Sem desviar os olhos dourados de Cibele, Pierre cochichou no ouvido da mulher, sorriu e ao acariciar o rosto de Adruna, beijou seus lábios.
Eram namorados. Idiota! O chão se abriu sob seus pés. Desviou o olhar, apenas para tornar a encará-lo no segundo seguinte. Pierre ainda a observava por cima do ombro de Adruna. E Cibele respirou fundo, prendeu os pés firmemente no chão, desejando criar raízes para não se mover e ir ao encontro dele. O homem era dolorosamente irresistível.
Adruna se voltou para verificar onde a atenção do namorado estava depositada. Desconcertada pelo desejo de empurrar a ruiva para o lado e tomar o namorado dela para si, Cibele se virou. Bonito como a armação de madeira branca que segurava os vidros da janela arqueada destacava-se entre as estátuas de mármore, não havia cortinas. Cortinas eram uma chateação. O beijo de Adruna e Pierre um aborrecimento. E o vazio. A tristeza. O bilhete de despedida de Alan. O sítio arqueológico que levaria um século até abrir uma nova temporada. Arqueóloga. Onde estava com a cabeça?
Cadê o garçom?
A pulseira grossa de ouro não brilhava mais do que os olhos presos aos cantos, o movimento denunciava que o homem próximo à janela a analisava dos pés à cabeça. Que desassossego. Como se todos os olhos e brilhos fossem perigosos. Fugir?
Não havia muitas portas. No nicho do rei bonitão sequer havia uma! Abundavam as estátuas entre os candelabros, carrara, alabastro, e detalhes em folhas de ouro. Uma fortuna em decoração. Calmo e belo, como o lar de um milionário tinha de ser. No entanto, sentia estar em perigo como se estivesse presa em dois mundos. O físico, onde tudo acontecia com naturalidade e outro, imperceptível, onde criaturas terríveis retiradas de alguma lenda de terror a enchiam de um pavor injustificável.
Pierre. Caralho, por que não conseguia evitar olhá-lo? Por que tinha de ser tão sedutor? Como se de posse estivesse de uma potente força de atração e tudo no mundo tivesse de girar em torno dele, todos os seres tivessem que servi-lo e admirá-lo, inclusive ela, feito um deus.
Cibele deu um passo para o lado quando a taça suada e fria pressionou-se em sua mão. O cabelo longo e dourado emoldurava ondulante o rosto lívido e intensificava a heterocromia dos olhos aterradores, um dourado e outro safira. Um misto de beleza e poder emanava do homem sorridente que a abordou, e ela se sentiu desconfortável.
Brilhos... Olhos... Inferno!
Não queria pensar na confusão que se formava em seu âmago, mas desde que chegou na casa de Arthur não conseguiu se sentir à vontade, a beleza sobrenatural daquele pessoal a tonteava, tudo e todos pareciam informar em palavras mudas de que estava no lugar e no momento errados. E não fosse pelo desejo intenso de não magoar Nina, não estaria ali.
— É champanhe — ele falou, ao notar o desconforto de Cibele. — Não precisa sentir medo de nós.
— Não estou com medo — Cibele levou a bebida à boca, incomodada com a constatação do homem.
Sentiu um arrepio na espinha e os pelos eriçaram assim que o homem deslizou lentamente a ponta do nariz em seu pescoço e sussurrou ao pé do ouvido.
— Você cheira medo.
Cibele afastou um passo e o encarou. Como sabia que estava com medo? Sim, estava bebendo havia várias horas e embora estivesse levemente embriagada, ainda conseguia raciocinar o suficiente para saber que havia algo de errado naquele comentário. Colocou uma mecha do longo cabelo preto atrás da orelha e endireitou a coluna, nem que quisesse ficaria na mesma altura do homem forte a sua frente, ainda assim estufou o peito feito um gladiador romano, esquisito dentro do decote acentuado do vestido preto e brilhante, e tudo o que conseguiu com sua postura foi um riso espontâneo e divertido de seu oponente, que ao enlaçar Cibele pela cintura, a apertou contra si.
— Você é linda. — Levou o copo à boca dela. — Beba. Isso ajudará a perder a timidez.
A bebida era amarga e suplantou o adocicado deixado pelo champanhe. Com a cabeça apoiada na de Pierre, Adruna sorriu e gesticulou incentivando Cibele a ficar com o rapaz. Talvez fosse o líquido oferecido pelo desconhecido, ou todas as bebidas ingeridas até o momento tivessem feito um efeito abrupto, cabeceou e derrubou o champanhe sobre o peito dele, que tomando a taça da mão dela, entregou para a pessoa ao lado.
— O que tinha na sua bebida? — Cibele perguntou e recostou a cabeça no peito forte, incapaz de sustentar seu peso.
— Uísque — respondeu e colocou o copo na boca dela outra vez.
Cibele balançou a cabeça em negativa, nauseada.
— Dê mais um gole. Quero te provar que é só uísque.
O focou, desconfiada.
— Qual seu nome?
— Yan. — Bebeu da própria bebida. — Viu? Também estou bebendo do meu uísque. — Tornou a colocar a borda do copo nos lábios dela.
As pupilas dilataram, deixando os contornos safira e dourado ainda mais finos, e Yan muito mais bonito, quando o amargor da bebida se espalhou na boca outra vez. Poderia estar bêbada demais, ainda assim estava certa de que aquilo tinha gosto de tudo, menos de uísque. Ameaçou cuspir, porém, a boca rosada apertou-se nos lábios de Cibele, e engoliu o líquido hediondo a fim de receber o beijo inesperado. As pálpebras se fecharam sem dificuldade, o corpo amolecia nos braços firmes que a sustentavam, uma escuridão abrupta afastava todos os pensamentos e o sono era irresistível. Cibele fez um grande esforço para balbuciar que não se sentia bem.
— Está tudo bem, Cibele. Eu vou cuidar de você.
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Atualizado até capítulo 55
Comments
Andre Santos
Estou adorando
2024-12-28
0
Maria Do Carmo
uiuiuuiuiiii eu teria medo 😱 minha nossa 😱😱😱😱
2024-06-02
3
Leydiane Cristina Aprinio Gonçaves
que bizarro hein tá doido
2024-05-31
0