—Está bem, mandarei limpar aquela cabana. Levará pelo menos o dia todo, tente descansar aqui hoje — os olhos de Noil expressavam dor e tristeza, algo que deixou Sophia totalmente desconcertada.
Mais tarde, ela pôde tomar banho e falar com sua gente para contar o que tinha acontecido, ainda esperava saber o que faria com os trabalhadores, pois eram muitos. Para isso foi procurar o marquês, queria ter uma resposta rápida.
—Por que o senhor fez isso? Faz tempo que eu disse que era melhor destruir este lugar — o mordomo falava com Noil.
—Você sabe o quão significativo é para mim, apesar de ser a causa de todas as minhas más lembranças — ele suspirava e lágrimas saíam de seus olhos. Sophia podia ver toda a cena.
A cabana onde estavam era o local exato onde os pais de Noil foram assassinados. Uma noite, centenas de mercenários chegaram, sua intenção era acabar com a descendência da princesa, mãe de Noil e irmã do imperador na época. Para proteger seu filho, os pais dele se sacrificaram, embora os guardas imperiais tenham conseguido chegar e deter os assassinos, era tarde demais para os pais do jovem marquês, pois, com apenas oito anos, ele pôde ver tudo o que aconteceu. A responsável foi executada, era a mãe do atual imperador. Seu pai sempre foi próximo de sua irmã e ficou muito magoado ao saber que ela havia sido assassinada por ordem da própria esposa, por medo de que Noil tentasse tomar o trono algum dia. É claro que, naquela época, Eneko já era consciente e apoiou a decisão do pai, pois amava muito os tios e não suportava ver o primo triste. Com o passar dos anos, os dois conviveram como irmãos até que Noil teve que assumir o marquesado e nunca lhe passou pela cabeça fazer mal ao filho da mulher responsável pela morte de seus pais, ele havia sido educado de uma forma formidável.
Mesmo com a dor que aquele lugar lhe causava, era das lembranças que ainda tinha dos pais, por isso custava a se desfazer daquela cabana.
—Embora me doa, não penso em destruí-la. Preparem tudo para que a Srta. Brunet se mude o mais breve possível — terminando de dizer isso, ele saiu do local.
Sophia viu cada expressão e gesto do homem, não suportou, então tinha que dar um jeito de ajudar o marquês, era o que pensava naquele momento, sem saber o verdadeiro motivo de querer ajudá-lo. Ela decidiu sair do local e falar depois com Noil.
Ao anoitecer, tudo estava pronto e Sophia poderia dormir na cabana.
—Srta. Brunet, espero que seja do seu agrado — disse o mordomo.
—É linda, obrigada por tudo — suas palavras eram sinceras, mas aquela noite seria a última vez que veriam aquele lugar.
Deixaram Sophia sozinha para que pudesse descansar, é claro que ao redor de toda a mansão e da cabana havia guardas.
Quando já era madrugada, Sophia recitou algumas palavras e logo a cabana começou a pegar fogo. No início, ela só queria causar danos na infraestrutura para que talvez o marquês decidisse reformar o local e transformá-lo em algo diferente para que não lhe trouxesse mais lembranças ruins, mas ela não sabia o alcance que aquele feitiço teria. O fogo se espalhou rapidamente e como a madeira era velha, foi muito mais fácil ser consumida pelas chamas. Logo os guardas perceberam e alguns correram para pegar baldes d'água, outros foram avisar o marquês.
—Senhor! Acordem todos. Fogo! — ouviam-se os gritos dos guardas.
Em minutos, todos que habitavam a mansão e seus arredores já estavam acordados e horrorizados ao ver a cabana em chamas. Nem todos sabiam que Sophia havia se mudado para aquele local, por isso nem se deram ao trabalho de pensar em ajudá-la.
—Sophia está lá dentro. Eu tenho que tirá-la — Noil gritou e correu em direção à cabana, mas seus guardas conseguiram detê-lo.
Noil caiu de joelhos no chão, ao imaginar que a história se repetiria, estava perdendo alguém que amava e precisava em sua vida. Suas lágrimas eram evidentes e ele não conseguia parar de chorar.
—Marquês, a Srta. Brunet — gritou o mordomo, que estava atrás de Noil.
Pôde-se ver como ao lado da cabana, Sophia apareceu e caiu desmaiada. O marquês se levantou e correu para ver como ela estava. Ele não se perdoaria se algo ruim acontecesse àquela mulher.
Ele a levou de volta para seu quarto e, com a ajuda de algumas empregadas, a examinaram para se certificar de que ela não havia sofrido nenhuma queimadura.
—Marquês, a Srta. está bem. Talvez o desmaio se deva ao cansaço de tentar sair da cabana de alguma forma. Ela ficará bem — informou uma das mulheres e se retiraram.
—Sinto muito. Eu nunca deveria ter deixado você dormir sozinha, me perdoe — ele se culpava pelo que havia acontecido.
Sophia foi recuperando a consciência aos poucos e, ao ver Noil, não pôde esconder a verdade. —Sinto muito, foi minha culpa — seus olhos estavam marejados. —Juro que não foi minha intenção, mas tudo saiu do controle, eu só queria ajudar, eu realmente sinto muito — suas lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto.
—Do que você está falando? — as palavras da jovem o confundiram.
—Eu causei o fogo, tudo isso é culpa minha. Não pensei que seria tão sério — ela não parava de chorar.
—Por que você fez isso? — ele precisava de respostas, embora estivesse preocupado acima de tudo com o bem-estar de Sophia.
—Eu ouvi você falando pela manhã sobre a dor que aquele lugar te causava. Eu só estava tentando fazer com que você o reformasse um pouco, mas tudo saiu do controle — naquele momento ela mal conseguia falar de tanto chorar.
Sophia não chorava por ter provocado o incêndio, chorava porque realmente estivera prestes a morrer e isso era algo que não queria. Ela estava apenas recomeçando sua vida, não era possível que terminasse daquele jeito e o pior é que tudo seria provocado por ela mesma. O medo que ela sentiu no momento exato em que viu o fogo se espalhando pela cabana foi grande demais para que se arrependesse imediatamente.
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Atualizado até capítulo 46
Comments
Ezanira Rodrigues
Ela tem que pensar, antes de querer ajudar. Poderia ter lhe custado a vida.
2025-03-29
0
Erlete Rodrigues
tem que ter cuidado com seus poderes
2025-03-01
3