Capítulo 19

Thomas França:

Me servi de mais um copo de whisky enquanto observava a vista da minha varanda. Quando peguei o segundo copo joguei ele no chão o quebrando. Caminhei até meu closet e peguei uma caixa que guardava bem escondida.

Sentei na beira da minha cama e abri a caixa sendo tomado por uma nostalgia cruel. Lá tinha todas as fotos, cartas e lembretes da mulher que eu mais amei na vida... Cheirei as cartas que ainda tinham o cheiro dela... O seu perfume consumia tudo. Mesmo tendo passado anos.

As fotos da gente nos nossos encontros, nos nossos primeiros estágios nos hospitais, a foto que tiramos na noite da nossa primeira transa. Tem tudo... Eu tinha jogado essa caixa na lixeira na mesma semana em que terminamos, mas eu não tive coragem de esvaziar ela e acabei guardando.

Eu havia prometido nunca mais lembrar daquela mulher, mesmo que isso custasse caro.

— Por que você teve que voltar? Por quê? Estava tudo indo bem...

Encaro uma foto nossa sorrindo um para o outro, eu amava esse sorriso que era destinado só pra mim. Eu amava o cheiro dela, eu amava o quanto ela era delicada, eu amava tudo nela, eu amava ela.

Por que pensamos tanto em ser perfeitos?

Peguei a garrafa de whisky e levei a boca, que se foda a ressaca, que se foda tudo, que ela se foda.

Não! Ela não.

Odeio ainda amar ela, mas afinal, porque eu odeio? És a questão.

Tomo mais um gole do whisky e a bebida quente queima a minha garganta.

— Alexia? Coloque uma música para tocar.

No mesmo instante o ambiente é preenchido pela música "Péssimo negócio" do Dilsinho.

O que antes estava ruim só fez piorar quando o primeiro trecho da música ecoou pelo quarto.

..."Precisei de mil frases certas pra te conquistar...

...E de uma só errada pra te perder...

...Eu levei tanto tempo pra te apaixonar...

...Em um minuto só perdi você"...

Eu realmente joguei fora um diamante e cometi a maior loucura da minha vida. Terminei com a garrafa de whisky e só não joguei ela pela janela porque não queria acertar na cabeça de ninguém lá em baixo.

— Meu Deus! – passo a mão no rosto.

Sofrer por amor já é ruim, mas você sofrer por um amor que já foi seu é mais ruim ainda. Eu não estou mais sabendo lidar com isso, todos os dias tenho que escutar as piadinhas dos outros médicos chamando a minha mulher de gostosa e de difícil.

Ainda não sei um soco bem na cara de um por que não quero perder o meu emprego. Por mais que o meu tio seja dono do hospital, eu sou um cidadão como qualquer outro.

Saio do quarto e vou até a cozinha para tomar uma água, Gabriela estava sentada na mesa da cozinha comendo um... Brócolis?

Grávidas são esquisitas...

— Você está com uma cara péssima. – ela fala.

— É. Eu sei.

— Por que não conversa com ela?

Nego imediatamente, claro que não faria isso, já se passaram cinco anos... Ela quer é distância de mim.

— Rebeca deixou bem claro que nós dois não tínhamos mais volta, nunca mais.

— Isso foi há mais de cinco anos...

— Caramba, Gabi, eu fui um idiota com ela... Se eu fosse ela nunca mais queria nem me ver mais.

— Para de se alto sabotar, Thomas. Ok que você foi um babaca quando terminou com ela, ainda mais daquele jeito ridículo e infantil. Mas isso é passado!

Eu nunca irei me perdoar por terminar com ela daquele jeito, nunca. Rebeca merecia o mundo e eu não podia dar isso a ela na época.

Naquele tempo eu não podia fazer mais por nós, eu estava errado e ela não tem que me perdoar.

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