01. LÁGRIMAS DE DIAMANTES

Suas asas marrons com tom avermelhado destacavam na terra branca, as asas quebradas impediram seu voo. Droga, Julian sussurrou abaixando-se colocando sua mão macia sobre a borboleta caída no chão. O inverno sempre foi um inimigo cruel, os animais fogem dele como foge de um predador.

"Calma, vou acabar com sua dor." Julian esmagou a borboleta com as mãos escondidas dentro das luvas felpudas. Não era uma pessoa má, ele não fazia mal a uma mosca, e como odiava o sofrimento não permitiria que a pequena borboleta agonizasse diante de seus olhos.

Julian sacudiu seu casaco antes de voltar para o palácio. Sorriu para seu amigo Patel que caminhava ao seu lado divagando diversos assuntos, com uma palavra certa, sobre fofoca.

"Eu te disse, Julian, aquele alfa acabou engravidando a Nayn, seus pais estão surtando."

"Um casamento os salvará." Julian afastou a mecha de cabelo de seu rosto avistando o palácio no meio de um grande jardim coberto pela neve, criou uma nota na primavera para plantar novas flores que seu amado pai adorava.

"Um casamento? Ninguém casa sem amor, Julian." Patel tampou a boca imediatamente.

"Está tudo bem, estou acostumado." O ômega, mais velho, deu de ombros ignorando o comentário sem noção de Patel.

"Oh!? Amigo. Que droga, eu nunca irei aceitar essa sua vida, que miséria!" Patel bradou fazendo Julian olhar tristemente para baixo. Uma coisa tão evidente aos olhos de quem via, uma família caindo aos pedaços, um irmão maldoso, um amigo desbocado, e um amor... não correspondido. Às vezes Patel estava tão certo, Julian carregava muita carga nas costas em toda a sua vida. "Olha, desista, diga ao seu pai que você não aceita essa merda."

"Eu não posso, estamos comprometidos desde que somos crianças, a Casa Real não..." Julian não completou, pois Patel o empurrou apontando o dedo em seu peito.

Ele estava enfurecido.

"Que se foda A Casa Real, você é tratado como um merda por aquele idiota, sua mãe deve está revirando no túmulo." Julian não revidou, estava miseravelmente cansado. "Desculpa, eu só... Não consigo aceitar ver você assim, olhe para você, sempre cabisbaixo por aí, enquanto aquele..."

"Senhor, seu pai almeja sua presença no palácio." Gari, um servo apareceu no jardim. Jonas assentiu dando graça a Gari por ter o salvado daquela conversa com Patel. Julian olhou para o outro ômega e sorriu:

"Está tudo bem, Pa. Estou bem."

Não, ele não estava nenhum pouco bem.

Sob um olhar acusador de Patel, Julian saiu a andar com o servo em direção ao palácio, encontrando o seu pai na biblioteca. Um lugar recheado de livros, mapas, escrituras e paisagens naturais.

"Pai!" Julian o chamou, tirando a atenção de Karan. O rei abaixou o óculos sorrindo para o ômega. "Está tudo bem?"

"Sim, querido." Karan apontou para a cadeira diante da mesa com vários livros espalhados. Julian imediatamente se acomodou. "Estou preparando um baile para anunciar seu casamento, filho." O coração de Julian parou por um momento, seu futuro casamento chegaria algum dia e ele não tinha se decidido se gostaria de viver uma vida sem amor...

Quer dizer, da parte dele havia amor até demais.

"Farrel Farian gostaria que acontecesse logo, e ele está certo. Fortalecerá o reino e as fortalezas ficaram muito mais fortes." Karan continuou olhando para Julian intensamente, o homem adoecia ao ver seu filhote crescido e tão maduro para sua idade. "Concordamos que os príncipes Declan e Sea ficarão na primavera conosco. Assim poderão se conhecer melhor e eles o ensinará a divergência do governo." Ah, não...

Se seu pai soubesse, cairia morto de tanta decepção.

"Tudo bem, papai." O ômega se levantou para dar um beijo suave na bochecha do rei.

🌑🌑🌑

Quando a primavera chegou, com ele veio o dia da chegada dos príncipes Declan e Sea. O reino se alegrou fazendo uma festa de boas vindas. E para a tristeza de Julian, seu coração doía ao ver seu irmão Jesse se arrumando sorridente para as servas que o ajudavam. Até parecia que ele era o próprio noivo.

Jesse é um ômega tão lindo, com a pele macia e pálida. A maquiagem caía bem em seu rosto, o batom vermelho destacava em sua boca e claro, a roupa apertada o deixava incrivelmente lindo.

Já Julian vestia um terno vermelho com colar de pedrinhas, ele não era tão bonito quanto Jesse, seu cabelo caído e desarrumado, odiava deixá-lo penteado. A pele branca e pálida podia fazer uma leve comparação com a neve.

"Irmão, esse colar está ridículo em você." Jesse como sempre diminuiu Julian, se deslocou até o ômega mais velho retirando o colar que era de sua mãe. A serva correu com a caixinha para colocá-lo dentro. "Bom, agora está melhor, realça mais seu pescoço." Deu uma piscada ao irmão. Julian fechou os olhos, seu irmão era tão mesquinho. Ardiloso.

Não tinha tanta importância com beleza, jóias ou roupas, ele só queria ser amado pelo homem que não o amava.

Quando o servo anunciou que os príncipes chegaram, Julian limpou a palma da mão na calça, o suor de nervosismo o deixou ansioso. Ele deixou Jesse para trás saindo do quarto indo até o encontro de seu pai que conversava alegremente com os príncipes. A roupa escura de Declan deixava seus ombros firmes e suculentos, o cabelo que antes era curto agora estava longo acima do ombro com mechas repicadas. Ele estava maravilhosamente lindo. Mas do que já era.

"Filho!" Seu pai falou fazendo Declan e Sea o olharem. Sea, sorriu correndo para abraçar Julian, enquanto o olhar de seu irmão era frio e duro.

"Julian, você está incrível. Olhe só, Declan, você é um sortudo." Julian viu Declan fazer uma careta repentina antes que seu pai pudesse perceber.

"Obrigado, meu príncipe. Como foi a viagem?" Julian perguntou cruzando suas mãos quando Sea o soltou do abraço.

"Tirando a parte de meu irmão reclamando e sobre a minha bunda dolorida, foi ótimo." Julian riu mostrando as suas covinhas. "Você é muito lindo, Julian."

"Irmão, pare de ser tagarela." Declan olhava aquela cena ridícula fazendo o coração de Julian doer. Ele o despreza e fazia todos o desprezar.

Toda atenção foi arrancada para Jesse que descia a escada com elegância.

Sorrindo, Jesse disse:

"Que bom que chegaram, espero que tenha sido uma viagem agradável."

"E foi." Declan sorriu.

Declan sempre sorria quando Jesse estava por perto. Declan sempre olhava com amor para Jesse. Declan nunca olhou assim para Julian.

"Bom, vamos jantar?" Jesse continha aquele sorriso presunçoso.

Julian se perguntava se seu próprio pai se fazia de cego diante de toda a cena, ou para ele era normal já que Jesse sempre foi bastante comunicativo com todos. Seu irmão se aproximou abraçando Declan e depois Sea que gemeu. Sua olhar caiu no pescoço de Jesse que usava o colar que ele mesmo tinha dito que ficaria horrível nele. Deuses, o que aquilo significava?

Julian tremeu, o choro querendo saltar para fora, seu corpo todo tremia de tanta raiva que sentia. Não faria um escândalo diante dos convidados, deixaria essa conversa para depois. Como um bom príncipe educado, Sea agarrou a mão de Julian o arrastando para a sala de jantar, entraram numa conversa calorosa sobre as diversas aventuras que obtiveram durante as temporadas de caça.

Declan como sempre ganhando todas, nenhum outro alfa era capaz de ganhar o título de caçador. Quando Karan pediu para que se servisse, Julian olhou para Declan e Jesse que conversavam plenamente sobre algum assunto. Com a mão trêmula fez um talher cair e rapidamente se ergueu no chão para pegar, mas seu olhar caiu abaixo da mesa vendo Declan alisando a coxa de seu irmão. Sério que eles estavam se tocando diante de todos? Diante de seu pai?

Respirou fundo, deixaria o choro para depois.

"Julian, conte-nos como foi suas aulas de espadas." Sea perguntou sorridente.

Julian se perguntava porque não poderia se apaixonar por Sea, ele era doce e amável, além de ser um alfa lindo. Mas seu coração era estúpido por gostar de um alfa arrogante. Droga de coração.

"Bem, foi divertido." Forçou um sorriso.

"Ele é ótimo nisso." Karan riu. "Ele é meu doce filho."

"Pai, mimando seu filho diante dos convidados?" Julian sentiu a amargura na voz de Jesse com seu comentário. O que eles queriam? O humilhar? Já não bastava as mãos bobas abaixo da mesa?

"Oh, querido. Não seja ciumento. Você se casará em breve e vou te mimar diante de todo mundo." Karan soltou uma gargalhada. Jesse fez beicinho, olhando para Declan enquanto seu pai não olhava.

Julian estava tão cansado daquilo, Patel estava certo, se ele soubesse de tudo que passou até aqui o julgaria até o último fio de cabelo.

O jantar foi longo e estrondoso, Julian gostaria de correr para seu aposento e chorar na sua cama o quanto ama aquele homem doía. Droga, doía como nunca doeu antes. Ele nunca o olharia para Julian com outros olhos.

Após o jantar e apenas o som dos animais se ouvia, Julian se levantou para buscar um incenso. Amava sentir o cheiro de incenso que a fábrica da vila criava, lembrava de sua mãe de uma forma acolhedora. Quando era pequeno, seu pai contava histórias de cavalheiros, de alfas e ômegas ferozes e os mocinhos das histórias em perigo, contava como se apaixonou por sua mãe em uma doce primavera num campo de margaridas. Soube por várias histórias que sua mãe era uma mulher terrivelmente desafiadora, amada por muito tempo e hoje lembrada como guerreira. Seu pai nunca se casou novamente por amá-la tão intensamente, nenhum ômega poderia substituir o lugar de um companheiro de verdade. Julian se perguntava se o amor que sentia por Declan era... Demais?

Que talvez seu companheiro verdadeiro apareça algum dia e arranque todo o amor que sentia pelo alfa.

Quando Julian passou pelo corredor do quarto de Jesse, estava escuro e sem nenhum guarda. O ômega ouviu vozes rindo, óbvio que o seu coração acelerou quando se aproximou da fresta da porta e olhou pelo buraco da fechadura. Jesse estava de quatro na cama com a sua bunda empinada e o rosto esmagado pela mão de Declan enquanto o alfa o fodia com velocidade e brutalidade.

"Declan, senti tanta a sua falta." Jesse gemeu um pouco alto. "Mais forte."

"Porra Jes, você é muito gostoso. Você é meu. Para sempre." Para sempre...

Para sempre?

Julian sentiu o chão sumir, doeu, doeu e doeu. Eles estavam fodendo loucamente enquanto seu noivo ômega estava no quarto ao lado.

Julian correu, com as lágrimas descendo desesperadamente pelo rosto. O seu peito apertava dolorosamente, queria gritar tão alto, mas apenas se jogou na cama sufocando o grito da alma no travesseiro.

Deuses, faça isso parar.

Podia ver sua vida passar diante de seus olhos, desde quando era menino até um homem que estava prestes a sentar no trono. O que era um trono diante do seu coração magoado? Como poderia viver um casamento fardado a traições e sem amor?

Julian é romântico a ponto de querer flores, receber carinho e atenção. E o seu irmão recebia tudo isso do homem que amava. Eles nunca tiveram a audácia de esconder o quanto se gostavam, de que se pegavam nos aposentos de quando Declan vinha ao palácio. Não era a primeira vez que Julian os via em momentos assim, mas esta noite doía como nunca doeu antes, e a mente de Julian virou um laço embolado.

Seu pai sempre lhe dizia para ser forte e corajoso, mas Julian não tinha coragem nem de enfrentar seu próprio irmão que zombava de sua face diversas vezes.

Das vezes que Jesse o empurrou, de Jesse jogando lama em suas roupas em seu aniversário, Jesse fingiu um machucado fazendo Karan repreender Julian. De Jesse tirando o homem que Julian amava. Seu irmão nunca demonstrou que gostava do ômega mais velho, causando tanta discórdia que fazia Julian se sentir um fracassado e tolo.

Os soluços tornaram-se altos. É cômico ver que enquanto chorava, seu irmão e seu noivo matavam a saudade um do outro ao quarto do lado.

Quando isso terminaria? Huh?

Talvez nunca, eles só não imaginavam que deixariam o coração de Julian petrificado.

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Comments

Cleide Almeida

Cleide Almeida

coitado

2025-01-01

0

Da Silva Lopes Clinger

Da Silva Lopes Clinger

nossa que situação triste

2024-10-16

1

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