_Emilly_
Assim que cheguei, fui recebida como a verdadeira dama da máfia que sou. Entrei com Eduardo direto para a área VIP, e lá estava ele — ninguém menos que o broxa do Alexandre Henrique, meu cliente apaixonado e completamente perdido por mim.
Tomara que ele não estrague minha festinha, ou serei obrigada a sacar minha Desert da bolsa.
Sentei-me com Eduardo em um sofá felpudo e, logo em seguida, uma das garçonetes se aproximou.
— Boa noite, madame... O que vão querer?
— Me manda um bom e velho whisky — respondi sem tirar os olhos do salão.
— Já começou a ser a alma sem graça da noite — provocou Eduardo.
— Quer levar uma bala na cara, meu caro Consigliere?
— Não, obrigado. Vou de tequila mesmo...
A garçonete, já tremendo, anotou os pedidos e saiu quase correndo.
— Precisava assustar aquela gostosa? — murmurou ele.
— Então fica longe de mim.
— Só vou sair do seu pé quando encontrar um rabo de saia decente.
— Você não presta.
— Aprendi com a minha Don da máfia.
Dei um sorriso sarcástico e voltei a mexer no celular, procurando alguma mensagem da Carol. Foi então que senti Eduardo me cutucar, me tirando do meu silêncio com irritação.
— Olha lá na frente... não é o cara que você usou recentemente?
Levantei os olhos e vi Alexandre se agarrando com uma stripper enquanto acariciava a bunda dela. Tudo isso sem parar de me encarar.
— Eu não uso ninguém.
— Quantos ele aguentou?
— Uns sete ou oito orgasmos. Não sou obrigada a memorizar detalhes de terceiros...
— E ainda diz que não abusou do coitado. Aposto que ficou apaixonadinho como todos os outros.
— Já era esperado. E, para constar, ele não aguentou nem um terço do que eu queria.
Voltei a olhar para o celular, entediada.
— Você só pode ser uma máquina. Isso não é normal.
— Sou uma máquina... de matar — respondi com um sorriso irônico.
— Ele tá se corroendo de raiva por você ignorar o teatrinho dele. Hahaha... que otário.
— Homens são assim.
— Assim você me ofende.
As bebidas chegaram. Fechei os olhos, apreciando o gosto do whisky queimando minha garganta, quando percebi que Eduardo já não estava mais ali.
Deve ter arranjado um “rabo de saia decente.”
Suspirei, jogando a cabeça para trás enquanto a música do lugar martelava meus ouvidos.
Preferia estar em casa ouvindo Beethoven.
Foi então que senti uma mão grosseira pousar em meu ombro. Ao me virar, vi um homem bêbado e completamente fora de si. Ele desceu a mão até meu peito e sussurrou:
— Você vai ser minha hoje, gracinha...
Sorri. Um sorriso sombrio.
Sem me mover muito, saquei a Desert da bolsa e estourei a cabeça dele com um único disparo, sendo banhada por sangue até na boca. Encostei-me de volta no sofá, saboreando o gosto metálico misturado ao whisky. Dei umas leves mordidas no ar, imaginando pedaços de carne, enquanto a gritaria irrompia ao meu redor. Gritos, pânico, correria...
O medo humano... é o maior escudo de todos.
_Flashback_
Sou apenas uma criança. Mas este lugar… este inferno manchado de sangue… já me forjou em algo além da infância.
A lama suja gruda na minha pele, misturada ao cheiro metálico do sangue fresco que empesta o ar. Ao meu redor, pequenos corpos se chocam como bestas desgovernadas — crianças se matando com selvageria, como se a humanidade tivesse sido arrancada de nós antes mesmo de florescer.
Fico imóvel no centro do caos, meus pés afundados na terra molhada, os olhos vidrados na carnificina. Sinto o calor do meu próprio sangue escorrendo por um corte profundo na barriga. A dor pulsa, mas é o menor dos meus problemas.
Então, ela surge. Uma menina de olhos arregalados e alma dilacerada, corre na minha direção com uma adaga em punho. Seus gritos rasgam o ar, mas não sinto medo — só o silêncio que antecede o colapso.
Endureço a postura. Meus músculos, ainda infantis, se tensionam num instinto brutal de sobrevivência. No momento em que ela ataca, giro o corpo, agarro seu pulso e, com frieza, uso sua própria arma contra ela.
O aço entra fundo. Seus olhos se encontram com os meus, cheios de choque, dor… e talvez um lampejo de compreensão. Gritos se misturam ao som seco da lâmina cortando carne. Mais sangue — quente, espesso, escorrendo pelas minhas mãos.
Não penso. Não hesito. Avanço como uma sombra faminta por justiça ou vingança — ou talvez por algo que nem sei nomear.
Eu era apenas uma criança. Agora… sou uma fera nascida do massacre.
_Fim do flashback_
Abro os olhos e encontro Eduardo parado à minha frente, com expressão de tédio.
— Tinha que acabar com a minha diversão?
— Existe algo mais divertido do que explodir a cabeça de um estuprador?
— Você tem razão. Mas eu já estava quase resolvendo... com meios menos drásticos.
Dei um sorriso zombeteiro, finalizei meu whisky e me levantei.
— Vamos. Tenho um racha para vencer.
Saímos da boate sob gritos e caos. Ao me aproximar do carro, senti uma mão no ombro. Girei lentamente, reconhecendo a voz antes mesmo do rosto.
— Eu não disse que não gosto de contato físico?
Era Alexandre.
— Quando eu te f*** naquela noite, você não parecia se importar com isso — retrucou, cínico.
— Correção: eu te f***. Você, como os outros, foi apenas um caso descartável.
O olhar dele queimava de raiva.
— Isso não vai ficar assim. Vou te denunciar por homicídio...
Soltei uma gargalhada. O som ecoou pelo estacionamento.
— Faça isso. E diga que foi Emilly Barbieri Vizzini quem atirou.
Deixei-o parado ali como o idiota que é. Entrei no carro. Eduardo me seguiu no dele. Partimos rumo ao nosso local secreto de racha.
Já passava da meia-noite. O céu carregado, a rua deserta e coberta por uma neblina espessa. Alinhamos os carros lado a lado. Abri o vidro. Eduardo fez o mesmo.
— Essa belezinha vai ser minha hoje — disse ele, olhando meu Bugatti.
— Veremos, meu Consigliere... veremos.
Engatei a primeira. A adrenalina invadiu meu corpo. Saímos em disparada. A cada curva, o asfalto virava cenário de cinema. Eduardo tentava me ultrapassar, mas eu conhecia cada milímetro daquele percurso.
Chegando aos 420 km/h, ativei a turbina e deixei-o para trás. A curva perigosa se aproximava. Sabia que só havia uma chance. Puxei o freio de mão, virei o volante em 60 graus totais e senti o carro girar em uma perfeição infernal.
— Porra, é isso aí! Hahaha! — gritei, batendo no volante.
Coloquei "Gasolina" de Daddy Yankee para tocar. O motor uivava pedindo marcha. Passei a quarta. Um caminhão vinha na contramão.
Babaca.
Desliguei os faróis. Ele não me viu. Quando estava perto o suficiente, liguei os faróis de uma vez. O caminhoneiro desviou aos berros, buzinando. Abri o vidro e mostrei o dedo do meio com gosto.
Voltei a me concentrar na corrida. Eduardo tentava me alcançar, mas eu bloqueava qualquer brecha. Liguei para ele pelo painel do carro.
— Quem chegar por último é a mulher do padre.
— Então já vai preparando seu vestido de noiva — respondeu ele, rindo.
Rimos. Aumentei a música. Dançava no volante até que... meu sorriso morreu.
Homens armados. Vários. Na entrada da minha casa.
Liguei de novo para Eduardo.
— Para o carro!
— O quê?
— PARA ESSA MERDA, PORRA!
Frenamos. Ele correu até mim.
— O que foi, chefe?
— Tem um exército na frente da minha casa.
Ele olhou e arregalou os olhos.
— Vou chamar reforços.
— Não. Eu vou resolver isso.
— Chefe, eu sei que você é insana, mas esse tanto de cara… é demais até pra você.
Dou um sorriso torto, daqueles que precedem o caos, e sigo até o porta-malas do carro. Assim que levanto a tampa, meu Consigliere empalidece como se tivesse visto um fantasma.
— Agora tenho certeza. Você é completamente insana.
— Liga pros funcionários. Manda eles irem pro subterrâneo. Hoje… eu vou meter bala em tudo.
— Sim, senhora!
No porta-malas, repousava o arsenal dos infernos: uma bazuca reluzente, um míssil balístico de curto alcance, uma submetralhadora com pente estendido, dois fuzis automáticos e uma generosa coleção de granadas.
É… Acho que isso vai bastar.
— Pronto. Todo mundo em segurança. Qual vai ser o plano?
Pego a bazuca, coloco-a sobre o ombro e, enquanto recarrego com frieza, respondo:
— Plano? Simples. Tiro, porrada e bomba.
Ele cai na gargalhada, e me ajuda a ajustar o peso da bazuca sobre o ombro. Nossa sorte? Uma moita densa cobre nossa posição — os desgraçados lá fora nem sonham com a tempestade que está prestes a cair sobre eles.
— E o colete? Não vai usar?
— Tá no seu carro.
— Você quis dizer seu, no sentido de "emprestado", né?
— Não. Eu quis dizer seu, no sentido de "presente". Já que a nossa aposta foi interrompida por uma das minhas pontas soltas, pode ficar com ele.
Ele arregala os olhos, surpreso. Depois sorri.
— Eu já disse que você é a melhor chefe de todos os tempos?
— Não precisa puxar saco. A sorte é que eu não trouxe a Carol pra minha casa hoje… senão ia dar merda grande.
— Você vai mesmo destruir sua própria mansão por causa desses merdas?
— Eu tenho mansões espalhadas pelo mundo inteiro. Essa aqui?
É só mais uma peça no tabuleiro.
Além da fortuna da máfia, trilhões ainda dormem confortáveis nas minhas contas. Graças às minhas inúmeras empresas, sou uma bomba relógio com uma fortuna blindada.
Enquanto nos posicionamos, me lembro de um detalhe importante. Pego o celular no bolso e conecto à caixa de som central da mansão.
A música?
Beethoven – 5ª Sinfonia.
Clássico, imortal e apocalíptico.
Assim que os primeiros acordes ecoam pela propriedade, os homens se assustam. Apontam as armas pra frente da casa, tensos, nervosos…
Mal sabem eles que a morte está atrás deles — silenciosa, preparada.
Quando a música atinge o ápice… eu atiro.
A bazuca ruge como um dragão. O impacto é devastador. Corpos voam.
Chamas iluminam o céu.
A frente da minha mansão vira cinzas — junto com dezenas de almas mandadas direto pro inferno.
Eles giram em círculos, atônitos, como galinhas degoladas.
Gargalho alto jogando a cabeça para trás e o som ecoa entre os tiros.
Pego o míssil. Ativo. Programei tudo no controle. Olho para o Eduardo com um sorriso psicopata estampado no rosto e ele retribui com aquela risada demente.
Aperto o botão.
Explosão.
Fogo.
Sangue.
Concreto e carne voando juntos pelos ares.
A frente da mansão desaparece num clarão, junto com o que restava dos invasores.
Eu e Eduardo rimos até doer a barriga. A fumaça subia em espirais. O cheiro de pólvora, sangue e vingança tomava conta do ambiente.
Vejo alguns tentando fugir pelos fundos.
Ingênuos.
Pego meu colete, penduro a submetralhadora e parto com tudo, assobiando no ritmo da sinfonia como se estivesse numa dança infernal. Eduardo vem logo atrás, arma no ombro, com o sorriso maníaco de um verdadeiro Coringa da máfia.
Quando a carnificina termina, o silêncio domina. Restaram apenas corpos espalhados como lixo vencido.
Um único sobrevivente se arrasta no chão, gritando por misericórdia.
Mas aqui… misericórdia não tem espaço.
— Vou ser generosa... te dou a chance de morrer rápido.
— E-eu falo tudo, tudo o que a senhora quiser! Só... por favor, não me torture!
— Relaxe. Eu sempre cumpro minhas promessas.
(Só não disse que seriam boas.)
Lancei um olhar para o Eduardo e, sem precisar dizer nada, ele já entendeu o recado. Agarrando a perna do “sobrevivente”, começou a arrastá-lo pelos destroços ensanguentados da mansão como se fosse um saco de lixo imprestável. O infeliz gritava de dor, implorava, mas isso só me deu vontade de aumentar o volume da trilha sonora.
Chegando perto do que restou da sala principal, puxei uma cadeira velha dos escombros e indiquei com um gesto que Eduardo o sentasse. O miserável tremia tanto que parecia um peixe fora d’água. Engatilhei minha Desert Eagle e apontei direto para a cabeça dele, só para deixar claro que a paciência não era meu ponto forte.
As pernas dele balançavam nervosas, como se estivesse tentando voar dali. Ridículo. Virei os olhos.
— Isso tá me dando nos nervos...
Sem que eu precisasse pedir, Eduardo acertou um soco seco na cara do desgraçado, que ficou momentaneamente em silêncio. Agradeci com um sorrisinho cínico.
— Agora sim... muito melhor. Vamos lá, fala tudo o que sabe antes que eu mude de ideia e faça você dançar balé no meio das brasas.
— E-eu... eu recebi ordens de um dos conselheiros...
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Atualizado até capítulo 82
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