Capítulo 17: Otávio

Otávio...

Ontem a minha vó foi falar com a dona encrenca e fiquei aguardando aqui no meu quarto, pois dona Yolanda não me deixou ir.

Quando chegou, não quis falar comigo, me deixando frustrado e irritado.

Não vou mentir, que fiquei curioso para saber se havia dado certo.

Mal dormi essa noite, pensando nessa ideia maluca da minha avó e ainda tem essa mulher, que invade os meus pensamentos com aquele jeito afontoso dela.

A diferença de horário nos deixa confusos e mais cansados do que o normal.

Acordei bem cedinho, fiz a minha higiene pessoal tomei um banho, me arrumei e fui até o quarto de dona Yolanda. A sua dama, mandou mensagem, avisando que ela queria tomar café na minha companhia.

Entro no quarto e ela me dá uma bronca novamente, por ter sido mal-educado com Ynara.

— Mal-educada é ela! Derrubou suco em mim e nem pediu desculpas, na verdade pediu, mas ainda retirou!

— Quase matou a menina atropelada! E ainda foi grosseiro, se estivesse em seu lugar, teria jogado o restante do suco na sua cabeça para ser mais educado!

Reviro os olhos e não questiono, pois para a minha avó, a dona encrenca, sempre será a certinha.

— Mas e então, o que ela disse?

— Nada, mas deixei que ela pensasse! Mais tarde, iremos conversar com a vó dela, que está no hospital!

— O que a vó dela tem?

Ela me conta o que a mulher tem e as dificuldades que elas tem enfrentado, nos últimos meses.

Aproveito que estou no Brasil e vou até uma filial, que tenho aqui, para ver como anda os negócios. A diretora de propaganda e publicidade é exelente, sempre apresenta os melhores projetos.

Passo o dia na empresa, analiso os últimos levantamentos e está excelente, o que me deixa feliz.

Quando saio da empresa, busco a minha avó e seguimos para o hospital.

Enquanto ela vai até o quarto da mulher, eu vou falar com o médico, mas está numa consulta, então vou para o lado de fora ligar para uma clínica da minha confiança, onde a mulher poderá fazer o tratamento. Assim que converso com o diretor, volto para dentro do local.

Minha vó se aproxima e diz que Ynara está com a mulher no quarto, conto-lhe que consegui uma vaga para ela na melhor clínica de B.H.

— Que ótimo, neto querido! Pelo menos não é tão lesado como pensei!

— Nossa, para de ficar me chamando assim, vó! — digo entre os dentes.

— Quando me provar o contrário eu paro! — diz divertida e volta para o quarto.

Aguardo alguns minutos e a recepcionista me chama, diz que o médico irá me atender.

— O que o senhor faz aqui? — pergunta me assustando.

Ao olhar para trás, lá está ela, a dona encrenca.

— Boa tarde, senhorita!

— O médico já vai lhe atender, senhor! Sala numero 14! — diz a recepcionista.

Agradeço e volto a minha atenção a Ynara.

— Respondendo a sua pergunta, estou esperando a minha avó e agora vou falar com o médico, sobre a sua avó!

— Eu vou com você! Também quero saber como ela está!

— Não mesmo, quero falar a sós com o médico!

— Eu não perguntei se posso ir, eu disse que eu vou!

Ela vai na minha frente, respiro fundo e vou atrás dela.

Assim que entramos no consultório, o médico cumprimenta Ynara, com um olhar que não sei o motivo, mas me incomodou muito.

— E o senhor, quem é?

— Otávio Coleman! — digo segurando a cintura de Ynara.

A garota, vira o rosto lentamente olhando para mim confusa e estreita os olhos.

— Sentem-se por favor!

Nos acomodamos na cadeira e peço que me explique o caso da mulher, ele me explica tudo, mas a todo momento olhando para Ynara. Ela pergunta se sua avó pode ter alta, ele diz que ainda é muito cedo.

— Na verdade, ela será transferida para uma clínica particular, os médicos vão entrar em conto com o senhor!

Ynara me olha espantada.

— Vou pagar todo o tratamento e ela fará a cirurgia o mais rápido possível!

— Isso é ótimo, mas não precisa tirar ela daqui...

— Faço questão que ela fique numa clínica da minha extrema confiança! Afinal, quero o melhor para a família da minha noiva!

— Ah é? E quando fez o pedido? — pergunta ela com um semblante confuso.

Forço um sorriso, pego na mão dela e aperto.

— Não ligue para a minha noiva, ela tem um excelente senso de humor!

Pouso um beijo na sua mão e ela semicerra os olhos.

— Não sabia que estava noiva... — dizia o médico.

— Nem eu... — sussurra ela, mas aperto novamente a sua mão. — Pois é doutor, fui pega de surpresa! Mas estou radiante! — diz com sarcasmo.  — Imagina a honra, me casar com um completo estranho, ainda não deu tempo nem de atualizar o meu estatus para noiva de um desconhecido!

O médico fica confuso, eu e Ynara nos olhamos em confronto, e forçamos um sorriso.

— Brincadeirinha, meu príncipe nebuloso! — diz com voz engaraçada apertando a minha bochecha com força.

Me afasto e o médico me passa tudo o que vamos precisar para transferi-la. Assim que terminamos a conversa, nos despedimos do médico, que já não a olha mais como antes e saio satisfeito do consultório.

— Posso saber, o motivo desse sorriso besta no rosto? — pergunta ela de braços cruzados.

— Nada de mais!

— O que foi aquilo dentro do consultório? Pelo que sei, ainda não aceitei a sua proposta!

— Não sou da família ainda e então não poderia ter acesso as informações, para transferir a sua avó! — minto.

— Não gostei de me tratar como sua propriedade! E vou deixar bem claro, que se eu aceitar esse casamento, será pelas crianças e pela minha vó, que precisa muito e não porque quero um homem como você ao meu lado!

— A recíproca é verdadeira!

Ela revira os olhos e saí andando.

Vou atrás dela e chegamos no quarto da mulher, vovó me apresenta a dona Rosário, que é uma mulher muito simpática, ao contrário de sua neta.

— Então voce é o futuro marido de minha neta? — pergunta me deixando sem jeito.

— Vó! — diz a repreendendo.

— Estou sendo realista, minha querida!

— Nossa que mágico! Um casamento por contrato com um estranho é tudo o que sempre sonhei! Afinal, quem precisa de amizade e confiança quando se pode pular direto para o casamento com um desconhecido, não é? Mal posso esperar para contar ao meus filhos, netos e bisnetos esse lindo romance! — diz com sarcasmo.

— Ynara! — diz Rosário a repreendendo.

Ela revira os olhos e saí do quarto.

— Deixe que eu falo com ela! — diz vovó.

— Ynara tem personalidade forte, mas é uma mulher linda tanto por dentro como por fora!

... Sinceramente, acho difícil de acreditar! Eita que garota mais complicada!

— Cuide dela, ela precisa muito...

Apenas sorrio fraco e fico ali ouvindo ela contar sobre a infância de Ynara. Pelo visto a vida delas, nunca foi fácil.

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