11. TEMPESTADE

A raiva corria na veia do príncipe. Seu pai podia estar maluco por dar uma ideia tão sem sentido como essa.

"Meu pai." Julian olhou para Karan. "Como ousa?"

"Vejo que o príncipe já lhe contou."

"Tudo que quero é distância daquele homem e você diz que precisamos viajar juntos por dez dias?!" Julian brandou.

"Julian, é para o bem de vocês. Olhe a situação que você está, querido."

"Eu tenho tudo sob o controle!"

"Mesmo? Qual parte?"

Julian respirou fundo, fechou os olhos em busca da sua calma racional. Não, ele não iria discutir com seu pai. Ele não chegou até aqui para tudo desandar, prometeu a si mesmo que daria tudo de si para proteger Mathieu.

"É a única solução, filho. Mas cabe a você a decisão. Apenas ofereci a ideia." Karan deu de ombros, não se meteria na vida pessoal do filho.

"Vou pensar. Meu filho precisa de mim."

"Ele tem um pai." Karan comentou. "Dias longe de Mathieu não lhe fará mal, pelo contrário resolverá a causa do problema."

Julian não conseguiu dizer nada, ele estava desesperado para uma solução depois de tudo. Pensaria bastante antes de jogar de cabeça numa ideia como essa. Saiu do aposento a busca de descanso, amanhã pensaria com clareza.

🌑🌑🌑

Sea brincava com Mathieu na cozinha onde Julian sempre comia sossegado antes de fugir. A serva que cuidava de Mathieu acabou sendo chamada para um serviço rápido e com isso Sea se ofereceu para cuidar do filhote.

"Você é uma bela criança." Sea farejou o cheiro de Mathieu. "Você me lembra alguém, sabia?" Mathieu bateu as mãozinhas puxando a toalha da mesa. "Me diga, como se chama seu pai?"

"Pabá." Gritou.

"Pabá? Hm." Sea sentiu um cheiro azedo ao ar. Levantou a pequena blusa de Mathieu para verificar, mas antes se espantou com um sinal abaixo da pequena costela de Mathieu. Um formato de uma estrela tatuava ali. "Oh, céus! Você..." Sea fechou os olhos. "Por deuses, você é meu sobrinho!"

Sea não tinha dúvidas. Aquela marca apenas a família Farian pertencia, a sua mesma era atrás da orelha e de Declan no mesmo lugar de Mathieu.

Não podia ser, aquela criança não podia ser filho de Declan... Ele tinha tantas perguntas sobre essa criança, em que decisão Julian ousou não contar sobre Mathieu?

"Não sei o que aconteceu, filhote, mas tem muitas coisas que preciso descobrir." Abraçou o pequeno. "Preciso ter a certeza que você é filho do meu irmão."

A serva voltou correndo suada, agradeceu a Sea que logo saiu da cozinha. Encontrou Patel numa conversa calorosa com seu noivo Will.

"Olá."

"Príncipe." Se curvaram.

"Mathieu é uma criança espetacular." Comentou.

"Sim, senhor. Puxou ao pai." Patel deu uma risadinha. "Espero que meus filhos se pareçam comigo."

"Claro que vão, querido." Will apertou sua mão. Sea vendo o quanto o casal se amava sentiu uma calorosa felicidade radiando deles.

Uma comoção tirou atenção dos três quando guardas entraram, carregando uma espécie de corpo numa maca feita de madeira.

"O que está acontecendo?" Patel perguntou preocupado.

"Senhor, encontramos o companheiro do príncipe Julian ferido no lado leste." Patel correu para tirar o pano que cobria o corpo.

"Oh, deuses!" O ômega colocou a mão na boca. "Chame o príncipe agora mesmo!" Patel olhou para Will profundamente arrasado. "Julian ficará arrasado, o que será dele?" As lágrimas brotaram ameaçando descer. "Meu amigo não merece isso. Will, o que vamos fazer?"

"Não há nada querido, nos resta confortá-lo." Will foi até o ômega abraçando enquanto ele chorava nos braços do amado.

Julian chegou às pressas, olhou para todos enquanto se aproximava daquele corpo. Recebeu um olhar doloroso de Porsche. Quando o guarda avisou sobre Dan está ferido não aguentou a pressão no peito e foi até o encontro.

"Dante!" Soltou sobre o corpo. "Dan, por favor, acorde!" Gritou chorando, segurou o corpo do alfa em seu colo aos prantos. "Dan, volte para mim, volte para nós. Por favor, por favor." E a dor de perder alguém que amava deixou Julian destruído. "Dante, não ouse me deixar, você é muito especial para mim, Dante acorde." Julian não consegue se controlar, seu corpo tremia e todos em seu redor olhavam aquela cena deplorável do ômega gritando horrores. Jesse, Karan e Declan chegaram observando a situação. Julian chorava sobre o corpo falecido do companheiro completamente angustiado. "Dan, volte para mim..." Os soluços de Julian foram tão altos que Karan aproximou-se de Julian abraçando-o. "Papai, ele..." Não conseguiu terminar a frase se colocando aos prantos.

"Chore meu filho." Acariciou os cabelos de Julian.

O príncipe não acreditara que seu amigo estava morto, morto?! Julian nunca sentiu uma tristeza tão grande em toda sua vida, nem mesmo quando amava Declan. A dor de um luto é pior de qualquer coisa. O que seria dele e de Mathieu sem Dante ao seu lado?

Não.

Não.

Não.

Não era verdade, Dante está mentindo, ele não está morto. Se jogou contra o corpo deitando sobre o alfa, o corpo frio fazia Julian ter a certeza que Dan estava sem vida.

"Dan, por favor..." Balançou o corpo. "Me desculpe, me perdoe, eu não deveria o ter deixado sozinho. Dante!"

"Levem o corpo para ser preparado. Vamos dar um enterro digno ao alfa."

"NÃO!" Julian gritou. "Não leve, Dante está mentindo, ele não está morto." Julian segurou forte o corpo impedindo que os guardas ousasse tocar no alfa.

"Julian, vamos." Karan teve que colocar sua força para arrastar Julian dali.

Aqueles que tinham sentimentos choravam com a cena de Julian. Claramente o amor nascido ali, deixou todos com tamanha tristeza.

Karan levou Julian para descansar e só saiu quando o ômega adormeceu.

"Meu rei, como o príncipe está?" Patel perguntou ao rei.

"Arrasado." Colocou a mão na testa. Lá fora chovia forte, deixando o ar mais frio e melancólico. "Sentiremos a tristeza de Julian por dias." Olhou atrás da janela a escuridão do céu nublado.

"Sinto muito... O que devemos fazer?" Karan suspirou. O alfa que passou pela mesma dor anos atrás, sabia que não tinha nada a ser feito.

"Vamos esperar, prepare um enterro bonito. Fique com Mathieu por um tempo. Ele sentirá falta de seu pai."

Patel concordou. Seu coração angustiado pela vida de Julian, pobre príncipe, não teve um momento sequer de paz. Patel voltou para a cabana encontrando Will chacoalhando brinquedos para Mathieu.

"Oi..." Disse baixinho fungando.

"Como ele está?" Will perguntou suspirando.

"Bem mal. Ele adormeceu um pouco mas quando acordar não serei o que vai acontecer." Patel se jogou na cadeira. "Não consigo entender esse azar que Julian tem em sua vida. Cada dia desmorona. Will, estou preocupado. Isso vai mostrar fraqueza ao príncipe, para o reino. Droga! O que vamos fazer?"

"Acalma-se. Vai ficar tudo bem." Will o abraçou. "Ele nos tem, vamos ajudar no que for."

"Mathieu acabou de perder um pai, o que será dessa criança?"

"Não pense nisso, deixe tudo se resolver."

"Pare de ser tão pessimista, Will!" Patel ralhou.

"Não estou sendo pessimista, apenas deixo o destino fazer sua parte."

"Destino? Que fardo destino meu amigo tem."

Patel olhou Mathieu enquanto brincava, não podia fazer nada a respeito da vida de Julian.

🌑🌑🌑

O enterro do pobre alfa aconteceu no dia seguinte, um céu completamente nublado e chuvoso. Julian se desbruçava no caixão de Dan chorando aos prantos pela vida perdida de seu amigo. Todos ali presenciaram a tristeza do príncipe, olhares de pena e compaixão. Perder um companheiro é sinal de fraqueza, de escuridão e azar.

Mas Julian soube que se vingaria daquele que tirou a vida de Dan. E quando descobrir sua cabeça rolaria sem dó.

Dias longos se passaram, Julian não se alimentava, ou levantava da cama. Escreveu uma carta contando aos seus amigos de Zarrara sobre a morte de Dan, as lágrimas caíam sobre o papel. Julian não soube que ainda continha tantas lágrimas.

Mathieu dormia em seu berço. O pequeno anjo não tinha a menor ideia que o homem que lhe amava acabara de morrer, para Julian, o único que sobrou foi seu pequeno para cuidar e amar.

No dia seguinte o sol clareou, todos agradeceram aos deuses. Isso significava que Julian estava melhor. Era até engraçado, o reino Dazarian dependia do humor do príncipe, aquilo sempre fora inexplicável.

Julian decidiu que não demonstraria fraqueza na frente de ninguém, além disso ele tinha deveres para cumprir. Vestiu a melhor roupa de ninho, arrumou os cabelos repicados em mechas que caiam sobre seus olhos. A chamada de sua presença na Casa Real foi imediata.

Por deuses, ele estava em luto e aqueles velhos idiotas não se importavam nem um pouco. Tudo para eles o que importa é riqueza e mais riqueza. Quando chegou na corte, muitos bispos reunidos no centro da sala discutindo sobre assuntos políticos.

"Príncipe Julian Morgott em sua presença, altezas." Um homem gritou tirando a atenção dos velhos.

"Príncipe, que bom que chegou." Dailu sorriu, ele era o alfa mais antigo da Casa e por isso as decisões finais são dadas quando Dailu bate seu martelo.

"Estou aqui, caros amigos." De longe viu seu pai sentado na cadeira real, junto com Farrell, Ace e Back.

"Julian, soubemos que seu companheiro está morto. E devemos saber como acha que resolverá sua vida depois disso." O velho bispo Jânio comentou. O baixinho tinha uma voz grossa e assustadora.

"Ainda não encontrei a solução, bispo. Preciso de tempo."

"Tempo? Você já tem vinte e quatro anos, passou da hora de assumir a responsabilidade. Olhe o estado de seu pai, ainda precisa de tempo?" Jânio vociferou. Julian fechou os punhos com força, não perderia a paciência.

"Ele está certo, príncipe Julian. Faça uma decisão."

"A única solução é Julian se casar com meu filho Declan." Farrell falou em um bom som. "Soube desde cedo que essa história maluca do príncipe Julian acabaria mal e nos perderia tempo. Um príncipe que foge das responsabilidades e volta acasalado. Oras, que absurdo. Uma traição com meu poder e com meu filho. Traição é a pior de todas." Farrell olhava para Dailu, que concordou levemente.

Traição? Julian fora traído por tantas vezes. Enquanto se guardava fiel, Declan fodia seu irmão ao quarto ao lado.

"Concordo. Já aceitamos muitas ruínas de Julian Morgott, agora ele deverá de uma vez assumir suas responsabilidades." Jânio vociferou. Julian olhou para Karan pedindo ajuda. Karan não ousou dizer nada.

"Está decidido. Julian Saengtham, príncipe herdeiro de Dazarian se unirá com príncipe de Farian." Dailu bateu o martelo. Julian só não desmaiou de angústia por pensar em Mathieu.

Ele queria fugir outra vez, mas fugir desta vez não é a solução. Seu pai precisava dele.

Julian deu as costas para aqueles velhos ranzinza, olhou para Farrell que sorria diabólico, dando um sorriso no canto nos lábios. Apressou os passos para o palácio imediatamente. Bateu na porta de Jesse várias vezes.

"O que você quer?" Jesse abriu perguntando com uma cara emburrada.

"Onde está Declan?" Perguntou ao ômega mais novo.

"O que vocês quer com o meu alfa?"

Julian revirou os olhos, Jesse era tão infantil.

"Chame Declan para mim. Agora, Jesse." Brandou com a voz fervendo.

"Ele está no estábulo, estúpido." Jesse bateu a porta na cara de Julian. O príncipe não se importou com a ignorância do irmão e correu até Declan.

Encontrou o alfa alisando o cavalo negro, tão bonito quanto ele. Afastou os pensamentos.

"Declan." Chamou.

"Sim, príncipe." O alfa não se importou com a presença do ômega.

"Vamos quebrar esse maldito vínculo estúpido!" Julian falou com tamanha ansiedade. Declan ergueu seu olhar para o ômega. Sorriu mostrando seus dentes.

"Finalmente se decidiu."

"Partiremos amanhã, Mathieu irá junto."

"Certo."

Julian não se casaria com Declan, ele não daria o prazer aqueles idiotas. O alfa poderá se casar com Jesse, e assim... Isso! Se casando com Jesse, Julian ficará livre. O vínculo será quebrado e ele poderá ir embora para sua casa em Zarrara. Ele viveria em paz outra vez e Mathieu cresceria numa vida saudável.

Só sairia daquele palácio quando tudo se resolver, nem que para isso colocasse Declan e Jesse para reinar em seu lugar. Foda-se a comunhão, Jesse também é filho de Daiane e Karan, o mesmo sangue que corria nas veias de Julian, também corria na veia de Jesse. Não dará o gostinho de vitória para Farrell, tão cruel e sádico.

Julian só não imaginava que Farrell tinha tamanhos segredos obscuros que até mesmo Declan que era seu espelho, tinha medo do rei alfa. 

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