10. SOLUÇÃO

Julian amamentava Mathieu com muito amor, os olhinhos de seu filho lhe davam uma imensa segurança que tudo daria certo. Seu pequeno é sua fortaleza e motivo por ter voltado e enfrentar o seu passado.

Sentia uma imensa saudades de seus amigos, do lugar que deixou para trás e para lhe confortar, seu amigo Dan estava ao seu lado. Mathieu acabou adormecendo e Julian se ergueu para se vestir e enfrentar outro dia nublado.

Tomou um banho quente que relaxou boa parte de seus músculos tensos, ele não queria demonstrar a todos que dentro do banheiro desabava em lágrimas. Muitos dias já se passaram e com eles as consequências de ter fugido vieram à tona, a Casa Real se reuniu e decidiu que Julian assumirá o trono junto com seu companheiro. Aquilo o deixou satisfeito, uma simples conversa com os reis nunca foi tão assustadora. Foi decidido um novo matrimônio para Julian e Dan, um problema maior. O príncipe não estragaria a vida de Dan amarrado com ele a vida toda, e mesmo que se casasse ainda existia o vínculo com Declan. Um deles poderia morrer. Ele não desejava a morte do alfa, de ninguém. Mas ele enganou a Casa Real com o companheiro falso e isso estava cada vez se transformando numa bola de neve.

Farrell soltou fogos pela boca quando os bispos decidiram que Julian reiniciaria, afinal, é um mundo moderno, os ômegas devem ser vistos além de barriga de aluguel, nem todos ômegas querem filhos, como filhos de duques e sócios.

Saiu do banho encontrando Dan velando o sono de Mathieu.

"Ah, oi." Dan sorriu. "Queria levar Mathieu para brincar na neve."

"Ele acabou de dormir, que tal depois?" Dan concordou andando até Julian encarando aquele ômega de toalha. "Dan, o que você está fazendo?"

"Eu não sei, só quero beijar você."

"Dan... Não podemos." O alfa segurou o queixo do ômega passando a palma da mão em sua bochecha macia.

"Preciso me afastar por um tempo, meu rut está chegando." Deu um beijo suave em sua testa e afastou-se de Julian voltando para porta.

"Certo, cuide-se."

O ômega engoliu a saliva amarga, todas as vezes que Dan entrava em seu rut Julian não o via em cerca de três dias. Claro que aquilo causava um certo desconforto. Ele procurava algum ômega para saciar seu prazer, então ninguém poderia saber que Julian não se deitava com Dan.

O ômega nunca presenciou um rut, diziam que eles se transformavam em animais selvagens e insaciáveis. Pobres ômegas. Se um cio é tão promíscuo, quem dirá o rut de um alfa.

🌑🌑🌑

Em Farian, Declan gemia deitado em sua cama enquanto Sea limpava suas feridas. A noite de tormenta passou, seu pai Farrell novamente extravasou a raiva no filho mais velho. Quando seu pai se transformava, ninguém tinha o poder de ajudar Declan ou tirá-lo das correntes. Na manhã seguinte, Sea ajudou a levá-lo para o quarto e estancou os ferimentos julgando Declan até o último suspiro.

"Declan, dê um basta nisso." Vociferou o irmão. "Ele é um monstro, olha o que ele faz com você."

"Não me importo, talvez eu mereça."

"Nem o pior inimigo merece isso. Olhe para você, Farrell não tem direito em te machucar."

"Sea, cale-se."

Desde que Declan era criança, Farrell causou muitos estragos no garoto. Lembrava que nas noites frias ou quentes o rei quebrava objetos, gritando com a rainha e descontava sua ira nos empregados. Até certo dia Farrell teve a brilhante ideia de prejudicar Declan colocando-o de joelho sobre pedras ferventes, das vezes que seu pai tinha o prazer de coletar o próprio sangue do filho para experimentos, o sangue de um rei alfa é tão importante quanto de qualquer outro. A linhagem real carregava um poder de cura, e apenas sua avó era privilegiada com o dom. Seu avô era tão mau quanto seu pai, acabou que a doce senhora se matou.

Sua vida é rodeada de mistérios, e Declan carregaria essa consequência até o fim de sua vida.

Farrell não aceitava a quebra da aliança de Karan, e Declan sabia que o seu pai estava armando alguma coisa. Depois que o seu companheiro arrastou a fala contra Farrell, deixou o homem louco que descontava no príncipe mais velho. Declan nunca entendeu o interesse de seu pai nas terras de Dazarian, até que encontrou Farrell pintando um retrato da rainha Daiane anos atrás. Aquilo de certo escondia muitos segredos e Declan descobrirá um dia.

Jesse entrou no quarto abismado com a situação de Declan.

"Quem lhe deixou assim? Conte-me."

"Bom, terminei. Fique a sós com a peçonhenta." Sea fechou a caixa de curativo saindo do aposento dando um leve empurrão de ombros em Jesse. O ômega revirou os olhos, correu até Declan e perguntou:

"Declan, seu pai outra vez?"

"Sim, ajude-me a levantar." Jesse com cuidado levantou o alfa dando um grunhido alto.

"Iremos voltar para casa, será uma boa desculpa para ele não te fazer mal." Declan não ligou, ele preferiu ficar longe daqui o máximo possível.

No entardecer chegaram ao palácio, Sea os acompanhou dando a desculpa que era pra ajudar Declan. Assim que entraram na porta principal, risos de uma criança foram infestadas ao local.

"Céus, essas empregadas estão além da desobediência. Papai vai odiar saber que deixam esses pirralhos andando por aqui." Jesse comentou.

"Onde tem criança, tem alegria." Sea disse. "Como também onde tem cobra, tem veneno." Jesse bufou, Sea sempre com suas palavras duras ao ômega.

Uma cabeleira negra saiu correndo de algum lugar até abraçar as pernas de Declan. Era o mesmo garoto que vira no jardim dias atrás. Seus olhinhos sorridentes.

"Pabá." A criança disse. Declan olhou-o com aquela máscara de frieza. Ele não era seu pai.

"Quem deixou esse pirralho entrar?" Jesse gritou e logo uma serva entrou.

"Desculpe, príncipe Jesse. Mathieu estava apenas brincando." A senhora se curvou.

"Pp-abá, ba ba." Mathieu disse levantando seus bracinhos a Declan.

"Pegue já essa criança e leve embora." Jesse mandou.

"Sim, senhor." Falou a serva.

"Ei garotão, qual o seu nome?" Sea abaixou-se impedindo.

"Pabá." Puxou a calça negra de Declan ignorando Sea.

"Ele está falando papai?" Sea riu. "Declan, você é um pai pra ele."

"Não sou seu pai, filhote." Declan disse bagunçado seus cabelos. Até a criança abrir a boca e chorar aos prantos. A serva se mexeu para buscá-lo, mas Declan foi mais rápido e segurou-o em seus braços. O pequeno parou de chorar colocando a cabeça nos ombros de Declan.

"Desculpe meu senhor. O príncipe Julian foi até a cidade e nos deixou Mathieu aos nossos cuidados." A serva explicou tentando pegar Mathieu de Declan, mas o pequeno se agarrou no casaco do alfa.

"Julian? O que essa criança tem haver com meu irmão?" Perguntou Jesse estranhando.

"Príncipe Mathieu é seu filho, senhor."

Jesse, Declan e Sea olhavam para a serva sem acreditar que o príncipe herdeiro tinha um filhote.

"O que? Julian é pai?" Sea perguntou alto.

"Meu irmão? Quem lhe deu um filho?" Jesse deu uma risada crua. "Ele mal conseguia ficar perto de um alfa, imagine ter um nó."

"Senhor, meu trabalho é cuidar de Mathieu e não sei lhe dar essas informações. Mas o pai de Mathieu saiu de viagem por alguns dias."

"Pai?" Os três perguntaram ao mesmo tempo.

"O que está acontecendo aqui?" Patel apareceu andando rapidamente. "O que Mathieu faz com você? Me dê ele." Tirou Mathieu com força dos braços de Declan, a criança começou a chorar. "Shi, Matt. Leve-o para tomar sua mamadeira." O entregou para a serva.

"Por que Julian tem uma criança? E quem é o pai desse pirralho?" Jesse perguntou a Patel apontando para Mathieu que saia com a serva.

"Não lhe interessa, e você-" apontou para Declan. "Fique longe de Mathieu, Julian não irá gostar, agora ele é um ômega acasalado."

Declan não entendia como Julian se tornou um ômega acasalado, já que os dois tinham um vínculo. Aquela história estava muito mal contada.

"Quem é esse homem? Preciso parabenizá-lo." Comentou Sea causando um certo desconforto em Declan.

"Dan está em viagem, Julian foi à cidade e logo estará de volta. Fiquem à vontade, príncipes." Patel deu sorriu se curvando.

"Era por isso que Farrell estava bravo." Sea olhou para Declan. "Você não será mais útil para Julian."

"Mas é para mim, agora podemos ficar juntos, Declan." Jesse sorriu de orelha a orelha.

"E assim vou carregar essa cruz." Sea disse olhando para Jesse. "Declan, você está livre."

"Por que você não arruma um companheiro e para de ser uma pedra no sapato?"

Declan se afastou da típica briga dos dois, voltou-se para a biblioteca onde gostava de passar o tempo com Sea. Lá encontrou Karan bebendo vinho.

"Rei, desculpe, não sabia que estava aqui."

"Está tudo bem filho, fique." Declan sentou-se com um pouco de dor. "Acho que já conheceu meu neto."

"Sim."

"E também já soube o motivo da quebra da aliança."

"Sim." Declan respondeu sem mostrar alguma expressão.

"Julian logo se casará com o cavaleiro Dan, e passarei a coroa."

"Onde o senhor quer chegar?" Declan foi direto.

"Eu sei que você e Julian são companheiros." Karan bebericou a taça de ouro. Declan ergueu seu olhar firme a Karan, ninguém sabia daquilo além de Jesse e Sea.

"Pelo visto alguém já andou bisbilhotando por aí."

Karan riu.

"Declan, se você quiser mesmo a mão do meu filho Jesse, lhe darei a benção. Mas antes ache uma forma de quebrar o vínculo com Julian antes do casamento."

"Como posso fazer isso?"

"Existe uma maneira. Mas é muito perigosa."

Perigosa, a vida de Declan é mais perigosa que qualquer outra coisa.

"Conte."

"Em Felícia existe uma tribo guardiã de espíritos, eles podem cortar o laço de companheiro."

"Felícia fica muito longe daqui."

"Sim." Karan olhou para a lua através da janela. "Eles podem ajudar."

"Como ajudar?"

"Declan, você está interessado em quebrar esse vínculo com o meu filho Julian

?"

Declan parou os pensamentos. Ele não soube dizer.

"Sim. Se não, um de nós pode morrer."

Karan concordou, encostou-se na mesa de mármore.

"Os guardiões não aceitarão predestinados a quebrar o vínculo. A lua é a mãe dos lobos, ela escolhe os mais dignos para viver o verdadeiro sentimento de amor."

"Que idiotice. Como podem ligar pessoas que não se amam?" Declan rugiu. "Ninguém pode ser obrigado a ficarem juntos sem amor, sem toques ou qualquer tipo de sentimento, meu rei."

Karan suspirou. Aquele garoto é muito inteligente e de mente aberta, ele entendia o pensamento de Declan, mas Karan tinha Daiane como sua verdadeira companheira e sabia muito bem o que é o amor.

"Os espíritos têm as respostas, meu filho. Faça que Julian aceite navegar até Felícia e encontrar os guardiões."

"Nunca ouvi falar de guardiões."

"Filho, nesse mundo há coisas que você só acreditará vendo com seus próprios olhos."

Declan pensou nas mil formas de fazer Julian concordar com isso. Claro que o ômega aceitaria facilmente já que tinha um companheiro e um filho.

Um filho que chamou Declan de papai. Tsc. Crianças alfas.

Saiu da biblioteca e ficou à espera de Julian. Quando o ômega chegou, seu cheiro fez revirar o estômago de Declan. O alfa fedia a outro homem, quase rosnou mas não daria essa satisfação.

"Declan, o que faz aqui? Onde está Jesse?" Julian perguntou retirando seu casaco mostrando um pouco de pele de seu pescoço, Declan virou seus olhos antes que marcasse Julian e tirasse aquele fedor insuportável.

"Vamos quebrar o vínculo." Julian ficou sem entender. Ficou ereto olhando Declan com curiosidade.

"Seu pai sabe como. Viajaremos para Felícia."

Julian saltou os olhos. Felícia ficava a dezenas de quilômetros, daria quase dez dias para chegar até a cidade. Era uma cidade considerada espiritual e proibida.

"Você está louco? Como vamos quebrar a porra desse vínculo indo até lá?"

"Uma tribo existente, eles podem nos ajudar. Vale tentar."

Julian não acreditou e foi seu próprio pai que deu a ideia.

Claro que não iria, não ficaria longe de Mathieu por nada, e tinha Dan. Declan podia estar louco.

"Você decide Julian, vamos acabar com isso e seguir a vida como desconhecidos."

Oh, claro. Como se Julian não fosse tão apaixonado por Declan anos atrás. Como se Declan fosse um pleno desconhecido que lhe insultou por anos, até mesmo tentou o matar. Claro, ele se tornaria um desconhecido, e nem precisaria de esforço.

"Depois disso, nunca quero ver você ou que fique perto, Declan. Eu tenho nojo de você, NOJO. Não vejo a hora de me casar e tirar você de vista, não vejo a hora de te esmagar como uma barata. Irei pensar sobre isso, mas antes vou aprofundar um pouco mais, não posso deixar minha família por tanto tempo. Agora me dê licença, príncipe."

E assim Julian se foi deixando Declan petrificado com as duras palavras recebidas. Ignorou o puxão no peito, Julian era um ômega descarado sem nenhum espécie de respeito o insultando dessa forma. Declan apertou os punhos, não deixaria aquele merdinha lhe tratar dessa forma.

Ele mostraria a Julian seu sangue de barata.

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Comments

Cleide Almeida

Cleide Almeida

tadinho do declan kkk o ego foi ferido

2025-01-01

0

Da Silva Lopes Clinger

Da Silva Lopes Clinger

pisou tanto e agora está arrependido bb acho pouco

2024-10-16

0

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