15. VÍNCULO

O som de passos no corredor fez Sea se levantar da beirada da cama, encontrando Jesse com uma expressão preocupada. O ômega se aproximou da cama tirando uma mecha de cabelo do rosto de Declan, o alfa estava debilitado a muitas horas criando muita preocupação a todos, especialmente a Sea.

"Como ele está?" Jesse perguntou virando seu olhar a Sea que suspirou fundo.

"Ainda não acordou, mas a febre diminuiu."

"Vamos levá-lo para Farian, seu pai pode resolver."

O estômago de Sea embrulhou, seu pai perverso não daria a mínima se Declan estivesse doente.

"Não podemos, irei pedir que um médico venha vê-lo."

Jesse assentiu olhando para um Declan pálido e frio. Assim que soube do estado de Declan, deixou tudo que estava fazendo e se apressou para vê-lo.

Sea se sentiu em conflito com a cena na sua frente. Ele estava apaixonado pelo ômega que sempre odiou e repudiou em toda sua vida. Queria poder entrar na cabeça de Jesse e o confrontar por deixá-lo assim, no espaço vazio.

Um grande erro aconteceu tempo atrás quando Jesse estava no jardim chorando por algo que Sea desconhecia, para o alfa ele era apenas um ômega mesquinho e chechelento. Mas quando o viu em um estado deprimente, Sea não negou ajuda e fez o que devia ser feito.

A tamanha ajuda resultou em uma noite inesquecível, e quando viu Jesse negando o erro acontecido, Sea o odiou ainda mais. Declan não podia saber do segredo dos dois, prometeu ao ômega que não contaria e eles continuariam se odiando até a última gota do oceano.

Tudo virou de cabeça pra baixo com a ausência de Declan. Ele estava no cio em uma certa noite e o alfa pretendeu ir em uma casa de prostituição para saciar seu desejo, até encontrar Jesse e o mesmo ter uma crise de ciúmes. De certo a pequena briga acabou resultando em muitas noites e depois dela Jesse esmagou seu coração outra vez.

Realmente Jesse e Declan se mereciam. Eles se pareciam um ao outro por terem esse poder de esmagar os sentimentos das pessoas à sua volta.

E aqui estava vendo a cena romântica do ômega por quem se apaixonara e seu irmão adoentado. Agora que o vínculo tinha terminado, o casal se casaram e viveram felizes.

Declan não merece ser traído pelo próprio irmão, é uma faca nas costas. Seu irmão sempre o protegeu da maldade de seu pai, por muitas das vezes que Sea se machucava e era Declan que estava ao seu lado. E agora, acabou que dormiu com seu ômega.

Jesse se virou encarando Sea, aquele olhar que nem o alfa entendia. Ele sabia que muitos que conheciam Jesse o veria como um ômega maldoso e sem escrúpulos, e Sea entendeu que aquilo é apenas sua casca de durão. Existia um ômega triste, amigável, amável e sorridente. Talvez muitos se preocupavam tanto com Julian que esqueciam de Jesse.

Bem no fundo, Jesse sentia algo por Sea.

"Vá encomendar o médico!" Ralhou Jesse.

Sea bufou apertando seus passos para fora do quarto. Quem era ele para mandar em Sea?

Argh!

Pediu para um mensageiro chamar um médico, o pobre homem se foi.

"Sea?" O alfa se virou ao ouvir a voz de Patel.

"Sim?"

"Sinto que isso vai piorar." Patel desabafou cruzando seus braços. "Julian está louco, ele disse que por ele Declan pode morrer!"

Sea arqueou uma sobrancelha suprindo um sorriso debochado.

"Não é isso que os dois sempre quiseram?"

"Não é isso." Patel olhou em volta e virou-se para Sea outra vez. "Julian sempre teve um bom coração, ele nunca desejou a morte nem do seu pior inimigo."

"Declan está piorando, acredito que tenha haver com vínculo."

"Como?" Patel segurou o ombro de Sea o sacudindo. "Julian logo irá embora e..."

"Vamos esperar o médico, ele pode nos dizer."

Deram um longo suspiro, a situação complicada nunca deu braço a torcer. Todas as vezes uma nuvem negra caia sobre aqueles dois, e levavam todos de seu redor para se molhar.

Quando o mensageiro voltou com o médico, imediatamente ele examinou Declan por muitos minutos causando ansiedade em Sea e Jesse.

"Como ele está doutor?" Jesse foi o primeiro a perguntar quando o homem se levantou.

"Não encontrei vestígio de nenhum resfriado. Mas..." Ele deu um suspiro antes de continuar. "Seu companheiro morreu?"

Sea e Jesse se olharam.

"Não, apenas o laço foi quebrado alguns dias." Sea explicou.

"Bom, já vi situações de uma perda de companheiro causarem distúrbios no corpo. Acredito que daqui para frente o príncipe terá muitos sintomas até voltar ao seu estado normal."

"Estado normal?" Foi a vez de Jesse perguntar. "O que isso significa?"

"A perda de um companheiro sempre trás sintomas, mas em sua situação eu nunca vi... Talvez cause uma grande dor."

"Há algum medicamento para evitar?" Sea apertou as mãos olhando Declan adormecido. Seu irmão já aguentou muita dor durante sua vida.

"Não, até que ele passe pelo caminho arbítrio, já que foi uma morte de companheiro."

E assim Sea e Jesse entraram em colapso, a tendência de Declan era piorar.

"Ele é forte, vai aguentar." Jesse sussurrou.

🌑🌑🌑

Julian brincava com Mathieu no jardim, o pequeno alfa gritava contente enquanto seu pai corria para pegá-lo. Julian não percebeu quando chegaram na entrada do lago congelado e uma enxurrada de lembranças veio à tona.

Foi ali que Declan o empurrou, talvez ali onde deveria ter morrido e sua vida não seria esse caos completo. Com firmeza afastou as lembranças voltando para o palácio com Mathieu em seus braços.

Patel estava parado à sua espera, Julian bufou para o amigo que insistia em dizer que Julian estava diferente.

Ele não estava diferente, ele só... Se sentia aliviado como se o peso que carregasse por tanto tempo não existisse mais. Qual a dificuldade dele entender isso?

"Julian, podemos conversar?"

"Sim, deixe-me colocar Matt para se alimentar." Patel concordou seguindo Julian até a cozinha. O príncipe entregou para uma das servas, voltando sua atenção para Patel. "Então?"

"O que aconteceu com vocês em Felícia?"

"Nada, além de insultos e desprezo." Julian riu. "Por que a curiosidade?"

"Julian, Declan está muito mal..." Julian o interrompeu.

"Por favor, Pa. Não ouse falar nada do Declan para mim, pouco me importo com sua situação."

"Julian!" Patel ralhou choramingando.

"O que?!" Julian o desafiou.

"Você não é o Julian que eu conheço."

"Não? Realmente não sou, o Julian antigo morreu a muito tempo. Agora dê-me licença que irei alimentar o meu filho, e peço a você meu amigo, não ouse falar de Declan outra vez, da mesma forma que ele me quis morto, agora tanto faz saber da sua vida!"

Patel fez um 'o' com a boca vendo Julian se afastar com Mathieu. Aquele certamente não era seu amigo. O que diabos estava acontecendo?

"Você está bem, querido?" Will entrou na cozinha carregando uma cesta de verduras.

"Julian." Patel grunhiu decepcionado. "Ele falou comigo tão... Frio."

"Não é protegendo Julian, mas agora ele é um ômega livre e o entendo desta vez, Declan o fez muito mal, querido. Se coloque em seu lugar." Will deu um leve selinho em Patel antes de se retirar e o ômega gemer frustado.

No anoitecer, Julian tampava seus ouvidos fortemente com os gritos altos de Declan.

Algumas horas atrás o alfa tinha começado a sofrer por conta do vínculo. Julian tentou não se importar, mas podia sentir a angústia nos gritos de Declan. Deu graças aos deuses por não ser Julian sentir a tamanha consequência, o ômega não merecia se sentir culpado mas o desespero de todos sem saber o que fazer para ajudar o alfa.

Saiu de seu quarto indo até o quarto de Jesse onde Sea, Jesse, Patel e Will viam o caso deplorável de Declan sobre a cama.

Ele se contorcia de dor, seu peito levantava a cada segundo que a dor vinha. Seus cabelos molhados grudados na testa cobrindo a veia estourando por conta da dor.

"Façam alguma coisa!" Julian vociferou se aproximando de Declan. Colocou a mão em sua testa e fervou como um caldeirão.

"Não há o que fazer, príncipe." Sea falou sem gosto na fala. Julian rodou a cama para segurar a mão de Declan que a apertou com muita força.

"Tudo sua culpa!" Jesse gritou. Julian riu, caminhou até seu irmão apontando o dedo em seu peito.

"Minha culpa? Quem roubou meu companheiro? Agora sofram a consequência!" E Julian se retirou do quarto batendo a porta com força.

Foda-se, que Declan sofra o quanto for preciso.

"Julian, espere!" Patel o seguiu.

Sea repreendeu Jesse com um olhar.

"O que?" Jesse deu de ombros. "Declan está assim por causa de Julian, era para ele ficar nesse estado e não meu alfa."

"Como ousa desejar mau ao seu irmão? Ele tem um filho para criar."

"Meu filho também precisa de um pai."

Os dois se encararam intensamente.

"Cc-omo?" Sea gaguejou segurando o braço de Jesse. "Me diga que isso é mentira!" Gritou.

"Você acha o que? Declan me fudeu muitas vezes que estou esperando um filho seu, seu estúpido!" Com raiva, Sea soltou Jesse e também saiu do quarto.

Will olhava aquilo perplexo. O que acabou de acontecer? Céus. Precisava tirar Patel de perto dessas pessoas antes que seu amado também sofra as consequências.

Jesse deixou uma lágrima cair, sua mente uma bagunça. Não queria contar a Sea a notícia dessa maneira, mesmo que Declan fosse o alfa que tinha seu coração, ele... Não podia consertar seus erros.

Will deixou Jesse sozinho com Declan voltando para Patel, que se encontrava encostado na porta de Julian.

"Querido, vamos."

"Não podemos, Will, temos que ajudar Declan."

"Por que está se preocupando com ele?"

"Nunca gostei de Declan, mas sinto aqui-" Patel apertou seu peito. "Que Julian está caindo numa escuridão por conta do vínculo."

"Bobagem, querido. Agora vamos descansar, foi um longo dia."

🌑🌑🌑

Dias se passaram, Declan não apresentou melhora. Todas as noites que a lua nascia, Declan entrava em um colapso de dor, muitos médicos visitaram o reino de Karan, muitos tentaram descobrir a causa da doença de Declan. Nada resolvido.

Se aqueles dias estavam congelantes, o reino entrou em profundos dias de chuvas e tempo fechado.

Os irmãos Morgott se odiavam mais do que nunca.

Declan ainda não acordou.

Sea sumiu e ninguém sabia do seu paradeiro.

Jesse chorava todas as noites.

E Julian? Julian se corria por dentro cada vez mais, sua única luz era ver o sorriso de Mathieu no amanhecer.

Julian não estava aguentando toda aquela situação, ver o alfa naquele estado horrível a culpa batia na sua porta.

Declan tentou o avisar no dia do laço partido. Julian não o ouviu.

"Como ele está doutor?" Ouviu Karan perguntar através da porta.

"Infelizmente não há nada para dizer, ele continua no mesmo plano. Alteza, realmente não tenho boas notícias."

"Do que se trata?" Seu pai perguntou ao médico.

"O príncipe Declan está perdendo a sua inabilidade, se a cada dor ele sentir vai corroendo seu coração."

"Deuses, então isso é sério, Matteo?"

Desta vez foi o peito de Julian apertar.

"É um estado de saúde, não sei que tipo de vínculo foi esse. A maioria são casos normais, o mais estranho é o horário de seus ataques de quando a lua se coloca. Já se faz cinco dias, alteza. Não há diagnóstico disto."

Julian ouviu seu pai bufando, e passos voltando em direção a porta. Julian correu antes que seu pai o visse ali.

Do que aquele médico falava? Declan então morreria?

E por que aquilo lhe deixou com dor incabível no peito? Por que aquilo que sentia é errado?

Faltava apenas uma hora para lua se colocar em linha, da sacada Julian respirou fundo.

"Por favor, mãe lua, me dê um sinal. Não me deixe fervilhar nessa escuridão infinita."

Julian rezava aos céus para uma solução. Cansado de ouvir e ver Declan naquela situação, ele não era uma pessoa tão ruim para deixar alguém morrer. Por mais que o alfa tenha partido seu coração e causado toda essa situação, mesmo que merecesse passar por isso, Julian não podia se permitir ser como ele.

As ondas de dor começaram, a sexta noite e Julian precisava dormir. Declan precisava voltar em si para se casar com Jesse e criar seu filho juntos, e Julian voltaria para seu campo florido cheio de margaridas sem a energia deste tempo congelante.

Saiu do meio das cobertas, bateu na porta de Jesse mas o ômega não abriu. Julian forçou a porta vendo vazia apenas Declan se contorcendo outra vez na cama. Sem camisa dessa vez. O tempo estava frio para isso.

Onde estava seu irmão? Jesse nunca deixou Declan sozinho.

"Ei, calma. Estou aqui." Julian sussurrou segurando Declan com um pouco de força.

"Julian..." Declan sussurrou seu nome baixinho. O ômega ficou espantado já que dias ele não acordava.

"Sim, sou eu. Está tudo bem." Julian o abraçou.

"Ff-aça is-so parar." O peito de Declan subiu e Julian colocou sua delicada mão sobre ele.

"Shiii..." Julian fechou os olhos. "Não sei que diabos estou fazendo, Declan. Mas não me faça me arrepender outra vez, se não eu mesmo irei te matar."

Julian arrastou o robe de seda da sua clavícula deixando sua pele livre.

"Morda." Pegou a cabeça de Declan e arrastou para perto. "Por favor, não faça-me arrepender."

Declan colocou seus caninos para fora, mordendo a carne macia de Julian. O ômega fechou os olhos sentindo uma sensação quente correndo em seu corpo. Declan também sentia isso?

O alfa sugou a carne de Julian com gosto e tremeu. Julian jogou a cabeça para o lado tendo uma explosão de sentimentos e excitação, o mundo em sua volta parou, apenas eles dois estavam ali naquele lugarzinho sincero e tranquilo depois de noites sofrendo de angústia. Julian se sentiu em meio às nuvens, era como se tivesse deitado entre as flores, sentindo o melhor aroma de sua vida, café caramelado misturado com cheiro de belas margaridas. Ele queria mais... Balançou a cabeça saindo do clima quente jamais sentido. Declan parou de morder-lo desmaiando na cama, Julian o ajeitou no travesseiro.

Não imaginou que isso resolveria, só sentiu que aquilo era o certo a se fazer. O que seria daqui para frente? Eles nem eram companheiros para a mordida ser real. Então por que dera certo?

A dor desapareceu e Julian levantou-se cobrindo a mordida.

Céus, ele vai se arrepender quando outro dia chegar. Esperava que Declan pelo menos tivesse a decência de o conquistar depois desse grande erro.

"Céus, o que eu fiz? Mãe lua, me perdoe." Julian voltou para o quarto olhando da sacada à lua sobre as nuvens. Eles tiveram tanto esforço para chegar em Felícia e acabar que Declan o mordeu. Uma mordida para a vida toda. 

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Comments

Cleide Almeida

Cleide Almeida

oh céus 😨

2025-01-01

0

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