Julian chegou em Zarrara em dois dias cansado e com fome, a bela fuga lhe rendeu muitas dificuldades como encontrar cidades e se hospedar, já que todos o viam como andarilhos. Até mesmo teve que trocar a roupa chique por uma surrada para ninguém desconfiar que ele fazia parte da realeza.
A cidade de Zarrara é bastante simples e humilde, Julian nunca ouviu falar muito dessas terras até ver a verdadeira realidade. Não tinha nada como escuridão de um céu, ou folhas secas com cheiro de terra, é o que seu pai lhe contara. O verde predominava nas redondezas, grandes campos em volta da vila e crianças sapecando enquanto seus pais sorriam no ar.
Julian usou todo o ouro para comprar uma pequena casa em um campo, onde o dono tinha falecido e seus filhos pretendiam vender para pagar as dívidas do pobre senhor. Aquilo aliviou Julian, ele não se deu ao trabalho de procurar um ninho. Tudo que queria é um descanso e um bom sono.
Após tomar um banho adequado, Julian se assustou com uma leve batida na porta. Abriu-a vendo uma senhorinha com uma cesta de maçã sorrindo alegremente.
"Ei, meu jovem. Vi que você é novo na cidade, bem vindo!" Julian forçou um sorriso, não queria ter intimidade com ninguém.
"Obrigado, senhora."
"Você é bem mais bonito de perto, um ômega lindo!" Ela afastou a cesta com maçãs para frente. "Aqui, colhi agora a pouco. Você precisa se alimentar adequadamente."
"Não precisava senhora. Você quer entrar?" Julian não viu maldade nenhuma na senhora, até que sentiu uma vibe tranquila vindo da mesma. Ela sorriu negando.
"Não precisa, coma." Julian assentiu alargando seu sorriso. Fazia tanto tempo que nem se quer dava um, a mudança de ambiente estava se transformando.
"Moro depois da ponte, vá até lá, tenho várias frutarias."
"Obrigado novamente, até logo." E assim a doce senhora se foi, deixando o ômega aliviado. Ele deveria fazer amizades e ter uma boa relação com os moradores, mas seu coração ainda continha tanta escuridão que precisava de tempo.
Não chorou, não reagiu a nenhuma memória ou criou pensamentos depois que deixou a sua vida para trás. Guardaria por três belos anos sua identidade até voltar para o seu pai e tomar seu dever de príncipe. Então, a meta é aproveitar esse tempo para ser feliz.
Os dias se passaram, Julian fez grandes amizades com os aldeões, conseguiu um trabalho na pequena padaria de Corina, Julian achava aquilo perfeito, ninguém ousou lhe perguntar sobre sua chegada ou criar problemas, ao contrário, muitos alfas mostraram interesse com um ômega solteiro morando sozinho. Única coisa que Julian se preocupara é com sua casa, alguns telhados continha buracos e as paredes caindo aos pedaços. Queria deixar a casa adequada de um lar para combinar com a essência do campo florido.
Julian passou bastante tempo na padaria com Corina lhe ensinando muitas massas de bolos e doces, o ômega adquiriu um grande interesse pela culinária.
"Julian, temos uma nova encomenda, Javeles está doente e não pôde vim." Corina pediu com seus olhos preocupados, ela não gostava de deixar seus clientes fiéis na mão.
"Claro, Cori. Mas Javeles está bem?" Javeles é um jovem ômega, muito doce e amável. Neto de Corina, que o mimava muito. Julian o adorava, lembrava seu amigo Patel.
"Sim, querido. É apenas uma virose. Aqui, o endereço." Corina entregou para Julian um pedaço de papel. Julian segurou a caixa do bolo embrulhado, imediatamente seguiu o caminho do endereço chegando em uma casa de alfa com nome Elizabeth. A mesma sorriu ao ver Julian, como dito: todos o adoravam.
"Meu menino. Obrigada!" Agradeceu.
Julian voltou para rua caminhando sem pressa, até sentir sua cabeça rodar e rodar. Uma tontura que lhe fez perder o chão, e a única coisa que viu foi uma cabeleira loira o segurando.
🌑🌑🌑
Dan tinha chegado na cidade a poucas horas, procurou pelo príncipe até um alfa lhe informar que ele trabalhava na padaria logo no final da rua. O alfa rapidamente apressou os pés para a padaria e a dona da loja avisou que Julian foi fazer uma entrega, desconfiada com tudo, Corina não lhe deu outras informações. Dan continuou caminhando, viu várias crianças brincando com uma bola de futebol.
"Hey, pequenos. Vocês sabem sobre um ômega novato por aqui?"
"Sim! O senhor Julian?" Uma garotinha perguntou alegremente. Dan riu, coçando seus cabelos ruivos.
"Sim, onde ele está?"
"Ele foi por aí." Apontou uma outra garotinha.
Dan deu um pirulito para cada um como agradecimento e se foi em busca do príncipe. Até parar e olhar um ômega andando com superioridade, não tinha dúvidas que aquele era Julian.
Antes de chamar o príncipe o viu fechando os olhos devagar e rapidamente o segurou. Muitos que viram gritaram chamando o médico. Dan segurava o príncipe em seus braços sem tirar os olhos daquela beleza que o ômega herdou.
Dan gemeu no subconsciente, tão pequeno em seus braços e quente, nunca viu beleza tão rara em toda sua vida, perto dele Julian parecia uma formiga. Ativou seus feromônios para Julian respirar com calma, o que funcionou. Dan olhava aquele nariz empinado, a boca fina avermelhada e muito perfeita, o rosto de um verdeiro deus da beleza. Suas mãos formigou para passar suas grandes mãos nos cabelos sedosos do ômega, mas se controlou.
"Senhor Teddy, Julian desmaiou." Alguém falou que quando um senhor se aproximou de Dan para examinar o príncipe. O médico colocou o aparelho no peito de Julian fazendo esforço.
"Alfa, leve o ômega para dentro. Coletarei seu sangue para verificar. Já devo imaginar o problema."
"Oh, céus. O senhor Julian está doente?"
"Cale a boca mulher, ele deve ter pego uma virose."
"Ou não comeu o suficiente."
E diante muitos comentavam sobre o desmaio do ômega. Dan segurou-o no calor do peito carregando até uma cabana com muitas ervas e plantas.
"Coloque-o aqui." Teddy apontou para uma das camas, Dan fez o que mandou, com muito cuidado colocou o corpinho de Julian no colchão. Sua vontade não era de largar, queria segurá-lo forte. "Vamos lá, apenas irei tirar o sangue e se fervilhar nesse pote é possível..." E assim o médico alfa falava sem Dan conseguir escutá-lo.
Minutos depois, Julian abriu os olhos pousando sua mão na cabeça. Um novo ambiente e um cheiro de mel aliviou a sensação de enjôo.
"Droga, acho que estou doente."
"Que bom que acordou." Julian virou seus olhos para a porta vendo um enorme homem carregando uma pilha de livros. Nunca o tinha visto pelas redondezas, grunhiu com a tontura ao tentar se levantar. "Por favor, fique deitado. Vou chamar o doutor." Julian concordou vendo os ombros largos do alfa. Depois ele e um senhor entraram pela porta.
"Julian, como está se sentindo?"
"Um pouco enjoado e tonto." Disse a verdade.
"Hm, Julian... Você é acasalado?"
Como? Acasalado? Do que ele estava falando?
Negou balançando a cabeça causando uma tontura forte.
"Você alguma vez já entrou no cio?" Julian arregalou os olhos com a pergunta íntima, principalmente na frente daquele alfa desconhecido.
"Ss-im." Falou gaguejando.
"Pelo o que me falaram, você mora sozinho e não sei se devo te dar essa notícia." Dan aproximou-se sem tirar os olhos do pobre ômega que não sabia onde o velho queria chegar.
"Dê a notícia à ele." Dan pediu.
"Você está grávido." Teddy soltou a notícia vendo Julian ficar petrificado. Abriu a boca para falar mas nada saiu, tudo rodou novamente.
"Cc-omo assim d-doutor?" Mal conseguia dizer as palavras.
"Eu não sei, querido. Apenas faço meu trabalho e dou a notícia, um bebê cresce em seu ventre." Julian fechou os olhos se deitando na cama. Ele estava grávido? Grávido?
Deuses, o que ele iria fazer? Como seguiria sua vida assim? Um recomeço com um filho?
De Declan?
Que falta de responsabilidade foi a sua, ele não pensou nas consequências, saiu tão apressado do palácio que essa probabilidade de nós em cio o deixaria uma consequência enorme.
Por deuses, ele estava grávido de Declan que o odiava com toda sua força.
Assim como Declan o odiava, ele também odiaria seu filhote, ele não queria um filhote vindo de Julian. Se ele soubesse que seria pai, qual seria a palavra além de ódio?
Ah, droga!
Chorar não é a solução. Chorar não vai fazer as coisas melhorarem. Chorar não vai deixá-lo forte. Chorar não vai fazer Declan o amá-lo.
"Hey, não se preocupe. Está tudo bem." Dan, com tamanha bondade de sua alma, acariciou os cabelos de Julian. "Um filho é motivo de festa."
"Não quando esse bebê está fardado a uma vida de miséria." Dan assustou-se com a fala do príncipe. Teddy viu aquele momento para se retirar, Dan espalhou seu olhar para a barriga do ômega.
"Um filhote é alegria, amor e proteção, você não deve ficar pra baixo, alegre-se." Dan sorriu, e Julian ficou maravilhado com as covinhas de seu rosto. O alfa era bonito, mas não quanto Declan. Porra, estava pensando em Declan novamente. Seu objetivo era excluir Declan de sua vida.
"Como diz isso? Não me conhece." Julian não pensou em como foi grosso com as palavras, foda-se, cansou de tudo.
"Se acalme, hum?" Julian ignorou o sorriso bonito do alfa. Ninguém nunca vai entrar em seu coração novamente. Ninguém.
Depois que Julian se recuperou voltou para casa com Dan o seguindo atrás.
Aquilo estava errado e tinha uma dúvida gigantesca.
Estudou o alfa milhares de vezes, ele não era burro pra não saber que ele é um cavalheiro de Dazarian.
"Ok, já chega." Julian virou-se para o alfa. "Meu pai te enviou, não é?" Dan pensou, merda, como o príncipe suspeitou dele? Óbvio, ele carregava uma mochila do clã.
"Sim." Dan contou-lhe a verdade.
"Ah, por que minha vida é uma droga?" Julian bateu os pés continuando seu caminho. Sua possível felicidade estava arruinada. Mas por que seu pai lhe enviou aquele alfa para ele?
Tantos porquês...
"Ele está preocupado, afinal, você é o príncipe herdeiro." Dan explicou, Julian parou sem olhar para trás. "Não estou aqui para lhe levar, estou aqui para te proteger de tudo. Por três anos."
Três anos...
Seus três anos acabaram de ser arruinados com a notícia de um filhote. Um filho não duraria três anos, e sim a vida toda. E quando Declan descobrir? Ou ele pretendia contar sobre o filho deles? Não, claro que não. Seu filho nunca saberá quem é o seu pai. Ele não deixaria seu filhote à mercê da frieza de Declan, nem que para isso o enfrentasse.
Julian percebeu que seu pensamento continha ódio, ele sorriu. Finalmente conseguiu ter algo negativo daquilo além de amor.
"Certo. Você já se alimentou?" Dan negou, Julian segurou as mãos quentes do alfa o guiando para a casinha.
Dan não imaginou que um dia seu coração pudesse bater por alguém. E aquilo é tão errado, o príncipe se casará e se tornará rei daqui uns anos. Afastou as ideias para longe, que tolice a sua.
Durante os dias, Dan se adaptou na casa de Julian e se tornaram bons amigos. O alfa concertou o telhado, construiu uma cerca e plantou muitas coisas no solo fértil. Cuidava de Julian como ordenado, o príncipe era uma companhia tão boa, que Dan só faltava ter um rabo e balançar quando Julian chegava do trabalho. Como esperado, escreveu uma carta para o rei, omitindo muitas coisas e outra para Patel. Principalmente sobre a gravidez do príncipe. Dan nunca perguntou sobre o alfa que lhe engravidou, pois Julian se sentiu muito triste quando falava disso, então provavelmente é um assunto delicado. Pensou nas mil formas de quando os reis soubessem que o Herdeiro de Dazarian tinha sido acasalado fora do casamento. Uma lei quebrada, uma possível guerra.
Um príncipe rebelde, fugitivo e grávido.
Dan além das ordens, protegeria Julian de todo mal. O carinho que sentia pelo príncipe é surreal, evidente e forte. A vontade de o abraçar é grande, de o tocar e criar um nó no ômega é maior. Afastou os pensamentos pervertidos, Julian nunca olharia Dan como um amante, ele parecia magoado e decidido com a vida. Mas nunca se sabia se poderia ter um lugar naquele grandioso coração.
Julian escreveu uma carta a Patel contando sobre suas aventuras durante os meses que passara em Zarrara, o ômega não escreveu sobre Dan e o filhote. O laço de amizade com o alfa e do quanto não se sentia sozinho. Dan é incrível, engraçado, generoso e feroz. Sempre ajudando Julian com afazeres pesados, enquanto a barriga crescida lhe deu indisposição.
Para os aldeões Julian e Dan é um casal, mas os dois sabiam que aquilo não passava além de uma ligação de amizade. Com o tempo, a barriga de Julian crescia, e com ela vinha a cura da dor, do esquecimento e daquilo que viveu.
Certo dia a maturidade chegou na sua vida e percebeu que deixou um amor o sufocar, destruir e quase matá-lo. Um novo olhar sobre a vida, que as consequências não vinham para te deixar fraco e sim para aprender a ser forte, como o pequeno Mathieu lhe ensinou que amor por um filho é bem mais forte do que qualquer outra coisa. Julian sabia que enfrentaria um futuro perverso em dois anos, mas nunca deixaria que aquilo o abalasse como já fez. Ele se tornou forte, Dan segurava sua mão em todas as decisões, e com uma mente aberta com o alfa, deixou claro que não poderia se apaixonar pelo alfa, que o deixou arrasado por dias. Mas Dan melhorou e percebeu que a ligação não passava de um carinho e amor de amigos.
O ômega deu à luz numa noite estrelada, Dan corria pela casa enquanto ouvia gritos de dor do príncipe. Teddy e Corina ajudavam o príncipe, enquanto ele e Javeles junto com seu namorado, Antony, davam assistência do lado de fora.
Julian chorou quando o gritinho de seu bebê preencheu a sala, suado e cansado sorriu para o pequeno alfa que logo foi embrulhado e colocado em seus braços.
"Mathieu, você é minha estrelinha." Sussurrou baixinho com tamanha felicidade incabível no peito. Chorou sobre a cabecinha embrulhada do bebê, chorou por se tornar forte e por saber que alguém era seu para amar infinitamente.
O amor nem sempre vem de um amor entre casal, vinha de um amor fraterno e de amizades. Ele tinha Dan, Teddy, Corina, Javeles, Antony e seu doce amigo chapéu de palha, Bonny. Eles mereciam o mundo tanto quanto Julian e Mathieu. Amar e ser amado tinha outras formas e porções.
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Atualizado até capítulo 33
Comments
Cirlande Ferreira
detesto livros que o protagonista e bobo.toda pessoa tem que acordar um dia
2025-01-21
0
Cleide Almeida
q pena queria q ele e Dan ficarem juntos
2025-01-01
1
Cida Domiciano
tomara que ele se apaixone pelo dam e esqueça o monstro
2024-11-07
2