Capítulo 2

Dandara

  Um dia corrido na residência em pediatria, mais um dia normal na vida dessa residente aqui, e olha que só passou meio plantão!

  — E então, princesa dos cachos, vamos almoçar?— sorrio, e recebo um abraço da minha metade da laranja, Maria Isis Donartti Blake.

  — Bora encher o buchinho! — respondo, com uma expressão divertida, enquanto caminhamos abraçadas até o restaurante do hospital.

  Minha história com a Isy é engraçada. Há uns anos atrás minha mãe estava grávida dessa preciosidade que sou eu, e no aeroporto prestes a embarcar para o Brasil, onde nossos familiares moram. E um marido desesperado aparece e implora ao meu pai para operar sua esposa, que tinha sido atingida por um tiro e estava num hospital correndo risco de vida.

  Minha mãe, com toda a sabedoria que só dona Maria Eduarda tem, entendeu a situação e pediu ao meu pai que ajudasse o pobre homem, desesperado pra salvar sua esposa. E quem eram? Simplesmente tio Nicollas e tia Mariana!

  Anos depois, já crescidas, eu e a Maria Isis nos encontramos na faculdade e nos tornamos amigas. Uma coincidência incrível, pois ela acabou vindo trabalhar no hospital onde meu pai é o diretor, e quando comecei a residência, nos tornamos colegas de trabalho também. E agora somos a dupla dinâmica... só que ao invés de Batman e Robin, somos Dandara e Isis!

  Nos sentamos para almoçar, e enquanto a Isy demora uma eternidade para comer, eu devoro meu peito de frango grelhado com creme de milho, arroz e salada em poucos minutos.

  — Isso é falta de apetite ou preocupação, amiga? — questiono, apontando com o queixo, para o prato dela, quase intocado.

  Um suspiro desanimado e os ombros caídos da minha amiga já me respondem, sem que ela precise abrir a boca. Dou um sorriso carinhoso e seguro sua mão, apoiada sobre a mesa, em uma tentativa de conforto.

  Eu queria poder dizer que tudo vai ficar bem, que logo o Tenente vai estar de volta e que ele preparou um jantar maravilhoso para celebrar a união deles, mas eu não posso. Porque?

 Bom, prometi ao Carter que não abriria minha linda boca, que manteria a noiva dele muito bem entretida e sem a mínima chance de desconfiar da tal surpresa. E além disso, eu meio que sou cúmplice e ajudei ele, dando dicas do que ela gosta, ajudando a tia Mari a escolher flores e decoração, resumindo, eu estou até o pescoço nisso e louca para ver a carinha de felicidade da minha amiga quando chegar ao local, hoje a noite. Tenho certeza de que ela vai chorar litros, e obviamente, eu também vou, pois somos duas emocionadas!

  — Estou sofrendo por antecipação? Sim. Mas não sei como vou ficar semanas longe dele, amiga. — ela dá outro suspiro, segurando minha mão e fazendo um bico.

  — Você vai chorar, é fato. — ela dá um sorriso fraco. — Não vou mentir, imagino que vai ser difícil, mas ainda assim, eu tenho certeza de que você é forte o suficiente para passar por esse período longe, e quando ele voltar, vocês vão estar loucos de saudades um do outro e o sentimento entre vocês ainda mais fortalecido, você vai ver. — vejo minha amiga pressionar os próprios lábios.

  — Dara, eu não sei se já te disse, mas a minha vida tem mais sentido com a sua amizade, sabia?

  — Pois é?! É como eu digo, eu sou essencial! — finjo me gabar e ela só assente, com um sorriso mais descontraído dessa vez. — E como prova de que eu sou uma amiga maravilhosa, vou aproveitar a desculpa das suas noites solitárias, para arrastar você e a baby Lary para a minha casa, nos entupir de sorvete, chocolate e outras porcarias que nós vamos consumir, em muitas noites do pijama! — afirmo.

  — Hum, é bom saber que minha futura tristeza vai te dar motivos para se entupir de doces e furar a dieta, amiga. — me olha, com a sobrancelha erguida, meneando a cabeça.

  — Desculpa?! — ponho a mão no peito, com cara de indignada, mas logo deixo a atuação e dou de ombros. — Tenho que tirar proveito de você, gata! — pisco pra ela, que me joga um guardanapo de papel, e nós duas sorrimos.

  Bom, o meu almoço segue tranquilo, mas confesso que vez ou outra dou uma olhadinha discreta para uma certa parte da lanchonete, onde um homem muito sério, vestindo um terno preto impecável, cabelos penteados milimetricamente para trás, barba por fazer, ombros largos, mãos grandes, unidas na frente do corpo e um semblante de dar medo, está parado há bons minutos, observando tudo através das lentes dos seus óculos escuros.

  — Amiga, olhar não arranca pedaço, mas também não vai te ajudar a conseguir o telefone do Ethan. — desvio o olhar rapidamente, para encontrar o par de olhos verdes da Maria Isis me encarando. — Já disse que, se quiser, eu posso..

  — Não, amiga. — a interrompo, mordendo o lábio de um jeito nervoso, movendo a perna rapidamente, em um sobe e desce que faz meu corpo se mover um pouco.

  — Ei, calma. — a voz da Isy é calma, mas noto a preocupação. — Tudo bem se não quiser... eu só quero que se permita. — Seu sorriso carinhoso e o aperto em minha mão me fazem dar um suspiro, enquanto desvio meu olhar novamente na direção do Ethan, e mesmo com os óculos escuros, eu poderia afirmar que ele estava me olhando de volta... que coisa estranha!

  Volta a encarar a minha amiga, antes de sentir uma dor fina no meu peito, e um aperto bem conhecido na garganta, algo com o qual aprendi a lidar...

  — Eu agradeço seu apoio, amiga. Mas acho difícil ele querer... querer alguém como eu, que passou o que eu passei. Uma mulher marcada.

  — Você não é uma mulher marcada! — ela afirma, com uma firmeza invejável, já que mesmo que eu repita isso para mim, dia após dia, ainda é difícil me convencer disso. — Você é incrível, e quer saber? — solto o ar com um pouco mais de força, pois sei que ela vai dizer, mesmo que eu negue.

  — Eu acho que você deveria tentar! Ele está solteiro, é um cara sério, é verdade, mas isso tem suas vantagens. Um homem, Dandara Villar, não vai agir feito um imbecil, moleque, inconsequente. Um cara maduro, de bom caráter, eu acho que é disso que você precisa. E algo me diz, que o chefe de segurança da minha família precisa de uma boa dose de você, pra alegrar a vida chata e monótona dele.

  Dessa última parte eu acabo rindo, porque imaginar o senhor mal humorado rindo das minhas piadas horríveis, isso sim é algo para me deixar, no mínimo, empolgada. Aliás, eu nunca o vi sorrir, na verdade. Será que ele sabe sorrir?!

《••••》

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Comments

Luzia aparecida Araújo

Luzia aparecida Araújo

A Amizade delas é lindaaaa! É pra vida toda! O que será que machucou tanto a Dandara! Estou curiosa! 🥰🌹💋

2025-03-14

0

Paty Helena

Paty Helena

caraca a família Donnati jamais esquecerei li todos❤️

2024-12-16

1

Marilia Carvalho Lima

Marilia Carvalho Lima

👏👏👏

2025-03-05

0

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