PARTE I — MENTIRAS

...PARTE I — MENTIRAS...

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5 anos depois...

"Desde a unificação dos Estados Unidos ao Canadá, a estabilidade econômica e a quase extinção da onda de violência, têm sido notáveis. No entanto, as duas principais máfias em atividade, Matazzo e Bratva, têm representado um desafio significativo para as autoridades nos últimos anos. O mais recente caso envolvendo uma ameaça dos Matazzo é motivo de preocupação para os governantes..."

A voz da jornalista ecoava no quarto pequeno, mesclando-se ao chiar da televisão, onde imagens de tumultos nas ruas do Brooklyn acompanhavam suas palavras. Seus olhos transmitiam uma mistura de seriedade e preocupação, enquanto ela detalhava os confrontos entre as facções rivais, cada uma lutando por controle e poder naquele que já fora um bairro pacífico.

Troquei de canal em busca de algo mais leve, mas meus pensamentos não conseguiam se desviar completamente da tensão que permeava o ar. Suni, minha amiga do ensino médio e parceira de todas as confusões, estava sentada no sofá, mexendo em sua maquiagem como se estivesse se preparando para uma batalha.

— Oh, céus! Você não vai aplicar nada no rosto? Assim vai assustar todo mundo na festa. — Suni comentou, passando uma base com uma tonalidade muito mais clara do que sua própria pele, ficando parecida com o Gasparzinho.

— E quem disse que eu estou pensando em ir?! — respondi, desistindo da busca pelo reality das Kardashians e me jogando na cama.

Suni soltou um suspiro dramático, sua expressão de incredulidade evidente.

— Não, você não pode me deixar ir sozinha. E se o Lucca estiver lá? Você conseguiria viver sabendo que deixou sua melhor amiga ir a uma festa onde o ex está? Sozinha? SOZINHA!

Revirei os olhos diante da dramaticidade dela, mas no fundo sabia que ela estava certa. Uma verdadeira amiga é o escudo de ex da outra.

— Você sabe que o Dario não vai me deixar ir a essa festa. Da última vez, cheguei em casa às dez da manhã — comentei, encarando o teto.

Eu estava passando por uma fase de querer liberdade. Mas meu tutor não deixava de jeito nenhum.

— Isso não importa. Você já vai fazer 18 anos e é quase maior de idade, não precisa mais de um babá ou de alguém para ficar no seu pé. — Ela disse se jogando na cama, fazendo um bico enorme nos lábios vermelhos.

Após muitas lágrimas e argumentos convincentes, acabei cedendo ao drama de Suni e permitindo que ela me arrumasse para a festa. Algumas horas depois, eu me olhava perplexa no espelho do banheiro, parecendo uma pessoa completamente diferente, totalmente produzida.

As batidas na porta do quarto me tiraram de minha contemplação, e logo ouvi uma voz familiar chamando meu nome.

— Kaya?

A voz conhecida me fez congelar instantaneamente. Sabia que estava prestes a enfrentar problemas. Era o Dario, meu irmão mais velho e guardião auto-designado, e se ele me visse com esta roupa curta, todo o meu plano de escapar despercebida seria arruinado.

— Ela está na cozinha... — Suni mentiu, com um tom ligeiramente desconfiado.

Tentei fechar a porta do banheiro com o pé, rezando para que se fechasse sem chamar a atenção de Dario. Mas era inútil quando se tratava da pessoa mais observadora do mundo.

Poucos segundos depois, a porta foi escancarada, com um homem totalmente perplexo diante de mim.

— Er, Oi Draco, meu amor. — falei, tentando disfarçar, mas meu sorriso era tão forçado quanto possível.

— Que tipo de festa do pijama as garotas passam um quilo de maquiagem na cara e usam uma saia que nem cobre a bunda?! — Sua voz soava rouca, revelando sua incredulidade.

— Ei, eu nem me maquiei tanto assim, e essa roupa eu comprei há pouco tempo e normal que...

— Comprou em alguma loja para prostitutas? — Ele soltou a frase com um tom de desaprovação.

Encarei-o, sem acreditar nas palavras que acabaram de sair de sua boca, sentindo o calor subir ao rosto e minhas bochechas corarem.

— Só um minutinho. — Suni ergueu a mão, expressando curiosidade. — Existe mesmo uma loja para prostitutas?

Gostaria de rir com o comentário da minha melhor amiga, porém, meu sangue estava quase fervendo. Eu guardo muito coisa acumulada nesses anos, odeio quando sou tratada como uma criança.

— Você é um idiota! — minha voz sai um pouco trêmula.

Eu levanto a mão, pronta para desferir um tapa em seu rosto, mas com um reflexo rápido e surpreendente, ele agarra meu pulso, apertando-o com força. Sinto uma mistura de dor e indignação enquanto meus olhos ardem, e a raiva se torna evidente em meu semblante. Ele solta minha mão de maneira rude, um sorriso malicioso brincando em seus lábios. Recuo instintivamente, encostando-me na parede mais próxima, sentindo-me amedrontada pela súbita agressividade.

— Eu quero ver você dormindo em menos de trinta minutos. — ele fixa seu olhar em mim, sua voz firme e autoritária. — E não ouse sair para nenhuma festa, se não...

Olha só o que esse idiota está falando. Nossa diferença de idade é bastante notável, mas ele não é meu pai, e nunca será.

— Se não o que? Eu não sou nenhuma criança, e você pode parar de agir como se fosse meu pai.

Ele estreita os olhos, me encarando por alguns segundos antes de virar as costas e sair do quarto, trancando a porta atrás de si. Não reconheço mais o Dario que conhecia, o amigo doce e amigável. Desde o acidente, ele assumiu a responsabilidade de me criar, tornando-se um homem mais sério e autoritário. Ele não é mais meu amigo de infância, mas sim um guardião determinado a assumir o papel de pai para uma garota cinco anos mais nova.

— Tá tudo bem, amiga? — Suni aparece na porta do banheiro, preocupada. — Você está chorando?

— Eu o odeio, odeio a pessoa que ele se tornou — digo com raiva.

— Então não vai mais ter festa? Suni vai ter que ficar aqui trancada com você? Poxa, estamos tão gatas!

A tentativa de Suni de amenizar a situação com seu humor peculiar não consegue me acalmar.

— Está brincando?! Agora que nós vamos mesmo! — digo, limpando um pouco o lápis de olho que ficou borrado graças a uma lágrima que escorreu.

— Okay, senhora rebeldia, mas como vamos? — Suni pergunta, desafiando-me com um sorriso travesso nos lábios.

Olho para ela com um sorriso no rosto, já tramando nossa fuga. Esquematizo um plano em minha cabeça que, na teoria, parece ser infalível, e logo o colocamos em prática. Minutos depois, apagamos as luzes e ficamos o mais quietas possível, andando silenciosamente em direção à janela do quarto. Destravo a janela com cuidado para não fazer barulho, coloco vagarosamente a cabeça para fora para avaliar a altura até o chão. "Ufa!" agradeço mentalmente por não morar em uma casa de dois andares. Posiciono minhas pernas para fora e dou um leve impulso para cair sobre a grama. Enquanto ainda estou me levantando para limpar os joelhos, sinto um impacto vindo de cima. Suni.

— Ai! Você tá doida? — reclamo, passando a mão na parte afetada da cabeça.

— Desculpa, Ka do meu coração. — Ela se desculpa, ajudando-me a levantar. — Eu sinto muito mesmo, mas você estava...

Seu olhar para em um ponto fixo logo à frente.

— A-aquele homem é q-quem eu estou pensando q-que é? — Seu dedo treme ao apontar uma figura na varanda escura da casa.

Sigo o olhar para a mesma direção e me assusto ao ver uma sombra na porta da frente. Puxo minha amiga rapidamente para um canto escuro, afim de nos esconder, e já estou arrependida de ter me entregado à ideia de fuga. Se for realmente Dario, estou mais do que morta; estou é sem celular por um mês. Ele é determinado quando o assunto sou eu.

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