Bella Ciao

A faca passeia por minha nuca em linha reta, como se estivesse desenhando uma trilha de terror em minha pele, descendo com uma precisão assustadora por entre minhas vértebras ossudas. Cada movimento é calculado, lento, e perigoso, como se ele estivesse saboreando cada centímetro de minha agonia. Enquanto realiza esse macabro ritual, ele assovia a melodia sinistra de "Bella Ciao", uma canção que parece ecoar no ambiente sombrio como um prenúncio de minha própria desgraça.

Tic. Tic. Tic.

Parando na alça de meu top, sinto o tecido preto ceder sob a pressão da lâmina afiada, rasgando-se ao meio com um som angustiante. A melodia de "Bella Ciao" torna-se mais intensa, mais penetrante, enquanto ele continua sua sinistra serenata.

— "Una mattina mi son svegliato, O bella ciao, bella ciao..." — sua voz, carregada de um tom doentio, entoa os versos da canção mais alto agora, enchendo o ambiente com uma aura de ameaça iminente. — Bella Ciao, ciao, ciao...

A lâmina que o italiano empunha é rápida, precisa, cortando através do tecido fino de meu top preto e minha dignidade começa a desabar. A alça do top despenca, quase revelando um dos meus seios e sinto minha alma torturada. O som agudo que a faca produz à medida que avança sobre minha pele é como um grito silencioso de agonia.

De repente ele puxa os meus cabelos, segurando firme em um rabo de cavalo.

Quando meus fios ruivos, uma vez longos e sedosos, começam a cair no chão em um emaranhado de desolação, as lágrimas que tenho lutado para conter finalmente escapam de meus olhos. É um momento de rendição, um momento de desespero absoluto, enquanto ele vem dançando ao som da música macabra e para na minha frente, segurando um tufo grosso de fios ruivos.

Tic. Tic. Tic.

Tudo isso parece bem mais cruel do que todos os filmes de terror que já assisti. Por um momento tudo fica silencioso, apenas com a melodia hipnótica das gotas de água no plano de fundo e claro, meu choro silencioso. As lágrimas são quentes enquanto escorregam devagar em minhas bochechas, sinto todo o sangue de meu corpo subir para as bochechas. Estou transitando por tantos sentimentos que irei explodir a qualquer momento.

O ordinário se aproxima mais de mim, a centímetros do meu rosto, seus olhos escuros me perfurando enquanto ele se permite uma pausa em sua cruel execução. Com um sorriso sádico nos lábios, ele começa a misturar italiano e português, criando uma atmosfera ainda mais intimidadora.

— Ah, bela ragazza, seu cabelo... cheiroso, muito cheiroso. Cheira... como maçã verde, tão doce, tão fresco. — Sua voz soa como uma serpente sibilante, suas palavras uma mistura sinistra de elogio e ameaça.

Com mãos ávidas, ele agarra um tufo do meu cabelo ruivo, trazendo-o até o rosto com um movimento brusco. Seu nariz se entranha nos fios macios, inalando o aroma que emana deles com uma intensidade quase obsessiva. Para mim, é uma sensação de invasão, uma violação de minha intimidade que me deixa ainda mais vulnerável diante desse monstro mascarado de homem.

Tic. Tic. Tic.

Já é noite e o ar fica carregado com a tensão palpável, enquanto Vince continua a inspecionar cada detalhe de sua prisioneira, seu sorriso predatório indicando que ele está apenas começando a explorar os limites de sua crueldade.

— Chega Vince, essa não foi a ordem que eu lhe dei. — A voz masculina e autoritária surge por trás do holofote. — Dessa vez você passou dos limites. — o sotaque italiano é forte, provavelmente alguém da mesma escória desse monstro.

A expressão do tal Vince muda completamente, de um psicopata a uma criança que a mãe acabou de mandar parar de brincar e guardar os brinquedos. Ainda com os meus cabelos nas mãos ele revira os olhos em deboche antes de se virar para trás em completa frustração.

— Mas eu estava apenas começando, primo...

A presença do homem misterioso parece cortar o ar pesado como a lâmina afiada usada a poucos minutos, interrompendo o jogo sinistro de Vince. Seus olhos se estreitam em desgosto enquanto ele solta meu cabelo, enchendo o chão pegajoso com fios avermelhados, suas mãos caindo ao lado do corpo em um gesto de submissão relutante.

— Sinceramente... Sei malato, psicopatico! — ele o repreende. — O que diabos você tem na cabeça? Merda?

— Desculpe, chefe. Eu só estava... me divertindo um pouco. — a voz de Vince soa quase infantil, uma tentativa patética de se redimir diante da autoridade que acabou de se impor.

Após o homem desligar o holofote ele sai por trás do aparelho e avança na direção de Vince, seu semblante grave e imponente. Ele não precisa dizer uma palavra para transmitir sua autoridade; está claro que ele é quem comanda o show. É um coroa baixinho e barrigudo, com um bigode grisalho que segura um cigarro.

— Você sabe muito bem o que eu disse. Isso não é um jogo, Vince. Você está aqui para cumprir ordens, não para satisfazer seus caprichos sádicos. — Sua voz é firme, implacável, ecoando no espaço silencioso da sala. — Agora solte-a e vá buscar água para ela. Temos assuntos mais importantes para discutir com a senhorita Leone.

Vince murmura alguma coisa inaudível e obedece a ordem imediatamente, ainda sinto calafrios todas as vezes que ele decide se mexer. Mas quando ele solta a corda grossa de sisal que prendiam os meus pulsos eu só consigo pensar em uma coisa: correr. Imediatamente levanto-me da cadeira e tento correr, mas não vou muito longe, acabo tropeçando em um dos detritos de pedra e caiu de cara no chão. Minhas bochechas colam em uma mistura de lodo e água.

Com um último olhar de desdém na minha direção, Vince obedece, recuando para a sombra onde pertence. Sinto um alívio momentâneo ao vê-lo se afastar, mas sei que a presença do homem misterioso não significa necessariamente um final feliz para mim. Pelo contrário, parece que as coisas estão apenas começando a ficar complicadas.

O coroa joga o cigarro no chão e pisa em cima com o seu sapato social, fazendo a fumaça desaparecer lentamente. Seus passos ecoam pelo ambiente sombrio, e eu me assusto, tentando me levantar, mas estou fraca, e tudo que consigo é me arrastar para o canto da parede de cimento, que está manchada de sangue seco. O cheiro metálico domina o ar, tornando tudo ainda mais sufocante.

"Que lugar horroroso é esse que eu me encontro?!"

Ele se aproxima com uma calma que contrasta com o ambiente tenso, estendendo a mão em um gesto de ajuda. Sua voz soa suave, quase reconfortante, rompendo o silêncio pesado da sala.

— Não tema, bambina, vou te levar para casa. — sua expressão é calma, seus olhos transmitindo compaixão genuína.

Não aparentemente gentil como a de Vince, realmente amigável. Mas, a esse ponto, não confio em mais ninguém.

— Sua mãe está esperando ansiosamente por você, Kaya Leone. — o italiano completa, seu tom agora carregado de esperança.

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Comments

Anonymous

Anonymous

Será que a mãe dela está viva? tomara!

2024-03-10

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