De Novo Não

Só de pensar no discurso autoritário que ele fará amanhã, minha orelha já começa a queimar. Estou cansada de ser tratada como uma criança. Já tenho dezoito anos e não faço nada que uma garota da minha idade não tenha feito mil vezes. Estou mais do que disposta a enfrentá-lo. Ele pode ter vinte e três anos e achar que pode bancar o meu pai, mas não substitui meu verdadeiro pai nem um pouquinho.

Ainda me perguntava como poderia lidar com a situação em casa. Dario não era exatamente o melhor dos irmãos, mas era tudo que eu tinha. Desde que nossos pais faleceram em um acidente de carro há cinco anos, ele assumiu a responsabilidade por mim. Mas isso não significava que nossa relação fosse harmoniosa. Longe disso.

Dario, com sua postura fria e calculista, muitas vezes me lembrava de uma sombra silenciosa que pairava sobre nossa casa, sempre observando, sempre analisando. Sua presença era marcada por uma aura de distância e indiferença, tornando difícil para mim decifrar suas verdadeiras intenções e emoções.

Apesar de raramente mostrar explosões de temperamento, quando o fazia, era como uma tempestade repentina que assolava nossa casa, deixando um rastro de destruição emocional em seu caminho. Era nessas ocasiões que eu me via à mercê de sua frieza implacável, uma vítima de sua habilidade de manipulação e controle.

No entanto, por mais complicada que fosse nossa relação, havia uma pontada de gratidão em meu coração por ele estar lá, mesmo que de uma maneira imperfeita. Ele havia assumido um fardo pesado ao se tornar meu tutor legal, e por mais que eu o ressentisse às vezes, não podia ignorar o fato de que ele havia sacrificado muito para cuidar de mim.

Mas, apesar de tudo, a sombra do passado ainda pairava sobre nós, uma lembrança constante das perdas que havíamos sofrido e das cicatrizes que carregávamos. E enquanto eu lutava para encontrar meu lugar nesse mundo tumultuado, sabia que não podia fazer isso sozinha. Por mais complicada que fosse nossa relação, Dario era minha âncora, minha única conexão com um passado que parecia cada vez mais distante.

Caminhando pelas ruas silenciosas da madrugada de Nova York, as luzes da cidade lançavam sombras dançantes ao meu redor. Os arranha-céus pareciam se inclinar em direção ao céu escuro, suas janelas brilhantes testemunhando silenciosamente a agitação do mundo abaixo. O ar noturno era fresco e revigorante, mas a sensação de solidão que me acompanhava era opressiva.

À medida que avançava pelas calçadas vazias, o som distante dos carros ecoava ao meu redor, criando uma trilha sonora para minha jornada solitária. As sombras se contorciam e se esticavam conforme eu passava por postes de luz intermitentes, criando uma dança hipnótica que me fazia questionar minha própria sanidade. Eu estou bêbada, deve ser essa a explicação.

Mergulhada em meus pensamentos e determinada a enfrentar o que quer que o destino tenha reservado para mim, relembro os eventos de cinco anos atrás, daquela noite fatídica que mudou tudo. O eco das sirenes ecoava na rua escura enquanto as luzes da ambulância piscavam freneticamente, pintando um cenário de caos e desespero. Meu coração parecia um tambor ensurdecedor enquanto eu observava, impotente, os paramédicos correndo para socorrer meu pai, preso nas ferragens retorcidas do carro. O ar pesado de incerteza pairava sobre nós enquanto esperávamos por notícias, mas nenhum conforto chegava. E então veio a devastadora confirmação: meu pai não sobrevivera ao acidente.

Enquanto ando, as lembranças da festa invadem minha mente, misturando-se com as preocupações sobre o que acontecerá quando eu finalmente voltar para casa. Suni ficará furiosa comigo por ter desaparecido assim? Draco vai me dar um sermão interminável sobre responsabilidade e segurança? Essas perguntas ecoam em minha cabeça, alimentando minha ansiedade crescente.

Decido pegar um atalho pelo central park, esperando que a calma da natureza me ajude a acalmar meus nervos. No entanto, o silêncio opressor e a escuridão densa do parque só servem para aumentar meu desconforto. Cada sombra parece esconder um perigo em potencial, e minha imaginação começa a se descontrolar, pintando cenários cada vez mais sombrios em minha mente.

Procuro por meu celular no bolso, caso eu precise ligar para a emergencia.

"Droga, devo ter deixado na festa."

De repente, ouço um barulho atrás de mim e me viro rapidamente, meu coração batendo forte no peito. Mas não vejo nada além de árvores balançando ao vento e arbustos mexendo-se com a brisa noturna. Respiro fundo, tentando acalmar meus nervos, mas a sensação de que estou sendo observada não desaparece.

Continuo meu caminho com passos rápidos, cada vez mais ansiosa para chegar em casa. A noite parecia mais densa ao meu redor, como se o próprio ar estivesse carregado de uma energia sinistra. Foi nesse estado de confusão e vulnerabilidade que me tornei uma presa fácil.

De repente, uma sombra surgiu do nada, uma presença ameaçadora que me deixou paralisada de medo. Antes que eu pudesse reagir, uma mão forte tapou minha boca, abafando qualquer grito que tentasse escapar. Em questão de segundos, fui arrastada para a escuridão, para um destino desconhecido.

Os gritos de socorro se perderam no vazio da noite, abafados pela mão que me prendia. Meus olhos arregalados buscavam desesperadamente por uma saída, mas tudo o que eu via era escuridão e sombras distorcidas.

Meu coração batia descontroladamente no peito, cada pulsação ecoando como um tambor ensurdecedor em meus ouvidos. A sensação de impotência era avassaladora, uma prisão invisível que me aprisionava em um pesadelo sem fim.

"Que porra é essa?" Só consigo pensa, confusa com tudo que acabou de acontecer.

A sombra que me arrastava para a escuridão permanecia em silêncio, seu aperto firme e implacável. Então, em meio ao caos da minha mente em pânico, uma voz rouca penetrou no vazio da noite.

— Não ouse gritar, ou pode ser a última coisa que você fará — sussurrou o sequestrador com uma ameaça mal disfarçada em sua voz.

Um objeto gelado encostou na parte inferior da minhas costas, onde o tecido do meu top não cobria. Senti calafrios pela minha espinha, ecoando a certeza de que eu estava nas mãos de alguém impiedoso. A simples presença dessa voz era como uma sentença de morte, uma confirmação sombria de que eu estava completamente à mercê de um destino desconhecido.

Eu gostaria de ser corajosa o suficiente para reagir. Inteligente o sufiente para pensar em lago mirabolante que me permita escapar. Deus... Eu gostaria de ser forte para dar uma cotovelada nos testiculos desse imbecil.

"Mas tudo o que sou é... fraca." Lágrimas começam a se formar nos meus olhos.

Se eu conseguir escapar disso, prometo a mim mesma que jamais deixarei algo assim acontecer novamente. Nunca.

"De novo não, por favor" pensei, lembrando da noite traumática que "Ele" levou meus pais, implorando silenciosamente por um milagre que me libertasse daquele terror iminente.

Mas no fundo, eu sabia que estava sozinha, à mercê de um psicopata.

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Comments

Heloísa Lima Santos

Heloísa Lima Santos

mas ele não é 5 anos mais velho que ela? então deveria ter 23 e não 28 anos.

2024-03-15

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