09. PEDAÇOS

Karan soprou uma tosse, Julian deu leve batidas em suas costas. Na sala real os dois se olhavam sem trocar alguma palavra, Julian se corroeu ao ver seu pai pálido e magro.

"Pai, sente-se." Julian ajudou o alfa a ficar confortável.

"Estou contente por vê-lo aqui." Os olhos castanhos do rei encheram de lágrimas. "Filho, você voltou."

"Sim, papai. Agora irei levá-lo para descansar, a partir de agora irei assumir minha posição."

"Como?"

"Deixe comigo."

Julian levou Karan até seu aposento deitando levemente seu pai. Aconchegou-se ao lado de seu pai, como havia sentindo falta desse momento.

"Papai, espero que me perdoe um dia." Falou baixinho.

"Filho, eu já te perdoei a muito tempo, sua mãe deve está decepcionada comigo por deixar nosso filho assim."

"Não papai, você sempre e será um ótimo exemplo." Fungou, Karan alisou a cabeça do seu pequeno ômega.

"Quando você nasceu, sua mãe me deixou louco em contar que um dia você conquistaria o mundo. Ela achava que você pudesse quebrar essas regras de desigualdade. Um ômega pode reinar sem nenhum alfa." Contou o rei.

"Vamos conversar depois, meu pai. Descanse."

"Estou com medo de fechar os olhos e ver que isso não passou de um sonho." Karan deixou uma lágrima descer. Julian enxugou com a ponta do dedo.

"Não é um sonho."

Assim que o rei adormeceu Julian foi a procura de seu "marido" e filho. Pediu para alguns guardas buscá-los.

Na sacada, Julian olhava a lua cheia e o vento frio batia em seu rosto como chicotes avisando que aquilo estava virando uma loucura. Ouviu a porta bater com força, farejando um cheiro de algodão.

"Como ousa acabar com meu casamento dessa forma?" Jesse gritou com a face vermelha. "Você estragou tudo, irmão."

Julian riu, virou-se para Jesse caminho em passos lento até ele. O ômega mais novo respirava profundamente contendo a raiva que sentia por Julian.

"Eu estraguei? Ah, pelo o que me lembro você é só um tampa buraco para todos. Eu te salvei, irmão." Debochou Julian. Jesse lhe deu um olhar raivoso.

"Você voltou para ter Declan? Ele é meu, ele nunca irá querer você. Deixe-me ficar com ele."

Julian riu alto outra vez irritando ainda mais Jesse.

"Irmão, fique com quem você quiser tanto que não se meta nos meus assuntos." Julian ameaçou. "Fiquei longe de mim, não tente fazer nada imprudente. Seja um buraco para aquele babaca o quanto quiser, mas não pise em meu calo Jesse, você não conhece o novo Julian." Julian bagunçou o cabelo arrumado de Jesse, um movimento que o ômega odiava. Detestava quando alguém mexia em seus cabelos. Jesse sem dizer nada saiu, fazendo Julian suspirar aliviado. Nunca o viu agir dessa maneira, ele foi carrasco com Jesse o que nunca fora tempos atrás. Ele não deixaria ninguém pisar nele, nem em sua família.

"Alteza." Um guarda entrou com Dan e Mathieu.

"Que bom que está bem, fiquei preocupado." Dan falou entregando Mathieu adormecido para Julian. O ômega ninou o pequeno em seus braços, a cabeleira negra e grossa continha um cheirinho adocicado.

"Vamos dormir em meu quarto, amanhã será um longo dia." Dan concordou indo até o ômega.

"Você foi bem mais do que imaginei."

"Obrigado."

🌑🌑🌑

Noutro dia Farrell Farian vociferou por todo palácio a busca de explicações. Aquele dia certamente será uma confusão mas nada que Julian enfrentasse. Ele enfrentaria o rei, não deixaria aquele homem se meter nos assuntos pessoais de sua família. Que se for o problema, que pegasse seu filho e levasse para bem longe.

"Quero a presença de todos agora!" Julian viu Farrell gritar com Patel abaixo da escada. Seu amigo assentiu, ele não tinha mudado nenhum pouco, apenas sua cabelos cortados um pouco baixo. Declan se encontrava ao lado de Farrell ereto e entediado. Patel ia se retirar quando Julian diz:

"Não tem o por que de nosso rei alfa querer a presença de todos quando sua conversa é comigo." Julian com toda delicadeza desceu as escadas. Farrell, Patel e Declan o olharam espantando.

"Desejo a presença de seu pai, agora." Farrell aproximou de Julian. "Um acordo não pode ser quebrado desta maneira!"

"Desculpe rei alfa, mas acredito que a aliança acaba aqui. Se quer continuar com o casamento fique a vontade, mas antes saiba que meu reino você não manda."

"Como ousa dizer assim com seu rei? E você nem está no poder garoto!" Farrell olhava para aquilo inacreditável, ninguém nunca ousou falar assim. "A casa real não permitirá."

"Rei, Farrell. Sinto muito pelos problemas causados. Mas por linhagens passadas, do meu tataravô, bisavô, avô e meu pai, eles são dignos de um herdeiro. Não se preocupe quem estará ao meu lado, mas seu filho-"Apontou para Declan. "Jamais governará Dazarian."

"Isolante!" Farrell virou as costas saindo imediatamente a fora.

Declan não consiga reconhecer o homem a sua frente. Para ele Julian mudou drasticamente, tanto na sua aparência e corpo. Ninguém nunca falou além de palavras bondosas ao seu pai, nem mesmo ele.

"Uau, isso foi..." Patel riu. Levantou aos maos abraçando Julian. "Porra, o que aconteceu com você?"

"Bom, o tempo me curou." Disse olhando firmemente para Declan, o mesmo até pensou numa direta.

Um choro de bebê se foi ouvido no alto, Patel esbugalhou os olhos.

"Acho que estou ouvindo coisas." Riu para disfarçar.

"Não estar." Sorriu, ainda olhando o alfa em sua frente. "Declan, a quanto tempo." O alfa não respondeu. "Desculpe atrapalhar seu casamento, juro, me sinto culpado por isso." Fingiu tristeza. Patel riu.

"Achei que depois da sua falta de responsabilidade voltaria sem sua imaturidade, alteza." Falou saindo por onde seu pai saiu.

"Nossa, isso foi quente." Comentou Patel. No mesmo momento, Dan desceu pelas escadas com Mathieu no colo. Patel olhou aquilo abismado. "Por deuses, quem é essa mini criatura?" Apontou para Mathieu enquanto puxava os cabelos de Dan.

"Meu filho, Pa. Mathieu."

"Preciso de um copo d'água." Patel colocou a mão no peito. "Julian, você teve um filho?"

"Sim." Julian riu outra vez. "Diga olá ao seu tio, Matt."

"Céus, quem é o pai dele?" Patel apontou. "Julian, você tá muito encrencado."

"Eu sou o alfa, estamos unidos." Dan disse amenizando o nervosismo de Julian.

"Oh, sim. Julian, existe outra palavra além de encrencado? Fudido talvez?" Patel suspirou fundo. "Ok, eu não sei. Estou em choque. Ee-eu.. " Olhou para o homem que pediu que fosse amigo de Julian e não seu companheiro. Patel precisava organizar seus pensamentos, se não iria desmaiar a qualquer momento.

"Pa, não diga palavras feias perto do meu filho." Julian pediu.

"Desculpe, só estou sem acreditar. Estou num sonho." Patel se beliscou dando um gritinho fraco. Dan e Julian riram.

"Peça um almoço especial para o meu pai, e trate de ser apenas nos, por favor, Pa."

Patel concordou. Julian e Dan saíram para a cozinha para apresentar Mathieu o palácio. Muitos adoraram Mathieu perambulando e dando gritinhos histéricos altos.

Dan deixou por um momento Julian no jardim e foi até a ala de cavalaria. Cumprimentaria seus antigos amigos. Julian deixou Mathieu correr pelo jardim, suas perninhas curtas e mãozinhas para o alto deixava aquele momento gravado na mente de Julian.

Julian divagou em seus pensamentos, até perceber que Mathieu não brincava perto da fonte. Seu coração acelerou, seu filho havia sumido. Droga, pensou Julian.

Não muito longe dali, Declan passeava no jardim criando coragem para enfrentar seu pai, que provavelmente deixaria algumas marcas na sua alma. Pouco se importava, aquela carcaça que chamava de corpo não importava.

Viu um barulho em uma dos arbustos, olhou vendo um bebê com a blusa presa em um galho.

"Tsc, quem foi que trouxe um filhote para dentro do palácio?" Mumurrou. Foi até a criança ajudando-a. "Como você conseguiu ficar preso aí garotão?" Perguntou, o pequeno levantou os braços para Declan. "Não faça isso, sou um homem mau."

"Paha gu pa." A criança soltou murmurinho. Revirou os olhos olhando em volta para ver se alguém estava por perto, ninguém. Certo. Estendeu o filhote ao alto recebendo um gritinho do mesmo, a criança era branca, de cabeleireira negra e os olhos lembrara Sea quando pequeno.

"Espero que ninguém nos veja, isso vai ser comprometedor." Mathieu sorriu mostrando os dois dentinhos banguela."Onde está seu Pa? Huh?"

Declan poderia está maluco conversando com uma criança perdida em um jardim enorme.

Até que ouviu uma voz chamando por Mathieu. Rapidamente se voltou para a área de saída dando de cara com Julian.

"Mathieu, céus, você me assustou." Julian tirou Mathieu do colo de Declan dando um abraço. O alfa sem entender se aquela criança pertencia ao ômega. "Ele te fez alguma coisa, meu bebê? Perdão, a próxima vez terei mais atenção." Julian caiu seus olhos em Declan que lhe encarava intensamente. "Obrigado, Declan." Virou as costas sem dizer quem era aquela criança.

"Tsc. Ele nunca muda."

Julian apressou os passos para o quarto trocando Mathieu para o almoço, apresentaria a criança ao seu pai e seja lá o que o destino quiser, que seu pai aceite Mathieu e não como um neto bastardo.

Vê Declan perto de Mathieu lhe causou ânsia e medo, Declan poderia machucar seu filho. Ele nunca se perdoaria ou se isso acontecesse mataria aquele homem.

"Seu pai não pode saber do nosso segredo, Matt. Jamais, eu morrerei te protegendo." Disse ao bebê.

Logo depois desceu para o almoço, Dan, Patel e Will sentados a mesa. Seu pai de costas, e parecia bem melhor. A sua áurea agora estava em cor.

"Pai." Julian engoliu o caroço formado na garganta antes de colocar sua aparência na frente se seu pai. O rei o olhou e logo baixou para Mathieu. "Quero que conheça alguém muito especial."

Ninguém na sala ousou falar algo, se ouvia apenas respirações e burburinho de Mathieu em seu colo.

"Este é Mathieu, meu filho."

"Filho?" Karan perguntou. Não acreditou no que ouviu. "Você se acasalou, Julian?"

"Ee-eu..." Respirou fundo. "Sim, papai. E meu marido é Dan, temos um filho."

Karan não falou nada, fechou os olhos como se aquilo fosse para equilibrar a veia inchada de sua testa.

"Julian, até quando você me trará surpresas?"

"Papai, não se preocupe. Está tudo sobre o controle. Dan é meu companheiro, iremos nos casar assim que estivermos pronto. Mas por agora quero que o senhor conheça Mathieu e aproveite seu tempo com ele."

Karan assentiu, olhou para a criança. Claro que foi esperto o suficiente para ver a diferença dos pais com a criança. Ele não tinha nenhuma característica dos dois. E nem dá linhagem da família. A história estava muito mau contada e seu filho lhe contaria assim que estiver melhor.

🌑🌑🌑

Longe dali um ômega arrancava os cabelos com força, todo esses anos Jesse lutou para tirar tudo que seu irmão tinha. Queria o ver sem nada, na sargeta. Grunhiu apertando aos mãos em punho, ele faria qualquer coisa para ter o que sempre quis. Humilhado na frente de todos, se vingaria o mais rápido possível.

Arrumou-se para uma visita na cidade para entregar suplementos aos aldeoes. Assim que entrou na carruagem encontrou seu futuro cunhado de pernas cruzadas e lendo um seus livros estranhos.

"Você está acabado." Sea comentou sem tirar os olhos do livro. A história é bem mais interessante do que ver aquele ômega em sua frente.

"Não quanto você." Riu debochado. "Não sou aquele que vive na sombra do irmão."

Sea se segurou para não voar na garganta daquele ser desprezível.

"O único que anda na sombra, é você Jesse. Como ver, até um casamento arruinado." Sea demonstrou seu veneno. "Uma cobrinha como você não está destinado a ser feliz."

"Você quer falar de felicidade, príncipe Sea? Pelo menos eu procuro ser feliz do que ser uma toupeira." Sea se jogou contra Jesse segurando seu pescoço com força. Céus, aquele ômega lhe irritava com tantas respostas na ponta da língua. "Seu pai saberá disso, não faça nada imprudente."

Jesse sorriu com aqueles olhos caramelados. Sea apertou seu pescoço com um pouco de mais força.

"Você não se enxerga, não é? Olhe para você, sem digno de amor e proeza." Sea soltou a garganta de Jesse vendo o ômega passar a mão recuperando o ar perdido. "Va." Pediu ao cavaleiro.

E assim foram a cidade sem trocar nenhuma palavra ríspida. Eles nunca se darão bem, já que cada troca de palavras acabava em chamas ou com um pescoço avermelhado. 

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