Helius, até que uma nova batida na porta interrompeu o momento.

Reginald: — Majestade, posso entrar?

Árias se levantou e secou as lágrimas do filho com a manga do vestido e foi abrir a porta. Era Reginald, o comandante do exército de Norton, com sua típica armadura brilhando mesmo na luz suave do quarto.

Àrias: — Reginald, pode entrar.

Reginald: — Vossa Majestade estava caminhando pelo corredor em retorno do toilette, vim ver o pequeno Helius e avisar que o jantar está pronto, o rei Erus aguarda vocês na sala de jantar. 

Reginald direciona seu olhar para Helius, esboçando um mínimo sorriso: — Seu desempenho no treino foi notável. Continue assim e será um orgulho para Norton.

Helius apenas assentiu pois ainda estava abatido, apesar disso ele se levantou para acompanhar sua mãe e Reginald até a sala de jantar.

Ao entrarem na sala de jantar, o rei Erus se levantou para recebê-los. Seu semblante era severo, refletindo o peso das responsabilidades que carregava. Ao lado do rei estava Sir Alden, o estrategista do exército que parecia igualmente preocupado. Harleus já estava sentado à mesa, com os olhos brilhando de curiosidade e ansiedade.

Erus: — Boa noite, amigos e familiares.

Erus saudou a todos os que chegaram, deu um beijo  na mão de Àrias, puxando a cadeira para a mesma se sentar e então se acomodou a mesa assim como todos, direcionando seu olhar para Helius: — Ouvi dizer que você se destacou no treino de hoje, tanto você quanto seu irmão. Sir Alden e eu estávamos discutindo sobre a importância de preparar nossos futuros líderes.

Harleus interrompeu a conversa com um sorriso animado: — Pai, nós fomos incríveis! Doeu um pouco os músculos.. Mas isso não importa, importante mesmo é que iremos ser grandes guerreiros!

Helius hesitou, olhando para sua mãe em busca de apoio.

Erus: — Diga, meu filho.

Helius: — Eu treinei duro hoje, mas não quero ser rei. Eu desejo a paz, não a coroa. Quero deixar a liderança para Harleus e buscar a bandeira branca.

O silêncio pesado se instalou na sala, até que Sir Alden se pronunciou.

Alden: — Maj..Majestade, é claro que o príncipe ainda é jovem e talvez não compreenda plenamente as realidades do nosso mundo. Mas sua sinceridade não deve ser ignorada.

Erus franziu a testa, fixando seus olhos em Helius.

Erus:— O que foi isso que acabei de ouvir? Você não entende? Paz é algo que precisa de força para sustentá-la, como você acha que construí este reino? Apenas com paz? Nossa família tem uma responsabilidade que vai além de nossos desejos pessoais. Acredite... Quando eu era mais jovem também pensava deste mesmo modo, mas agora, depois de tudo o que vi e fiz, não há como segurar o peso do mundo apenas com a paz.

Harleus olhou de um irmão para o outro, sentindo a tensão na sala. Helius sentiu um nó se formar em sua garganta, mas antes que pudesse responder a porta da sala se abriu novamente. Baldur Blackwood, o ferreiro do reino, entrou na sala trazendo consigo uma espada recém-forjada.

Baldur: — Majestade... Como solicitado, a espada está pronta

_Disse Baldur, se curvando respeitosamente antes de entregar a lâmina a Erus.

Erus pegou a espada, admirando a lâmina afiada sob a luz das tochas. Seu olhar se voltou para Helius, a severidade de sua expressão se intensificando.

Erus: — Veja esta espada Helius... Ela representa nossa força e determinação. Sem ela não há paz, apenas submissão. Você deve entender isso se quer realmente proteger este reino e alcançar a paz!

Helius olhou para a espada, a luz refletia em seus olhos cheios de lágrimas. Ele sabia que as palavras de seu pai eram verdadeiras, mas seu coração ainda ansiava por algo diferente.

Àrias e os demais à mesa estavam tensos, mas ainda tentavam manter uma postura correta diante do caos a se formar.

Helius: — Pai... Eu compreendo a importância da força, mas...... Eu quero encontrar um caminho onde não vamos depender apenas da espada. Um caminho onde a paz possa ser mais do que um sonho distante.

Erus permaneceu em silêncio, parando até de continuar a fazer sua refeição e então fixando seus olhos nos de Helius.

Erus deu um tapa na mesa fazendo com que todos levassem um leve susto, Àrias olhou para Erus, assustada.

Erus: — Então você deve provar isso no campo de batalha. Mostre-me que sua visão de paz pode se sustentar contra a realidade do nosso mundo. Apenas então, considerarei suas palavras.

Àrias: Erus... Vamos cessar este assunto pois não é apropriado para o jantar!

Erus: — Este assunto já está mais do que decidido e esclarecido. Se ele quer resolver tudo com a paz, terá que me provar isso.

Helius sentiu seu coração pesado com a responsabilidade que agora carregava. Harleus  observava tudo atentamente, sentiu a gravidade da situação mas compreendeu que o caminho à frente seria árduo e cheio de desafios tanto para ele quanto para seu irmão.

Depois do jantar, Erus foi à varanda de seu quarto e sentou-se em uma cadeira que tinha ali.

Erus: ~ Será que o que eu fiz foi justo? Ou eu deveria ter matado ele naquele dia? ~

Àrias: ~ Querido, acho que você pegou pesado.

_Disse Árias, vindo por trás de Erus.

Erus ficou quieto por um tempo, observando a lua iluminando todo o seu reino.

Erus: — Sente-se.

Árias ficou em pé por um momento, observando, mas logo se sentou.

Erus: — Hà três anos, eu fiz uma escolha. Essa escolha pode custar caro um dia.

Árias, confusa, olhou para Erus.

Àrias: — Mas... o que aconteceu?

Erus se preparou para contar a Árias.

~ Há três anos atrás ~

A chuva caía pesada, encharcando o campo de batalha. O chão estava lamacento, coberto de corpos e poças de sangue. Relâmpagos cortavam o céu escuro, iluminando brevemente a devastação ao redor. Em meio ao caos, Erus e Estorf se encontravam afastados dos outros combatentes, em uma clareira onde os sons da batalha ecoavam de longe.

Erus e Estorf, ambos exaustos após horas de combate, estavam cansados demais para utilizar suas técnicas especiais. Restavam apenas a força bruta e a habilidade com suas armas.

Erus, empunhando sua grande espada de lâmina larga, avançou contra Estorf, que manejava sua lança com destreza. As gotas de chuva pingavam das lâminas, criando um ritmo constante de suspense.

— Olha só! Ainda aguenta lutar, Erus?

_Zombou Estorf, girando sua lança e bloqueando o primeiro golpe de Erus.

O impacto ressoou como um trovão, faíscas voaram enquanto a espada de Erus encontrava a lança de Estorf. Erus recuou um passo, apenas para lançar outro ataque, sua espada cortando o ar em um arco poderoso. Estorf desviou por pouco, contra-atacando com uma estocada rápida que Erus bloqueou com um giro ágil.

Erus voltou ao ataque, sua espada desferindo golpes rápidos e pesados. Estorf defendeu-se com habilidade, sua lança se movendo em círculos para desviar os ataques. Em um movimento rápido, Estorf tentou uma estocada no peito de Erus, mas Erus bloqueou com sua espada e contra-atacou, cortando o ar em direção ao flanco de Estorf. O golpe foi bloqueado por um movimento rápido da lança, que fez um som agudo ao bater na lâmina da espada.

O embate continuou feroz, com ambos os combatentes exibindo técnicas refinadas e força imensa. Estorf girou a lança em um arco amplo, tentando atingir a cabeça de Erus. Erus abaixou-se, sentindo o vento da lança passando sobre ele, e rapidamente desferiu um golpe em arco ascendente. Estorf saltou para trás, evitando o golpe por pouco.

Os dois se encararam, respirando pesadamente. O som da respiração pesada se misturava com o som da chuva e dos trovões. Erus lançou-se para frente com um rugido, sua espada cortando o ar com força devastadora. Estorf mal teve tempo de erguer a lança para bloquear, o impacto o jogando para trás. Erus avançou, desferindo uma série de golpes rápidos e poderosos. Estorf desviava e bloqueava como podia, mas a força dos ataques de Erus estava começando a superá-lo.

Finalmente, em um movimento desesperado, Estorf tentou uma estocada direta no coração de Erus. Erus girou de lado, a lança rasgando sua armadura e deixando uma linha de sangue em seu peito. Aproveitando a abertura, Erus girou a espada e desferiu um golpe lateral que acertou o ombro de Estorf, derrubando-o de joelhos.

Estorf gritou de dor, mas sua expressão ainda era desafiadora. Ele olhou para Erus, os olhos brilhando de raiva e determinação.

— Acabe com isso logo, Erus... Ou tem medo?

_Rosnou Estorf, esperando o golpe final.

Erus levantou sua espada, o peso da decisão pressionando seu coração. O silêncio ao redor parecia ensurdecedor, o momento estendendo-se como uma eternidade. Estorf, mesmo ferido, olhava para ele com desafio, mas também com algo mais: uma sombra de seu velho amigo.

— Todos aqueles despojados da graça divina, devem conhecer a morte... _Disse Erus.

— Você tem a graça divina, Estorf? _Erus pergunta, com apenas seus olhos direcionado para Estorf.

Estorf fica em silêncio olhando para Erus com um olhar de desespero.

Erus respirou fundo, cada fibra de seu ser gritando para acabar com aquilo de uma vez. Mas então, ele abaixou a espada lentamente, desviando o olhar.

— Sua hora ainda não chegou. — Disse Erus, com sua voz firme e fria.

Estorf, surpreso, começou a rastejar para trás, segurando seu ombro ferido. Ele olhou para Erus, confuso e desconfiado: — Por quê?

_Perguntou ele, a dor evidente em sua voz.

Erus não respondeu. Ele virou-se e começou a caminhar para longe, deixando Estorf para trás. Os sons da batalha ao redor deles diminuíam, e a guerra estava perto do fim. Estorf deitado no chão, observou enquanto seu velho amigo se afastava, sem saber se deveria odiá-lo ou respeitá-lo por sua decisão.

~ Voltando ao presente ~

Após Erus contar isso, Árias pergunta para Erus o porquê dele ter poupado.

Àrias: — Mas porque? Não era você que não se importava com quantas vidas você tirasse desde que fosse para alcançar a paz!?

Erus: — Sim, mas ele ainda tinha a graça divina dentro dele, pude ver em seus olhos. Não podemos matar aqueles que possuem a graça.

Àrias: — Ele cometeu um dos pecados, não possui mais a graça, ele te traiu! Eu pensei que você tinha acabado com ele naquele dia, mas porque nunca me contou?

_Árias estava furiosa.

Erus: — Te contei agora, não é? Bom, eu vou dormir, amanhã tenho um dia longo. Deveria fazer o mesmo.

Árias fica ali por uns minutos, quieta com raiva e decepção em seu peito, mas não deixou passar essa, logo se virando e gritando em direção a Erus.

Àrias: — Nós passamos anos juntos, enfrentando todo tipo de provação para você esconder coisas de mim? Você quase morreu, eu quase morri, onde estão os votos que fizemos no altar? Nada foi suficiente pra você?

Erus já estava furioso com tudo o que te perturbava durante as semanas, pra piorar teve uma quase discussão com seu filho no jantar e agora isso.

Erus: — Vá dormir, Àrias. Por favor.

Àrias: — Eu não vou a lugar nenhum, eu quero uma explicação agora!

Os criados e os demais no castelo conseguiam ouvir alguns gritos vindos dos aposentados do rei e rainha.

Erus tentou ignorá-la e deu as costas a ela, Àrias seguiu ele e continuou buscando uma resposta para suas perguntas.

Àrias: — Por quê não me contou? Por que não o matou!??!

Logo Erus se virou para Àrias em um tom furioso e então aos gritos a respondeu:

— Por quê eu decidi o poupar!! Por que ele é meu velho amigo! POR QUE EU DECIDI, POR QUE EU SOU O SEU REI!!! _Ditou aos gritos, dando um soco na mesa de vidro que usava para escrever relatórios e cartas para outros reinos, trincando não só a mesa como machucando sua própria mão.

Àrias com os olhos cheios de lágrimas, se calou e então ficou a encarar Erus.

Erus: — É você quem enche a cabeça de Helius com esse conto de fadas que insiste em manter. Buscar a paz? Sem lutar pra isso? É ridículo. _O Rei envolveu sua mão sangrando com uma parte de sua própria vestimenta.

Àrias: — Perdão, vossa majestade.

_Se curvou, aproximando se dele para ajudá-lo com os ferimentos.

Erus: — Não, vou me cuidar sozinho. E irei dormir na ala do escritório hoje. _Respirou fundo, saindo do quarto e então deixando a porta se fechar sozinha, a mesma bateu com força fazendo um barulho que ecoou por poucos segundos dentro do quarto.

Àrias se sentou na cama, começando a chorar enquanto se pergunta se sua grande bondade ao enxergar o mundo talvez seja um problema, ou se foi apenas uma briga de nervos a flor da pele.

Erus passou pelos corredores indo em direção ao seu escritório que ficava em outro cômodo, os criados olhavam sua mão sangrando e então ficavam assustados se perguntando o que aconteceu dentro do quarto.

Erus chega no escritório, chutando já uma cadeira, estava furioso, odiava brigar com sua esposa, mas sabia que o errado foi ele, não conseguiu segurar seu estresse acumulado durante as semanas. Só soube se sentar na cadeira, se debruçar na mesa e então colocar a mão na testa.

~ Sinto que me perdi em algum momento da minha vida, e não consigo mais encontrar quem eu sou.

Olhou sua mão sangrando, vendo que se comportou como um animal em frente a sua própria esposa, estava envergonhado.

— Preciso consertar meu erro. Preciso me encontrar de novo.

Suspirou, ficando ali perdido em seus devaneios, sabia que amanhã era um novo dia e que precisava ser alguém melhor, reparar o que fez, seguir adiante da maneira certa, não podia perder o controle tão cedo assim, já que ainda tem muito pela frente. Norton ainda vai conhecer cada pedaço do que significa a dor.

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O GRANDE ESCRITOR

O GRANDE ESCRITOR

Li toda luta, sinistrão mesmo

2024-07-23

1

O GRANDE ESCRITOR

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2024-07-23

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o_shelbyy

o_shelbyy

desabafar meu mano /Facepalm/

2024-07-23

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