Capítulo 12

_Emilly_

Acordei no dia seguinte com a decisão tomada!

Irei contar uma verdade parcial. Mas para isso vou precisar de provas então já liguei para o Eduardo falando para ele mandar uma pessoa para fazer exame de DNA. Tenho que estar prevenida para quando ele perguntar por provas, tenho inúmeras provas, lembranças que me restaram com ele, conversas nossas que só eu e ele sabe mais por via das dúvidas é melhor fazer o exame de DNA...

Estou doida para matar aquelas ratas, mas terei de esperar... Não quero fazer alardes, não agora que a cabeça de Guilherme está sendo o meu maior alvo! Irei torturá-lo e matá-lo com as minhas próprias mãos... Aquele Cazzo irá pagar caro por ter me traído!

Fiz a minha mala e me arrumei...

Logo em seguida eu fui esperar a Carol na frente da sua porta. Demorou uns 15 minutos e eu já estava prestes a bater na sua porta, foi quando ela abriu...

Emilly- Estava demorando...

Percebi que ela estava escondendo os braços e aquilo me irritou. Ela estava se cortando de novo! O que há com esses adolescentes?

Emilly- Vamos.

Ela assente com um semblante triste e caminha atrás de mim, segurando umas malas, percebi que estava sendo difícil dela arrastar as malas por causa do braço então eu falei irritada:

Emilly- Fique aqui.

Fui até caminhonete e coloquei as minhas malas na carroceria, depois voltei e peguei as suas levando até a caminhonete e colocando na carroceria também.

Carol- Me desculpa...

Levei um susto e foi quando eu percebi que ela estava atrás de mim enquanto lágrimas escorriam pelo seu rosto, ela olhava para o chão com vergonha.

Olhei ao longe tentando formular uma frase, mas apenas falei:

Emilly- Da próxima vez me chame se estiver com problemas.

Não esperei ela falar nada e fui para o banco do motorista me lembrando de algumas cenas da minha vida que eu desejava esquecer algum dia talvez por algum milagre eu consiga. Ela se sentou no banco do passageiro e eu coloquei uma ópera para tocar para ver se relaxava um pouco a tensão...

Eduardo logo me ligou me mostrando o local de encontro com o médico geneticista.

Não demorou muito e eu achei ele segurando uma maleta em mãos, buzinei impaciente e ele entrou no carro meio sem jeito.

- Bom dia senhora eu sou o-

Emilly- Não há necessidade de formalidades. Me chame de Emilly...

- Você não vai querer retornar ao seu nome original?

Emilly- Não, a Angel morreu. Eu sou só a carcaça chamada Emilly...

Eu pensei que a tensão não poderia piorar mas pelo visto eu estava errada. Fomos em silêncio o caminho todo e quando chegamos na entrada eu vi ao longe os enormes pastos em que um dia eu corri e brinquei... Minha mãe me amava muito, porém depois de uma viagem ela se transformou no próprio demônio! Não irei poupá-la por causa disso.

Isso só serve para o meu ódio aumentar ainda mais!

Chegando na porteira da entrada o meu carro foi barrado por um dos caseiros.

- Senhorita, você não pode entrar nessa propriedade privada.

Emilly- Vim para falar com o seu patrão.

- Não é assim que funciona, senhorita. Você primeiro precisa avisar...

Emilly- Não tem como você avisar não?

Ele então ia começando a falar com ar de deboche mas eu interrompi abruptamente.

- Eu não tenho tempo par-

Não deixei ele terminar e joguei um monte de notas de 100 nele.

Emilly- Isso é o suficiente?

- É... Eu... Eu vou ligar para o seu Marcos.

Revirei os olhos enquanto ele catava as notas no chão enquanto apoiava o meu cotovelo na janela.

Assim que ele se foi, a Carol falou:

Carol- Não deveria ter feito isso... Jogar dinheiro assim nas pessoas é...

Emilly- Não te perguntei nada Carol! Lembre-se de uma coisa, eu posso estar no Brasil mas ainda sou a chefe da máfia italiana, portanto quando eu faço algo não gosto de ser questionada, entendeu?

Meu tom saiu ameaçadoramente, porém não era assim que eu queria falar. Sou uma merda quando o assunto é sentimentalismo...

Ela assentiu olhando para as mãos enquanto fazia uma expressão de decepção.

Olhei pela janela e fiquei um tempo esperando até o caseiro retornar e perguntar o meu nome.

Emilly- Fala que é a Flor de lótus...

Falei me lembrando de quando brincava com ele no jardim da fazenda, ele me chamava desse nome com carinho. O caseiro olhou-me com um ponto de interrogação, mas falou mesmo assim...

- Alô... Patrão?

Ele ficou em silêncio e depois mandou eu ir embora se fosse uma brincadeira de mal gosto.

Acabei sorrindo daquilo, ele era mesmo o meu velho pai de sempre. Havia-me esquecido de muitas coisas, mas algo que eu nunca esqueci foi do seu jeito e de como me tratava...

Emilly- Fala para ele que não sairei daqui sem antes conversar com ele.

- Patrão, ela disse que não vai sair daqui antes de conversar com o senhor.

...

- tudo bem patrão.

Ele desligou o telefone e falou:

- Pode entrar...

Dei um sorriso e dirigi adentrando os enormes portões da fazenda Navarro. Enquanto dirigia eu via as enormes plantações do meu pai... A fazenda cresceu bastante e está ainda mais bonita de quando eu me lembro.

Estacionei a camionete e vi eles... Porém havia também um garotinho entre eles.

Estava meu pai, as duas cobras e o garotinho.

Assim que desci eu pude ver as suas expressões, meu pai me olhava tenso e percebi também que os seus olhos estavam vermelhos ele deve ter chorado agora a pouco, Vivian me olhava com um misto de inveja e descrença enquanto a minha "querida" mãe chamada: Antonella me olhava com estranheza. O garoto me encarava com ar de deboche, já não gostei desse pirralho!

Vivian- Quem é você vadia?

Marcos- CALADA VIVIAN!! Olha como você fala na frente do garoto? não tem um pingo de respeito próprio não?

Emilly- Que recepção mais acalorada...

Falei soltando um pequeno sorriso contido, mas a minha vontade era de gargalhar.

Marcos- Você disse Flôr de lótus...

Vivian- É claramente uma golpista usando da morta para ganhar dinheiro!

Falou ela com desprezo enquanto mascava um chiclete, aquilo estava me irritando e não era as suas palavras, mais sim aquela mastigação de chiclete insuportável!

Emilly- Eu trouxe um especialista para mostrar algo interessante para você seu Marcos.

Vivian- Porque me chamou aqui se era assunto chato de empresa pai?

Falou ela revirando os olhos e suspirando.

Marcos- Eu não estou entendendo mais nada aqui.

Antonella- Conversa com ela no seu escritório, eu também não quero muito saber de negócios hoje não.

Marcos- Mas você nunca quer saber.

Antonella- Exatamente...

Falou ela já saindo sem nenhuma paciência enquanto a loira da minha irmã me dava uma última olhada e saia para a minha paz já que eu estava vendo a hora de atirar naquela boca dela.

Elas precisam saber, mas decidi deixar por isso mesmo, melhor assim que eu não tenho dor de cabeça.

Marcos- Vamos até o meu escritório moça.

Assenti e segui ele junto com o médico geneticista e a Carol. Assim que cheguei no escritório eu me lembrei de mais algumas coisas que estavam perdidas na minha memória.

Eu estava sentada no colo do meu pai brincando de boneca enquanto ele trabalhava e de vez em quando beijava a minha testa...

Ele mandou eu me sentar em uma das cadeiras que ficava na frente da sua mesa, mas eu recusei e fiquei olhando tudo ao redor enquanto tocava em alguns livros.

Marcos- Pode começar a falar...

Fiquei um tempo em silêncio e peguei uma obra de shakespeare, era o livro predileto dele e sempre que eu vinha aqui ele lia para mim uma estrofe.

Emilly- O mal que um homem faz vive após ele... - Shakespeare.

Marcos- É a minha frase favorita...

Falou ele me olhando com espanto.

Emilly- Eu sei... Você me falou.

Falei com a voz por um fio, não imaginava que isso iria mexer comigo. Aconteceu que eu perdi todas as emoções do passado e hoje em dia eu já não sentia mais nada, porém ao reviver todas essas memórias está me deixando estranha.

Marcos- Como assim?

Falou ele com a voz falhada.

Emilly- Ainda não me reconheceu?

Marcos- PARE DE BRINCAR COM A MINHA CABEÇA!!

Gritou ele metendo um murro na mesa. Seu olhar era o de uma tristeza profunda enquanto marejava lágrimas dos seus olhos...

Emilly- Você me disse que pessoas fortes vencem tudo...

Ele começou a negar com a cabeça enquanto lágrimas escorriam no seu rosto.

Emilly- Me disse também que não deixaria nada me acontecer, que sempre estaria comigo.

Marcos- Não, não, não...

Senti algo molhar o meu rosto e quando toquei percebi que eram lágrimas. Eu estava chorando como já não fazia há muito tempo...

Meu coração estava acelerado naquele momento enquanto o meu pai se negava segurando na mesa com força. Me aproximei dele e o abracei forte sentindo ele tremer enquanto se derramava em lágrimas.

Marcos- Como isso é possível? Porque não veio para casa? Porque me deixou sofrer por todos esses anos? Porquê? Por quê??

Ele chorava desesperadamente nos meus braços enquanto eu apenas tentava confortá-lo enquanto a minha cabeça dava inúmeras voltas no passado... Assim que cheguei aqui comecei a lembrar de tudo o que eu havia esquecido, para mim esse lugar só representava dor, porém agora eu consegui me lembrar das coisas boas que vivi aqui..

Do meu pai me protegendo das maldades da minha madre, das brincadeiras que ele fazia comigo aqui nesse escritório, dos dias em que eu cavalguei com ele sentindo o vento bater no meu rosto.

Eu me lembrei de tudo aquilo que eu me forcei a esquecer... O trauma era grande demais e eu não queria me lembrar de nada! Eu sei que minha mente não é saudável, mas nunca liguei para isso até agora, meu próprio pai... Como eu pude esquecer dele? Ele não era nada como os outros, ele era o meu pai! Um homem justo e amoroso que sempre me amou. Como eu poderia imaginar que ainda havia alguém nesse mundo que me amava? Depois que eu perdi o meu pai adotivo eu me vi numa espiral de merda. Era só guerra, prazer e perigo!

Depois de um tempo chorando um no ombro do outro nós nos afastamos enquanto ele abraçava o meu rosto com suas mãos quentes e grossas cheias de calos.

Marcos- Eu morri? Esse é o paraíso?

Dei um sorriso genuíno pela primeira vez depois de muitos anos, enquanto a Carol também se divertia das falas de meu pai.

Emilly- Não morreu pai e aliás se você me encontrar do outro lado pode se preocupar, com certeza não será o paraíso.

Ele sorriu com divertimento e eu fiz o mesmo.

Marcos- Isso não é verdade! Assim como o seu nome diz, você é um anjo minha filha. O meu anjo!

Sem me deixar dizer mais nenhuma palavra ele me abraçou enquanto voltava a chorar...

Ficamos um tempo apenas nos abraçando, se afastando, falando algumas palavras e depois chorando novamente. Eu acho que eu chorei por duas vidas minhas...

Marcos- Eu ainda não consigo acreditar que isso é real... A minha filhinha. Não sabe o quanto eu sofri quando descobri da sua suposta morte! Eu me culpei e me puni diversas vezes me jogando no fundo do poço. Tudo o que aconteceu com você foi minha culpa, se eu tivesse visto a maldade de sua mãe a tempo, teríamos evitado tudo isso!

Falou ele com os olhos marejados.

Emilly- Me desculpa perguntar isso pai mais... Porque ainda continua com ela?

Marcos- Bom... No começo foi porque ela ameaçou tirar sua irmã do meu convívio e agora é porque ainda não consigo me afastar dela.

Emilly- O senhor ama ela...

Marcos- infelizmente sim...

Falou ele de cabeça baixa.

Peguei no seu rosto com as duas mãos e fiz ele olhar para mim, depois falei:

Emilly- Não fique assim pai! Eu entendo que possa ter sido difícil e não irei culpá-lo. Passamos tanto tempo separados e eu não me imagino brigando com o senhor por causa disso...

Marcos- Minha doce Angel...

Falou ele com a voz embargada e depois me abraçou novamente caindo no choro enquanto eu dava leves batidas nas suas costas com a mão para acalmá-lo.

Emilly- Não vou mais deixar o senhor, eu prometo.

Marcos- Agora me conta tudo o que aconteceu minha filha.

Falou ele se distanciando enquanto me olhava com ternura.

Emilly- Bom, para começar eu tenho que perguntar o que a minha mãe falou para o senhor quando me mandou para a minha tia Marina.

Marcos- Aquela cobra me falou que você pediu para ir pra lá, só que eu desconfiei já que você tinha medo de viajar, então eu perguntei para o garoto que sempre andava com você o menino Rafael.

Esse nome foi o gatilho para me deixar mal e sem eu perceber estava com o estômago embrulhando.

Emilly- Preciso vomitar...

Marcos- Você está bem, minha filha?? Fala comigo!!

Olhei para um cesto de lixo e peguei ele vomitando nele logo em seguida sentindo todo o meu corpo tremer enquanto o meu coração saltitava dentro do peito me lembrando de tudo o que eu fiz ele passar por minha causa. O meu único e grande amor de infância... Como eu poderia me esquecer dele?

Marcos- Filha!!

Gritou o meu pai desesperado.

Marcos- O que você está esperando? Vem me ajudar!!

Gritou ele para o médico geneticista.

- Si- Sim senhor!!

Me apoiei neles e fui levada para um sofá próximo enquanto a Carol me dava um pouco de água na sua garrafa.

Carol- A senhora está melhor?

Emilly- Não precisam se preocupar, isso acontece bastante.

Marcos- Como não se preocupar? Por favor Angel não me preocupe assim filha! Eu não suportaria te perder novamente. Você se lembra? Você é a minha luz e eu sou a sua-

Emilly- Luz...

Completei com um sorriso no rosto, Carol me olhou com espanto enquanto dava passos para trás.

Emilly- O que foi Carol?

Perguntei mudando de expressão.

Carol- Então até alguém como a senhora pode ter sentimentos?

Dessa vez eu ri com vontade enquanto meu pai olhava para nós duas confuso, eu não podia discordar dela. Até eu estou inteiramente surpresa comigo mesma. Eu sou totalmente o contrário de uma mulher sentimental, na verdade eu aprendi que sentimentos são fraquezas então desde tudo aquilo eu venho socando para dentro tudo aquilo que eu imagino ser perigoso.

O que eu não contava era me lembrar de meu velho pai...

Marcos- Está melhor filha? E você não é médico não? Porque está usando um jaleco então?

Falou o meu pai confrontando o médico geneticista.

- Mais senhor eu-

Interrompi o médico falando:

Emilly- Ele é um médico geneticista pai. Veio para fazer o nosso exame de DNA...

Marcos- Eu não preciso disso. Eu reconheceria você até mesmo com 70 anos!

Falou o meu pai estufando o peito com orgulho, não aguentei e me acabei de rir. Carol também não conseguiu segurar e começou a sorrir sem parar também....

Meu pai... Como eu senti saudades suas.

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Continua...☺️

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