O Predador

Tic. Tic. Tic.

Gotas pingando no que parece ser alguma superfície de metal ecoam pelo ambiente, criando uma sinfonia gotejante que se mistura com a névoa confusa em minha mente. Cada pingar parece uma gota de tormento, martelando implacavelmente meu crânio como se ele fosse quebrar em milhões de pedacinhos, intensificando a dor aguda que irradia de minha cabeça.

Tic. Tic. Tic.

"Ai. Por que doe tanto?"

Desperto da semi-consciência, mas logo fecho os olhos novamente, incapaz de suportar a luz que irrompe através das pálpebras. A claridade é tão intensa que sinto como se estivesse encarando o sol em seu auge, incapaz de discernir onde termina o brilho e onde começa a escuridão.

Tic. Tic. Tic.

Tento mover minha mão direita em direção às têmporas, buscando alívio para a dor lancinante que me consome. No entanto, descubro com uma sensação de impotência que minhas mãos estão firmemente amarradas atrás de mim, o que só intensifica o desconforto pulsante que emana de meus pulsos aprisionados.

"Mas que merda é essa?"

A pergunta fica presa em minha garganta seca, uma brasa ardente, como se eu tivesse tomado um litro de vodka de uma vez só.

— Bom dia bela adormecida. — A voz soa atrás de mim, cortante como uma lâmina afiada, e meu corpo inteiro se estremece com o impacto de suas palavras. — Dormiu bem, princesa?

Não posso deixar de notar o toque sarcástico e áspero na última palavra, uma sugestão de desprezo que paira no ar pesado ao meu redor.

Sinto um calafrio percorrer minha espinha ao ouvir suas palavras, malícia. Tudo o que ele diz soa tão familiar que não consigo ignorar. Começo a lembrar daquele tom de voz. Foi na noite anterior? Há alguns dias? Não me lembro ao certo, estou tão fraca que não consigo pensar com clareza.

Tic. Tic. Tic.

— Onde estou? O que você quer? — Minha voz sai trêmula e fraca, mas luto para manter a compostura diante do desconhecido.

— Calma, calma... Tudo a seu tempo, ruivinha. — Sua voz soa suave, quase reconfortante, se não fosse pela lembrança da arma fria que pressionou contra minhas costas na noite anterior. Não consigo evitar a sensação de que estou diante de um predador pronto para atacar. — Você está exatamente onde deveria estar. No lugar certo, na hora certa. E o que eu quero... Bem, isso é uma longa história.

Luto para manter meus olhos abertos, forçando-me a encarar o ambiente ao meu redor. O ar é pesado e úmido, como se estivesse saturado com a umidade do mundo exterior. O cheiro de mofo e sujeira invade minhas narinas, causando-me náuseas e uma sensação de repugnância. As paredes ao meu redor estão manchadas com marcas escuras e vermelhas. Seria sangue? 

O chão está coberto por uma camada espessa de poeira e detritos, fazendo com que cada passo ele dá ao meu redor produza um som abafado e sinistro. Posso ouvir o som distante de ratos roendo e rastejando pelas sombras, tornando a sensação de repulsa ainda mais intensa. A luz intensa não é natural, talvez um holofote propositalmente direcionado a mim. Cada segundo que meus olhos permanecem abertos é uma batalha contra a aversão física que ameaça dominar-me, e fecho-os novamente com um suspiro de alívio, desejando estar em qualquer outro lugar que não aqui.

Tic. Tic. Tic.

— Você é uma peça importante em um jogo muito maior, minha querida. Uma peça que pode mudar tudo. — Sua voz soa como um sussurro ameaçador, ecoando nas paredes frias e úmidas do ambiente desconhecido.

— Eu não entendo... — murmuro, lutando contra a confusão e o medo que se agitam dentro de mim.

— Claro que não entende. Não esperava que entendesse. Apenas saiba que suas escolhas, ou a falta delas, terão consequências. — Sua mão vestida em uma luva de couro frio está acariciando minha bochecha, sua respiração quente atingindo meu rosto.

Eu recuo instintivamente, meu coração batendo descontroladamente dentro do peito enquanto tento desesperadamente encontrar uma saída para essa situação terrível.

— Por favor, me deixe ir. Eu não fiz nada para você. — Minha voz vacila, quase se perdendo no ar pesado e carregado de ameaças.

Ele solta uma risada baixa e cruel, como se estivesse se divertindo com minha agonia.

— Não se trata do que você fez, mas do que você representa, Kaya. E agora, você pertence a mim. A Família nunca esquece de cobrar dívidas, minha querida. Nunca.

Tic. Tic. Tic.

O som contínuo das gotas pingando preenche o silêncio opressivo enquanto minhas mãos amarradas formigam de desconforto. A névoa da dor ainda envolve minha mente, mas uma chama de determinação começa a brilhar dentro de mim.

— Eu não pertenço a você, a ninguém! — Minha voz soa mais firme, alimentada pelo desespero e pela raiva que borbulham dentro de mim.  

Ele me encara com um olhar gélido, seus olhos faiscando com uma mistura sinistra de desdém e diversão.

— Kaya, Kaya, Kaya... Tsc. — Ele suspira profundamente. — Você ainda não compreende. Mas logo entenderá. — Sua voz ecoa no ambiente, envolvendo-me como uma sombra ameaçadora.

Respiro fundo, tentando controlar minhas emoções tumultuadas. Preciso encontrar uma maneira de escapar dessa merda de situação antes que seja tarde demais. Meu coração martela no peito, mas uma determinação feroz se apodera de mim.

— O que você quer de mim? Por que me trouxe aqui? — Minhas palavras saem mais fortes agora, embora meu corpo ainda tremesse com medo. — E como sabe o meu nome? — Estremeço ao me dar conta desse fato apenas agora. — Já sei. você é a porra de um stalker.

Forço o máximo que consigo para me adaptar a luz. E ele sorri, um sorriso que não alcança seus olhos frios e calculistas.

— Que olhinhos verdes lindos. Deve valer uma fortuna. — Quero xinga-lo por seu comentário. — Tudo a seu tempo, minha querida. Por enquanto, vamos nos divertir um pouco. 

Ele se afasta, deixando-me sozinha na penumbra úmida daquele lugar desconhecido.

Tic. Tic. Tic.

Enquanto as gotas continuam a ecoar, uma sensação de urgência toma conta de mim. Preciso encontrar uma maneira de escapar, antes que seja tarde demais.

Tic.

Tic.

Tic.

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Comments

Jennifer Melchides

Jennifer Melchides

Eu acho que é o irmão dela para dar um susto nela

2024-03-04

1

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