_Emilly_
— Eu sabia que tinha dedo podre desses velhos malditos!
Eduardo — Fala a nossa língua!
— Ele é alguém muito influente no setor agrícola. O nome dele é Francesco Colombo Costa. —Falou o homem com a voz trêmula.
— Que cazzo!
— Que idiota. Achou mesmo que eu não descobriria?
— Isso é claramente uma afronta, chefe. Ele está declarando guerra.
Sem pensar duas vezes, dou um tiro na cabeça do homem. O corpo despenca, inerte. Saio andando devagar, como se nada tivesse acontecido, e ao chegar no meu carro, apoio-me no capô e acendo um cigarro com calma.
— Quer um?
Ofereço um a Eduardo, estendendo o maço.
— Não, obrigado. O que pretende fazer agora?
Dou um trago longo e observo os corpos despedaçados espalhados pelo chão.
— Não é óbvio? Eu vou arrancar a cabeça dele... na frente daqueles velhos malditos.
— Você é boa. Mas... não vai dar merda? Estamos falando da maior máfia da Itália.
— E eu sou a chefe dessa máfia. Preciso que eles lembrem quem manda aqui. Liga pro Guilherme. Diz pra me encontrar amanhã, às 7:30, na sede da máfia. Vou pedir para o secretário adiar a reunião.
Ele concorda com um aceno e entra no carro.
— Bom... Acho que vou com a senhora. Nos encontramos lá.
Assinto com a cabeça e, antes de ligar meu carro, disco um número.
— Sim, senhora?
— Preciso que limpe uma bagunça pra mim.
— É só mandar a localização...
— Mandarei. Não quero policiais rondando a área.
— Entendido.
Assim que envio a localização, dou partida e sigo rumo ao apartamento onde deixei Carol.
Chegando à garagem, puxo o freio de mão com força e saio do carro. Entro no elevador e aperto o botão do meu andar. Ao sair, sigo até a porta do apartamento e digito a senha. Assim que a porta se abre, sou recepcionada por Dulce, minha empregada.
— Boa noite, senhora.
— Como está a garota? — perguntei olhando ao redor...
— Está bem.
— Onde ela está?
— Num dos quartos de hóspedes.
— Hum...
Penso por um instante. Não sei se devo conversar com ela agora. Não sou boa com crianças e muito menos com adolescentes. Melhor tirar essa roupa ensanguentada antes que eu assuste a menina.
Vou direto para o meu quarto, entro no banheiro e tomo um banho quente. Esfrego a pele com força e passo meus produtos de sempre. Lavo os cabelos, seco e sigo até o closet. Visto uma camisola simples. Nada de mais. Estou exausta.
Preciso descansar... mas antes, preciso falar com a garota.
Solto um longo suspiro e caminho até o quarto onde ela está. Bato na porta. Nada.
Que saco.
— Ei, garota! Tá dormindo?
Mais silêncio.
Decido entrar. A porta está destrancada. Entro devagar e olho ao redor — o quarto está vazio. Sigo até a porta do banheiro, entreaberta, e vejo uma cena que conheço bem: ela está cortando os pulsos.
Eu também já fiz isso...
Não para morrer, mas para que a dor física abafasse a dor mental. Funciona... por pouco tempo. Mas não resolve nada.
Decido esperar. Sento em uma cadeira, cruzo as pernas e os braços. Alguns minutos depois, ela sai. Leva um susto ao me ver ali.
— A senhora está aí há muito tempo?
Ela tenta esconder os braços atrás do corpo. Olho diretamente para ela, sem me mover e solto um suspiro. É como olhar para uma versão mais jovem de mim mesma...
— Como passou o dia? Está bem?
— Estou bem, sim... senhora.
— Não me chame de senhora. Somos mãe e filha agora. Se quiser, pode me considerar uma irmã mais velha. Pode me chamar pelo nome.
Ela me encara, surpresa. Mas um sorriso surge no seu rosto.
— Muito obrigada... Eu me sinto segura ao lado de vo— de você.
Sorrio de canto. Me levanto, ajeito a camisola e sigo para a porta. Antes de sair, me viro para ela:
— Amanhã vou lhe apresentar ao conselho como minha filha legítima. Ninguém precisa saber que você foi adotada. Na sua certidão constará que você tem 13 anos, não 14. Seu nome também vai mudar. Então pense em algo bonito até amanhã cedo.
Fecho a porta atrás de mim e sigo para meu quarto. Exausta. Me deito, olho para o teto… e mais uma vez, o passado volta como um fantasma.
\_**Flashback**\_
Estávamos no porão da casa. O chão era frio, sujo e o cheiro de mofo se misturava ao ferrugem do sangue seco que já manchava o concreto.
— Por favor, mãe, para! — supliquei com o pouco de força que ainda me restava, a voz embargada pelo desespero.
— Cala a boca, sua bastarda imunda! — cuspiu ela, com o ódio escorrendo por cada sílaba.
Eu sangrava. Minhas pernas mal sustentavam o corpo. E diante de mim, o menino que eu amava gemia enquanto recebia mais uma sequência de chicotadas — tudo porque ousou me salvar minutos antes de uma sentença de morte.
Avancei em direção a ele, desesperada, mas fui parada por um estalo seco. A ponta do chicote rasgou meu rosto com violência, abrindo minha pele como papel.
— É hoje que eu me livro de você! — ela rosnou. — Pegue suas tralhas e enfie numa mala... ou eu mato esse maldito moleque bem na sua frente!
Meus olhos subiram instintivamente para as escadas. E lá estava ela: minha irmã. Vivian. A filha perfeita. A boneca de porcelana com seus cachos loiros impecáveis, os olhos de anjo e o coração de demônio. Ela ria. Enrolava os cabelos entre os dedos enquanto me observava sofrer — como se assistisse a um espetáculo.
Corri em direção às escadas, tentando escapar, mas o chicote me alcançou antes. A dor explodiu nas minhas costas e o gosto de sangue subiu pela garganta. Caí de joelhos. Ao virar o rosto, vi minha mãe sorrindo com escárnio — como se fosse prazeroso me destruir.
— DEIXA ELA EM PAZ!! — ouvi o grito dele, minha única luz naquela escuridão.
Mais um estalo. Mais um gemido de dor vindo dele.
Com lágrimas escorrendo e o rosto deformado pelo sofrimento, juntei as mãos como se ainda houvesse alguma misericórdia naquele inferno.
— Por favor... eu vou arrumar minhas coisas. Mas a senhora promete que não vai bater mais nele? Por favor... — implorei, engolindo o orgulho que já não existia.
Ela me encarou com desprezo antes de responder com frieza:
— Serei bondosa pela última vez na sua vida. Agora vá antes que eu mude de ideia.
Corri o mais rápido que pude em direção às escadas. Mas, claro... não podia terminar assim.
Vivian esticou o braço e me impediu de passar. Seu olhar brilhava de sadismo.
— Não tão rápido, esquisita. — disse com escárnio.
E sem aviso, me deu um tapa no rosto. Alto. Preciso. Como se quisesse deixar sua marca ali para sempre. Ela sorriu, satisfeita, enquanto eu apenas baixava a cabeça e chorava em silêncio. Não havia forças para revidar. Só dor.
Passei por ela com o pouco de dignidade que me restava e fui até o que um dia chamaram de meu quarto. Um cubículo imundo, fedendo a abandono. Um lugar onde até o silêncio era cruel.
\_**Fim do Flashback**\_
Dimenticare (esqueça)
Fechei os olhos e adormeci.
Na manhã seguinte, despertei cedo — o relógio marcava 6:10. Levantei-me, fui até o closet e separei um conjunto, deixando-o cuidadosamente sobre a cama. Em seguida, dirigi-me ao banheiro, onde fiz minha higiene e aproveitei para tomar um banho demorado. Após secar o corpo, segui até minha penteadeira e fiz uma maquiagem neutra. Vesti-me, finalizei com meu perfume favorito e escolhi acessórios e sapatos à altura.
Assim que cruzei as portas do quarto, o aroma da comida de Dulce invadiu meus sentidos. Ela sempre foi uma cozinheira de mão cheia.
Ao chegar na cozinha, fui direto pegar um copo de leite.
— A garota já acordou? — perguntei enquanto abria a geladeira.
— Ainda não, senhora — respondeu Dulce.
— Avise que passo aqui antes do almoço para levá-la ao psiquiatra.
— Sim, senhora!
Mordi uma maçã enquanto esperava ela montar meu prato.
— O cheiro está divino, como sempre, Dulce.
Ela sorriu, um tanto tímida:
— Obrigada, senhora Emilly.
Assim que o prato foi servido, devorei cada garfada como se fizesse dias que não comia. Ao terminar, deixei o prato na pia e segui até a garagem.
Era hora de enfrentar mais um dia.
Como havia combinado com Guilherme de encontrá-lo na sede, escolhi meu Impala — um clássico que o fazia babar toda vez que me via com ele.
Acendi um cigarro e entrei no carro, conduzindo pelas ruas ao som da minha ópera favorita.
Ao chegar, avistei Guilherme à distância, fumando seu charuto como de costume. Desci do carro e caminhei até ele. Antes de me aproximar por completo, engatilhei minha arma e apontei em sua direção.
A sua risada ecoou pelo lugar.
— Você não muda nunca, menina!
— Passa tudo, seu velho — retruquei, mantendo a mira firme.
— Velho? Sua pirralha insolente, vou te mostrar quem é o velho — respondeu ele, sacando a própria arma.
Ficamos ali, um de frente para o outro, armados, como se fosse uma brincadeira íntima entre inimigos de longa data.
— Continua atrevida — comentou ele com um meio sorriso.
— E você, um velho babão. Cadê as suas namoradinhas?
— Você sabe que isso não é pra mim.
— Nem pra mim — respondi, séria.
— Mas, ao contrário de você, eu não tenho que dar um herdeiro pra máfia. — retrucou ele sério.
— Não vou mais precisar fazer isso...
— Vai matar os conselheiros, é?
Ele sorriu, achando graça da ideia, mas continuei séria e em silêncio.
— Espera... não me diga que você vai mesmo fazer isso? — A tensão se instalou em seu rosto.
Dei um sorriso irônico, frio.
— Ainda não. Mas tenho um plano pra fazer esses velhos pararem de encher o meu saco.
— E que plano seria esse?
— Vou adotar uma garota.
Guilherme arregalou os olhos, surpreso.
— Você sabe que o conselho jamais vai aceitar isso, não é?
— E por quê não? Eu também fui adotada pelo "papi".
— Aquilo foi exceção. Estávamos em crise, sem herdeiro, e o antigo Don não podia mais gerar filhos... Diferente de você, jovem, saudável...
— O problema é que eu não quero colocar um filho meu nesse meio — falei com firmeza.
— Compreendo... Mas o conselho não quer nem saber.
— É aí que entra meu plano B: vou dizer que ela é minha filha biológica, que a perdi quando ainda era pequena. E que foi por isso que nunca quis ter outro filho — não suportaria tirá-la do lugar de direito.
Guilherme soltou uma risada abafada.
— O conselho vai surtar com mais uma mulher no comando... Tomara que ela tenha pulso firme como você, porque aqueles velhos vão jogar sujo.
— Eu vou treiná-la.
— E você sabe que tem meu apoio. Sempre soube. Você é como uma filha pra mim, Emilly.
— E você é o meu salvador — respondi com um leve sorriso.
Ele assentiu em silêncio. Em seguida, adentrei a sede da máfia com os pensamentos girando em torno do plano. Eu precisava ser convincente.
Organizei alguns documentos, agendei a reunião com o conselho para as 16:30 e, depois, fui para a minha empresa. Trabalhei até o meio-dia, então retornei para casa — era hora de almoçar e levar Carol para fazer algumas compras. Agora, ela era a filha da chefe da máfia italiana. E teria que se portar como tal.
Ao chegar em casa, subi, tomei outro banho, almocei com a Carol e depois, fui até o closet escolher uma roupa. Como sempre, optei por algo social. Quando desci as escadas, para a minha sorte, ela já estava pronta.
— Vamos?
Ela assentiu, e juntas seguimos para nossa primeira saída oficial: um banho de loja digno do título que ela carregaria a partir de agora.
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Atualizado até capítulo 82
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