Caminho do conhecimento.

Helius e Harleus sentaram-se na vasta sala de estudo, ainda maravilhados com a imensidão dos livros e pergaminhos que preenchiam as prateleiras. Enquanto olhavam ao redor, Benedict fez um gesto para que os dois esperassem um momento, caminhando até uma porta lateral. Ele a abriu, revelando dois professores que aguardavam ansiosamente.

O primeiro a entrar foi dama Miriel, uma mulher alta e esguia, com longos cabelos negros presos em um coque elegante. Seus olhos verdes brilhavam com uma mistura de sabedoria e astúcia, e ela se movia com uma graça quase sobrenatural. Suas vestes eram simples, mas imponentes, tingidas em tons de azul profundo e cinza prata. Miriel é a professora de história e mitologia da academia, conhecida por seu vasto conhecimento e pela forma como consegue prender a atenção de qualquer aluno com suas narrativas cativantes.

— Príncipes Helius e Harleus, é uma honra tê-los conosco! _Disse ela com um sorriso suave, que pareceu aliviar um pouco a tensão dos jovens. — Estou ansiosa para guiá-los através das histórias que moldaram nosso mundo.

Atrás dela, entrou Maestro Galorin, um homem robusto com uma barba grisalha bem aparada e olhos azuis como o céu de inverno. Ele era o responsável pelo treinamento das artes elementais e pela canalização da energia arcana. Vestia uma túnica bordada com símbolos místicos que pulsavam levemente à medida que ele caminhava. Sua presença era imponente, mas havia uma bondade tranquila em seus olhos, como se ele tivesse visto o mundo e soubesse os segredos mais profundos que ele continha.

— Jovens príncipes

_ Cumprimentou Galorin com uma leve reverência. — As artes que aprenderão aqui são tanto sobre controle quanto sobre sabedoria. Apenas aqueles que compreendem o equilíbrio entre poder e paciência podem realmente dominar os elementos.

Helius e Harleus observaram os dois professores com uma mistura de respeito e curiosidade. Sabiam que esses seriam os primeiros de muitos mestres que encontrariam na academia.

Benedict, percebendo que os príncipes estavam à vontade com seus novos tutores, sorriu e se afastou. Ele sabia que o dia estava apenas começando para eles, e a academia ainda tinha muito a revelar.

Enquanto isso, a porta da sala se abriu novamente, revelando três jovens que caminhavam timidamente para dentro. Todos eram novos alunos, assim como Helius e Harleus, e Benedict os trouxe para fazer as apresentações.

O primeiro a entrar foi Dario, um garoto de estatura média para sua idade, com cabelos castanho-claros que caíam em mechas desalinhadas sobre sua testa. Seu rosto era arredondado, ainda carregando os traços infantis, mas seus olhos castanhos mostravam uma maturidade surpreendente. Havia uma determinação silenciosa nele, refletida na maneira como ele apertava os punhos levemente, como se estivesse se preparando para enfrentar qualquer desafio. Dario era conhecido por ser ágil e habilidoso com armas leves, e sua postura confiante demonstrava que ele não se intimidava facilmente, apesar da sua pouca idade.

— Este é Dario, um dos alunos mais promissores no treinamento físico _Disse Benedict. — Ele possui uma habilidade nata com a espada e é conhecido por sua agilidade e determinação.

Logo atrás de Dario, entrou Ravi, um jovem de pele escura, com olhos de um âmbar intenso que pareciam brilhar à luz das janelas. Seus cabelos eram curtos e encaracolados, e ele mantinha uma postura ereta e confiante. Havia algo enigmático em sua expressão, como se ele guardasse muitos segredos, mas sua compostura indicava que era alguém confiável. Ravi estava destinado às artes arcanas, e seu talento inato com feitiços já havia sido notado.

— E este é Ravi _Continuou Benedict. — Ele possui uma aptidão natural para a magia, só não sabe controlar ainda.

Por fim, entrou Iritch, uma garota delicada, possui cabelos bem claros quase brancos que caíam em ondas suaves até seus ombros. Seus olhos eram de um azul quase translúcido, e havia uma aura misteriosa ao seu redor. Iritch tinha uma presença forte e determinada, apesar de sua aparência delicada. Ela caminhou com confiança, mas seus olhos brilharam com curiosidade quando encontraram os de Harleus. Ele, por sua vez, pareceu ficar um pouco nervoso ao vê-la.

— Iritch é uma jovem que tem mostrado grande interesse em aprender todas as áreas _Explicou Benedict. — Ela ainda está explorando suas capacidades, mas não tenho dúvidas de que se tornará uma das maiores guerreiras e usuárias de magia desta geração.

Helius e Harleus observaram os três novos alunos. Havia um momento de tensão silenciosa no ar, como se todos estivessem medindo uns aos outros. O sorriso de Helius vacilou por um momento, mas ele logo retomou sua expressão amigável.

— Prazer em conhecê-los

_ Disse Helius, tentando quebrar o gelo.

Dario deu de ombros e acenou com a cabeça, enquanto Ravi apenas sorriu de forma discreta. Iritch, no entanto, olhou para Harleus por um momento antes de finalmente falar.

— É uma honra conhecer os príncipes de Norton

_Disse ela, sua voz suave mas firme.

Harleus, pego de surpresa, tentou responder, mas acabou gaguejando.

— O-O prazer é nosso! _Disse ele rapidamente, sentindo o calor subir em seu rosto.

Helius riu baixinho ao ver o embaraço do irmão, mas manteve sua postura. Sabia que, embora todos estivessem sendo educados, a verdadeira amizade entre eles ainda levaria tempo para se desenvolver.

— Bem, agora que todos se conheceram _Disse Benedict, retomando o controle da situação. — Vamos começar com as apresentações dos tutores e, em seguida, vamos explorar os terrenos da academia para que possam se familiarizar com seu novo ambiente.

Os príncipes seguiram Benedict e os outros pelas vastas passagens da academia, seus corações batendo de excitação e nervosismo. A cada novo corredor, um novo mundo de conhecimento e desafios se abria diante deles. O futuro estava cheio de promessas, de aprendizado, rivalidades e, talvez, novas amizades.

Enquanto caminhavam pelos corredores de pedra, Helius observou Ravi e Dario conversando em voz baixa, e algo lhe dizia que aqueles dois se tornariam figuras importantes em sua vida. Quanto a Harleus, ele mal conseguia tirar os olhos de Iritch, embora tentasse disfarçar sua atenção.

O som dos passos ecoava pelos corredores de pedra enquanto Helius e Harleus, seguidos por Dario, Ravi e Iritch, exploravam a academia. A atmosfera estava repleta de uma mistura de excitação e nervosismo, pois todos estavam prestes a se deparar com o que a academia tinha a oferecer.

Benedict conduziu o grupo por uma série de passagens até uma grande sala de aula iluminada por janelas arqueadas. O ambiente estava repleto de mesas e cadeiras organizadas em fileiras, e as paredes estavam adornadas com mapas antigos e símbolos arcanos.

— Aqui será o local onde vocês terão suas aulas teóricas

_Explicou Benedict. — Cada um de vocês terá um horário específico para suas aulas de história e de técnicas elementais.

Dama Miriel se adiantou, seu olhar atento avaliando os jovens.

— A primeira aula de hoje será sobre a história do nosso reino e as lendas que moldaram nossa cultura

_Anunciou ela, sua voz cheia de autoridade e entusiasmo. — Vamos começar com um resumo dos eventos mais importantes que levaram à fundação de Norton.

Os alunos se acomodaram nas cadeiras, e Miriel começou a apresentar um pergaminho detalhado que mostrava mapas antigos e ilustrações de batalhas épicas. Ela falava com paixão sobre heróis antigos, guerras e alianças, fazendo com que as histórias ganhassem vida diante dos olhos dos jovens príncipes e seus colegas.

— Antes de se tornar o que conhecemos como Norton, nossa terra era chamada Noristele. Era um reino deslumbrante, repleto de beleza natural e flora exótica. Em Noristele, as flores Yamas floresciam em abundância. Essas flores tinham um azul profundo, quase irreal, e eram conhecidas por brilhar suavemente sob a luz da lua, como se fossem presentes da própria lua para o mundo.

Miriel projetou uma imagem vibrante de um campo coberto por essas flores luminosas. Cada flor parecia irradiar uma luz etérea, refletindo a serenidade e a beleza de Noristele.

— Os sentinelas da lua, os guardas que protegiam Noristele, eram conhecidos por sua vigilância infalível. Eles garantiam que nenhum estranho passasse pelos portões do reino sem a devida permissão. Noristele era um lugar de paz e harmonia, com seus habitantes vivendo em perfeita sintonia com a natureza ao seu redor.

Os alunos estavam encantados com a visão da antiga Noristele, suas mentes absorvendo a imagem do reino idealizado.

— No entanto, a tranquilidade de Noristele foi abruptamente interrompida _Continuou Miriel, sua expressão se tornava mais grave a medida que ia explicando. — Um dia, um dragão temido chamado Mirorthin apareceu. Mirorthin possuía uma arma amaldiçoada, conhecida como a Lâmina Mortal. Esta lâmina tinha o poder de matar qualquer ser que cortasse, e sua presença foi uma ameaça devastadora para nosso reino.

Miriel mostrou uma ilustração de Mirorthin, o dragão imponente, com suas escamas escurecidas e a Lâmina Mortal em sua garra. A imagem transmitia uma sensação de perigo e destruição iminente.

— O rei Erus e a rainha Árias estavam presentes em Noristele durante esse ataque _Explicou Miriel. — Mirorthin devastou o reino, reduzindo as belas paisagens e as flores Yamas a cinzas e destruição. As chamas do dragão queimaram tão intensamente que o terreno ficou arrasado, impedindo o crescimento das flores Yamas e tornando o solo estéril.

Os alunos ouviram atentamente, a seriedade da situação refletida em seus rostos.

— O rei Erus, com coragem e determinação, enfrentou Mirorthin em uma batalha épica _Continuou Miriel. — Ele lutou bravamente contra o dragão, usando suas habilidades e estratégias para finalmente derrotar Mirorthin e pôr fim à ameaça que pairava sobre Noristele. No entanto, a destruição causada pela batalha foi tão grande que o reino precisou ser reconstruído. E assim, o nome de Noristele foi deixado para trás, e a terra se transformou no que conhecemos hoje como Norton, que significa "renascimento".

Miriel fez uma pausa para deixar as palavras absorverem. Ela então ergueu um pergaminho ilustrado que mostrava a transformação de Noristele em Norton, uma terra agora marcada pela batalha e pela reconstrução.

— As flores Yamas nunca mais cresceram em Norton devido às cicatrizes deixadas pelas chamas do dragão

_Concluiu ela. — Mas o espírito do reino sobreviveu, e o que agora temos é o resultado da bravura e sacrifício daqueles que lutaram para preservar nosso lar.

Helius, absorvido pela narrativa, levantou a mão com curiosidade.

— O que aconteceu com a Lâmina Mortal depois da batalha? Foi destruída?

Miriel balançou a cabeça, um olhar pensativo em seu rosto.

— A Lâmina Mortal foi selada em um local desconhecido para evitar que seu poder fosse usado novamente. Sua localização é um segredo guardado para proteger o reino de futuras ameaças. O foco agora é garantir que o legado de Noristele e a bravura de nossos antecessores sejam sempre lembrados.

Com a aula de história terminada, os alunos tiveram uma breve pausa. Durante esse intervalo, o grupo de cinco se reuniu em um dos jardins internos da academia. O jardim era um espaço tranquilo, com flores coloridas e fontes de água que proporcionavam um ambiente calmo e relaxante.

— Então, o que vocês acharam da aula?

_Perguntou Helius, tentando iniciar uma conversa.

Dario, que parecia um pouco mais relaxado agora, respondeu com um sorriso.

— Achei interessante. Não sabia que nossa história tinha tantos detalhes. A parte sobre a batalha de Erus contra Mirorthin foi incrível.

Ravi concordou, sua voz era suave e meditativa.

— Sim, a forma como as alianças foram formadas e as guerras travadas... Dá uma nova perspectiva sobre o que estamos aprendendo agora.

— É meu pai, não teria como não ser incrível. _Disse Helius, logo dando uma leve risada.

Iritch, que estava sentada em uma pedra próxima, olhou para Harleus e sorriu.

— E você, Harleus? O que achou? _Perguntou ela, o tom de sua voz era suave e curiosa.

Harleus, ainda um pouco embaraçado pela atenção, tentou manter a compostura.

— Foi fascinante.... Especialmente a história do meu pai. É incrível pensar que um dia seremos parte dessas histórias, de alguma forma.

Os outros riram suavemente, e a conversa continuou, tornando-se mais fluida à medida que os jovens começavam a se conhecer melhor. A interação inicial, embora um pouco hesitante, estava começando a se transformar em algo mais natural.

Com o fim da pausa, a turma se dirigiu à próxima aula que seria conduzida por Maestro Galorin. O grupo de estudantes entrou em uma grande sala de aula decorada com símbolos arcanos e cristais mágicos. As paredes estavam cobertas de pergaminhos e encantamentos, e o ambiente exalava uma energia mágica palpável.

Maestro Galorin começou a aula com uma demonstração impressionante de técnicas elementares. Ele fez pequenas esferas de fogo dançarem em suas mãos, controlando-as com uma precisão incrível. A aula focava em fundamentos das técnicas elementares e como canalizar a energia para realizar os movimentos básicos.

— As técnicas elementares não são apenas uma ferramenta de destruição _Explicou Galorin com uma voz firme. — É uma extensão de nossa própria essência. Para dominá-la, precisamos entender como cada elemento interage com nossa energia interna.

Ele então criou uma pequena tempestade de vento nas palmas das mãos, que rapidamente se transformou em um campo de energia brilhante.

— Cada elemento _Continuou ele — tem sua própria essência e influência. O Fogo, por exemplo, é ligado à paixão e ao poder destrutivo. A Água é associada à fluidez e à adaptação. A Terra representa a estabilidade e a resistência, enquanto o Ar está relacionado à liberdade e ao movimento.

Galorin fez uma pausa para garantir que todos os alunos estivessem absorvendo a informação. Helius e Harleus, embora ainda novos nesse campo, estavam concentrados. Dario parecia especialmente interessado, seus olhos brilhando com uma determinação silenciosa. Ravi, por outro lado, observava com um olhar analítico, talvez já planejando como poderia aplicar o que estava aprendendo.

— Cada um de vocês possui uma afinidade natural com um ou mais elementos _Disse Galorin, olhando para os alunos. — O desafio é descobrir qual é o seu. Isso requer prática e autoconhecimento para identificar a energia que flui mais naturalmente em vocês.

Ele demonstrou técnicas de concentração e manipulação dos elementos, mostrando como focar a energia interna para manifestar uma técnica elementar de forma básica. Galorin enfatizou a importância de se conectar profundamente com sua própria essência para descobrir qual elemento se alinha melhor com cada um.

— Experimentem com diferentes técnicas e observem qual delas responde mais fortemente à sua energia interna. Não se preocupem em forçar uma conexão; deixem que a energia flua naturalmente de acordo com a sua própria essência.

Iritch, embora visivelmente intrigada, mantinha uma expressão pensativa, refletindo sobre o que acabara de aprender.

Ao final da aula, Galorin incentivou os alunos a praticarem as técnicas e a explorarem suas afinidades pessoais.

— Nos veremos amanhã para mais aulas _Disse Galorin, sua voz cheia de encorajamento. — Lembrem-se de praticar o controle e a concentração que discutimos. A verdadeira maestria vem da prática e do autoconhecimento.

Com isso, os alunos se prepararam para ir para casa. Helius e Harleus, por outro lado, aguardavam a carruagem que os levaria de volta ao castelo. Enquanto os outros alunos se despediam e seguiam para seus lares, Helius e Harleus se dirigiram para a área de espera da carruagem.

— Acho que vai ser interessante _Disse Helius, quebrando o silêncio enquanto aguardavam.

Harleus concordou, olhando para os novos colegas com um misto de curiosidade e expectativa.

— Sim, com certeza. Será um desafio, mas estou animado para ver onde isso nos levará.

Dario, com um sorriso no rosto, se aproximou antes de partir.

— Concordo. E quem sabe, talvez possamos formar um bom time ao longo do caminho.

Ravi sorriu suavemente, enquanto Iritch observava com um olhar contemplativo.

— Vamos ver _Disse ela. — O futuro é incerto, mas com certeza será uma jornada interessante.

Com as despedidas feitas, Helius e Harleus se prepararam para a volta ao castelo, ansiosos para o que o futuro reservava. A carruagem chegou, e eles embarcaram, refletindo sobre o treinamento que haviam iniciado e sobre os desafios que enfrentariam juntos no caminho para descobrir suas próprias técnicas elementares e aprimorar suas habilidades.

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